Fique Comigo escrita por Melusina


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Beeem, feliz ano novooo! Eu sei que demorei de maneira ABSURDA, pois já tinha tudo pronto e pretendia postar no NATAL. Mas por acontecimentos em minha vida - que ainda estão me afetando, psicologicamente e fisicamente - não pude escrever e não andava com cabeça para nadica de nada. rs Espero que não esteja tão ruim e ao menos consegui passar a visão que pretendia.

É provável que esse seja o penúltimo capítulo da fanfic. Tentarei ser rápida para trazer o outro, que é o último. Escrever me fez bem, muito. Espero que a presenteada goste, foi com carinho. E espero que o Milo esteja à altura do seu que é perfeito ♥ MUITO.

E desculpe, não betei, mas posteriormente farei e alterarei o arquivo. Já venho pedindo de maneira precipitada desculpa pelos eventuais erros. Queria algo SIMPLES, não explorei lemons e nem nada, vou logo avisando. Queria e quero explorar os sentimentos mais baseados na visão do Camus. Enfim, boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/567535/chapter/2

Aquele silêncio foi terrível para o loiro. As pausas repentinas dos ínterins sem palavras o incomodava, a face de Camus mostrava uma expressão enigmática, olhando para algum ponto do recinto.

Vê-lo tão perto ao mesmo tempo tão distante fazia seu peito doer de saudade pelo que ele havia sido, e o que ambos haviam partilhado.

Nada parecia como antes, pois outrora facilmente como mágica, conseguia decifrar o que o outrem estava pensando. Talvez não fosse o momento adequado de tocar naquele assunto, mas um dos seus defeitos era não manter a cautela, deixando seus pensamentos saírem livres, às vezes, sem mediá-los com precisão.

Queria que ele mencionassem o adeus derradeiro e o beijo. Recordava-se todas as noites, ainda conseguia sentir a respiração de Camus contra a sua quando se aproximaram para aquela carícia e as faces dele sutilmente coradas. Em sua vida, jamais vislumbrou cena tão bela. Porém, foi coagido a afastar-se de maneira apressada, sem olhar para trás, ou desistiria de embarcar, fingindo que não havia ouvido ele o chamar.

Homens não se beijam! Não daquela forma o tom do homem de cabelos castanhos escuros era alto, esbravejando.

Camus se encolheu, olhando para baixo. Estava envergonhado.

Seu pai estava exagerando, sabia. Repetiu, inúmeras vezes que seus lábios não haviam encostado com os de Milo, foi apenas um gesto sem maldade. Mas quando aquele carinho derradeiro foi trocado, era notável o envolvimento do ruivo e o grego. Seus olhares apaixonados, promessas em tom de sussurros e o mundo ao seu redor desaparecer.

E ainda que negassem, seus pais sabiam que algo ocorriam entre os dois, porém, do ângulo que estavam haviam ocorrido muito mais que um singelo beijo no rosto.

Rememorar lhe dava repulsa pela vergonha que seus pais o fizeram sentir, não aceitava com facilidade aquele amor, porém boa parte de seu dia era pensando em Milo. Desejava reencontrar o amigo, como ocorria em seus sonhos e responder suas últimas palavras. Viviam em uma constante luta interna. Não sabia o que fazer, qual caminho seguir e qual porta entrar para ser feliz.

Os orbes castanhos-avermelhados dirigem-se em sua direção, pareciam refletir situações distantes e Milo conseguiu ver um quê diferente em olhar quando encontra-se com o seu.

— Eu prometi — cortou aquele silêncio, com um sussurro.

O loiro não compreendeu direito o rumorejo, tocou com mais firmeza no encosto do seu assento.

— Hum?

— Eu prometi aquele dia, Milo. Jamais o esqueci a voz do francês soou com um colorido significativo, quase terno, mas conseguia ouvir uma nota de tristeza nem minha família e nem ninguém conseguiria me fazer esquecê-lo. Eles tentaram... mas não conseguiram.

— Camus... foi apenas o que conseguiu proferir.

O grego não podia acreditar, seu coração não cabia em seu peito pela indescritível sensação de felicidade em cada batida.

