Rotina escrita por Lostanny


Capítulo 1
Zero — A rotina que ele quis.


Notas iniciais do capítulo

Se não me engano, um dia desses eu e a minha mana comentávamos sobre esse casal e a tendência de ele se tornar flufly. Bom isso não acontece aqui. Espero que gostem! Comentem se quiserem, agradeço. ♥



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Sawada Tsunayoshi, 15, como um filho obediente - mais por acomodação por vontade de fato - voltava para seu lar por volta das 17:00 sozinho após se despedir de seus amigos em determinada esquina. Seria apenas mais um dia normal, se não fosse por...

– Enma! - Tsunayoshi chamou com a voz em tom elevado com a intenção de ser ouvido.

O garoto que pensava ter ouvido seu nome ser chamado vira-se na direção do Sawada. Era ruivo. Os olhos eram de tom similar; como chamas contidas forçosamente em um frasco, e tivessem intenção de explodir a qualquer momento. Era um olhar sem jeito, não tão melancólicos quanto costumavam ser e seria normal o Sawada se encantar por eles. Isso se não se demorasse tanto.

Prolongava-se. Porém Tsuna já havia passado a fazê-lo quase que no automático. Quando se encontravam parecia que um detalhe que ainda não havia averiguado surgia. Essa sensação se tornava mais intensa no Vongola já que ultimamente via o Kozato cada vez menos - além de estarem em turmas diferentes mais tarefas eram atribuídas a eles por suas famílias.

A distância fazia o Vongola pensar... Já há um tempo não conseguia mais refrear fundar e refundar conceitos a respeito daquele amigo em particular, seu orgulho pelo qual arriscou sua vida... O estudava, admirava-o tal qual uma obra de arte...

Tsuna sabia que, apesar de Enma nada comentar a respeito, se sentia incomodado com seu comportamento. Afinal quem não estaria se não encontrasse seu melhor amigo de repente lhe secando tão descaradamente? Porém em um dia tão confortável como aquele Tsuna poderia deixar aquela informação passar. O Vongola se desculpou, mais uma vez, pela sua distração, e sorriu para o amigo... Aquele sorriso era tudo, menos para um amigo provavelmente. Parecia esconder alguma coisa que nem mesmo Tsuna conseguiria distinguir.

Tsuna viu como o Kozato tocou seus curativos e passou os dedos por eles sem aplicar muita força, um pouco menos calmo. Mas aquela informação também foi descartada, prosseguiam a caminhada sem conversar muito. Uma hora Tsuna indagou se aqueles eram machucados novos e quem os tinha feito. Tsuna já sabia da resposta.

Tsuna poderia sentir que algo estaria errado. Não sabia se o problema era com ele ou o ambiente ao seu redor. O local, assim como os outros, era vermelho de um vermelho tão escarlate quanto o sangue, como aqueles cabelos e aquelas íris. O mundo parecia transfigurado, como se o forçasse a ver o Kozato em toda a parte. Não havia refúgio, além do próprio Enma que sempre lhe traria calma não importasse a situação, mas não deveria ser nada demais.

Kozato lhe contou meio pausadamente, como se tivesse algum receio de lhe contar. Tsuna o tranquilizou e prosseguiram a caminhada.

Tsuna sentia como se o tempo fosse parar a qualquer momento, deixando apenas eles dois naquele percurso aparentemente interminável. Sua volta para casa nunca havia sido tão longa.

Então Tsuna notou...

Isso não era normal.

Não apenas o tempo, não apenas o ambiente... Tsuna voltou seu olhar para seu peito, que apenas naquele momento percebeu que doía muito.

O local em seu peito que deveria localizar seu coração brilhava com uma chama laranja, porém era algo que saía de si, como se sua alma estivesse sendo consumida. Enma parecia não ver e o observou confuso quando falou a respeito. Era definitivamente estranho.

A chama se ampliava, Tsuna se sentia sufocado e realmente pensou que poderia morrer. O mundo inalteradamente vermelho parecia clamar por algo, mas Tsuna não conseguia ouvir. Talvez nervosismo, talvez tão somente estivesse ficando louco...

Por aquela paixão.

