12/12 escrita por roux


Capítulo 4
– Ensino Religioso




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Antes do horário marcado eu estava em frente à fonte onde tinha marcado de me encontrar com o Potter. Minha vontade era ir embora. O que eu estava fazendo ali? Eu devo ter titica de galinha na cabeça. Eu nem conheço direito o moleque, e bem... Pelo que pude observar a turma que tentou abusar de mim, era ele quem liderava. E se por acaso os outros tivessem o convencido a usar meu corpo? Claro que não. Ele não faria isso, e pelo que ele tinha dito antes, estupro não era trote, e sim crime. Sentei na fonte e fiquei olhando á água, mas à hora parecia não passar, olhei o relógio que estava no meu pulso, o mesmo estava marcando, 17:58. Ele ainda não estava atrasado, eu que estava muito adianto. Não, não estava muito, apenas alguns minutos, mas quando se trata de esperar alguém, até trinta segundo se torna muito tempo. Fiquei mais alguns minutos, sentado e então avistei o garoto.

Ele veio devagar, sem pressa. E eu não pude deixar de notar algumas coisas, ele vestia uma calça de moletom verde, e uma camiseta regata branca, os cabelos castanhos bagunçados, e como sempre, seus olhos verdes pareciam sorrir sozinhos. Só que o que mais me chamou atenção foi o grande volume na cueca de Potter. Está bem, talvez eu seja um pervertido, mas como não olhar aquele volume e-nor-me na calça dele. Pensando bem, talvez fosse até maior que o do Cabeça. Mas que droga, no que eu estava pensando? Olhando volume recheado do meu colega repetente? Eu poderia muito bem fazer isso nas aulas de natação, lá sim, tinha algumas sungas bem recheadas.

― Oi, guri! ― Disse Potter sorrindo. ― Tu estás bonito! ― Ele falou e eu senti meu coração palpitar.

― Ah valeu... ― Eu disse sem graça. ― Hm, você...

Ele me cortou.

― Nem vem com essa de que eu estou bonito, eu sempre sou bonito. ― Ele falou e riu.

O que?

― Então quer dizer que eu estava feio antes? ― Perguntei irritado, mas tentando controlar minha irritação, não daria esse gostinho para esse moleque idiota.

― Bah, quando não está fazendo cara de quem esta segurando peido, você é um guri bonitinho, sim. ― Ele disse muito sincero.

― O.k gaúcho, chega de me ofender, né? ― Perguntei irritado e deixando-o perceber toda a minha irritação.

Ele gargalhou, e eu senti vontade de fechar o punho e acertar o seu nariz como o meu pai tinha me ensinado. Nota: O meu pai sempre diz que eu tenho que saber me defender, ainda mais por ser gay. Os outros caras sempre vão me achar uma presa fácil.

― Mas bah, como tu sabes que sou gaúcho? ― Caprichou no sotaque, e ficou ainda mais lindo.

O que?

Lindo?

Quer dizer, mais legal.

― Ora, já ouvi tantos bahs, tchês, e guris... ― Falei sério e olhei para ele. ― É fácil de deduzir, hm?

Ele gargalhou, acho que me achando idiota.

― Você é maneiro, Noé! ― Disse ele todo convicto.

― É Noah! ― Falei bravo. Odeio que errem o meu nome, certo. Talvez eu odeie tudo na vida, mas realmente odeio quando falam o meu nome errado.

― Bah, foi mal, guri. ― Ele se desculpou parecendo sincero. ― E tu, de onde és?

― Eu morava em São Paulo antes. ― Eu disse e olhei para ele nos olhos. Percebi então mais uma coisa naquele menino. Além de seus olhos parecerem sorrir o tempo todo, eles eram penetrantes, era como se conseguisse ver a minha alma.

― Jura? Você tem cara de mineiro! ― Ele disse sério e então coçou o queixo.

― Não é a primeira pessoa que me diz isso. ― Joguei na lata. ― Mas como você me fez uma pergunta, acho que posso fazer uma também. Por que te chamam de Potter?

Ele gargalhou e olhou para mim logo em seguida.

― Porque eu me chamo Harry, tchê. ― Ele disse ainda rindo, mas bem mais leve. ― Eu era bem menor, quando uma garota me deu esse apelido, e eu deixei pra lá porque gostava muito dela, e bom... Ficou. Hoje em dia não me sinto mais Harry, apenas Potter. ― Ele disse e piscou pra mim.

