After a long time escrita por Mimiya


Capítulo 1
O amor é dos suspiros a fumaça...


Notas iniciais do capítulo

A frase do título do capítulo único foi retirada de "Romeu e Julieta", de Shakespeare.



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Ela escolheu ser mãe.

Porque essa foi a sua escolha, então não deveria haver arrependimentos. Mas e então, o que restava? Sakura Haruno ou Sakura Uchiha. Ambos os sobrenomes eram tão vazios quanto seus dias.

Sua escolha não era condenada, mas seu coração, sim. Pois amara o homem que destruíra sua vila, despedaçara cada resto de humanidade que havia em si próprio, até penar nas mãos do melhor amigo. Sasuke não era um exemplo a ser seguido, muito menos um homem a ser amado. Mas era um pai. E isso parecia bastar.

Sakura passava o espanador por cima dos livros antigos, enquanto se equilibrava em um só pé sobre a escada que aparentava cair a qualquer instante. Pó. Ali tinha tanto pó que ela poderia facilmente confundir o lugar com a vila da areia. Respirou fundo, tentando expirar toda a sujeira, mas a ação só pareceu enchê-la ainda mais. Seu nariz coçava e a alergia parecia despontar a cada espanada.

Suspirou profundamente, fechando uma das mãos em punho e tomando ar suficiente para continuar. Ela já era uma mulher formada, era mãe e esposa. Mais mãe do que esposa ou mulher. Aquela se tornara uma nova profissão: cuidar de Sarada, e talvez, se o destino determinasse, dar à luz a mais filhos. É claro que Sasuke não parecia disposto a pôr em prática o que tanto cobrava. Porém, ela também não tinha intenção de se esforçar para tanto.

O que importava era Sarada. A garota era simplesmente uma obra prima. Tinha todas as habilidades geniais de seus progenitores, sem, no entanto, esboçar tanta frieza quanto aparentava.

Sakura dera graças aos céus quando a garota nascera. Os cabelos eram tão negros, a pele tão macia, as mãos tão pequenas. Aquilo lhe pertencia, e não houve arrependimentos.

Se existia amor entre Sakura e Sasuke, isso era outro capítulo. Porque ali, em seus braços, recém nascida, havia a fórmula do amor.

Pisou firmemente no degrau da escada e se preparou para descer. Aquela limpeza mais parecia um complô para distração e espirros incontroláveis do que qualquer outra coisa.

Sarada já aparecia na porta quando Sakura desamarrava a faixa da cabeça e tirava as luvas de limpeza.

— Filha! Seja bem vinda! – Esboçou seu melhor sorriso, que sempre aparecia quando Sarada estava por perto.

— Estou em casa. – A garota de cabelos negros ajeitou o óculos de armação vermelha no rosto e passou o olhar pelo local. – Você continua limpando essa biblioteca imunda, mãe?

A pergunta era mais uma crítica do que um questionamento, mas Sakura não se importou. Segundo diziam os estudiosos, aquele comportamento existia porque Sarada era filha de Sasuke. E Sasuke era um chato.

— Sim, meu bem. – Os cabelos rosados da mulher foram libertos da amarração e ela passou uma das mãos no local, ajeitando-o. – Aqui há livros incríveis sobre medicina e uma grande variedade de plantas medicinais. Eu sou uma ninja médica, mas não sei de tudo também.

— Você era, mamãe. – Corrigiu Sarada.

— Não vejo porque dizer que eu “era”, sendo que eu ainda sei fazer tudo que eu fazia no tempo de shinobi. Você é exatamente como seu pai, tão presa à detalhes. – Sakura murmurou, tirando o avental e organizando alguns restos de misturas que ela testara mais cedo.

Sarada não respondeu. Seu olhar estava fixo no pequeno pote de madeira nas mãos de sua mãe. Se aproximou lentamente e observou com mais calma o conteúdo verde.

— O que é isso? – Sua curiosidade era evidente.

Sakura sorriu. Era idêntica à ela quando criança. Sempre rondeando Tsunade com a mesma pergunta: “O que é isso?”

— É uma mistura para incentivar o cérebro a pensar. – Ela refletiu por um instante. – Ou, melhor dizendo, é um estimulante mental.

Sakura pôde notar o exato momento em que o brilho tomou conta dos olhos da filha. Abaixou o pote em direção a mesa e caminhou até a porta, erguendo a vassoura e levando consigo o espanador.