Ele não o esqueceu, como acreditou todos esses anos. Ainda eram como antes, ainda eram como os inseparáveis soldados franceses de suas fantasias.

— Milo — deteve-se em suas palavras, se seguisse, proferiria uma confissão você acredita em destino?

Camus sorriu para ele, de maneira tão doce que parecia voltar aos seus quinze anos.

Milo retesou seu corpo ao dar uma atenção maior aos bonitos lábios do amigo, sem o outrem se dar conta, rememorando o dulçor contido nas linhas de sua boca o que o remetia a acontecimentos passados; enquanto pestanejou, ouviu-o.

— Destino? — ergueu uma das sobrancelhas, voltando a observar os olhos castanhos. Escreveu muitas vezes sobre destino, anteriormente, quando mais jovens, mas não poderia definir sua credibilidade — não sei... Eu. Realmente, não sei.

— Eu não sabia e não entendia porque estava aqui, porque deixei de voltar à França para pegar um navio escolhido a esmo — fez uma pausa, breve — sempre acreditei em destino, pois ele vem provando sua veracidade em minha vida dia após dia. Eu não entendia o motivo de estar aqui, não entendia o por quê...

Camus fez uma pausa.

Aquelas palavras esmiúçam uma curiosidade imensurável no impaciente grego.

— E o que descobriu? O porquê disso tudo? — Não se conteve.

— Para reencontrá-lo, Milo — replicou, com carinho.

Milo foi remetido a uma inação de momento pela confissão. Sabia que deveria agarrar aquela oportunidade, muitas palavras deveriam ser ditas e esclarecidas, sabia que...

Interrompeu os pensamentos quando notou que Camus havia levantado e estava bem próximo, sentiu o toque de seus dedos em seu rosto, que o fez estremecer pela cautela. Suspirou, erguendo seu olhar ao ruivo.

— Vamos fazer o que o destino pede — o de madeixas avermelhadas sussurrou, existia um quê apaixonado, deixando uma das mãos no apoio do assento para lhe dar sustentação em sua posição.

— O que seria? — a voz de Milo foi retrucada de maneira igual, vendo o rosto de Camus mais próximo, seus dedos tocaram seu braço com igual cuidado.

Não pensavam e seria a primeira vez que o ruivo fazia isso: deixar a emoção reger suas ações, sobrepondo-se sobre a razão.

Tentava seguir a música que seu coração tocava, pois sabia que seria uma chance única daquilo que chamavam de felicidade.

Não a conhecia, de maneira integral, mas as vezes que a sentiu, Milo sempre esteve presente. Aquela sensação de plenitude, uma animação estranha que poderia sair saltitando ao som de algum jazz.

Talvez agora compreendesse o epicurismo, a busca pela vida feliz, como o filósofo pregava.

O francês não o responde com palavras. Sentia a respiração dele cada vez mais próxima, até o encontro de seus lábios.

O beijo foi tomada por sentimentos que antes eram oprimidos, iniciaram a carícia lenta com um teor cálido, mas logo foi tomando um rumo diferente. Libertaram os desejos censurados, entre o ósculo, que poderia ser caracterizado por uma tormenta.

Os amantes mostravam urgia um pelo outro, Milo havia puxado o ruivo para sentar em seu colo. Aumentando o contato entre seus corpos. Precisavam disso.

Je t'aime¹, Milo — murmurou, em sua língua de matriz, entre o beijo, deixando sua mãos se perderem por entre os fios loiros.

S'ayapo², ruivo — retruca, em igual rumorejo, deixando suas mãos percorrem as costas dele, fazendo os dedos de sua mão cessarem o caminho em sua nuca, firmando o carinho ali.

Camus gostava tanto de Milo falando grego — o pouco que havia aprendido, havia sido com o ateniense —, como o outrem gostava de vê-lo falar francês. Mas preferiam o inglês para se comunicarem, assim ambos se compreendiam de maneira integral.

Ambos sentiam o corpo quentes, saturados pelos anseios crescentes. O fôlego iam se extinguiam, mas não queriam cessar aquele ósculo tão ansiado, por tanto tempo. Eram anos de saudade e desejos proscritos.

