~Davina~

Cameron e eu voltamos para a casa de Steve depois de algumas horas. Ele ia ficar na cidade por algum tempo, por insistência minha. Iria conversar com Steve para ver se ele podia ficar em algum dos quartos de hóspedes. Normalmente, eu nem pediria, mas tudo que eu menos queria agora era confusão. Assim que chegamos na praia, Cam parou a moto.

— Quer caminhar até lá? — perguntou e eu assenti, descendo da moto e arrancando meu tênis, senão ele ficaria cheio de areia. Caminhávamos em silêncio. Ele empurrando a moto e eu com meu tênis na mão, sentindo a areia se infiltrar entre os dedos do meu pé, enquanto encarava o sol quase se pondo na linha do mar — Você está bem, Davina?

— Você é a segunda pessoa que me pergunta isso hoje — comentei, tentando quebrar o clima tenso, e a risada baixa dele me fez sorrir, e logo depois suspirar e olhar para meus pés enquanto andava ao seu lado — Eu não sei, Cam. Uma hora eu acho que estou bem, na outra eu acho que estou prestes a começar a chorar igual um bebê. Minha cabeça está uma confusão. Meu coração está uma confusão, eu estou uma confusão. Eu não consigo dormir direito desde que voltei para cá. Tentar ser legal com Steve não está dando certo, e isso cada vez mais me deixa irritada. Eu não sei o que fazer, não sei o que pensar, eu não ando tendo certeza de nada ultimamente, e isso está me matando aos poucos.

— Você sabe que não pode ser assim para sempre, não é? — sussurrou, esperando uma reação não muito boa da minha parte, e foi exatamente o que eu fiz.

— O que você queria, Cameron? — perguntei amarga, parando e me virando para ele, o encarando irritada — Que eu saísse sorrindo para todos na rua? Que mesmo depois de tudo, eu ainda gostasse de Nova York e do Rogers? Que eu dormisse em paz? Que minha cabeça estivesse tão tranquila como o mar agora? Sinto muito lhe decepcionar, Lowell, mas o mundo não é cor-de-rosa, e o meu está longe até de ser preto e branco — cuspi com raiva, voltando a andar, com a respiração um pouco descontrolada.

— Eu sei de tudo isso, Davina, só estou dizendo que se você quiser alguma coisa nessa vida, um dia isso vai ter que parar — retrucou ao meu lado, não com a voz raivosa, mas como se estivesse tentando não me fazer explodir. O que parecia não estar dando muito certo.

— E se eu não quiser? — parei na sua frente, cruzando os braços e o fuzilando com o olhar — Me diga Cameron, e se eu não quiser nada dessa porcaria de vida? Se eu não quiser que nada aconteça nessa merda que você insiste em chamar de vida?! Eu só queria que isso acabasse! Eu estou cansada de me sentir assim, cansada de a cada dia que eu abro os olhos, é como se eu nem precisasse estar dormindo para ter pesadelos! Eu queria que o mundo voltasse no tempo, eu queria ter impedido tudo isso, se eu tivesse, nada disso estaria acontecendo agora e ela ainda estaria aqui comigo! — berrei, caindo de joelhos no chão, e colocando as mãos na cabeça, quando uma pontada forte de dor me deixou tonta.

— Davina! — ouvi a voz de Cam me chamar, mas minha cabeça parecia que ia explodir, enquanto meus olhos estavam fechados com força total — O que foi?!

— Eu estou bem — sussurrei depois de um tempo, quando tudo finalmente melhorou. Abri os olhos vagarosamente e vi Cam ajoelhado na minha frente, com as sobrancelhas franzidas de preocupação.

— Você tem certeza? — perguntou desconfiado.

— Eu estou bem agora, Cam, não se preocupe. Eu só... quero ir para casa — falei, e ele me ajudou a levantar.

— Vamos terminar o caminho de moto, vem — segurou meu cotovelo, subindo na moto e eu suspirei, subindo logo atrás e entrelaçando minhas mãos em sua cintura.

Depois de cinco minutos finalmente chegamos, e ele estacionou sua moto vermelha do lado da de Steve. Desci da moto e passei a mão pelo meu cabelo, tentando deixar ele menos bagunçado. Eu realmente esperava que Steve estivesse sozinho, mas com tudo isso acontecendo, eu não tinha certeza. Abrimos a porta e minha boca caiu.

— Mãe? — perguntei com os olhos arregalados, encarando minha mãe sentada no sofá, com o rosto todo vermelho e um pequeno pano em mãos. Seus olhos se encheram de lágrimas assim que ela me viu — O que aconteceu, o que você está fazendo aqui?

— Oh, Davina... — ela choramingou, levantando do sofá e correndo até mim, me puxando para um abraço apertado, enquanto soluçava. Encarei Steve que estava sentado no sofá oposto e ele me olhava com pena nos olhos. Meu corpo ficou tenso.

— Mãe, o que está acontecendo? — perguntei tensa, empurrando um pouco seus ombros para trás, tentando entender o que diabos estava acontecendo ali — O que você está fazendo aqui, cadê meu pai? — perguntei confusa, e ela começou a chorar mais forte. Encarei Cameron atrás de mim e ele encarava a cena com a mesma confusão que eu. Voltei a olhar para minha mãe — Mãe?

— Eu sinto muito, meu amor, eu sinto tanto — ela sussurrou, chorando ainda mais forte, enquanto Steve levantava do sofá e colocava a mão em seu ombro em um gesto consolante — Seu pai sofreu um acidente de carro.

— O que?! — perguntei histérica, agarrando seus ombros com os olhos arregalados — Onde ele está?! Ele está bem? Eu quero vê-lo!

— Ele... Ele não sobreviveu, Davina — ela murmurou, e meus braços caíram de seus ombros.

— O que? — perguntei em uma voz baixa, enquanto ela jogava os braços a minha volta e me abraçava novamente, mas eu não tinha forças para retribuir. Minha mente tinha parado. Não. Não, não, não, não, não, isso não podia estar acontecendo! NÃO!

Ela me soltou e eu quase caí de joelhos, mas Cameron me segurou antes. Eu estava encarando o nada na minha frente, enquanto lágrimas desciam descontroladamente pelas minhas bochechas, e caíam no chão, enquanto Steve abraçava minha mãe, e Cameron tentava me impedir de cair.

— Não — choraminguei, e logo depois a dor forte na minha cabeça voltou pior que antes e eu caí de joelhos.

— Davina! — ouvi a voz de Cameron chamar ao longe, mas tudo escureceu.