Ela podia passar o resto do dia, sentada ali sobre a grama úmida que agora sujava seu short jeans, fazia frio, mas ela simplesmente não sentia, a jaqueta cobria seus braços, até seu pescoço, mas as pernas, brancas, continuavam a mostra sendo aquecidas através do movimento, repetitivo, de sua mão ao esfregar-se contra a pele clara.
Tentava só entender o que seus sonhos poderiam significar, e porque tinha de tê-los todas as noites, repetidamente, como se o sonho de uma noite complementasse o da noite anterior e fosse complementado na seguinte, como se tivesse de dormir para poder saber até onde toda essa sua loucura pessoal acabaria levando.
Se ao menos pudesse entender...
Mas não o conseguia, era simplesmente confuso. Pessoas que não conhecia e lugares que jamais havia visto.
- Bella... – a voz de seu pai, forte, podia ser ouvida a alguns metros de distância e Bella teve de se por de pé, que toda a meditação sobre seus sonhos ficasse para depois.
Apesar de que muita coisa já havia ficado para depois.
- Eu pensei que, bom... – Charlie parecia o típico pai inexperiente toda vez que ia falar com ela, não que Bella esperasse que fosse diferente. – As aulas devem começar na próxima semana e você não tem material algum aqui, então, eu pensei que poderia acompanhá-la até a loja... Ou então eu só te deixo lá, eu conheço o dono e depois eu passo lá e acerto tudo. Eu posso ir buscá-la mais tarde.
Não havia mais nada para fazer naquela cidadezinha mesma, porque não?
O maior incômodo era ter de andar na viatura, as pessoas a encaravam e por ter chego a pouco tempo um ou outro ainda não sabia, ou só não tinha a certeza, sobre ela ser a filha do xerife Swan e simplesmente a encaravam como uma criminosa ou algo assim, coisa que visivelmente ela estava longe de ser, mas não havia nada a fazer, não até a próxima semana quando deveria apresentar-se – vergonhosamente, como sempre – na frente de seus colegas de turma, e então os murmurinhos correriam e esses olhares sumiriam.
Agora estava em um dilema, era melhor ser encarada como uma estranha dentro de uma viatura ou “meio temida” por ser a filha do xerife?
Preferia não responder, parecia mais fácil, só deixar rolar, ela não poderia se livrar disso mesmo que tentasse repetidas vezes.
- Depois me lembre de que eu tenho algo para você – Charlie respondeu calmamente e lhe dedicou uma piscadela como se isso fosse aflorar o instinto de curiosidade dentro dela. Doce engano. A antes mesmo que, remotamente, isso pudesse acontecer Charlie estacionava a viatura em frente a uma lojinha, pequena, mas bem arrumadinha, no que poderia se chamar de centro de Forks.
Isso dava vontade de rir em Isabella.
O dono da loja cumprimentou Charlie com um aceno e se aproximou, abrindo um largo sorriso ao ver a filha de Charlie agora crescida.
- Oh como você cresceu – ele dizia pondo uma mão sobre a cabeça de Isabella. – Lembro quando vinha passar as férias com seu pai – fazia anos que isso não acontecia. – Ele sempre a trazia aqui e você escolhia os livrinhos de desenhos e canetinhas para colorir...
Ela conteve-se para não suspirar, nem soltar algum murmúrio, de certo modo, grosseiro, apesar de tudo podia ver Charlie feliz com sua presença, e outras pessoas pareciam notar isso também, sem falar que seria normal comentarem, desde que era uma criancinha que Isabella não aparecia em Forks, e as pessoas sempre tem alguma história para contar.
- Eu vou ver o que eu preciso – respondeu dando um passo atrás, a cabeça de Charlie acenando positivamente só a fez confirmar que poderia se afastar, e agradeceu por não ter de ficar ouvindo mais histórias nostálgicas.
Já que não poderia fugir todas às vezes, Isabella preferia aproveitar nas poucas que poderia.