Na casa de campo escrita por Nágila Winchester


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Gosto de escrever histórias meio sombrias. Esse caso não foge muito do normal. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/568142/chapter/1

Todo verão, meu irmão e eu acampamos durante um final de semana em uma floresta, afastada da cidade e depois vamos para a casa de campo de nossos pais para passar a semana longe do barulho da urbanização. Uma semana de descanso todo ano.

Thomas é dois anos mais velho que eu. Sempre foi paparicado pela família por ser o primogênito e o herdeiro. A pressão sempre caiu em mim. O que eu seria quando crescesse, que caminho eu seguiria, seria um juiz como meu pai? Mas na verdade nunca me importei com isso. Afinal, desde sempre eu soube que seria médico. Como um dos orgulhos da família, sempre me esforço ao máximo. Estou no segundo ano da faculdade, mas Thomas ainda não me deixou. Cuida de mim como se fosse uma criança boba e insegura. Ele não pararia com isso tão cedo.

Na segunda-feira, desmontamos a barraca como sempre fazemos e arrumamos a mochila. Pegamos a estrada até o casarão. Um maravilhoso cheiro familiar de madeira, móveis cobertos com plásticos e o chão empoeirado. Por isso partimos na incrível aventura de limpar tudo.

Já livres de toda sujeira, fomos fazer o jantar com a comida que compramos em uma cidadezinha vizinha.

— Comida caseira é uma delícia. — Thomas disse com tom sarcástico.

— Você quer dizer comida enlatada? — Disse rindo.

Depois da “ótima” ceia, fomos dormir. Sempre tive um pouco de insônia, então fico a maior parte do tempo acordado, olhando para o teto até pegar no sono. Geralmente não me lembro de nada que acontece anteriormente. Sonhos, nada. Não tinha ideia de que horas eram quando acordei. Mas o sol já estava raiando. Fui à cozinha tomar café quando Tom chegou praticamente se arrastando.

— Bom dia. — Eu disse sorridente.

Ele grunhiu como resposta. Isso só demonstrava nossas diferenças. Além de não sermos nada parecidos, nossas personalidades eram praticamente opostas. Acho que era por isso que sempre nos demos tão bem. Apesar de todas as indiretas para ambos. Coisas como eu devia ser mais sociável igual ao meu irmão, ou ele que devia ser mais estudioso igual a mim. Coisas que irritam, mas com o tempo você aprende ignorar. Nem sempre é fácil, porém é preciso.

Tomei meu café tentando apagar as más lembranças e as pressões da minha mente. Estávamos ali para nos divertir. Relaxar. Talvez nem tanto. Eu tinha alguns trabalhos da faculdade que eu tinha que terminar.

— Você bem que podia deixar isso pra depois. — Thomas estava em pé ao meu lado na varanda observando o belo campo.

— Quero acabar o mais rápido possível. Prometo que depois eu descanso.

— Pensei que iríamos pescar.

— Perdão.

Tom entrou na casa sem nem olhar para trás.

Ao anoitecer, fiz uma última refeição e fui deitar. Demorei a dormir. Minha cabeça rodava e uma sensação horrível tomava conta do meu ser. Meu corpo doía e de repente apaguei. Acordei cedo com a cabeça latejando. Não me lembrava da noite anterior. Nem de como havia dormido ou quais foram meus sonhos, como de costume. Mas a sensação de algo ruim era inevitável. Como um pesadelo. Levantei. Na porta do quarto de Tom havia um bilhete escrito com uma letra estranha “Fui correr”. Não liguei para aquilo e fui comer.

Passou algumas horas e Thomas não voltava. Estava ficado preocupado. Liguei para seu celular, mas ele o havia deixado em casa. Não tinha onde procurá-lo. O carro na garagem, ele não tinha ido muito longe. Fui ver se a porta do quarto estava realmente trancada. Subi as escadas, bati na porta por via das dúvidas. Nada. Comecei a abrir a porta, que não havia sido trancada, devagar, com certo receio.

O quarto aparentemente vazio. A cama coberta com edredom. Levantei as colchas e a cena que vi foi totalmente arrasadora. O travesseiro de meu irmão completamente ensanguentado. Dei um pulo pra trás e acabei caindo no chão. Me arrastei para fora do local tremendo muito, lágrimas escorriam. Mas onde estava Thomas? Desmaiei no corredor.

Acordei assustado. Cabeça doendo muito. Levantei com certa dificuldade e voltei para o quarto. O cheiro de sangue era forte e penetrava na minha mente. Como conseguia sentir aquilo?

Senti ânsia de vômito. Corri para o banheiro, o que foi ainda pior. Enrolado na cortina da banheira havia um corpo. Sangue por todos os lados e desmaiei de novo.

Não sei o que aconteceu depois. Não me lembro. Como se meu cérebro tivesse pagado essas memórias. Só me lembro de estar na delegacia, com um policial gordo e esquisito na minha frente gritando. A cena do travesseiro ensanguentado ficava voltando a minha mente a cada minuto e com o passar do tempo a repulsa ia diminuindo.

— Miguel! Olhe para mim garoto! — O detetive gritou batendo com as mãos fechadas na mesa.

Olhei para aquele homem, mas sua voz sumia devagar e o travesseiro cheio de sangue voltava a perturbar.

— Miguel, nós já sabemos que foi você. Temos provas de que foi você. O taco de baseball sujo com o sangue de Thomas estava no seu quarto, com suas digitais. Suas pegadas no banheiro. Nós já sabemos.

Sorri. Não sei ao certo porque, mas sorri. O detetive continuou. Começou a falar sobre inveja e sei lá mais o que.

— Então você acha que eu matei o Thomas por inveja? Inveja de que? Daquele fracassado? Eu serei um médico. Um ótimo médico e tudo que ele tem é a bajulação dos nossos pais.

— Ele seria um rapaz promissor.

— Ele seria a ruína da família. Uma besta cuidando de nossas finanças? Graças ele não estar mais aqui.

— Finalmente o monstro apareceu. — O gordo fechou a cara e saiu da sala.

Sim. Eu matei meu irmão. Mas não foi por inveja. Eu o amava. Não foi pela pressão. Como já disse, tinha superado isso, afinal, eu teria um ótimo futuro na medicina. Então você deve estar se perguntando: “Por que você deu seis tacadas na cabeça do seu irmão, esmagando seu crânio?” Não é pelo simples fato dele ser um idiota que nunca quis nada com a vida e que no final se daria muito bem. Talvez seja apenas por eu gostar do cheiro de sangue.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, comentem para que eu possa melhorar minha forma de escrever. Adoro fazer contos e redações e pretendo aperfeiçoar mais a cada dia. Então, o que acharam?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Na casa de campo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.