Mais uma resposta chegava ao seu cérebro com a velocidade de um trovão, esmagadora e sincera. Não deveria continuar, pois tão somente a ideia de rejeição em todos os sentidos lhe veio à mente. Seu próprio corpo não parecia tolerar e tentava consecutivamente destruir, expulsar aqueles sentimentos... Deveriam tão somente escassear até que se tornasse indiferente, uma casca vazia, sem perdas de qualquer tipo. Mas também sem nenhum ganho... Não seria ruim, apenas seria o curso normal da vida. Seria um fato esquecido, não registrado que ninguém além dele chegaria a conhecer.

A mudança gradativa da aura do Kozato, que vinha se tornando mais viva a cada dia, Tsuna poderia ver e perceber e sentir cada contorno... Naquele momento aquele repentino tom obscuro de provável confusão e medo - por sua falta de resposta - o fez rir.

E Tsuna riria como normalmente o fazia. Isso se não tivesse se tornado rotina, e se desgastado com ela. Paixão que crescia desconsiderada, camuflada naqueles dias felizes de encontros de sorte. Desde que o problema com relação a suas “famílias” foi esclarecido, desde que eles não precisavam acabar com aquela companhia que traziam tanto conforto a ambos... Tsuna queria ser tão somente ele a fazer com que o ruivo se tornasse mais relaxado.

Mais era apenas questão de tempo... Sua mente e corpo devotados sabiam. Tsuna teria que deixar outras pessoas o tocarem... Falarem com ele. Enma não era uma obra de arte que ele poderia confinar e ficar a admirar isoladamente. Gokudera já era um dos que havia conseguido se aproximar do ruivo recentemente, os outros viriam com o tempo. Era egoísta, tinha que deixar isso já... Tsuna não era de lutar por nada, sempre quis se manter a margem para que pudesse viver sua própria vida pacatamente...

Notava tardiamente que estava mudando de alguma forma, para melhor ou para pior... Tsuna só queria que aquele momento específico não acabasse. E então ele poderia mudar de ideia a tempo, Tsuna poderia contar o que sentia. Poderia chorar também, Enma como um bom garoto que era poderia afagar sua cabeça e lhe dizer palavras gentis, caso aceitasse ou não. Era uma possibilidade remota, mas não impossível de acontecer. Seria um happy end de alguma forma.

Ou não tão triste para que alguém pudesse chorar... De horror e medo. Se tivesse mudado de ideia, se tivesse sido mais paciente, deixado que aquele tumulto instalado em seu interior ser liberto em poucas e significativas palavras... Não haveria nada demais, sua vida teria em registro mais um dia normal em Namimori. Sem o vermelho ou uma jaula ou um grito.

Uma nova rotina se instalava a partir de então.

–... Tsuna-kun...! - Enma falava com a voz meio rouca de tanto falar.

Grades, e correntes, e aquele rosto tão gentil - mas amargado - eram as únicas coisas que Tsuna podia ver. Tsunayoshi jurava que tentava entender o que seu amado dizia, mas isso parecia impossível... Isso porque aquela boca pertencia ao Sawada e apenas seu nome poderia ser ouvido e nada mais. Aqueles olhos, aqueles machucados, também tão só dele. A obra de arte que ele sempre quis adquirir, a sua alma gêmea tardia que a tanto queria completar e aperfeiçoar como bem entendesse. Ninguém saberia e, dessa forma, ninguém poderia perturbá-los.

Era uma operação delicada.

Tinha que ter certeza que Kozato diria apenas seu nome, apenas olhasse para si, deixasse que apenas Tsuna pudesse feri-lo. Isso seria constantemente ensinado, o tempo que precisasse... O tempo não seria um problema para eles.

–... Porque está fazendo isso...?

Mesmo que tivesse blindado sua mente de qualquer coisa alheia ao seu entendimento de mundo, aquele questionamento por fim conseguiu chegar ao Sawada. Observando o nada, o adolescente virou sua cabeça, revelando seu olhar vazio para o “amigo”.

–... Por que...? - Tsunayoshi questionou bagunçando o cabelo confuso -... Ah... Por que era mesmo...? Não se preocupe com isso... Você nem vai sentir mais com o tempo, mesmo que doa, mesmo que sofra... Quando você se acostumar... É fácil... Como eu me acostumei. Você nem vai mais perceber!


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela atenção!