— Mamãe. – A mãe já sabia o que viria a seguir. Virou-se e aguardou pelo que a criança diria.

— Sim?

— Como eu posso fazer uma mistura assim também? – Sarada tentava não esboçar sua curiosidade incontrolável, mas Sakura era uma mãe. E mães sabem de tudo.

— Há, no meio da floresta de treinamento, onde acontece todos os anos o exame Chuunin, um pequeno lago. Dentro dele há uma espécie de planta com folhas verdes e sementes azuladas que cresce próximo as algas. É aquilo. – E saiu.

Sabia que a filha iria procurar. E seria bom. Apesar da preocupação de mãe que sempre a atormentava, Sarada era uma criança genial. Porque além de tudo, era filha de Sasuke.

Sarada não esperou muito. Atirou a bolsa da academia em um canto da biblioteca e saiu em direção à rua. Acenou para a mãe uma última vez e Sakura pôde presenciar a pequena desaparecer como um passe de mágica, dando asas à sua curiosidade.

Sakura suspirou e limpou uma gota de suor que lhe escorria à testa. Estava quente. Konoha recentemente parecia ultrapassar qualquer temperatura normal. E isso era cansativo.

Tirou a chave do bolso e colocou-a na fechadura da porta da biblioteca, notando que o tempo começara a se fechar de repente.

E toda vez que isso acontecia, o tempo fechava dentro de sua casa. Dentro de seu coração.

Era o retorno de Sasuke.

Deixou que um longo suspiro fugisse de seus lábios e correu para dentro de sua casa, pronta para tomar um banho e cozinhar algo para o jantar.

Às vezes sentia falta da emoção de uma missão, das ordens de Tsunade ou até mesmo de Kakashi. Do time sete. Mas o tempo correra tão depressa que ela não teve tempo de destruí-lo ou de amenizá-lo. Tudo se foi tão rápido.

E com esse pensamento, adentrou o banheiro, imersa em sua tão contínua reflexão.

**


Sasuke deu o primeiro passo para dentro da vila e pôde notar que dois jounins o observavam atentamente à sua esquerda. Era apenas natural que fosse daquela forma.

Caminhou à passos largos em direção à sua casa, tentando ignorar os olhares curiosos. Era isso, depois de tanto tempo. Mesmo após se render e pedir perdão, ele ainda era visto como um traidor. Não que isso fizesse diferença, mas para Sarada, sua filha, provavelmente sim. Ela era uma Uchiha. A filha de Uchiha Sasuke, que renegara sua vila e até mesmo tentara destruí-la.

Quem mais entenderia uma criança que é rejeitada pelo que seus ancestrais fizeram do que um pai que passou pela mesma coisa?

Mas ele tinha certa noção de que isso não aconteceria na Academia ou no futuro. Os habitantes da vila, principalmente os shinobis, não rejeitavam um ao outro. E pelo menos nesse ponto, Naruto fora inteligente.

O tempo, apesar de quente, estava preparando-se para chover. Resolveu se apressar, porém sem perder a visão da vila.

Querendo ou não, era a sua vila.

Onde Sarada iria crescer, assim como ele cresceu.

Avistou a árvore que indicava sua casa, e parou repentinamente. Lembrou-se que ficou semanas longe de casas e que nela haveria Sakura também.

A esposa não parecia tão disposta quando ele saíra, e por isso, a visão do olhar inerte de Sakura o perturbara durante toda a viagem.

Suspirou e continuou a caminhar, afinal, essa foi uma escolha compartilhada. Ambos escolheram o mesmo caminho, e isso era o suficiente.

**


Cozinhar era realmente uma experiência incrível.

Sakura conseguia misturar suas ervas medicinais com pequenos ingredientes de tempero e o resultado era sempre maravilhoso.

Apesar de não gostar da ideia de cozinhar, aquilo era também um novo modo de descobrir-se e passar o tempo. Era um novo hobbie: criar misturas na cozinha e levar para a Academia, para os colegas de Sarada provarem.

Sentiu um arrepio na espinha e não precisou virar-se para notar que estava parado próximo à entrada da cozinha.

Sasuke.

— Estou em casa. – A voz grave do marido preencheu o ambiente.

Silêncio.

Sakura retirou a colher de dentro de uma das panelas e tampou-a.

—Seja bem vindo. – Sua voz saiu mais baixa do que o esperado e ela teve de se esforçar para não sair correndo.

Esse era o momento mais tenso entre o casal: ficar sob o mesmo teto.

