Era uma vez uma garota qualquer.

E como uma garota qualquer, tinha desejos quaisquer e gostos quaisquer.

Tinha uma aparência qualquer também. Não era ruiva nem loira, ou possuía olhos azuis e verdes. Não era gorda nem magra. Não era rebelde nem nerd. Era uma garota mediana, e como tal se encontrava num meio a meio de tudo.

Não ligava para óculos que ocupavam um quarto do rosto, ou coques que sua avó usaria. Porque ela realmente acha coque coisa de gente velha. Não que ache gente velha feia, mas era uma adolescente qualquer, então teria pensamentos quaisquer.

Mas ela não tinha um sonho qualquer. Não, de jeito nenhum. Seu sonho era grande, maior do que uma garota qualquer poderia alcançar. Tão grande, tão longe, que qualquer um desistiria antes mesmo de tentar.

Porém estamos falando de uma garota qualquer que não liga pro que os outros julgam ser impossíveis. Uma garota qualquer que não segue as modas impostas pelas pessoas. Alguém que, em sua simplicidade e indiferença do que deveria usar ou fazer na sua idade, não era mais uma garota qualquer. Não tinha vícios, não tinha panelinhas, honestamente ela nem ligava para o que as pessoas diziam. Ela não seria uma garota estranha que se apaixonaria pelo descolado. Claro que não, que besteira! Queria conhecer um cara legal, fazer coisas legais.

Ah, espere. Fugimos do contexto. Rebobine um parágrafo, por favor.

Sonhava em ser escritora. Estar nas estantes de livrarias, dando autógrafos em bienais, fazendo entrevistas e vendo suas obras chegarem aos cinemas.

Sonhava em cativar o público com suas ideias, assombrá-los com as reviravoltas e emocionar com finais inesperados. Seus personagens seriam incríveis, passariam por provações e sofrimentos que os tornariam mais fortes e únicos. Não seriam pessoas quaisquer, apesar de vindos da imaginação duma garota qualquer.

Sim, ela deseja ir além do que qualquer um iria. Sem atrativos especiais, notas absurdamente altas ou protestos de tirar o fôlego, aquela garota qualquer fazia mágica quando seus dedos tocavam no teclado de um computador ou pegavam lápis e papel. Lugar para escrever não faltava.

Às vezes até anotava na carteira da sala de aula, tirava uma foto e apagava, afinal não queria ser plagiada. Deixava que sua mente nem um pouco normal vagasse por bosques encantados, castelos malignos ou planetas inexplorados. Ela escrevia de tudo um pouco e um pouco de tudo. Mas principalmente, ela escrevia sobre o que seu coração mandasse. Não fazia nada por simplesmente fazer, colocava paixão em cada letra, em cada traço ou acento. Ela dava uma parte de si para cada mínimo texto que escrevia, desde bilhetes de feliz aniversário até projetos de livros que lançaria no futuro. E com certeza ela lançaria, afinal como uma garota qualquer ela podia fazer qualquer coisa.

Mas seu maior desafio sempre fora escrever sobre si mesma.

O que diria?

Do que gostava?

Quais suas manias, hobbies, desejos?

Tinha qualidades e defeitos? Como listá-los?

Comida favorita? Música que odiava? Séries que gostaria de assistir?

Cada vez mais que aquela garota qualquer pensava, mais ela tinha a certeza de que não conhecia nada sobre si.

E enquanto encarava o papel em branco de seu caderno de ideias, ela percebeu uma coisa importante, uma coisa que poderia ser o início de sua definição.

Inventar histórias, criar personagens, surpreender com ficções era fácil.

O difícil era criar um livro sobre si mesmo.

Ainda mais de uma garota sem frescuras.

Ah, mas quer saber de uma coisa? Talvez seja justamente isso que o mundo precisava ler.

Talvez falar de si mesmo fosse complicado porque você tentava buscar coisas complicadas.

Talvez, tudo o que precisasse para falar de si mesmo... era começar com uma frase simples. Uma frase que dissesse quem você era sem causas impressionantes ou quão dentro da moda você está.

E essa garota sorriu, colocando o lápis no papel, escrevendo a primeira linha de sua vida.

“Era uma vez, uma garota qualquer.”