Capítulo 12

Yona

            - Não fique assim, querida.Se ele for mesmo seu amigo ele vai voltar, mesmo que eu não faça questão! – minha mãe insistia em ficar tocando nesse assunto.

            Ainda estava de noite, mas eu tinha certeza que Jacob não voltaria.

            - Você nem o conhecia para ficar o julgando desse jeito. –murmurei para ela, emburrada, enquanto lia um teste em uma revista.

            - Não preciso conhecer. Eu sei.

            - Ai mãe!- bufei jogando a revista no chão. Eu não estava nem um pouco a fim de levar essa discussão a fundo. – Eu o conheço mais que a senhora, e ele não é uma má pessoa.

            Minha mãe também parecia não estar a fim, pois ela balançou os ombros e continuou a prestar atenção no jornal. Horário de telejornal era sagrado aqui em casa. Era A hora da família se reunir para assistir as notícias de seu país. 

            Não, brincadeira. Não era bem assim. Meus pais apenas gostavam de assistir ao jornal. Eu não dava muita atenção.

            - Pai?- chamei-o, revirando-me no sofá.

            Ele respondeu algo em um resmungo, ainda vidrado no jornal.

            - La Push é bom? – eu ainda não me conformava em não ter corrido fugida daqui.

            - É. Muito bom. – meu pai, quase monossilábico disse, por causa do jornal.

            Prestei atenção em sua desatenção. Aposto que diria sim a qualquer pergunta que eu fizesse.

            - Posso ir pra lá? – perguntei.

            - Quando sair do castigo, você pode ir.

            É. Não deu certo.

            - Pra que você quer ir pra lá? –ele disse, agora olhando para mim.

            - Sei lá... Você veio de lá, e eu não conheço sua terra. Já conheço a da mamãe, mas a sua não. Deve ser bem legal. – sorri, tentando parecer convincente. – Meu amigo Jacob é de lá. – eu tinha que falar dele em algum momento...

            - Sério? – meu pai agora me dava atenção. – De quem ele é filho?

            -Não sei. – eu acho que Jacob nunca me disse.

            - Agora o que eu não sei é como é que eu não vi esse rapaz saindo daqui de dentro! – meu pai exclamou, dando margens para minha mãe falar nesse assunto de novo.

            - Também não sei. Porque o tamanho que era aquele rapaz, era impossível não perceber. – minha mãe falava agora impressionada. – Ele era maior que a Yona!

            - Nossa! – levantei. Mais algum comentário exasperado sobre esse assunto e eu surtaria. – Eu vou subir. 

            Por minutos tive Jacob de volta e agora, nada novamente. E ele nem esperou que eu respondesse. Eu queria tanto ir para La Push. Eu só devia estar em uma enorme maré de azar, daquele azar que você pensa ser sorte... Mas no fim é só azar.

            Subi as escadas devagar e me dirigi a porta do meu quarto. Abri-a e me deparei com um enorme vulto sentado sobre minha escrivaninha. É, talvez não fosse tanto azar assim...

            - O que é? Deu para invadir casas agora?- disse ligando a luz com um grande sorriso no rosto. Era impossível me conter. Por que esse lobo tinha que ser tão imprevisível?

            - Só em casas que deixam a janela aberta. – ele falou com seu sorriso ofuscador de sol e seu sarcasmo habitual.

            (Alguém chame a ambulância, eu estou tendo um infarto). Fechei a porta para evitar que meus pais pudessem o ver e assim evitar um possível escândalo de minha mãe com meu amigo “má influência”.

            - Por que saiu daquele jeito?- perguntei.

            - Sua mãe me olhou como se eu fosse um assaltante, eu tinha que sair. E então? – ele perguntou. – Você vem?

            Essa era a hora. Não tinha muito no que pensar.

            - Eu vou. – sorri para ele. Era impossível ficar sem sorrir.

            - Então vamos.

            Jacob se dirigiu a janela.

            - Espera. – disse antes que ele pulasse.

            - O que foi?

            - Eu preciso pegar uma roupa.

            - Roupa pra que?- Jacob desabou em puro desânimo.

            - Por que com certeza essas vão explodir quando eu me transformar, e o que eu vou vestir depois, quando voltar ao normal? – eu disse a ele quase histérica.

            Jake olhou para meu short e minha blusa.

            - Tá, mas anda logo. – disse ele constrangido.

            Corri ao guarda-roupa repleto de adesivos. Eu não tinha muitos vestidos e os poucos que tinha, poucas vezes foram usados. Passei as roupas de um lado para o outro, várias vezes.

            - Anda logo. – Jacob me apressou, se irritando.

            - Não é tão simples quanto parece. – disse a ele. Queria ver se fosse ele no meu lugar, sacrificar um vestido semi-novo para ser rasgado e desgastado.

            Jacob colocou o braço na minha frente me impedindo de passar as roupas mais uma vez, pegando um vestido azul e empurrando-o contra mim.

            - Agora vamos. – ele disse.

            Bem, quem sou eu para contradizê-lo...

            - Vire-se. – eu disse séria.

            Ele bufou, virando-se.

            – A propósito, – disse ele de repente. - meu pai se chama Billy Black. Diga para seu pai da próxima vez que ele perguntar.

            Se houver uma próxima vez...

            Troquei rápido minhas roupas pelo vestido, jogando as outras no chão.

            Corri até a escrivaninha, pegando um papel e escrevi um “La Push” quase ilegível. Eu deveria deixar pelo menos uma pista da onde eu estaria, mesmo que meus pais fossem até lá e me arrancassem de La Push a tapas . Jacob se dirigiu até a janela e pulou. Não pensei duas vezes e fiz o mesmo, ele me esperava lá embaixo. Olhei para a casa quando cheguei ao chão. A janela da sala onde meus pais se encontravam, estava coberta pela cortina.

            - Meus pais vão me mandar para o reformatório. – eu disse meio receosa.

            - Não vão não. Eu não deixarei que eles façam isso. – Jacob me abriu outro sorriso daqueles.

            Retribuí o sorriso.

            – Talvez te mandem para o circo, caso não te queiram mais. Eles pagam muito por atrações bizarras e uma menina lobo faria muito sucesso.

            -Muito engraçado, Jacob. – disse a ele.

            Jacob me pegou pela mão e saímos dali andando normalmente. Era eu sendo conduzida de novo por meu lobo imprevisível.