A Garota Problema escrita por Brê Milk


Capítulo 45
Um final nem tão problemático.


Notas iniciais do capítulo

Hey gatas! Como estão?
Antes de tudo só quero esclarecer que não estou nada bem, este é o último capítulo e meus sentimentos estão destruídos.
Mas enfim, vou deixar os agradecimentos para depois, pois ainda tem o Epílogo pela frente.
Então, boa leitura...



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POV JULI

– Acabei.

Respiro fundo enquanto Loren girava a cadeira e me colocava de frente ao espelho. Assim que ela tirou as mãos delicadamente do meu cabelo e se afastou levantei os olhos, deparando - me com uma garota de olhos azuis intensos, com um rosto fino e bonito, e que acima de tudo não parecia ser eu em hipótese alguma.
Levei um tempo até perceber que a menina refletida no espelho verdadeiramente era eu, os lábios em tom vermelho, as bochechas levemente rosadas, as pálpebras cobertas com uma sombra branca cintilante e o mais diferente, o cabelo que havia crescido de um ano para cá com cachos feitos nas pontas pendendo sobre os ombros desnudos.
Definitivamente essa Juli no espelho não parecia com a minha... Hum... "Peculiar maneira de se vestir".

– E aí, gostou? - ouvi Loren perguntar e balancei a cabeça, desviando os olhos do espelho.

– Muito, nem parece eu. Eu estou até...

– Incrível? - ela me interrompe arqueando as sobrancelhas e eu encolho os ombros - Claro que está, eu que te produzi!

Reviro os olhos e gargalho levemente. Em seguida meus olhos passeiam por Loren, a garota com cabelo laranja trajava um vestido justo e preto, de um ombro só enquanto se equilibrava perfeitamente sob os saltos altos também pretos, os cabelos contrastando com a roupa. Abri um sorriso para Loren, ela definitivamente era a melhor ouvinte e mandona que alguma vez já conhecera na vida.

– Não me olhe assim garota, vá calçar logo seus saltos antes que perdemos a diversão!

Revirei mais uma vez os olhos enquanto pulava da cadeira tendo cuidado para não amassar o vestido e caminho até a cama posta no centro do meu quarto, abaixando rapidamente e arrastando o par de all Star preto dali debaixo. Levanto e viro para Loren, que tinha a boca aberta e uma certa irritação surgindo na expressão.

– E quem disse que eu vou de salto? - ironizei enquanto sentava na cama calçando os tênis.

– Eu não acredito nisso Julia! - dou de ombros enquanto ouço os protestos de Loren - Arg, tudo bem então! Vai com o que você quiser.

Abro um sorriso contente enquanto termino de calcar os tênis e levanto da cama, olhando para uma Loren emburradas que não combina nada, nada com a aparência dela agora.

– Vamos, não fique com essa cara! Sabe que amei o milagre que fez em mim, agora deixa eu só dar um toque especial vai...

– Certo, certo - pulo de felicidade enquanto ela ri - Mas vamos logo porque se não daqui a pouco o seu...

Loren é interrompida pela porta do quarto sendo aberta por Mike que entra, vestindo um terno preto com uma rosa vermelha no peito, sapatos de couro italiano e o cabelo perfeitamente penteado com gel.
Quem era aquele ser e o que ele fez com o meu primo desleixado?

– Estão arrumadas criaturas?

Loren e eu bufamos enquanto pegamos nossas bolsas em cima da cama.

– Sim - eu disse, virando para ele - E que demônio te possuiu para você estar assim tão... Arrumado e bonito? - gargalho junto com Loren enquanto Mike fecha o rosto em uma expressão carrancuda.

– Vocês duas são muito engraçadas - ele diz, com um sorriso de deboche no rosto - Mas quero ver se são boas motoristas o suficiente para não precisarem de mim para dirigir.

– Você é um besta sabia? - Loren atira e já vai começar o show de foras e agressões verbais trocadas pelos dois.

E como sempre, eu não tenho paciência para nada disso.

– Vocês podem parar com a palhaçada? Se me atrasar juro como preparo o fígado dos dois para o jantar!

