Katniss estava em choque, não conseguia assimilar a notícia, era demais para ela, mesmo que ela e Effie não fossem boas amigas, ainda assim, era um ser humano e ela queria o bem da mulher, a familía a amava, Delly foi a primeira a começar a chorar enquanto se abraçava a Gale.

            Effie se virou para Katniss para ver o que esta faria, mas continuou em silêncio, sem lágrimas, o que fez a mulher sorri.

—_ Posso falar a sós com você Katniss?

—_ Sim, claro.

—_ Vamos ao gabinete por favor.

            Os familiares apenas assistiram aquela cena, sem saber ao que aquilo levaria, estavam abalados, e mesmo que as duas não fossem amigas, duvidavam que brigariam naquele momento e por isso apenas deixaram que se fossem.

            Ao adentrarem o local, Katniss ficou sem reação, não sabia o que fazer ou como agir, não se sentia próxima o bastante para um abraço, mas sentia necessidade de confortar a mulher, optou por apenas se sentar e aguardar o que Effie falaria, ambas sentaram-se lado a lado.

—_ Katniss... Desde que descobri sobre... A doença eu tenho pensado sobre a minha vida, talvez eu esteja com medo, queira redimir os meus pecados...

—_ Por favor não fale assim Effie, não pode desistir.

—_ E não estou desistindo, apenas sendo realista. – A mulher falou engolindo em seco. – Katniss eu queria conversar com você pois há algum tempo vejo sua mudança, sei que nunca foi facil lidar comigo, eu nunca facilitei ou acreditei na sua transformação, mesmo agora ainda é difícil acreditar nisso... Mas veja bem, estou morrendo e não quero levar intrigas quando eu posso... Morrer em paz.

            Falando aquilo a mulher respirou fundo, Katniss sentia lágrimas finalmente caindo dos olhos, era triste e ela se sentia grata por estar ali e por finalmente conseguir uma abertura com Effie, mas lamentava que fosse naquelas circunstâncias.

—_ Eu... Só quero que você fique bem Effie, sei que não posso mudar tudo o que passou entre nós, mas se de alguma forma eu puder te ajudar...

—_ Eu só quero o seu perdão, eu sei que errei ao trazer Delly e agora é tarde pra mudar algo, mas... Eu pensei no bem dessa família, e naquele momento você não era uma opção, então por favor me perdoe.

—_ Não há o quer perdoar, todo crime de amor não deve ser julgado... Não quando é tão altruista quanto o seu, fique em paz.

            Katniss falou sincera, as duas apertaram as mãos e dos olhos lágrimas caiam sem timidez, estavam tristes, e depois de um tempo a mais velha foi a primeira a deixar o aposento, deixando a jovem Everdeen apenas pensando na vida.

            Estava ali a tanto tempo que não percebeu o tempo passar, quando ouviu um barulho na porta e olhou o relogio, era quase meia noite, se virou e viu um Gale triste e totalmente desamparado olhando para ela com a porta entreaberta.

—_ Katniss... Eu realmente preciso de você. – O homem falou e andou até ela, a garota ficou sem reação, era muito fácil afastar um Gale normal, mas não aquele, não naquela noite, o homem parecia estar carregando o mundo nas costas.

            Sentou ao lado dela no sofa, e a encarou, Katniss sentia a dor dele, a tristeza, o abraçou, não era como quando era com Peeta, era algo quase fraternal, ela sentia pena dele, e queria lhe confortar, sentia que Gale era um bom homem, não sabia como ser um pai, mas amava os filhos, apesar de ser distante, era a forma de como ele era.

—_ Effie... Eu sei que você e ela nunca se deram bem, mas você sabe o quanto ela ama meus filhos, o quanto ela cuidou de mim, ela sempre esteve aqui para mim, não suporto a ideia de também perde-la, não quando ela é tudo o que me restou dos meus pais... – Ele falou triste, Katniss apenas o abraçava e o ouvia afagando seus cabelos.

            Ficaram ali por vários minutos, até que Gale se levantou, olhou profundamente para Katniss e lhe estendeu a mão.

—_ Eu sei que tenho errado com você, eu realmente sei que a presença de Delly aqui não é certa, mas eu... Eu realmente amo você Katniss, esteja ao meu lado e eu nunca mais olharei para nenhuma outra mulher, será até que a morte nos separe.

            Katniss olhava para ele e para a mão dele, não podia se agarrar a ele, sentia as lágrimas descendo, não sentia amor por Gale e não se sentia culpada por isso, era o homem da irmã, nada mudaria isso e ela nunca o amaria, não como homem, e seu coração já tinha dono.