― Hm, legal... ― Falei. ― Ela era sua namorada? ― Perguntei sentindo uma pontinha de ciúmes na minha voz.

Ele gargalhou e passou o braço pelos meus ombros.

― Você é meio bobinho, Noah. Eu não namoro, nunca namorei e nunca irei namorar. ― Ele disse sorrindo. ― Mas vamos quero que conheça a minha turma!

Ual. Nunca namorou e nunca vai namorar? Quem nunca namorou? Ou ele é um galinha, ou hm... Assexuado. Prefiro aceitar a primeira opção.

― A sua turma é hm... ― Dei uma pausa básica. ― Aquela que tentou, hm, me estuprar? ― Perguntei sério.

Ele riu como se eu fosse engraçado.

― Você é engraçado, Noah! ― Falou ele confirmando o que eu tinha pensado. ― Alguns são, outros não.

Não quero ir.

Está louco?

Vai me levar direito para a toca do lobo?

Que merda eu tinha na cabeça para aceitar uma coisa dessas?

Eu.

Ah.

Que merda, quero a minha mãe.

― O.k! ― Disse baixo.

― Relaxa tchê, ninguém vai te fazer mal. Tu estás comigo. ― Ele falou sorrindo.

Caminhamos juntos pelo pátio e entramos para um corredor que levava para algum lugar.

― Aonde vamos? ― Perguntei.

― Você vai ver! ― Ele sorriu.

Passamos pela maioria das alas e fomos até os fundos da escola, entramos por uma porta, e paramos em um lugar que parecia um deposito. Entramos no lugar, estava escuro, fiquei meio assustado. Ele fechou a porta atrás de mim.

― É... Potter? ― Perguntei, mas não senti que ele estava perto, ou atrás de mim.

― Agora! ― Ouvi quando o garoto gritou algum comando.

Não tive tempo nem de me mexer, balões cheios de água começaram a acertar o meu corpo, a principio achei que fosse água, mas logo senti o cheiro, se tratava de urina. O cheiro forte de urina começava a arder meu nariz. Eca. Os bolões continuavam me acertando, corpo, rosto, cabelo.

Os risos dos garotos eram altos, eles estavam adorando fazer aquilo, então alguém acendeu a luz. Os balões pararam de me acertar, os garotos riam e batiam as mãos uma nas outras. Eles estavam adorando fazer aquilo. Eu fiquei me sentindo um lixo, ou melhor, uma privada já que estava coberto de mijo.

― Bah, isso sim é um trote! ― Gritou Potter para os outros garotos.

― Mandou bem, Potter. ― Gritou um gordinho de cabelos encaracolados.

Os garotos ainda estavam vestidos com o uniforme, não tiveram tempo de ir se trocar, foram mijar e encher balões. Olhei feio para Potter e ele pareceu perceber, já que seu sorriso desapareceu.

Estúpido.

Estúpido mesmo.

Ele.

E principalmente eu.

O que eu tinha na cabeça? Ir para os fundos da escola com um desconhecido, por sorte não fui estuprado ou morto.

― Noah? ― Potter perguntou sério e sem sorriso nenhum nos lábios.

Apenas me virei e sai do deposito onde tínhamos entrado. Caminhei devagar procurando lembrar por onde tínhamos vindo, queria ir pro meu quarto, tomar banho. Ficar cheiroso... Se é que isso eu conseguira algum dia, estava coberto de mijo de vários garotos. Eu deveria denunciar cada um deles pela tentativa de estupro. Mas quem iria acreditar em mim? A única pessoa que eu achei que estava do meu lado tinha acabado de me dar um banho de urina.

Voltei para a “civilização”, vários outros alunos começaram a reparar e mim, alguns riam, outros ficavam assustados e alguns até demonstravam pena.

Pra ferrar com tudo, encontrei com Kyle.

― Porra, Noah! ― Ele falou. E sim, ele lembrou o meu nome. ― O que aconteceu?

Não queria chorar na frente dele, mas estava me sentindo tão humilhado que não consegui segurar as lágrimas.

― Trote... ― Eu disse chorando.

― Quer ir à diretoria? ― Ele perguntou.

― Não vai adiantar. ― Uma voz disse ao fundo, me virei e dei de cara com o Guto e o Cabeça que me olhavam com cara de nojo, mas ainda assim segurando o riso.