A realidade foi um baque ruidoso e dolente, quando as batidas da porta interceptaram o momento que ocorria entre os amantes. Os suspiros de pesar foram quase no mesmo ínterim. Não queriam se separar, mas sabia que deveriam manter aquilo em sigilo. Camus se afastou a contragosto de Milo, que já estava com alguns botões a camisa aberta.

— Quero ficar com você, Cam — o loiro roubou um selinho, dizendo em manha, o abraçou em sua cintura, impedindo que ele saísse de seu colo, mostrando que não queria soltá-lo.

— Milo — pronunciou seu nome em uma moldura de censura, retribuindo o lacônico beijo. — Temos que levantar, você...

Insistentemente, o som do aviso de um convidado à porta fez o ruivo se interromper. Tocou em seus braços, fazendo Milo o desvencilhar, sabia que não poderiam ser pegos naquela situação.

— Abro a porta e mando a visita embora. Deve ser alguém da limpeza, assim ficamos sozinhos de novo, peço para virem mais tarde — já em pé, avançou e buscou os lábios do ruivo mais uma vez, suas palavras tomaram um tom felino igualmente a seu olhar.

Camus vidrou-se naquele olhar intenso e provocador. Milo era como um escorpião que paralisava suas vítimas com seu veneno, sua sensualidade genuína. Em resposta, o paraisense apenas deixou um cicio baixinho de anuição.

O ateniense ajeitou sua blusa e Camus seguiu seu exemplo. O grego saiu de perto do companheiro e foi até a porta.

Quando a abriu, não foi quem esperava. Achou que se tratava de algum camareiro, mas não. A voluptuosa mulher de cabelos negros, lábios vermelhos e olhos tão azuis que chegavam a ser transparentes, escora sobre a batente, com uma roupa inapropriada — um robe de seda branco — e justa ao corpo, seu olhar era convidativo e sedutor.

— Por que demorou tanto para abrir a porta? — a visita indaga, em um muxoxo, languido em timbre manhoso.

Você viu o Milo? — a garota loira com os olhos cheios de lágrima o interceptou, passando a mão pelos orbes escuros, mas embaçados pelo pranto iminente.

Conhecia-a. Milo havia apresentado como sua nova namorada fazia alguns dias, não chegou a completar nem um mês. Camus sempre preferiu distancia dos relacionamentos do amigo, eram namoros bobos, mas como Milo era bonito, estar com ele era um privilégio para qualquer garota que se apaixona facilmente. Desde de novos ele já colocava em prática seus jogos de sedução.

Jamais expressou seu real pensamento sobre isso, o enclausurando em seu âmago. Mas sabia que não gostava da idéia de dividir a atenção do loiro com alguém.

Eu não sei — foi estruído dizer isso, pelo próprio amigo, que o avisou que agora estava saindo com outra garota.

Ele está com outra não é? Foi o que me disseram!

Camus suspirou, não sabendo o que replicar para livrar o amigo, não poderia ser categórico, mas seus olhos o traíram.

Eu não...

Eu sabia! Diga a Milo que assim ele terminará sozinho! — A voz amuada foi alta, não deixando o menino se pronunciar — ele disse que me amava, e que não me deixaria... Ele não se importa com ninguém, apenas com ele mesmo. Gosta de brincar com os outros.

Não é verdade”, negou em seus pensamentos e vendo que não recebia palavras de conforto e amparo do ruivo, ela decidiu ir embora.

Achava aquilo cruel, mas sabia que Milo não era o que muitos pintavam. Conhecia-o melhor que a si mesmo e sabia que ele era a melhor pessoa que passou em sua vida.

Ver aquela mulher foi como um golpe forte em seu peito, palavras eram desnecessárias para saber do que se trava a visita dela que mais parecia uma concubina ou dançarina do Moulin Rouge.

Aquilo doeu.

Jamais sentiu uma dor como aquela, era pior que uma física. Pior que sua primeira crise cardíaca. A pior das dores era aquela que apertava seu cerne e sua alma.

