Like a Romance escrita por thysss


Capítulo 38
Trigésimo Sétimo.




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Talvez tenha sido um defeito de nascença, uma pré-disposição ao que não parecia certo.
Mas então o errado era certo aos seus olhos.
Ela realmente nunca havia se encaixado nos padrões de crianças normais, quando todos pareciam querer brincar de boneca, ela vinha com algum jogo arriscado; e quando todos queriam uma mesma roupa, ela queria simplesmente o que fosse mais diferente; e se alguém ousasse imitá-la, rapidamente Angelique estaria arranjando algo novo, porque ela não suportava se igualar a alguém.
Só faltava a faixa em seu peito mostrando a todos que era a melhor de todas, e, se realmente houvesse alguma, certamente ela a mostraria, cheia de orgulho.
Um monstro havia conseguido.

Suas unhas longas, e levemente afiadas, agarraram o ursinho de pelúcia – o perfeito símbolo do normal, do doce e fofo – e, inevitavelmente, tudo que restou foi pêlo e mais pêlo caindo sobre o chão, caindo sobre seus pés.
Os pés descalços deslizaram sobre o piso frio e o pêlo sequer fazia cócegas, mas a sensação de superioridade ao destroçá-lo amortecera sua alma.
No fundo, Angelique sabia que era realmente um monstro.
Mas ela poderia conviver com isso.
O travesseiro de penas de ganso foi o próximo a sua frente, ergueu-o mais no alto, acima de sua cabeça, e as unhas de ambas as mãos deslizaram, com vontade, sobre o tecido fino, as penas caindo sobre sua cabeça uma neve mais calorosa. E mal lhe fazia cócegas.

O último resquício de sanidade escapando entre seus dedos.

Agarrou o trapo de tecido que restou e o sacudiu, girando sozinha as penas pareciam deslizar para fora do tecido, marcando agora uma parte ainda maior do lugar com sua maciez branca.
Era apenas bom.
Mas nada que pudesse fazê-la deleitar-se com isso.
Um riso sarcástico eclodiu por sua garganta e ela não conseguia parar, em sua mente apenas a imagem surpresa de seu pai quando a visse, o que as serviçais iriam falar... E logo a imagem de sua mãe, sempre tão suave e sutil, nem ela seria capaz de acreditar.
Felizmente, ou não, ela não estava mais ali para isso.
Já seu pai diria que estava possuída por um demônio... Mas o único demônio que existia em seu interior estava ali desde que nascera, tinha nome e alma, era simplesmente Angelique.
Literalmente o leão em pele de cordeiro.
O riso continuava pensando em quão ridícula poderia ser, para quão longe poderia viajar. Era apenas insanidade.
- Monstro – voltou a sair de seus lábios ao ver seu reflexo no espelho, as penas cobriam um pouco se seu cabelo e havia uma ou outra presa em seu ombro ou roupão. – Bruxa – ria sozinha, porque em outros lugares ela seria uma bruxa, só por seu poder de persuasão, por suas investidas que sempre davam certo. Teoricamente isso era improvável, beirava o impossível. Mas Angelique não sabia o que impossível significava.
Não. Voltou a girar em seu quarto jogando de vez a máscara de pureza que usava para o alto, pelo menos por aquela noite deixaria a insanidade dominá-la, não importava como se livraria dela depois, queria apenas se sentir livre.
Quase correu até a janela, deixando-a totalmente aberta para que o vento entrasse e, eventualmente, deslocasse as penas e pêlos fazendo uma bagunça ainda maior naquele quarto. Em pensar que ainda havia tantos bichos de pelúcia e travesseiros espalhados por ali.
Duraria apenas aquela noite, então que se libertasse totalmente.
Abaixou sua cabeça deixando que o cabelo caísse em seu rosto, então o jogou todo de volta para trás, não sabia aonde sua mente a havia levado, mas era longe, tão longe que esperava não poder voltar, porque mais um deslize desses, tamanha entrega, e estaria perdida pelo resto de seu tempo. E Angelique possuía tempo.
- Invejosos – repetiu uma e outra vez fazendo passinhos de uma dança sensual de frente para o espelho. Suas mãos percorreram o próprio corpo, tocando-se como nunca fizeram. – Invejosos – voltava a sair.
Chegava a ponto de delirar.
A loucura escondida por trás de um rosto bonito com toque angelical, praticamente uma obra prima.
Como se livrar de um monstro? A pergunta, inconscientemente, veio a sua mente, aleatoriamente. E um sorriso mais desejoso formou-se em seus lábios enquanto olhava de esguelha, era fácil. Porque monstro era como uma tentação, bastava entregar-se a ele.
Uma perfeita armadilha por trás de olhos expressivos e rosto bonito. O perigo adquirindo forma.
A linda criança de anos atrás se tornara uma linda mulher e assim continuaria, por muito tempo.
E o medo de ser afastada, repelida, sequer passava em sua mente... Um egoconfortavelmente massageado.

“...You used to like red and now you like blue... You used to come to us and now you make us come to you take a look in, to the mirror do. Do you recognise the guy that’s looking back at you...”

Não. Simplesmente assim. Ela não podia mais reconhecer quem estava olhando de volta, seu próprio reflexo havia se perdido em algum intervalo entre a verdade que ocultava e a mentira que tanto se aproximava da verdade, preso em uma linha tênue pendendo cada vez mais para o lado que todos considerariam errado. Mas Angelique realmente não era igual a todos.
Ela sequer se preocupava com o que os outros pensariam.
Não, definitivamente ela não era igual aos outros.

Mas isso então fazia de Angelique um monstro? Uma bruxa?


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Notas finais do capítulo

n/a: continuem sem tentar entender, ok?


ou vão tentando associar os fatos, sei lá.
UASUHAHUSAUHSHUAHAHUSHAUSHU

deixem reviews
até o próximo
beijos.



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