Amanda e a sórdida realidade escrita por Thelittlegotmoreandmore


Capítulo 3
Capítulo 3




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Acordou em um sobressalto, não havia percebido que dormira. Sete horas, levantou-se e bateu preguiçosamente no relógio para que parasse o barulho ensurdecedor. Tomou um banho rápido, e em vinte minutos estava pronta. Desceu as escadas devagar com receio de ser notada, mas logo ouviu o sonoro ronco tradicional de seu pai. Tomou uma xícara de café apressadamente e dirigiu-se ao portão de ferro antigo, como tudo naquela mansão de madeira podre. O passado era latente em cada instância de sua vida.

Caminhou por algumas quadras silenciosamente, contemplando as rachaduras pequenas na calçada. Logo passos rápidos a alcançaram e juntou-se a ela Matthew.

–Como passou o fim de semana, Nanda? Ouvi dizer que seu irmão teve uma discussão acalorada no sábado.

–Não quero falar sobre isso... Uma perspectiva desagradável, você sabe. Mas aconteceu uma coisa peculiar – Matthew arregalou os olhos castanhos com notável curiosidade – reencontrei Laura na minha casa.

–Você tá brincando? Vocês conversaram?

–Sim, ela subiu no meu quarto, parecia bastante chateada. Entendo essa chateação. Lidar com o meu irmão todos os dias... Puta inferno. Sinceramente, não sei que conclusões tirar. Achei que ela demoraria a conversar comigo novamente, depois do nosso envolvimento com a questão da Cecelia... Ah, continuo voltando nisso. Deixa eu calar essa boca.

–Não, fica tranquila. Caramba, até eu fiquei ansioso com essa história de vocês duas. Me conte do desenrolar, por favor. Curiosidade ingênua e desinteressada a minha, prometo.

–Só não vá vender essas informações pra mídia, ou semana que vem sua cabeça vai estar na praça. É brincadeira, calma, desfaz essa expressão – riram.

A escola foi completamente monótona e entediante, as aulas passavam, como de costume, em câmera lenta, doloridas e ensandecedoras. Talvez menos as de literatura inglesa, mas não havia dessas naquele dia. Durante o almoço, sentou-se com Matt e mais alguns amigos, e logo começaram a comentar a possibilidade de uma festa imensa na casa de uma garota chamada Charlotte no fim de semana. Loirinha encantadora, Charlie usava e abusava de seus charmes para conquistar a confiança de seus pais, dois inocentes abobados, que, como sua família, pregavam o estereótipo de inquebráveis cristãos abençoados. Mas as festas de Charlie eram as melhores, quase todas as vezes. Amanda tinha certas dificuldades de convivência em grandes espaços lotados, mas abusava de sua ironia para manter um casulo de silêncio e paz em torno de si nesses momentos.

–Você vai dessa vez, Nanda? – questionou-a Elena, pouco animada, mas de fato interessada na possibilidade de sua presença.

–Preciso pensar a respeito. Se vocês me derem carona, provavelmente sim. – Elena não pode conter um meio sorriso, e Matt exaltou-se e ergueu os braços, juntamente com um sorriso excessivamente branco. A possibilidade de estar longe do ambiente conturbado de seu sobrado era encantadora. Logo, animou-se com a festa.

Chegou em casa e continuou estudando. Cinco da tarde. Como toda boa irmã, perdida no tédio, resolveu visitar o querido Tony, obviamente com segundas intenções. Seu pai provavelmente estaria em uma das fazendas com seu avô, então não se preocupou com sua presença. Colocou um vestido agradável na altura do joelho e protegeu-se com uma jaqueta jeans. A caminhada era um tanto longa.

Lá chegando, contrariando quaisquer seus objetivos, percebeu que Tony gritava desvairado, como se estivesse possesso. E o alvo, provavelmente Laura, quieta, paciente, esperando que terminasse o acesso de fúria. Amanda precisou intervir, e abriu bruscamente a porta, deparando-se com as faces da moça completamente cobertas por lágrimas e desespero. Se destacava uma mancha roxa avermelhada gritante em sua bochecha direita. Anthony parecia um animal. Mal o reconheceu, e teve ela mesma um acesso de fúria.

–Quem você pensa que é pra entrar aqui desse jeito, Amanda? Mas que merda, não te educaram direito? Pirralha idiota. Faça um favor e volte pra sua casa.

–Você só pode estar brincando, Anthony. Faça-me você um favor, e trate a sua noiva com respeito e dignidade, como um ser humano. Que porra subiu à sua cabeça, que lavagem cerebral fizeram em você? Você não era assim, caralho!

–Por que você se acha no direito de me dar uma lição de moral, criança? Vá tratar dos seus próprios assuntos com os seus amigos negros. Melhor que mais uma impureza seja retirada dessa família.

–Se alguém tem alguma noção de ética aqui sou eu. Com licença, vou ligar para a polícia. Porque isso que eu vejo aqui é um abuso descarado, seu animal. – Correu até o telefone, mas seu irmão agarrou seu braço com força e raiva. Agarrou em sua bolsa um pequeno estilete, enfiou no braço de Tony. Enquanto o irmão agonizava, puxou Laura, que derretia-se em lágrimas, e fechou a porta. Correram por algumas quadras, estavam a salvo. Se abraçaram, no meio daquelas ruas pouco iluminadas, e ali permaneceram, em um pranto conjunto e fraternal.


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