Ravena escrita por Gabriel C Zinn


Capítulo 3
A noite indesejada


Notas iniciais do capítulo

Terceiro capítulo!! Tensão, nervos à flor da pele, se preparem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/568002/chapter/3

Aos sábados o colégio era aberto para reforço escolar e outras atividades. Hoje é sábado. O motorista deu uma freada brusca na frente do colégio e eu o paguei. Desci rapidamente do carro e corri para os corredores. Movimentação baixa, zeladores e supervisores estão longe do meu alcance, plano perfeito.

Quando cheguei em frente ao armário da Amber, pensei mil coisas para acabar com ela. Primeiro que eu não sabia a senha, segundo que eu sou uma inocente. E no exato momento que pensei em arrombar o armário, Jenni saltou atrás de mim. Ela fazia reforço de literatura, e pelo visto voltou mais cedo da viagem.

– Meu Deus que susto! - falei, gargalhando.

– Novidades! - ela exclamou. - Estou oficialmente namorando o Carl!

– Jenni! - vibrei. - Isso é ótimo! Parabéns! E nos abraçamos. Eu amo abraçá-la, por que ela me faz sentir uma pessoa melhor. Uma irmã que eu nunca tive.

Então ela começou a me observar, e passou a entender o que eu estava prestes a fazer. Soltou uma gargalhada e disse:

– Justo você que carrega todo tipo de coisa tentando arrombar um armário com as mãos?! - fez uma pausa esperando meu pronunciamento. Fiquei quieta tentando acompanhar o raciocínio dela - pega uma ferramenta no seu armário.

Ela tinha razão. Eu tinha clipes, tinha ferramentas estranhas de conserto caso viesse a fazer alguma besteira. Quando abri a porta do meu armário, me deparei com uma linda surpresa me esperando. Meu violino, todo despedaçado. No máximo sobraram as cordas, e ainda olhe lá. Primeiro berrei agonizadamente. Depois me ajoelhei no chão e chorei, chorei muito, chorei inconsolavelmente.

Amber tinha ultrapassado todos os limites. Ela é esperta, ligeira. Bem mais rápida do que eu. Como ela saberia? Não sei, só sei que sou muito fraca para fazer mal a alguém. Jenni voltou comigo para casa e passamos o final de semana juntas. Não vi Brad. Aliás, o ignorei com sucesso. Quando amanheceu na segunda, tinham quatorze ligações perdidas dele. Não tive o trabalho de ligar de volta.

De volta ao colégio, Brad estava sozinho em um canto da sala. Ele me chamou, e só o ignorei. Quando ele quis se aproximar, pedi calmamente para que ele mantivesse a máxima distância de mim. Ele insistiu, mas fui firme o suficiente para que ele retornasse, chateado, para o canto da sala.

Amber chegou com sua capacho ao encalço. Levantei nervosa e parei de frente a ela.

– Como pôde? - disse para Amber, com tom de que ia chorar.

– Está ficando maluca? - ela perguntou, ironicamente - quero dizer, está ficando mais maluca ainda? - e começaram a rir.

– Não, não estou. Você sabe o que fez Amber, sabe que meu violino era importante. Como ousou? - eu estava quase chorando.

– Querida, - ela começou a dizer. - sai da minha frente antes que eu quebre sua cara também.

– Então você confessa que foi você. - exclamo. Uma lágrima já caiu dos meus olhos.

– Sai daqui sua excluída de quinta categoria. - ela gritou - por isso ninguém te quer, por isso nem o Brad te quer, por que você é uma insuportável que merece passar o resto da sua vidinha miserável limpando neve. - e depois de tanto gritar, jogou meu material escolar no chão. Não me atrevi a olhar para Brad, tampouco para qualquer outra pessoa. Fiquei ali, parada, olhando o nada e pensando o quanto sou fraca. Algumas pessoas riram, outras não demonstraram nenhuma reação. Me senti nocauteada. Me senti acanhada, com medo, triste... Solitária como sempre. Ouvi som de deboche lá no fundo, então saí da sala chorando e que se dane o mundo.

– Ravena! - gritou Brad atrás de mim, tentado me alcançar. - Ravena espera! Eu parei e olhei para ele.

– Rav, segunda-feira é o último dia de aula deste semestre, depois já são férias, verão. Eu quero muito te ver no verão. Não fique assim. - parecia que ele tinha um tom de ironia. Fiz uma coisa sem pensar. Eu bati na cara dele. E depois saí andando. Não olhei para trás.

