Ravena escrita por Gabriel C Zinn


Capítulo 2
O dia que tinha tudo para ser bom


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo, esperamos que gostem!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/568002/chapter/2

Andei mas um pouco por aquele caminho sem dar o problema de olhar para trás. As árvores começaram a tampar a visão do céu, e tudo foi ficando nitidamente mais escuro. Observando as árvores cheguei a uma conclusão: são fáceis de escalar em caso de eu ser atacada por algum animal feroz. Corri mais um tanto até a entrada do pântano desaparecer. O cheiro de grama, o som das aves, fez me perguntar o por que da escola ter sido construída ali perto. Recostei numa árvore e respirei fundo. A essa altura a direção do colégio já deve ter sido alertada.

Comecei escalando essa mesma árvore. Pisei em falso num galho frouxo e quase despenquei de uma altura que pelo menos me deixaria paraplégica. Depois do árduo trabalho da escalada, cheguei a um nível que acreditei eu, não teria como subir mais. O céu estava ali, lindo, com nuves formosas e um sol radiante por detrás. Fiquei observando a paisagem no geral, então olhei para a terra firme e avistei Brad.

– Ravena! - ele gritava - por favor, sei que está em algum lugar.

E olhava de um lado para o outro enquanto andava.

– Por que se atracou justamente com a menina que me inferniza? - berrei lá do alto. Ele me encontrou e ficou apavorado com a possibilidade de eu cair para um fim doloroso e mortal.

– Rav, ela simplesmente me agarrou - ele falou - desce daí pra gente conversar melhor. Apoiei meus pés num galho e me segurei enquanto comecei a descer. Fui fraca demais.

– Agarrou? Aquilo não parecia um agarramento. - fui falando enquanto continuava descendo. Comecei a fungar, então minha voz soou meio fraca.

– Rav, eu não sabia que ela é sua inimiga, me desculpa.

Continuei descendo e ignorei o pedido de desculpas. Queria mais.

– Ela me agarrou e me beijou, eu só entrei no embalo, mas foi sem pensar direito. Me desculpa. - ele tinha um tom de súplica na voz.

– Por que sempre comigo, Brad? Sou sempre eu a ruim, a menina indesejada, a menina que sofre. Por isso odeio me apaixonar. Paixão é uma droga. - falei meio severa.

– Espera... você está apaixonada por mim? - perguntou.

– Eu não disse isso - afirmei.

Então ficamos em silêncio, apenas os pássaros e o som de meus pés roendo os galhos secos para descer.

– Qual é, Ravena? Diante de tudo que me disse, vai se fazer de difícil? - ele mandou na lata. Arregalei os olhos, por que ele tinha razão. Eu não estou em posição para me fazer de difícil. Como diria meu avô, "se a vida te dá um presente bom, não questione, apenas usufrua". Por um momento viajei naquele pensamento e meus pés escaparam do galho. Fiquei apoiada por um pé apenas num galho distante, que dava sinais de que ia despencar. Minhas mãos seguraram forte o tronco e eu comecei a relutar. A altura ainda era consideravelmente alta.

– Se segura, Rav - ele berrou, desesperado. Tentou subir, mas ele claramente não era bom em escalada. Quando chegou na metade do caminho, eu já tinha conseguido me apoiar em um galho mais baixo. Ele estava muito perto do chão, não tinha subido quase nada. A metade do caminho era quase nada. Quando estava me aproximando, me arrastei em cima dele e ambos foram direto ao chão. Lado a lado, começamos a rir. Ele estava lindamente sujo, e eu estava horrivelmente enlameada.

– Até que serviu de lição para nós. - ele riu. Levantamos tropeçando.

– Meu Deus, como eu vou aparecer lá desse jeito. - exclamei.

– Fica tranquila, só eu sei que você está aqui. - ele me disse. Não rolou nenhum clima, apenas saímos dali como dois malucos. Disfarcei o máximo que pude, e cheguei ao banheiro feminino em segurança. Me limpei e retornei à aula. Estranho, por que Brad não estava mais lá. Tirando que as metidas ficaram me provocando, Brad já tinha ido embora.

Quando cheguei em casa estava feliz, e não disfarcei. Papai e mamãe não perceberam o cheiro de terra que vinha da filha, então me livrei de mais uma bronca. Subi para meu quarto e coloquei uma música bem alta. Estava tão empolgada que esqueci até de ir tomar banho. Precisava contar para Jenni sobre meu maravilhoso dia, mas mandei emails, mensagens e até tentei ligar, sem resposta. Ela deve estar bem. Eu acho. Mas não vou me preocupar, vou pensar naquele momento que vivi com ele. Brad era perfeito para mim, porém ele já era alguém na vida. Tinha vários amigos, seguia uma carreira musical totalmente apoiada pelos pais. Eu? Nem quero falar de mim. Tentarei focar na minha carreira, mas ao mesmo tempo quero Brad ao meu lado. Vou lutar por isso.

Brad e eu não nos falamos muito na sala de aula, isso por que eu pedi a ele que fosse assim. Ele relutou, mas de um jeito ou de outro acabou aceitando. Quando o final de semana chegou, a primeira coisa que pensei foi "preciso ligar para ele". E foi isso que fiz. Depois de duas tentativas fracassadas, ele finalmente me atendeu. Esse dia tinha tudo para ser magnífico.

– Alô... - ele falou.

– Oi Brad! - disse animada.

– Ah... Rav, eu... Oi! - ele disse.

– Mas, e aí, tem planos para hoje? - perguntei. Eu estava jogada na cama, de barriga para baixo, com os pés entrelaçados. Meu sorriso não podia ser mais feliz.

"Brad, pare de bancar o santinho" - disse uma voz ao fundo do telefone.

"Qual é gato, inventa que tem compromisso" - disse outra voz. A voz de Amber.

Desliguei o telefone na mesma hora que ouvi Brad dizer "calem as bocas". Uma curta pausa para cair minha ficha, então o sangue ferveu na minha cabeça. Amber sempre estará lá para estragar meu dia, estragar minha vida.

– Chega! Pra mim, chega! - sussurrei, e meus olhos já estavam lacrimejando de ódio. Peguei uma grana em cima da minha estante e liguei para um táxi. Desci correndo as escadas e esperei na frente de casa. Papai e mamãe estavam assistindo TV na sala, só os alertei.

– Vou revisar matemática no colégio!

– Rav, deixa que seu pai te leva. - pronunciou-se mamãe.

– Jenni vai vir me buscar. - menti, e saí às pressas. Os pais da Jenni e os meus se davam muito bem.

O táxi demorou alguns quinze minutos para chegar, mas minha cabeça estava tão longe que passou até rápido.

– Toca para o colégio St. James, o dinheiro tá na mão. - falei para o motorista do táxi - e acelera por que estou com pressa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ravena" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.