O grêmio não tem sido muito fácil. Os jornalistas da escola querem entrevistas, os participantes querem reuniões... Isso tudo tem acabado comigo, não tenho nem mais feito minhas tarefas de casa. Leo tem me olhado muito estranho ultimamente, os olhos azuis dele pareciam mais tristes. Catarina às vezes me olhava rindo, mas o que eu mais queria saber era o que eu fiz.

Em uma das reuniões, todos estavam sentados numa mesa redonda com papéis com ideias, já que o meio do ano estava chegando e precisaríamos de ideias para a despedida das primeiras férias. Eu não estava com papéis, não consegui pensar em nada. Leo limpou a garganta e disse:

—Bom dia à todos...— todos murmuraram um "bom dia"— Bem... Precisamos de ideias para a despedida das primeiras férias, alguém tem alguma sugestão?

—Eu tenho.— um garoto de óculos grandes se levantou— Que tal um torneio de Paint Ball?

—Acho que nem todas as garotas estariam á favor dessa decisão.— falei

—Então...— uma garota de cabelos curtos se levantou— Que tal um show da Manu Gavassi aqui no colégio?

—Não são muitos meninos que gostam da cantora.— disse Leo

A sala ficou em silêncio por minutos. Não sabia o que falar, aquele silêncio era perturbador. Limpei a garganta e disse:

—Que tal uma festa?— todos me olharam curiosos— Os anos 60 estão querendo voltar à tona, então podíamos fazer uma festa dos anos 60, com músicas antigas e salto alto com meias listradas.

O silêncio novamente. Fiquei me sentindo um tanto inútil, talvez eles não tenham gostado nada da minha ideia. Mas para alguém que não tinha nada programado, sem papéis ou coragem para falar, até que eu não achei a ideia tão ruim assim. Até que Leo deu um sorriso. As covinhas dele me faziam sorrir também, era algo fofo e provocador ao mesmo tempo.

—Adorei! Alguém mais está à favor da ideia?

—Eu estou.— disse o garoto de óculos grandes

—Eu também.— falou a garota de cabelos curtos

Todos os gremistas bateram palmas, inclusive Leo. Por impulso, segurei minha "aliança" de cadarço e pensei: "Sabia que me daria sorte...". Vi Leo ficar meio tonto, mas disfarçou batendo palmas.

O dia passou rápido, eu e Carol (a garota de cabelos curtos do grêmio) fizemos os panfletos bem rápido, e sem querer me achar demais, ficou muito bom. Carol já tinha histórico em grêmios, disse que já tinha feito muitos panfletos em seis escolas que já estudou. Eu me senti tão... Inexperiente no computador que ri feito uma idiota.

Os garotos falavam com a direção do colégio para autorizar a festa, e parece que deixaram na boa. Saí do grêmio muito feliz e fui falar com Lúcia e vi ela riscando uma foto de Catarina. Fala sério, esse ódio e rancor dela já estava passando dos limites. Colocou chifres de diabo, o tridente e o rabinho pontudo na foto de Catarina, e não neguei a risada.

—Organizei uma festa dos anos 60!— falei rindo

—O quê?!— Lúcia parou de rabiscar o desenho— Serio Monalisa? Que show!

—Serio! Vai ser daqui à três semanas.

Kaio se aproximou e ouviu a conversa. Ele tirou o cabelo do olho, segurou minha cintura e me levantou rindo.

—Se deu bem hein? "Nova gremista"!— disse ele, me colocando no chão

Observei no final do corredor, Leo, com o olhar triste olhando para mim. Será que ele pensava que o Kaio era o meu namorado? Nem em 500 anos de vida! Kaio conseguia ser legal às vezes, mas era muito ignorante. Eu via ele como um irmão mais velho, nada mais do que isso.

Fui para casa e como sempre, almocei sozinha. Não queria dormir, fiquei pensando em que roupa eu iria na festa dos anos 60. Sei que faltava muito, mas eu estava muito ansiosa! Minha avó, antes de partir, me ensinou costura, então eu mesma faria minha roupa. Retirei o manequim de dentro no meu guarda-roupa, trena e peguei a máquina de costura no quarto da mamãe.

Tomei um banho e amarrei meus cabelos ruivos num coque frouxo, coloquei uma saia jeans, uma blusa regata vermelha e meus tênis. Peguei uma sacola e fui para a rua.

Entrei numa loja de tecidos e escolhi um que tinha bolinhas pretas e o tecido branco. Comprei também um pedaço de pano azul, da cor dos olhos de Leo. Segurei o pano e o olhei atentamente. Eu sentia que Catarina tinha falado alguma coisa para Leo em relação à Kaio. Comigo, Leo conseguia se lembrar de alguma coisa da infância. Precisava falar mais com ele, fazia tempo que não tínhamos uma conversa.

Fui para casa e comecei a costurar. Iria ficar linda, para uma pessoa apenas...

O dia passou muito rápido. Minha mãe entrou no meu quarto e me viu costurando.

—Voltou a costurar filha?— perguntou

—Não exatamente...— disse, pegando mais um pedaço do pano de bolinhas— Estou preparando uma roupa para um evento na escola.

—Ah... Você não vem jantar? Fiz seu prato preferido.— minha mãe estava feliz

—Não, agora não.

Eu não estava com fome, estava apenas disposta à terminar o meu vestido.

No dia seguinte, Carol chamou-me para outra reunião... Que saco. Eles conseguiram arranjar o espaço para a festa, seria na quadra e teria música do Michael Jackson e algumas do Elvis, eu sempre gostei deles, então beleza. Leo ainda estava cabisbaixo, eu queria muito saber por quê. Saí do grêmio e fui até Catarina.

—O que você disse para o Leo?— gritei

—Hm? Eu não disse nada além da verdade.— falou dando risinhos

—Que verdade?!— gritei

—Hm... Que você está namorando o Kaio.

—Eu o quê?!

—Desminta essa foto então!— ela me mostrou o celular

A foto mostrava eu limpando as lágrimas de Kaio no zoológico, quando ele me disse quando seus pais morreram. Admito, eu estava bem próxima de Kaio, e tinha as mãos em seu rosto, dava para pensar justamente que eu e ele estávamos namorando. Catarina riu como um ganso com asma.

—Seria uma pena não é... Se eu mostrasse essa foto para Leo.

—Você não fez isso...— murmurei

—Ah é! Eu já mostrei!

Senti o estômago embrulhar. Vi Lúcia correndo em nossa direção e disse gritando feito uma louca:

—Se for para bater nela, me chama que eu ajudo!

Ela segurou a gola da camisa de Catarina e levantou o punho. A força bruta não iria servir de nada naquele momento, então abaixei o braço de Lúcia, que me olhou sem entender.

Na hora do intervalo, Kaio me chamou para me mostrar uma coisa. Perto de nós, Catarina e Leo, que estavam sentados num banco. Leo estava olhando para mim, com os mesmos olhos tristes. Kaio sorriu, com aqueles dentes perfeitos. Ele me empurrou no armário do colégio e me beijou.