“Talvez minha idéia de Milo sempre fora errada...” Pensou, envergonhado, triste e humilhado. Deveria sair dali, precisava se abrigar em algum lugar longe de olhos alheios e principalmente do ateniense.

— Eu já vou indo Milo — Camus anunciou, quebrou aquele silenciou que se instalou, estava mais sério que de costume — não quero atrapalhar nada, pois vejo que já tem ótimos planos.

A voz foi sarcástica. Sarcasmo não combinava com seu ruivo. O francês não sabia lidar com ciúme, ele pungia seu âmago e arrojava seu estômago, desestruturando suas tentativas de se manter impassível.

— Camus, eu... — na surpresa que o loiro foi acometido por aquela visita demorou a se pronunciar, ou pensar.

— Não se preocupe, já compreendi — a mulher deu espaço para o ruivo passar, não deu chance do ateniense explicar-se, deixando-o ali com a sua bela companhia.

Sentia-se constrangido pelo que havia feito, a primeira vez que deixou seus sentimentos o guiarem foi ferido daquele modo. Aquilo doía mais que a ausência da felicidade.

Doía saber que Milo estava apenas brincando consigo.

O salão estava mais animado que de costume.

Olhou ao redor por um instante, respirou fundo, aliviado por não vê-lo e foi até a mesa que havia reservado para ter sua refeição noturna. Já havia passado cinco noites que não conversava com o loiro, ficando a maior parte do dia em sua cabine, com a intenção de não encontrarem-se repentinamente pelos corredores.

Recebia visitas repentinamente, em todos os horários, sabia que se tratava de Milo, pela maneira impaciente que ouvia as batidas em sua porta, não obstante não o atendia, tentado ignorá-lo. Não respondia aos bilhetes que ele deixava através dos camareiros.

Não via a hora daquela viagem acabar e finalmente retornar a sua pacata vida.

Como sempre fez, isolou seus sentimentos e acontecimentos em algum lugar, tentando de alguma forma enganar a si da presença do velho amor no cruzeiro.

Porém era difícil, ainda mais por ser a primeira vez que beijou um homem. Sentia seu corpo tremer, de raiva e vergonha por isso, o fez por nada.

Milo caçoou de si, para ele era uma brincadeira maldosa, como faziam quando mais novos. Como ele fazia com as garotas. Lembrava-se bem delas correndo atrás do amigo após palavras apaixonadas e um termino abrupto, mas o escorpiano trocava-as como uma roupa suja.

— Achei que jantaria novamente em sua cabine — não sabia como, mas o outrem apareceu a seu lado, sentado na cadeira vazia. Estava tão absorto em seus pensamentos que apenas se deu conta quando ouviu Milo. Seu corpo estremeceu, sentindo um formigar estranho em sua barriga.

— O que você...

— Por que está me evitando, Camus? — a pergunta de Milo parecia idiota, não deixando-o falar, como sempre era de seu feitio, mas era séria a inquirição. O ruivo o olhou, fazendo menção que levantaria da mesa, só que o grego foi mais rápido e o segurou em seu pulso — Camus...

— Como pôde fazer isso comigo? — devolveu, em uma nova indagação. Os olhos castanhos possuíam um brilho triste.

O loiro não gostava de vê-lo daquele modo, ainda mais saber que era o culpado. Jamais foi sua intenção algum dia machucá-lo.

— O quê? — Milo se pronunciou. Não sabia exatamente o porquê daquilo tudo, a revolta tão grande dele, já quase esquecendo-se que estavam em um local público e revelando algumas coisas. Sim, sabia do ciúme, mas ele nem ao menos lhe deu um tempo de explicação. Porém, limitou-se naquelas palavras.

O francês desistiu de tentar se soltar, por um momento, desviando o olhar dos olhos claros. Quando tornou a fitá-lo, os tons melancólicos de antes estavam ainda mais evidenciados nos traços de seu rosto.

— Acreditar que o que eu fazia era certo. Acreditar que valia a pena abandonar tudo e ficar ao seu lado.

— Eu não... não sabia que pensava assim...