Quantas vezes eu vou cair até que finalmente possa me manter de pé? Por que sou obrigada a ver o destino me castigar? Por que sou tão fraca por não conseguir levantar a cabeça e revidar? Será que um dia eu poderei ver como são as pessoas quando estão longe de mim? Eu queria mesmo era poder viver aqui nesta terra, mas não estar presente. Eu queria viver para saber qual o erro de todos, para saber o por que de tudo estar contra mim. Tantas perguntas a serem feitas, e nenhuma resposta a ser dita.

Quando cheguei finalmente em casa, não procurei ninguém a não ser minha cama e meu travesseiro. Tudo parecia desabar em minha cabeça. Por que comigo? Chorei muito. Chorei pensando em Amber, chorei pensando em Brad. Eu realmente pensava que ele iria ser homem de verdade e não um moleque que só quer sexo. Tenho 16 anos e ainda sou virgem, qual o mal disso? Melhor do que estar matando ou já sendo mãe.

Nunca sabemos o que o destino nos reserva, nem mesmo eu sei o que pode acontecer amanhã. Ou melhor, ninguém sabe.

Ouvi alguém subindo as escadas apressadamente. Minha mãe entrou no quarto e sentou ao meu lado. Disfarcei, como sempre, que estava bem, mas por dentro estava gritando, chorando.

– Rave... Vamos viajar. - ela falou, assim do nada. Seu rosto estava pálido, e ela estava com um ar de que estava sendo obrigada a viajar. Engoli em seco.

– Vista-se rápido, querida, e coloque um casaco bem confortável, pois a neve está aumentando.

Olhei rapidamente para a janela. Realmente, começou a nevar. Mamãe se levantou, e eu ainda estava sem ar com a notícia da viagem.

– Mas, mãe, assim do nada?

– Sim, querida. Apenas se vista e não comente nada com ninguém, nem reclame.

– Mas, para onde vamos? - perguntei rapidamente.

– Será uma surpresa, filha! - ela exclamou, tentando sorrir para passar um ar de surpresa. A verdade é que até mesmo ela não devia saber para onde estamos indo.

– Mas, mãe, não podemos fazer isso. Eu tenho uma vida aqui. - tentei dizer, mas ela fechou a porta e me deixou sozinha. Por que minha mãe está assim? Tão boa, tão meiga, e agora está tão fria, tão assustada. Ninguém sai de viagem do nada, ainda mais sem saber para onde está indo. Papai vai dirigir, ele sabe. Ele sabe para onde estamos indo.

Coloquei uma roupa quente e meio desconfortável, um casaco de lã apertado. Peguei meu celular e desci as escadas. Vi Derek confuso, esperando no sofá. Me aproximei devagar.

– Derek, por que e para onde? - perguntei, e ele entendeu.

– Ravena, em que mundo você vive? Já faz alguns dias que papai e mamãe estão brigados, aconteceu alguma coisa séria. Pelo visto vamos viajar para esfriar a cabeça.

Papai e mamãe estão brigados. Não faz sentido a viagem ser por esse motivo.

– Papai deve estar sobrecarregado na empresa e solicitou férias. Deve ser isso. - falei sem esperanças.

Primeiro mamãe desceu, depois papai. Entramos todos no carro e papai segui caminho. O clima estava meio estranho, meio pesado.

A estrada estava lisa, cheia de neve. Derek estava com fone no ouvido, conversando por mensagens no celular. Devia estar tão perdido quanto eu. A janela do carro estava embaçada, então passei a mão e me perdi no mundo lá fora. Quer dizer, meu pensamento se perdeu lá fora. Brad teria mandado uns 50 emails me pedindo desculpa, como sempre. Resolvi não responder e focar em mim. Se Brad fosse realmente quem eu pensava não teria feito aquilo. Uma sensação estranha me rodeou.

Eu olhei para o lado. Meus pensamentos esvoaçaram janela afora. A luz cegou meus olhos e eu os cerrei. Mamãe se virou rapidamente para os filhos e eu senti a mão dela na minha perna. Meu pai gritou. Nunca tinha ouvido ele dar um grito como aquele. Foi agonizante. Minha mãe estava desesperada, e então eu chorei. Tudo aconteceu rápido demais, em questão de segundos. Imagine olhar para sua família e vê-los como se fosse a última vez. E então tudo ficou escuro, como aquele dia, no parque de diversões, que entrei na caverna do amor com meus pais. Só que eu não estava no parque de diversões, tampouco numa caverna do amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ravena" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.