Romans escrita por Dope Friends


Capítulo 1
Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/567189/chapter/1

Ela pertencia às rosas vermelhas.

Não... Ela não pertencia ao cinza, não pertencia à matemática ou à sociedade em si, ela era muito mais que àqueles velhos ditados que mandavam-lhe encaixar numa padrão desconfortável. Ela pertencia aos seus cabelos cacheados, assim como pertencia à sua pele morena e quente, sempre fantasiando-se com seus vestidos amarelados. Ela pertencia às rosas laranjas no fundo do quintal, pertencia às cores que tingiam o dia de felicidade, mas não... Mal sabia teus olhos negros que era comum essa sensação de desencaixe ou de não-pertencer, mas era necessário que soubesse que pessoas como ela, que pertenciam às margaridas da varanda mais bonita, são as que movem o mundo.

E o mundo continua girando! E as pessoas mudam, e você passeia entre abraços e beijos de despedidas, e a tecnologia avança e nós continuamos! E continuamos e continuamos! Avançamos, minha querida! Então, diga-me o porquê! Sabes que tu pertences à arte, sabes que pertence às flores, às cores, aos mais fortes amores e ainda mais! Tu sabes - e como sabes - que pertence à mim. Tu pertence ao meu mundo, às minhas semanas, ao meu quintal esmeraldino que cega os estranhos de tanta beleza! E que beleza era aquela que escorria pelo teu rosto jovem e escapava pelos seus dedos vermelhos como pimentas.
E o mundo continuava a girar.

Teus lábios afáveis que carregam o sorriso alvo que lhe pertence, ah! Teus lábios! Àqueles que convidaram-me para o compasso rápido da felicidade, hoje parecem tão púrpuros e frios que já não reconheço mais. E o não-pertencer livrou sua alma do teu corpo como uma solução; e tu tornaste tão arredio de si mesma que já não encantas mais com teus livros, ou com tuas músicas melancólicas e perde-se para tão distante que nem a mais transluzente luz traria tua alma de volta.

Cabelos encaracolados perderam-se em algo mais fosco; mais opaco, e agora atingira um tom avermelhado de queimado, e teu rosto saudável tornara-se pálido e cadavérico pelo excesso de doença e choro, aquele choro que veio em um dia qualquer e tornou-se seu, apenas seu; e pertenceu à ti. E agora tu sabes que pertence ao pior que o lixo miserável pode entregar-nos! Sabes que pertence ao escuro e não mais aos lírios que dormem ao lado da minha cama - tu sabes - que agora és a terra infértil e pedregosa que não rende; que desperdiça.

Desperdiças o quanto pode, mas saiba que o mundo continua à girar levemente, tornando seus dias longos e angustiantes como quisera. O mundo gira com suas tecnologias, com suas pessoas novas, com seus beijos e cumprimentos sinceros; o mundo gira ao bater das taças de saúde; ao entrar no telefone de maior tecnologia! O mundo gira quando entras em um avião e parte para o mais longe dos seus problemas ou quando você gera uma vida frágil e pequena, que pretende levar para frente o melhor que você pode entregar ao mundo.

O mundo gira enquanto enforca-se numa corda desbotada, ou enquanto sufoca-se de tanto remédio e vômito que obriga à si mesma; e até quando dorme solitária na cama quente de suor e choro nas noites abafadas do verão, o mundo gira. E você continua à afastar-se de ti, a afastar dos teus vestidos, das tuas flores, da arte e de tudo àquilo que te pertencia.

E mesmo agora, mesmo deitada com teus pulsos íntegros e acerejados, mesmo com teus lábios púrpuros e secos e com teus olhos opacos e ávidos, mesmo enquanto o mundo julga à ti por não conseguir pará-lo com teus atos dramáticos, é preciso que saiba... Sim, é preciso que compreendas à mim e a tudo ao seu redor.

Ela não pertence às flores, ou à matemática, ou num vaso com outras milhares de margaridas secas. Ela não pertence à sociedade, ou ao mundo, nem mesmo à tristeza e a melancolia. Não pertencia à arte, ou às novas tecnologias e mudanças. Não pertencia aos barulhos de furadeiras, de metais, de motos e carros zeros correndo pelas estradas de asfalto liso. Ela não pertencia à cidade, nem ao campo, nem ao teus livros ultrarromânticos.

Ela pertencia à mim.

E agora, tu se foi.

Ela se foi.

E o meu mundo continua a girar.
Bem devagar e triste.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Romans" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.