Você ainda quer brincar na neve? escrita por Min Lunera


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic em forma de carta foi uma ideia que tive ontem. Hoje finalmente me assentei, escrevi, revisei um pouco e cá está.
Eu amo muito a Elsa. Na verdade, amo todos os personagens, porém me identifico demasiadamente com ela. Então decidi fazer essa "homenagem", afinal, quem viu o filme, sabe que ela não foi retratada tão profundamente (eu acho rs).
Espero que gostem!



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Arendelle, 20 de dezembro de um ano congelado

Anna,

Sei que você nunca lerá esta carta. Porém, mesmo assim, adoraria expressar meus sentimentos, apesar de que seja fora de seu campo de visão.

Sabe, irmã, embora passei a te evitar e me enclausurei em meu quarto, nunca deixei de te amar. Assim como sempre amei papai e mamãe. Mas, Anna, aqui “dentro” começou a ficar tão frio que temi chegar ao ponto de chorar flocos de neve. Houve noites que acordei com uma sensação aterrorizante de que a temperatura de meu corpo caía, impressão forte de que morreria sozinha e gélida.

Anna, eu sinto falta do sol e do calor que ele radia quando o inverno abandona a terra. Mais do que isso, tenho saudades de brincar contigo pelos corredores do palácio, assim como pelo jardim. Sim, brincar! Por mais que eu olhe no espelho e veja que minha infância se esvaiu há tempos, queria voltar atrás. Queria voltar a ser uma garotinha frágil, a ponto de não te ferir como fiz por acidente naquele inverno do qual você nunca se lembrará.

Eu não queria sentir medo, mas é tão complicado. Quanto mais fui crescendo, esse sentimento também ganhou força e altura. Há momentos que me fazem questionar o porquê de ter nascido assim. Aos poucos, me tornei amargurada e sem esperanças, piorando tudo.

Apesar de que, sendo sincera, papai enfatizava muito que eu não deveria deixar os outros saberem e nem sentir nada, mas ele estava errado: o exercício de “não sentir” só me deixou pior, com mais medo do futuro. E não consigo mais me livrar disso: me sinto fraca e desajeitada demais. Não consigo nem sequer pedir ajuda.

Aliás, não há como eu pedir ajuda.

Anna, eu queria tanto um abraço. Quentinho da mesma forma que Olaf gosta, lembra? Queria muito sentir seu coração palpitando ao lado do meu e ver suas caretas espontâneas todos os dias, afinal, quando nos encontramos durante as refeições, você se mantém séria e quieta. Sinto que parte disso é culpa minha, porém, por um lado, me conformo e acho melhor assim: não quero fazer nada de errado outra vez.

Mas você é única para mim, irmãzinha. Apesar de tudo, nunca quis te abandonar ou te ferir.

Quando chegava o inverno, eu ficava feliz por ouvir seu convite para brincarmos na neve, por mais que não parecesse. Se não fosse esse medo de estragar tudo, eu teria aberto a porta e ido com você.

Me perdoe por ter me tornado uma geleira.

Mesmo após tantos anos, eu ainda tinha esperanças de que você sempre me chamaria. Para mim, aquilo era um sinal sutil de que nosso vínculo não havia se partido, apesar de um muro de gelo invisível — e uma porta bem sólida — nos separando.

Quando nossos pais faleceram, perdi o controle de meus poderes: a tristeza expandiu-se por todo aposento, desde o piso até o lustre, em forma de cristais de gelo. Tentei me concentrar para sair dali, te abraçar e te consolar. Eu juro que tentei, porém aquele foi o maior desequilíbrio da minha vida: eu estava à deriva, sem controle nenhum sobre mim mesma, sem saber lidar com o futuro como nunca. Desejei compulsivamente me explodir numa nevasca e desaparecer com o desgelo da primavera, até você bater à minha porta naquele dia.

De uma forma inédita, eu quis abrir aquela porta, romper as barreiras que havia entre nós, mas o medo me paralisou no chão e sussurrou ameaças — “se você abrir, ela saberá. Ela vai te abandonar. Você vai machucá-la novamente. Você ficará definitivamente sozinha”.

Contra a minha vontade, com as lágrimas gentilmente cálidas percorrendo minhas bochechas, me recordando que apesar da imensidão invernal ao meu redor havia calor humano em mim, me segurei. Não me movi nenhum centímetro de onde estava assentada. Apenas encostei a cabeça na madeira e fechei os olhos, imaginando se você também havia se assentado do lado de fora.

Dias depois, mesmo sem autoconfiança nenhuma, decidimos que eu reinaria em Arendelle assim que atingisse a maturidade de fato. Com uma ponta de coragem, aceitei meu destino e aliviei o seu: um dia, você poderá partir e ser feliz em algum lugar bonito e alegre, assim como você é. Por mais que me doa na alma pensar nisso, quero seu bem em primeiro lugar, assim como estimo o melhor a todos que residem em nosso reino.

Anna, começou a nevar há três dias e você ainda não veio.

Você ainda quer brincar na neve?

Elsa


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