Marinwaal escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 1
Podemos recomeçar?




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Tivemos nossas últimas aulas separadamente, as garotas e eu. Saí do laboratório de Biologia esgotada, como se o dia tivesse exigido mais de mim do que de costume.

Assim que pisei na calçada, já do lado de fora da escola, vi Alison e Aria de braços enganchados, andando a uma velocidade consideravelmente rápida, como se estivessem tentando escapar de alguém. Estavam longe e, mesmo se eu resolvesse correr atrás delas, o que eu definitivamente não tentaria fazer, não iria conseguir alcançá-las.

Melhor assim, pensei, pegando da bolsa o sanduíche de manteiga de amendoim que eu havia embrulhado e colocado ali para emergências mais cedo naquela manhã. Antes de desembrulhá-lo, porém, as palavras que Alison me dissera certa vez vieram a mim sem razão aparente.

— Você não quer deixar de ser gordinha, Hanna? – ela me perguntara em seu clássico tom de voz doce, que significava que, em sua cabeça, ela estava rindo de mim. – Então deixe para trás esses lanchinhos que você faz entre as aulas. Principalmente os com manteiga de amendoim e geleia. A combinação é dos maiores venenos já criados pelo homem civilizado.

Ao finalizar o pequeno sermão, ela jogara na lixeira metade do sanduíche que estava em minhas mãos, sem dó nem piedade.

— Estou apenas sendo sua amiga, Han – alegara ela, como se realmente se importasse, colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.

Dane-se você, Barbie, eu disse a mim mesma, sacudindo a cabeça para me afastar do passado e dando a primeira mordida no sanduíche.

Alison e Aria já haviam dobrado a esquina quando eu avistei uma coisinha envolvida em cor-de-rosa caminhando vagarosamente na direção oposta, isto é, parecendo estar voltando para a escola. Era Mona. Ela estava encolhida e tinha os braços cruzados em volta dos livros. Uma visão caricata da "pobre garotinha nerd que não tinha amigos" – como algumas pessoas legais a descreviam, já que o resto da escola estava acostumado a apenas tirar sarro dela.

Por alguma razão, ela parecia mais cabisbaixa do que o normal, e eu fui dominada por uma onda de pena. Na certa, Mona tentara alcançar Alison e Aria com o intuito de começar uma conversa, como ela sempre visava fazer. E era previsível também que Alison tenha forçado Aria a, junto dela, dar um gelo na pobre Mona, e é claro que ninguém ousava discordar de Alison porque, bem, ela era nossa abelha-rainha. Os desejos dela, indiretamente ou não, eram nossas ordens.

Eu, mais do que ninguém, sabia que Alison era capaz de se comportar como uma vadia durante noventa e oito por cento do tempo que passava acordada, mas Mona sempre focava na margem de erro de tal porcentagem. Ela era inocente como quem tem cinco anos de idade e sempre acreditava no melhor das pessoas.

Era de se admirar, na verdade, que mesmo depois de tantas humilhações que já passara nas mãos de Alison, Mona ainda inventava desculpas para justificar o mau-humor dela.

— Talvez Ali tenha acordado com cólicas menstruais hoje – a moreninha supunha de vez em quando.

Mas agora que Mona vinha inconscientemente ao meu encontro, parecia que seu fiozinho de esperança havia finalmente se rompido.

Esperei ela passar por mim para que eu pudesse tocar seu ombro.

— Mona? – chamei-a delicadamente. – Está tudo bem?

Ela levantou o olhar, por um segundo parecendo quase não acreditar que eu estava mesmo falando diretamente com ela. Eu não podia culpá-la, afinal nós nunca verdadeiramente trocáramos nada com Mona além de sorrisos amarelos e acenos de cabeça entre as aulas, e isso desde o sétimo ano, quando Mona viera morar em Rosewood. E quando digo “nós” quero dizer Aria, Emily, Spencer e eu, porque, há quase três anos, tudo o que Alison limitava-se a fazer quando via Mona se aproximar, de seu jeitinho nerd e desengonçado, era revirar os olhos e às vezes cuspir um “Argh.. lá vem a perdedora” em voz não muito baixa. Há muito tempo tal frase clichê de Ali deixara de nos arrancar risadinhas, se é que algum dia pôde ser considerada engraçada.

— Sim, estou bem – Mona tentou sorrir.

— Não parece – olhei para o fim da rua. – O que Alison disse a você desta vez?

— Nada – alegou, visivelmente nervosa, porém eu conseguia ver uma pequena lágrima querendo descer de seu olho direito. – Ela só disse que estava com pressa e que não tinha tempo para conversar. Aria confirmou.

É claro que Aria confirmou, pensei, assentindo, porém estava claro que Mona queria convencer mais a ela do que a mim com aquela resposta. Sem dúvida alguma seus olhinhos, cobertos pelos óculos, pareciam mais tristes do que nunca e aquilo fazia meu coração doer. Eu queria fazê-la se sentir melhor, mas não sabia por onde começar, então a ofereci a metade que restava de meu sanduíche. Mona agradeceu, porém negou.

Não tínhamos assunto para prosseguir com a conversa, mas eu não queria que ela fosse embora; queria provar a ela que eu não era apenas uma das garotas que Alison arrastava para tudo quanto era lugar.

— Mona, posso te acompanhar até em casa? – perguntei abruptamente, depois de um momento de silêncio.

Mona não respondeu de imediato. Seu olhar era sério e ainda incrédulo, e eu consegui notar nele o medo de ser machucada outra vez.

— Por que você iria querer fazer isso? – era como se ela quisesse perguntar "você quer mesmo ser vista andando junto de alguém como eu?".

Eu via agora toda a dor que havia dentro daqueles olhos castanhos, todo o sofrimento pelo qual ela já havia passado, todas as lágrimas que ela já chorara por causa de todas as ofensas e brincadeiras de mal gosto. Alison não era a única culpada, afinal, Aria, Emily, Spencer e eu nunca havíamos feito coisa alguma parar aquilo. Então eu sorri, tentando parecer o mais confiante possível.

— Porque... você é como eu – respondi baixinho, lutando contra uma repentina vontade de chorar. Apenas agora eu percebia que Alison fazia comigo o mesmo que fazia com Mona, só que, comigo, ela usava palavras doces, para não parecerem ofensas de verdade.

Mona baixou a cabeça outra vez, mas desta, um sorriso curvava seus lábios. Jurei ser capaz de ver sua pele cor-de-areia corar.

— Quero te pedir desculpas – acrescentei – em nome de todas nós por causa de Ali. Queria também que você soubesse que nenhuma de nós, seja eu, Aria, Emily, ou Spencer, jamais teve algo contra você.

Mona assentiu, ainda sorrindo docemente.

— Vocês não são iguais a ela, eu sei.

Sorri também, estendendo meu braço para ela.

— Podemos recomeçar?

Mona agora mostrava os dentes em um sorriso largo. Passou os livros para seu braço direito e enganchou seu esquerdo em meu direito enquanto começávamos a caminhar em direção à casa dela.


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Notas finais do capítulo

Devo continuar? Aliás, me digam o que acham de um romance entre essas duas lindas! Shippam? Porque eu sim ♥