—_ Desculpe Gale... Eu realmente não posso. – E falando isso ela se levantou e o deixou sozinho... Não queria magoa-lo, mas não podia corresponde-lo.

            Na manhã seguinte, o café da manhã foi silencioso, pela primeira vez até Clove pode perceber o quanto o pai estava triste, notou que durante toda a refeição ele encarava tristemente Katniss, parecia que algo havia acontecido.

            Ela sabia que o pai e Katniss estavam diferentes um com o outro, aliás, Katniss estava diferente com todos, com Peeta... Ela não entendia, mas iria confiar, iria esperar e tentava manter a fé, mesmo se sentindo triste quando via o pai daquele jeito, sabia que o pai amava a mulher, mas não tinha tanta certeza sobre ela.

            Peeta não tinha ido comer com todos, Katniss foi a primeira a sair da mesa, Clove viu a mulher indo para a cozinha, e depois a observou subir as escadas com uma bandeija na mão, a seguiu silenciosamente e a viu entrar no quarto de Peeta, deixando a porta entreaberta, a garota apenas ficou ali observando.

            Katniss deixou a bandeja em cima da mesa, mas Peeta não estava na cama, andou pelo quarto e percebeu que a porta da varanda estava aberta, andou até  e com um olhar preocupado viu o rapaz sentado no chão.

—_ Peeta... Por que está aqui fora? A quanto tempo está aqui? – Perguntou vendo que ainda usava as roupas da noite passada, o rapaz apenas se limitou a olhar para ela. – Você não pode ficar aqui, vamos entrar.

            Quando ela tocou nele percebeu o quanto estava febril, deveria ter passado a noite ali, parecia que não tinha dormido, ela então saiu o puxando pela mão até a cama, o garoto não falava nada, apenas se deixou ir.

—_ Peeta... Por favor não fique assim. – Katniss falou sentindo toda aquela dor.

—_ Eu... Não me dou muito bem com perdas. – O homem falou levantando uma mão e a passando pelo rosto de Katniss delicadamente.

            Os dois então não resistiram, e se beijaram, lentamente, arduamente, separaram-se sem folego, culpados, feridos.

            Ali da porta, Clove colocou a mão sobre a boca para não gritar, estava chocada com a cena, triste e magoada, perdida e desacreditada considerando que aquelas eram duas das pessoas que ela mais amava e confiava, então, num ato impulsivo escancarou a porta e encarou os dois, Peeta ao vê-la abaixou os olhos, culpado, mas não Katniss, ela parecia pedir paciência...

            Mas Clove não tinha mais paciência, não depois daquela cena, saiu correndo dali e se trancou no quarto, chorando e tentando não pensar a respeito. Katniss apenas respirou fundo, Peeta a encarava.

—_ Eu vou falar com ela... Apenas coma alguma coisa. – Ia se levantando quando Peeta a puxou pelo braço, parecia preocupado, mas ela não estava, se sentia mal, mas por motivos diferentes. – Não se preocupe, não comigo, esta tudo bem.

            Então Peeta confiou nela e a deixou ir, Katniss imediatamente foi para o quarto de Clove, e a porta estava aberta, entrou e a trancou, a garota estava estirada na cama, chorava muito, quando percebeu alguém no quarto, se levantou, encarou Katniss raivosa.

—_ O que faz aqui? Por que mentiu para mim? Achou que era fácil enganar uma criança? – Perguntou recentida, mas Katniss não se abalou, estava decidida, contaria tudo a pequena e naquele momento se preparava para isso.

—_ Eu realmente menti pra você Clove, mas não como você pensa... Eu não trai o seu pai. – Katniss falou a encarando.

—_ Mentira! Eu vi você com Peeta!

—_ Eu sei o que você viu.

—_ Não vai me dizer que me enganei? – Perguntou a pequena tremula entre as lágrimas.

—_ Não, foi exatamente isso que aconteceu.

—_ Então? Como não mentiu para mim?

—_ Nunca me casei com seu pai...

—_ Mentirosa, sai do meu quarto! – A garota gritou já não aguentando aquela situação.

—_ Eu posso provar... Por favor me deixe... Se toda essa mudança não foi suficiente para você, eu tenho mais. – Katniss agora tinha toda a atenção da pequena.

—_ Se mentir para mim de novo eu vou contar tudo para o meu pai, e ele nunca mais te deixará voltar pra casa, você vai ser expulsa.

—_ Essa não é a minha casa Clove... Eu não sou a mulher que casou com seu pai. – Então Katniss pegou a carteira e tirou uma foto. – Essa é a verdade.

