Que Hakuei era uma mulher incrível todos sabiam. Talvez a mulher mais forte de todo o império Kou; a mais impávida e sensata de seus sonhos, sua palavra nunca voltava atrás. Dona de uma beleza estonteante e um poder ainda mais surpreendedor, e acima de tudo era a única capaz de domar a fúria do General Kouen.

Seria cômico se não fosse trágico, e Koumei quem sempre ria das caras e bocas que aqueles dois faziam em reuniões sérias. O irmão mais velho e futuro herdeiro do trono, a quem muitos temiam em apenas citar seu nome, era facilmente derrubado e vencido por um sorriso daquela mulher. Aquela mulher a quem respeitava e desprezava juntamente. Desprezo ao qual não podia explicar, talvez sentisse raiva de si próprio por não controlar-se perto dela e acabava culpando-a.

Quando foi que Hakuei se tornara aquela ventania que era? Aquele furacão arrasador, pronto para levar tudo ao seu redor se precisasse? Quando foi que ela roubara o coração de seu general num simples soprar de brisa?

Ele se lembrava perfeitamente de quando a conhecera; tão jovem e tão fascinante, a menina gostava de envolver-se com assuntos sérios desde pequena, não era algo tão incomum vê-la pelo palácio junto com seus irmãos conversando coisas que até ele naquela época sentia dificuldades em entender.

Mas em todo conto de fadas, há sempre uma bruxa, e no caso de Hakuei era sua própria mãe. Sua vida como princesa fora temporariamente devastada; perdera o chão, os irmãos e o pai naquela brincadeira e obrigou-se a ficar forte por Hakuryuu. Ainda sem ter para onde fugir, onde recorrer, achou braços reconfortantes, braços amigos ao qual poderia confiar. Nesse tempo se aproximou de Kouen como nunca, costumavam passear pela fortaleza nos dias em que seu irmão ainda encontrava-se em estado grave. O futuro general fazia seu sorriso em uma situação tão deplorável.

As coisas se estabilizaram e com isso as novas obrigações e a nova vida os separaram brevemente.

Kouen não se surpreendeu ao receber a notícia que a mulher se tornara uma conquistadora de Dungeon. Na época ela lançara uma grande repercussão pelo império, ainda que houvesse sido a primeira mulher a arriscar-se de tal maneira e voltar vitoriosa. Ele não podia esperar menos dela, conhecia sua determinação. E talvez fora por essas épocas que percebeu sentir algo pela mulher.

Kou não restringia qualquer ato de infidelidade entre seus altos patentes, quem quisesse casar e ainda sim manter casos com concubinas não seria acusado de nada. E Kouen não era santo, experimentara das melhores prostitutas do país até perceber que era inútil, estava procurando algo que nunca iria encontrar, procurava no lugar errado. Seu tempo de farra não durou muito, era inteligente o suficiente para saber quando agia feito idiota.

Depois vieram guerras aos quais Kouen e Hakuei lutaram lado a lado, ele sentia um aperto incômodo no peito vendo-a se esforçar tanto, mas ele era acima de tudo discreto, tão oculto que conseguia permanecer nas sombras andando pela luz. Ela por outro lado preocupava-se com o homem de mãos fortes, um dos únicos a lhe dar apoio quando realmente precisou. Os dois eram tão sigilosos, que se andassem juntos ao meio-dia não despertariam quaisquer suspeitas.

Chegou um tempo em que a troca de olhares se tornou frequente, que o anseio pela proximidade queimava em ambos os peitos e que o desejo era indomável. Kouen tomou a iniciativa chamando-a para uma volta pelo palácio, inicialmente com a intenção de discutir negócios. Hakuei o desequilibrou por inteiro, seu cheiro era inebriante e uma aproximação inocente fez Kouen revelar seus sentimentos no ímpeto. Ela o respondeu rindo. Que tipo de mulher ri quando um homem se declara para ela? O tipo de Ren Hakuei. Ele sentiu-se aliviado por ela o corresponder e ainda sim entender a situação deles.

Eram meio-primos, líderes cada um de seu próprio exército, donos de inúmeras responsabilidades aos quais não poderiam simplesmente ignorar por um amor. Essa era uma palavra ao qual Kouen odiava dizer.

Eles correspondiam um ao outro, mas o dia-a-dia mantinha-os separados. Aquilo com o passar dos meses se tornou um cortejo. Ambos se acompanhavam em confraternizações, conversavam pelo olhar se entendendo no silêncio melhor que com palavras e principalmente estariam ali um para o outro. Nem Koumei entendia aquela relação, era o mais próximo do então casal e conhecia bem aquela trajetória, podia dizer apenas que os admirava, mesmo com seu irmão negando qualquer envolvimento.

— Você não deveria ter me olhado enquanto eu falava das tropas. — resmungou para a mulher sentada.

Encontravam-se sozinhos em sua sala, uma pequena reunião havia acabado entres os príncipes e líderes de seus respectivos batalhões. Hakuei tratava de enrolar os mapas que usaram na discussão.

— Você estava falando, queria que eu olhasse para onde General? — dizia divertida, sabia que o incomodava de todas as maneiras possíveis por simplesmente estar ao seu lado, mas não negaria que adorava as reações dele.

— Não sei, poderia não estar me olhando abobada com aquele sorriso.

— Que sorriso? — perguntou curiosa.

— Esse sorriso! — ele virou-se apontando para os lábios da mulher, parecia nervoso com a sua atual situação.

— Eu não sou nenhuma abobada. — respondeu contendo o riso. — Você se importa com coisas pequenas. — terminou de enrolar os papeis, juntando-os todos no braço e levantando-se com o cuidado devido para não derrubá-los.

Kouen apreciou o andar elegante da mulher, notando ela chegar a sua frente. Perigosamente a sua frente. Encarou-a friamente, a fim de transparecer seu orgulho, apesar de saber bem que isso não funcionava com ela.

— O que deseja? — questionou-a cruzando os braços, o que ela queria tão perto de si?

— Guardar os mapas. — sorriu abertamente, e mais uma vez vencendo a pose autoritária do general com apenas um esticar de lábios.

Kouen ria mentalmente de sua desgraça e sua falha tentativa de permanecer durão perto dela, mas Hakuei era impossível. Deu passagem para mulher desbloqueando seu caminho e podendo só assim perceber que estava literalmente encostado as gavetas do armário.

A mulher terminou de fazer o necessário, virando em seguida e curvando-se numa reverência ao general, estava de saída. Foi pega de surpresa estando de costas ao sentir sua mão ser segurada impedindo-a de prosseguir.

— Deseja algo mais General? — olhou-o confusa.

Ideias loucas passaram por sua mente depois daquela pergunta. Queria puxá-la num beijo, num abraço, queria a próxima de si, mas sentia apenas que não era hora. Suspirou vencendo seus devaneios e dando-lhe a melhor resposta que conseguira formular.

— Durma bem, estarei aqui se precisar.

— Sei disso e sou grata a você. — soltou sua mão pousando-a nos largos ombros do homem e essa era a vez de Hakuei o surpreender; inclinou-se nas pontas dos pés, deixando um singelo beijo no canto da boca de Kouen, saindo sem falar e sequer olhar para trás.

O general levou algum tempo para se recompor, deixou que um sorriso bobo escapasse longe dos olhos dela. Seu cortejo com Hakuei afinal tinha recompensas.