― Não mesmo, eles deixam bem claro que trotes que não machuquem os alunos podem acontecer. ― Falou o Cabeça.

― Você precisa de um banho. ― Falou Guto segurando o riso.

― Ah jura? Você percebeu? Eu não! ― Falei agora irritado demais, que cara de pau. Ficar me zoando dessa maneira. ― E lembrem-se, vocês são calouros, vão passar por isso ou algo pior. ― Falei sério e olhei para cada um deles de uma vez. ― Eu vou pro dormitório.

― E a nossa noite? ― Perguntou Kyle decepcionado demais, para quem só queria a minha amizade.

― Fica para amanhã. Eu vou ficar tempo demais no banheiro. ― Disse sério e sai caminhando em direção ao meu dormitório.

Eu não merecia isso. Eu tinha sido tão legal com ele, e achei que ele estivesse sendo meu amigo, mas não. Só queria curtir com a minha cara na frente dos amiguinhos. Como fui trouxa. Acho que vou virar piada nessa escola para todo o sempre. Ninguém nunca vai esquecer o moleque que levou banho de urina.

Demorei muito no banho, e depois fui logo para a cama.

Acordei no dia seguinte com o mesmo barulho infernal, a sirene do diabo. Levantei ainda com sono da cama e caminhei pro banheiro. Olhei-me no espelho, nada de novo, a mesma cara brava e irritada, só super amassada de sono. Fiz tudo que tinha pra fazer, e vesti o uniforme.

― Qual minha primeira aula? ― Perguntei para mim mesmo, sou ridículo o suficiente para falar sozinho de vez em quando. Olhei o meu horário e tcharã “Ensino Religioso” Não, tinha mesmo que ser essa matéria idiota, onde eu corro risco de cair na mesma turma que o repetente idiota?

Fui para minha aula, e entrei. A sala estava um pouco cheia, como na outra sala, as cadeiras eram dupla. Logo avistei Kyle no fundo da sala, caminhei até ele.

― Oi. ― Disse sério.

― Oi, está melhor? ― Perguntou ele sorrindo demais, de onde ele tirou essa animação matinal toda?

― Estou cheiroso pelo menos. ― Eu disse e esbocei um pequeno sorrido.

― Eu vou ver. ― Disse ele e então cheirou meu pescoço. ― Realmente, que cheiro doce. Eu senti vontade de comer. ― Ele falou sério, mas senti sua malicia.

Fiquei vermelho e senti minhas bochechas corarem.

― E você e o Guto? Conversou com ele ontem? ― Eu tentei mudar de assunto.

― Ele não faz o meu tipo. Nada mesmo. E pra ferrar com tudo, ele pegou o tal do Cabeça. ― Kyle afirmou. ― Aliás, porque o nome do cara é esse?

Eu comecei a rir, mas minha risada logo se desfez, quando avistei Potter entrando pela sala. Ele sorriu para mim, virei meu rosto e voltei a encarar Kyle.

― Longa história! ― Falei.

― Teremos tempo nos fins das aulas, certo? ― Ele perguntou esperançoso demais.

― Hum, eu acho que sim. ― Falei sorrindo.

― Bom dia, queridos! ― Falou um homem gordo, vestido de batina. Que aberração era aquela as 07:15 da manhã?

― Bom dia, padre! ― Respondeu a sala em coro, eu não, é claro. Estava abismado demais para pensar em qualquer coisa.

― Sério isso? ― Sussurrei para Kyle.

Ele riu baixinho.

― Antes de tudo quero começar com uma oração, vamos lá? ― O padre disse sorrindo. ― Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome, venha nós ao vosso reino, e seja feita a vossa vontade. Assim na terra como no céu! O pai nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal, amém! ― Completou o padre.

Todos os alunos disseram um amém.

A aula seguiu seu rumo normal. E no final da droga da aula o padre veio com algo que deixou todos tristes.

― Eu vou passar um trabalho para vocês trazerem na próxima aula. ― O padre disse todos os alunos começaram a reclamar. ― Bah, eu nem avisei o que é ainda. E será em dupla, primeiro irei sortear as duplas.

Ficamos todos em silêncio.

― Harry Klaus Andrade. ― Ele deu uma pausa. ― E Noah Mirchoff Júnior.

Não, mil vezes não. O padre continuou falando, mas eu não prestei atenção em mais nada, só em Potter que sorriu pra mim.


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