Milo ficou atônito, aquela confissão o desestruturou, integralmente.

Camus notando a ausência de respostas e o olhar surpreso, aceitou aquilo como uma réplica a suas indagações.

“Então é verdade” Mordeu o lábio, sentindo-se arfar. Conseguiu escapar de Milo e levantar da mesa quando ele afrouxa o toque. Foi tarde quando o ateniense se restabeleceu, não conseguiu impedi-lo e ficou inerte vendo-o sair em passos apressados.

Apoiava sobre a beirada metálica com ambos os braços, fitando as ondas escuras e sutis que vinham em desalinho ao movimento da embarcação. Os orbes castanhos-avermelhados eram vagos, distantes e anuviados como aquela noite sem estrelas evidentes. Nem a lua deu a graça de sua presença no terreno celeste, que era uma pintura escura com pontinhos timoratos. A matrona noturna mantinha-se recôndita como se seguisse seus sentimentos.

Aquele havia sido o local em que se reencontraram, tudo aquilo fazia lembrar do grego. Sabia que nada faria esquecê-lo. Nada faria olvidar o que ele havia o proporcionado, e se deu conta naquele momento quando seu inconsciente o guiou até aquele local.

Sempre teve medo de sentimentos, os descrevia como um mal a sociedade, pois eles que tornavam os homens fracos. Apreciava o calculismo, assim poderia fazer as coisas certas sem o empecilho das emoções. Mas era tão humano. Não havia se dado conta disso. Estava a ponto de entregar sua vida a alguém que julgou conhecer, mas não era bem aquilo que ele mostrou.

“Ou será que Milo havia realmente mudado?”

Não houve respostas. Não queria criar conjunturas, não queria se decepcionar novamente.

O local estava vazio, não havia pessoas e a movimentação era nula já que à noite ou recolhiam-se a seus quartos ou estavam no salão de jogos.

Aquela solidão era seu único conforto.

— Camus — o grego o perdeu de vista, achou que voltaria à sua cabine simplesmente e não esperava encontrá-lo ali.

O ruivo virou-se ao ouvir o seu nome, como foi a primeira vez de seu encontro. Aquilo foi tão nostálgico.

— Milo — desviou o olhar, doía fitá-lo por muito tempo.

O loiro foi para perto do ruivo, que se manteve escorado nas imediações de metal.

— Você não me deixou explicar o que aconteceu. — Diz, com seriedade, com um quê taciturno.

— Explicar o quê? Que você me fez de idiota?

— Camus, não acredito que você está exagerando dessa forma. Ainda mais se tratando de você — foi sério ao retrucá-lo, sempre o amigo o reempreendeu por seus exageros e agora ele fazia o mesmo.

— Nós havíamos acabado de nos beijar... você sabe, eu beijar você... beijar um homem. — Salientou o gênero. Falou, fazendo pequenas pausas, o fitou, de maneira tímida agora.

— O que tem você beijar outro homem?

Aquela pergunta o envergonhou, ainda mais pelo tão natural usado pelo loiro. Ainda se arriscava observá-lo.

— Milo, você sabe bem — sua voz foi em censura — e está na cara que você não aprecia isso.

— Não me importo que você seja homem, Camus, que droga. — Devolveu a forma como ele pronunciou as palavras, agora um pouco impaciente — eu esperava por esse beijo há anos...

Aquilo o tocou, mas esse momento de sentimentalismo foi cessado, o robe de seda branco tornou a habitar sua cabeça.

— Não é o que parece — diz, sendo agora sardônico ao remorar a mulher e a reminiscência das namoradas do ateniense — quando novos foram poucos momentos que o vi solteiro.

Não era de seu costume ser tão imprudente e cínico, mas o ciúme lhe embarcava em reações que jamais pensou em realizar em nome de suas emoções. As negava, mas elas estavam ali presentes.

— Está novamente exagerando, Camus. Você sabe por que eu terminava com elas? — o ruivo deu de ombros, mas o loiro continuou — elas me criticavam por passar muito tempo com você. Pelo meu assunto iniciar e finalizar em você. Jamais deixaria alguém entrar na minha vida que não o aceitasse, Camus... Jamais aceitei alguém o criticando. Você sempre foi mais importante que elas.