            A garota então olhou sem entender, eram duas crianças, garotas identicas. Mas ainda não entendia.

—_ Essa sou eu e minha irmã, Jennifer... Somos gêmeas. – E então Katniss narrou toda a história, desde a infância, a primeira troca e as que vieram depois, e até mesmo a história da doença de Jennifer, a garota apenas escutava tudo silenciosamente. – Foi isso que aconteceu, eu menti pra você... Mas não sobre trair o seu pai.

—_ Você quer me enganar? Isso não prova nada, são crianças, como vou saber que é verdade?

—_ Minha irmã está voltando... Você vai saber e quanto a foto, você nunca viu uma foto de Jennifer criança? Peça ao seu pai, pode ficar com essa até tirar suas dúvidas.

            A garota parecia mais calma, mas também mais inquieta, sentia uma dor ao imaginar que aquela Katniss não estaria mais com ela, sem perceber as lágrimas voltaram, a perderia de qualquer forma.

—_ Por favor Clove, não conte nada a ninguém, eu não estou mentindo.

—_ Você ama o Peeta? – A garota perguntou e vendo a reação de Katniss e a falta de resposta ela entendeu, amava-o.

            Katniss então saiu do quarto, sabia que a garota não contaria nada, agora, sabendo a verdade, mentiria com ela, estaria ao lado dela, e fazer aquela cumplice a destruia, não queria colocar alguém mais naquela situação.

            Ouviu um barulho na sala e lá estavam Finnick e Rue, ele seria o médico de Effie e Rue ajudaria a familia no que fosse possível.

—_ Obrigada por virem. – Effie os recebeu na sala. – Desculpe Rue, mas eu vou conversar a sós com Finnick no escritorio.

—_ Eu entendo perfeitamente, fiquem a vontade.

—_ Obrigada.

            A matriarca da família saiu acompanhada do jovem médico, Katniss se fez presente e Rue apenas a olhou sem jeito.

—_ Olá Rue.

—_ Oi Katniss, sinto muito pelo que está passando, nós gostamos muito da Effie.

—_ Eu sei, obrigada... Se importa se eu ficar aqui com você enquanto eles não voltam?

—_ Claro, não há problema, me desculpe pelo outro dia, sua mudança apenas nos pegou de surpresa.

—_ Tudo bem, todo mundo reagiu assim.

—_ Desculpa me meter, mas o que aconteceu pra mudar tanto?

—_ Eu também não entendo... – Katniss desconversou se sentindo desconfortavel. – Você e Finnick são um casal bonito, há quanto tempo estão juntos?

            Dessa vez, quem pareia desconfortavel era Rue, e Katniss não entendia o por que, queria mudar de assunto e achava que aquele era um topico seguro.

—_ Eu e Finnick estamos nos separando.

—_ O que? – Katniss perguntou realmente surpresa. – Vocês parecem realmente gostar um do outro.

—_ E gostamos, mas percebemos que... É preciso outro tipo de amor pra sustentar um relacionamento, nos amamos, mas somos mais amigos do que de fato marido e mulher.

            Katniss apenas ficou em silêncio, imaginava que não tinha intimidade o suficiência para entrar naquele assunto delicado, por isso apenas ficou esperando quando Annie chegou na sala para vê-la.

—_ Ah! Professora Rue!

—_ Que surpresa, não sabia que estava trabalhando aqui Annie.

—_ Faz pouco tempo... – Annie falou realmente sem jeito, Rue era uma de suas professoras favoritas poucos anos atrás, quando Rue ainda era apenas uma estagiaria, mas Rue lembrava do quanto Annie tinha potencial.

—_ Entendo... – Rue falou sem jeito.

—_ Annie é muito querida aqui, eu gostaria de ajuda-la no futuro. – Katniss falou encarando a garota sinceramente.

—_ Eu entendo, eu ainda me lembro do quanto ela era inteligente, sempre se destacava... E se possível eu gostaria de ajudar. – Rue falou pegando um cartão na bolsa e entregando pra uma Annie totalmente sem jeito.

—_ Eu... Não precisa, estou bem, não quero incomodar.

—_ Não é incomo garota, e seria um trabalho, na área da educação, era o seu sonho não era? – Annie arfou, era exatamente tudo o que ela sempre quis.

—_ Aceite Annie. – Katniss incentivou, e a garota pegou o cartão sem jeito.

—_ Muito obrigada.

—_ Não me agradeça ainda, vou fazer você trabalhar pesado.

            E nisso, o clima tenso se dissolveu um pouco e elas soltaram pequenos sorrisos.