Cordas da Vida escrita por Sunglow


Capítulo 2
II - A Voz das Estrelas




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— Miguel— chamou irmã Marta —, o que você acha de dar um passeio com Ana?

Já fazia uma semana desde a chegada da menina. Miguel havia feito uma boa amizade com ela. Ele até descobriu uma maneira de empurrar a cadeira dela sem a ajuda de ninguém!

— Mas a essa hora? — Miguel perguntou.

— Sim. Mostre para Ana as estrelas. Tenho certeza que vocês irão se divertir.

— Certo. Mas é rapidinho que ela deve estar com sono.

Miguel foi até o quarto da menina. Bateu na porta, mesmo sabendo que não receberia resposta. Entrou devagar e “bateu um papo” com ela. Um papo rápido sobre o passeio pelo quintal. Ela, como sempre, não respondeu. Afinal, ela não podia falar.

Empurrando Ana pra lá e pra cá, Miguel finalmente encontrou um bom caminho até o seu “cantinho estrelado”, como ele chamava, pois, de lá, era possível ver mais as estrelas do que em qualquer outro lugar do orfanato.

— Olha, Ana. Olha pra cima. — disse Miguel, enquanto virava a cabeça de Ana para que a mesma olhasse o céu estrelado. — Sabe, todas as noites, quando a Lua vai se olhar no espelho do mar,¹ eu fico pensando em como pode alguém dar à luz uma pessoa e depois não poder mais cuidar dela, ou simplesmente não querer tal criança. Mas aí lembro que não vale a pena ficar pensando nisso, que pensar nisso só vai me deixar triste.

Um silêncio com o qual Miguel já estava acostumado pairou pelo ar, e ele continuou:

— Você consegue ouvir a voz das estrelas,² Ana? Consegue ouvir quando elas dizem que vai ficar tudo bem, tudo vai se resolver, ou que devemos sonhar para entender os corações das pessoas, ou até o seu próprio?³ Bem, eu consigo. Mesmo que não possamos ouví-las devido à distância, eu as ouço falar em alto e bom som. Pode parecer estranho, mas eu realmente sinto que elas falam comigo.

O sorriso do garoto era simplesmente enorme. Ele se sentia feliz por poder compartilhar aquela sensação de nostalgia que aquelas estrelinhas piscantes lhe traziam. Nostalgia de quando tinha apenas três anos, quando ainda vivia com sua mãe; quando ainda tinha uma família de sangue.

“Está tudo bem”, pensava ele. “Agora eu tenho as irmãs do orfanato e as crianças daqui. Sou feliz, pois mesmo que eu não tenha uma família de sangue, eu tenho uma de sentimento, o que é muito mais importante.”

Ana observava aquelas estrelas e pensava em como estariam a sua mãe e o seu irmão mais velho. Será que estavam melhor sem ela? Talvez. Ela não tinha certeza.

— Ana, posso te fazer uma pergunta? — Miguel cortou o silêncio, mesmo sabendo que não receberia resposta. — Quando o seu braço coça, o que você faz, já que não pode falar nem se mover? Você deixa ele coçar?

Ele se levantou e abaixou a cabeça dela. Àquela altura do campeonato, ela já deveria estar com dores no pescoço. Olhou em seus olhos em busca de uma resposta. Percebeu depois de um tempo: Ana realmente deixava o braço coçando.

— Nossa. Eu acho que deve ser horrível. Sabe, quando o meu braço coça, eu não me aguento; tenho que coçar na hora!

— Miguel! — irmã Marta chamou da porta. — Entre, já está tarde. E não esqueça de Ana!

— Sim, irmã! — respondeu o menino, limpando a grama de seus sapatos e empurrando Ana de volta para dentro do orfanato. Apesar de ser apenas mais uma noite sob as estrelas para Miguel, aquela noite não seria esquecida tão cedo por Ana.


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Notas finais do capítulo

¹: Trecho da música "A Voz das Estrelas", de Rebelde brasileiro(Ou RBR q);
²: Menção à mesma música;
³: Outro trecho da mesma música;
Espero que tenha gostado, serzinho lindo que leu até aqui



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