Eu bufei irritada e joguei o controle remoto em algum lugar do sofá, desviando os olhos de filme qualquer que passava na televisão. Eu me encolhi mais no sofá, agarrando meus joelhos e focando meus olhos em um ponto vazio da parede branca. Meu sangue ainda fervia de ódio, e eu tinha que cerrar meus dentes algumas vezes, tentando me controlar para não sair igual um raio por aquela porta e arrancar o pescoço do Fury com minhas próprias mãos.

O que ele estava pensando quando havia feito aquilo? Ou melhor, porque ele havia feito aquilo? Devin nunca machucaria nem uma mosca! Ela era um amor de pessoa, nunca faria nada contra alguém. O Rogers sabia? Meus pais? Droga, porque tudo isso estava acontecendo?! O som de passos me trousse de volta para a realidade.

— Pensando demais? — perguntou, se sentando no sofá, a alguns centímetros de mim. Me encolhi mais para a ponta. Maldito sofá pequeno!

— Não te interessa — resmunguei mal-humorada. Eu estava com raiva dele. Ele sabia disso todo esse maldito tempo, e só agora havia me contado. Rena cretina...

— Alguém acordou de mal humor hoje... — comentou, e eu o encarei com raiva, vendo a sua marca registrada no seu rosto.

— Porque você está com esse sorrisinho, Traquinas? Alguém finalmente criou vergonha na cara e destruiu aqueles chifres retardados que você tinha? — debochei cínica, mas ele continuou com o sorriso no rosto, e não falou nada. Revirei os olhos e comecei a prestar atenção no filme, que eu ainda não sabia qual era — Titanic?! Sério?! — resmunguei, surpreendentemente ficando mais entediada que antes e procurando o controle para mudar de canal, mas como se me dia quisesse ficar pior ainda, a desgraça tinha sumido.

— Procurando alguma coisa? — Loki questionou, e eu o fuzilei com os olhos, implorando mentalmente para ele calar a boca. Ouvi um risinho partir dele, mas ignorei e me levantei, tentando achar o controle de qualquer jeito. Eu devo ter ficado uns bons sete minutos procurando-o, e ainda não havia achado. Até que uma ideia passou pela minha cabeça e eu levantei do chão, apoiando minhas mãos na beirada do sofá — Algum problema?

— Onde você colocou o controle da minha televisão? — rosnei, fuzilando-o com o olhar.

— Eu não mexi em nada — deu de ombros inocentemente, mas o sorriso continuava em seu rosto.

— Devolva! — mandei, estendendo minha mão para ele, que só a olhou e ergueu minimamente as sobrancelhas.

— Devolver o que, exatamente? — perguntou, e eu puxei o ar pelo nariz e soltei pela boca, lentamente.

— Me. Devolva. A. Porcaria. Do. Controle! — chiei, meus dentes trincados com força.

— Que controle, Davina? — perguntou, mordendo o lado de dentro da sua bochecha.

— ME DEVOLVE A PORCARIA DO CONTROLE, SUA MALDITA RENA DO PAPAI NOEL! — eu berrei, pulando igual um gato fugindo de água para cima do sofá novamente, agarrando a almofada e acertando repetidamente nele, que agora estava rindo histericamente, parecendo nem sentir os golpes da almofada.

— Você fica tão engraçada quando está nervosa, Anjo — elogiou, tirando a almofada das minhas mãos e jogando-a para trás do sofá, me impedindo de pegá-la.

— Idiota, cretino, Rena do Papai Noel maldita que nasceu de um freezer! — xinguei raivosa, enquanto ele me olhava com uma cara engraçada.

— Você tem um vocabulário bem grande, não? — perguntou, e eu gritei irritada, pulando em cima dele e tentando bater em seu rosto, mas ele segurou meu pulso antes, me encarando com uma falsa cara de decepção — Pensei que já havíamos conversado sobre essa violência.

— Não, você falou, e eu ouvi! — neguei, tentando soltar meu braço do seu aperto, mas, como sempre, ele nem se mexeu.

— Tsc, tsc, estou chateado com você agora, senhorita Clairemont... — balançou a cabeça negativamente, como se estivesse realmente chateado.

— Me largue, caralho! — choraminguei, agarrando seu braço com a outra mão e tentando faze-lo soltar a outra, mas ele simplesmente agarrou-a também, se divertindo com toda a situação.

— Você realmente não tem um vocabulário melhor? — perguntou com as sobrancelhas franzidas, parecendo realmente incomodado com as palavras que eu usava. Um sorriso nasceu em meu rosto, enquanto eu continuava me debatendo em seus braços.

— Dá para tirar a merda das suas mãos da porra do meu braço, cacete?! — pedi, dando ênfase em cada palavrão, fazendo-o revirar os olhos para a minha atitude.

— Como cabe tanta teimosia dentro de um corpo tão pequeno? — indagou levemente confuso, e eu tirei o sorriso da cara, subindo em cima do sofá, mas tendo que ficar curvada por causa de suas mãos ainda segurando meus pulsos.

— Pequena é a sua... — comecei, andando para trás pelo pequeno sofá, mas, bem, ele era realmente pequeno, o que me fez tropeçar no encosto dele e eu cai para trás, fazendo Loki finalmente largar meus braços. Me levantei do chão igual um raio e tomei um susto quando vi ele parado na minha frente, ainda do outro lado — Mas que droga, desgruda de mim carrapato!

— Hm? — ele entortou a cabeça para o lado, dando a volta no sofá, o que me fez dar alguns passos para trás — Pare com isso Davina, eu não vou te machucar.

— Não confio em você! — acusei, tomando outro susto quando encostei na parede atrás de mim. Inferno!

— Isso é uma sábia escolha, mas eu não vou lhe machucar, juro — prometeu, colocando suas mãos nas costas e andando lentamente até mim, como um caçador cercando sua presa, que era exatamente como eu me sentia neste momento.

— Loki, não atreva-se a chegar mais perto — avisei, me encolhendo um pouco para mais perto da parede, quando ele parou a centímetros em minha frente.

— Me faça parar — sorriu debochado, prestando atenção em cada movimento que eu fazia.

— Você está invadindo o meu espaço pessoal! — chiei histérica pela sua proximidade, e mais ainda quando ele apoiou as duas mãos na parede atrás de mim, praticamente me deixando sem saída — O que diabos pensa que está fazendo?

— Nada demais, só estava entediado — respondeu, diminuindo a distância do meu corpo ao dele para zero, fazendo-me, pela primeira vez desde que o conhecia, olhar para ele com os olhos arregalados e totalmente apavorada. Eu sentia sua respiração quente no meu rosto, enquanto um leve cheiro de ervas e de floresta preenchia minhas narinas.

— Loki, o que quer que você esteja pensando em fazer, não se atreva! — falei com a voz esganiçada, mas ele não estava olhando para meus olhos, e sim para a minha boca, o que fez uma ideia absurda passar pela minha cabeça — Não atreva-se a fazer o que eu estou pensando!

Mas já era tarde demais. Ele já tinha colado seus lábios nos meus.