Quando suas pernas não estiverem do jeito que são agora

E eu não puder mais te carregar no colo

A sua boca ainda se lembrará do gosto de meu amor?

Os seus olhos ainda sorrirão em suas bochechas?

Todos diziam que eu tinha azar. Eu nunca acreditei.

Eu tinha perdido minha mãe quando ainda estava em seu ventre - ter sobrevivido foi um milagre - coisas assim acontecem com todos. Depois Luke me traiu com minha melhor amiga, caras idiotas também existem. Dois anos depois sofri um acidente de avião e fiquei em coma por um ano inteiro, eu já estava aceitando a história do azar.

Mas ai Nicolas apareceu, tudo mudou, tudo ficou mais colorido e feliz, estava apaixonada novamente e queria passar minha vida inteira com ele, apenas eu e Nico, mais ninguém. O azar tinha sumido, só existia coisas boas. Mas as vezes a vida prega peças em nos, destrói tudo que planejamos em segundos. Deixando apenas um vazio, como a morte.

Foi isso que senti quando vi seu corpo no caixão, sem vida, sem aquele sorriso que só Nico conseguia dar, sem os olhos brilhando, sem calor humano. Era apenas um corpo, Nico não estava mais habitando aquela pele macia.

Sua pele agora mais pálida que o normal ressaltava seus cabelos negros como petróleo e o terno também negro.

Eu nunca mais poderia beija-lo, nunca mais poderia ver seu sorriso, nunca mais pegaria na sua mão quente.

A única coisa que eu amava estava morta. E junto com o espirito de Nico foi a minha sorte.

***

Nico vinha correndo pela escuridão, só enxergava o brilho de seus olhos.

–Achei que não vinha mais. – sussurrei assim que ele sentou sob a árvore. – Pensei que tinha esquecido. – hoje era meu aniversario dezesseis anos, e Nico prometera chegar em nossa árvore a meia noite, como em todas as sextas-feiras.

–Eu nunca esqueceria do dia da minha Princesa da Noite. – bufei, fingindo não gostar do apelido.

– Pare de me chamar assim, é estranho.

– Mas você ama. – ele sorriu e me deu um selinho. – Aqui. – ele me entregou uma caixa azul com uma fita negra.

– Nico, não precisava, você e sua mãe não estão passando uma situação muito boa depois de Bianca... não posso aceitar. – disse a verdade, depois da morte da irmã, que ajudava a pagar o remédio da mãe eles ficaram apertados, remédios e médicos caros demais, contas e a faculdade de Nico.

–Se não aceitar ficarei magoado. – ele deu um sorriso mínimo que já iluminava tudo, só o sorriso dele me fez abrir a caixa.

Um colar prateado com um pequeno cristal azul marinho, deve ter custado uma fortuna.

–Nicolas... é lindo... deve ter custado muito, n-não posso aceita-lo.

– Você irá aceitar, guardei dinheiro para isso, quer que eu dê para quem além de você? – apenas sorri, o melhor presente que poderia ganhar, da melhor pessoa que poderia ter.

– Obrigada. Eu te amo.

– Eu também te amo, Princesa da Noite. – inclinou para beijar-me, e assim passamos aquela noite, abraçados embaixo de um pinheiro.

***

Lembrando disso só pude sorrir, Nico poderia ter ido, mas as lembranças ficariam comigo e com a criança que crescia dentro de mim.