Frequentemente, a moça relembrava da noite em que Sarada fora preparada. O toque desinibido de Sasuke os cabelos negros que ao fim estavam úmidos.

Chacoalhou a cabeça, espantando o pensamento, enquanto desligava algumas chamas e abria uma das prateleiras para pegar alguns pratos e ohashis.

— Sakura. – Sasuke ainda estava ali. No mesmo lugar, e chamando-a.

— Sim? – A moça percebeu o tremor na própria voz e largou os pratos sobre a pia.

— O que está acontecendo? – Ele era sempre tão direto. E isso era detestável.

— Nada. – Ela virou-se completamente para ele.

Sasuke pudera vê-la inteira. Os cabelos continuavam curtos, mas o rosto parecia mais brilhante, assim como os olhos. O corpo de Sakura era belo como sempre fora, mas havia ali curvas ainda mais definidas. Ele se esforçou para não pensar em algo além do que iria dizer.

— Você está infeliz? – A pergunta soou como uma afirmação e ele retirou a mochila, atirando-a em um canto vazio. Exatamente como Sarada.

— É uma pergunta retórica? – A voz de Sakura soou irônica e ela caminhou na direção de Sasuke, passando por ele e indo fechar uma das janelas da sala.

— Entendi. – E pronto. Aquele assunto estava finalizado. A moça tinha certeza.

As tentativas de conversar com Sasuke eram sempre frustradas por sua infantilidade. Pois ela sempre chegava ao ponto de responder sarcasticamente tudo que o marido dizia até ele desistir e ir dormir no andar de cima.

Sasuke caminhou até o sofá e sentou-se, olhando para Sakura, que estava concentrada fechando as janelas e puxando cortinas.

— Sakura. – Dessa vez, ela sentiu um pequeno frisson passar por seu corpo.

Virou-se completamente para encarar Sasuke.

— Sim, o que foi? – A pergunta saiu quase falha.

Ele a encarava de um jeito estranho. Ou ao menos, era a primeira vez que a olhava daquela forma.

— Eu gosto de você. – A afirmação preencheu o silêncio deixado pela pergunta anterior e a moça procurou algum riso abafado ou ironia em seu tom de voz.

— Por que está me dizendo isso agora? – Sakura recuou e sua voz mostrou-se surpreendida. – Ambos sabemos que isso é convencional para você. Sarada nasceu, então está tudo bem, certo?

Sasuke levantou-se e caminhou em sua direção.

Ele continuava lindo. Os eternos olhos negros agora brilhavam. Seu cabelo rebelde estava mais comprido e ele parecia ter ficado ainda maior em relação à Sakura. A faixa amarrada à sua cabeça, tudo parecia ser como a primeira vez em que se amaram.

Mas o que havia de bom em lembrar-se disso?

— Eu vou voltar para a biblioteca. Há muito para limpar lá. – Sakura disse mecanicamente, virando-se e caminhando em direção à porta.

Sasuke a conteve, abraçando-a pelas costas e fazendo com que um arrepio percorresse seu corpo com o contato.

— Está chovendo lá fora. – Ele sentenciou. A moça direcionou seus olhos para além da janela ainda aberta e pôde notar que era verdade. – Eu senti sua falta.

Minha falta. Eu, Sakura.

Seu coração começou a bater mais forte e era difícil respirar quando ela podia senti-lo atrás de si.

— Eu também senti a sua. – Se rendeu.

Sasuke girou o corpo da moça lentamente, fazendo-a encará-lo.

— Eu sempre preciso dizer tudo para você, sua teimosa? – A pergunta surpreendeu Sakura, que simplesmente sorriu constrangida.

— Se você não disser, eu nunca irei saber, Senhor Uchiha. – O sorriso em seus lábios se tornou ainda maior, as órbitas verdes refletiam um brilho incrível.

Sasuke apenas selou os lábios da moça com desejo, calor e também, saudade.

Porque algumas coisas simplesmente eram dolorosas.

A saudade era uma delas.


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Notas finais do capítulo

É isso. Curtíssima e criada só para não ficar em branco o fim de Naruto. Talvez eu escreva outras histórias de SasuSaku. Bom, acho que deixei uma confusão no ar, não é? No início, parece que a Sakura não era amada. Mas sempre foi. Porém, Sakura é uma mulher. E nós mulheres sempre criamos mil teorias mirabolantes. Com ela não foi diferente.