A respiração do ruivo falhou, não havia pensado naquilo. Não achou que seria o motivo para o término de seus relacionamentos, mas logo esse momento breve que pareceu ser um bálsamo para suas dores, foi findado da maneira repentina que o encobriu.

— E a mulher…

— A mulher que veio a minha cabine? — interrompeu aquele limiar — ela é louca. É uma antiga namorada que não se sacia com um não. Ela coincidentemente está no quarto vizinho.

— Eu achei...

— Camus, eu te amo de verdade! — Exclamou, após ver a dúvida ainda presente em seus orbes. Não o deixou falar, como sempre, por sua impaciência — por que não aceita isso?

O ruivo se desencostou. Conseguia ver a convicção nas gemas azuis. Será que havia sido precipitado? Será que entregou-se erroneamente aquelas dúvidas?

O que estava acontecendo consigo? Por que não conseguia agir com calculismo?

Surgiam cada vez mais perguntas que não parava para pensar em retrucá-las. Mas a indagação chave foi a derradeira. Será que Milo o amava de verdade?

Pela primeira vez após a confissão, havia esquecido de seu relacionamento. Pensou em sua noiva. O dia que haviam se conhecido, tudo parecia tão distante, tão normal. Tão formal e isento de sentimentos. Ela jamais conseguiu quebrar as suas estruturas de seriedade e revelar suas características reais, jamais havia o feito esquecer tudo a seu redor, sua vida fausta e se concentrasse apenas no momento, na batida de seu coração e contorno de seus lábios.

Milo o fazia sentir-se tão à vontade consigo, ele fazia querer viver, observar e vivenciar as pequenas coisas, almejar que o tempo congelasse para ficarem juntos, contanto histórias e relembrando a feliz infância.

Ele não a amava. Não. Pela primeira vez realmente constata isso.

— Milo, eu vou me casar e sabe que faltam dois dias para estarmos em terra — anunciou, sem qualquer emoção ao afirmar o relacionamento, mas seus olhos diziam outra história, queria expor algo que estava em sua garganta, preso. — E...

— E eu sou casado — não o deixa concluir — e ainda assim me beijou.

— Deixe-me terminar ao menos isso, Milo! — Apesar da seriedade, existe um quê de ternura, recendo um silêncio — se me ama como diz, irá me esperar. Tenho que resolver minha vida, tenho que me preparar, para...

— Para? — perguntou o grego, ansioso.

— Milo! — o loiro riu e pediu desculpas, e Camus continuou, sem realmente se chatear. Ainda tentava encontrar as palavras certeiras, e acabou fazendo uma pausa — eu estou tentando...

— Tentando o quê?

Camus se encolheu, agora estava envergonhado.

— Tentando... — Parou. Respirou, fundo, não querendo tartamudear em suas palavras, eram relevantes, apenas continuou quando teve certeza que não gaguejaria — tentando encontrar a forma ideal de te pedir em casamento.

Dessa vez foi o ateniense que se constrangeu pela fala em dulçor e sem jeito do outrem. Não aguardava um pedido tão sucinto como aquele realizado pelo velho amigo, ele era imprevisível, sabia, mas para alguém que afirmava jamais se entregaria ao matrimônio, Camus o surpreendeu. Mas seu interior, seria um sonho a ser realizado. Casar com o homem de sua vida.

— Isso foi a coisa mais doce que já me disseram, sabia? — Milo tomou as mãos do ruivo, mas antes constatou se havia alguém ao redor. Ainda se encontravam sozinhos.

— Eu sei que será difícil. Não sei como faremos isso, pois somos...

— Homens? Camus, eu juro que se você repetir isso, não aceitarei. — Foi sério, mas acabou rindo, levemente, e roubou um selinho do amado — Eu aceito. Aceito casar com você, Camus. Quero envelhecer ao seu lado e passar o resto da minha vida com você.

— Aceita mesmo? — indaga, temeroso, mas acabou por sorrir, deixando seus dedos de ambas as mãos se entrelaçarem com as dele — você sabe que não poderá ser de imediato, temos que decidir antes nossas vidas.

Ele estava certo. Não trabalhava e vivia com o dinheiro de sua esposa, sabia que precisava encontrar um meio de sustentar-se, assim, seria o ideal para viver com Camus. Não obstante outro ponto que Milo recusava-se a pensar era o preconceito da sociedade, sabia que a estrada era longa. Mas faria tudo para estar ao lado do ruivo.

— Será difícil. Mas conseguiremos, conseguiremos juntos, Cam — salientou, com carinho — você irá me esperar?

— O tempo que for preciso, Milo — agora foi sua vez de lhe dar um beijo, rápido. Afastou-se, por ouvir passos, olharam, mas novamente parecia ainda estar sozinhos — Milo... mas o que faremos depois que a viagem acabar?

— Eu não sei... — tocou em sua cintura, com ambas as mãos, seu sussurro e postura atingiram um tom lascivo, não poderia deixar de libar-se com o momento — agora eu quero apenas aproveitar o tempo com você, pensaremos nisso depois... vamos para a minha cabine...

Camus estremeceu. Suspirou. Já mostrando-se entregue com aquela simples insinuação. Desconhecia como era amar um homem, mas sabia que Milo o ensinaria. E tinha a certeza, que o ensinaria muito bem.

Aquele seria o dia de sua partida. Desde que ficaram secretamente noivos não saíram da presença um do outro. O loiro lhe deu duas maravilhosas noites, jamais experimentou momentos de tanta intensidade como aqueles que entregou-se a Milo. De corpo e alma. Ele o guiou ao prazer que nunca pensou que poderia sentir. Agora poderia dizer que conhecia a felicidade.

Ainda estava de olhos fechados, deitado no peito do loiro e o outro o abraçava, contra seu corpo, com medo dele escapar. Temia ser uma mera ilusão onírica pela plenitude que sentia.

— Milo?

— Hum? — preguiçosamente inquiriu, abriu um dos olhos — bom dia, meu francês.

Foi possessivo ao dizer essas palavras, fazendo Camus lhe dar um beijo, tocou em seu rosto com a ponta de seus dedos. Ambos estavam desnudos e aquilo já não era um problema como havia sido no primeiro momento.

— Temos que nos preparar, preciso arrumar minhas coisas. — O ruivo fez menção que se levantaria, mas o ateniense o segurou, em sua cintura, com força que o fez grunhir, e acabou o jogando no leito, ao seu lado. O francês surpreendeu-se por achar que o amante ainda estava dormindo e logo Milo estava com seu corpo sobre o seu — Milo!

— Você só sai quando eu quiser — falou, de maneira bem dominadora que excitou o ruivo, completando com seu olhar felino, buscou os lábios do amado, não lhe dando chance de resposta e nem escapatória.

Estava entre as pessoas, que encostavam-se sobre as imediações do navio para buscar os parentes com os olhos, logo seriam liberados para deixar a embarcação.

— Eu... — Camus não era bom em despedidas, mas seus olhos diziam que a saudade já era grande — desculpe, não consigo...

— Não se preocupe, Cam — entregou-lhe um papel, queria tomar seus lábios e falar palavras de amor. Mas estavam cercados por outras pessoas, não colocaria tudo a perder tão levianamente, tinha ciência que precisavam ser cautelosos.

O ruivo pegou o bilhete o abriu, deixando a bagagem por um momento de lado.

Torre Eiffel, segundo andar, plataforma de observação à direita. 23 h 30 min. 20 de Agosto de 1919.”

Um último sorriso foi trocado.

E ali foi firmado um compromisso, Milo sabia que seria árdua sua tarefa, mas por Camus, conseguiria. Ambos se esforçam para não deixarem seus sentimentos virem à tona.

Um apito foi ouvido, sabia que agora teriam de se despedir. E com um último aperto de mãos, os dois seguiram caminhos opostos, mas com esperança que se reencontrariam.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Je t'aime [1] — "Eu te amo", em francês.

S'ayapo [2] — "Eu te amo", em grego.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fique Comigo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.