Eles param de discutir e me olham torto, enquanto eu reviro os olhos e caminho em direção para fora do quarto, com eles em meu encalço.
Andamos pelo corredor em silencio, igualmente quando descemos as escadas em espiral para a sala de estar. Acho que Mike e Loren estavam resignados a estragarem a noite de hoje, acho que eles sabiam o quanto isso poderia me afetar. Porque, vamos ser sinceros, eu preferia ter estado na festa de formatura com o povo lá do Brasil, mesmo que eu ame minha amiga e primo. Mas eles entendiam isso, e por isso penso que estejam tentando fazer com que essa festa de formatura seja perfeita.
Mas que seja, enquanto desço o último degrau da escada meus olhos logo capturam as figuras de Fátima e de meu pai, parados em frente ao sofá branco com gigantescos sorrisos no rosto. Eles pareciam ansiosos quando me viram chegar a sala de estar, os olhos quase pulando para fora das órbitas.
Enfim paro a frente deles com os outros dois logo atrás de mim, enquanto Fátima me toma em um abraço caloroso.

– Você está tão linda querida - a abraço de volta enquanto sorrio - Se divirta.

Concordo com a cabeça, esse era meu objetivo.

Olhei para papai quando Fátima me soltou, os olhos azuis iguais aos meus estavam lacrimejando, um sorriso orgulhoso tomando conta de seus lábios e uma expressão contente no rosto.

– Venha cá minha filha - ele abre os braços e eu o abraço - Estou tão orgulhoso de você, finalmente está concluindo mais uma etapa de sua vida. E está tão bonita e graciosa filha, tenho certeza que sua mãe ficaria orgulhosa também - balanço a cabeça enquanto afasto as lágrimas - Pegue - ele fisga algo do bolso e estende a mão para mim, meus olhos se deparam com uma fina correntinha dourada com uma estrela pendurada no meio.

– O que é isto?

– Era de sua mãe, ela me pediu para dar - te no dia de sua formatura - Papai disse, deslizando a correntinha pelo meu pescoço - Era muito especial para sua mãe, filha, é uma herança de família, para você passar para seus filhos.

Sorrio com o coração se enchendo de ternura, ao passear com os dedos pela estrela pendendo a cima dos meus seios sinto que realmente pertenceu a mamãe, e que com certeza eu daria continuidade a herança da família.
Mas meus pensamentos se dissiparam assim que ouvi o som de um trovão ecoar e meus olhos voaram para a janela, observando a grossa chuva caindo lá fora. Com certeza a chuva pioraria daqui a algumas horas, e só espero que não aconteça nada de mal - uma catástrofe por causa da chuva daqui do Canadá.

– Eu vou ter cuidado, pode deixar. - sorrio e ele me dá um último abraço.

Quando nos afastamos ele se vira para Mike, que estava com um leve sorriso no rosto ao lado de Loren, que tentava esconder o desgosto de estar aguardado com o loiro ao lado. Não que os dois se odeiem eternamente, só não iam muito um com a cara do outro por terem gênios diferentes, mas conseguem se aguentar até um tempo.

– Espero que tenham juízo, meninos.

Reviro os olhos já sabendo que a partir de agora começaria as instruções e tudo mais sobre "ser responsável" e o blá, blá, blá típico dos pais. Mas fazer o que, eles estão certos!

– Pode deixar tio, trarei sua filha de volta para casa em segurança - Mike disse, solene como sempre que falava com o tio - E Loren também.

Meu sorriso cresce ao ver os olhos da minha amiga brilharem.

– Acho melhor mesmo - seguro a risada.

Enquanto isso Loren deixa escapar um grande sorriso, eu sabia o porquê. Loren é órfã de pai e mãe, só veve com a tia solteirona dela, nunca teve uma figura para ser exemplo de "pai e mãe", e por isso quando meu pai ou Fátima a consideravam ela ficava assim, feliz. Mas ela sabia que já era da familia, ela era uma irmã para mim, e isso nunca mudaria.

– Tá tudo muito lindo, tudo muito bom, mas temos que ir se não vamos nos atrasar. - murmuro encarando os dois a minha frente.

– Vá com Deus querida, e se divirta bastante.

Assinto com a cabeça me despedindo de Fátima.

– Isso, vá com Deus e juízo. Ah e se divirta filha, não se esqueça de gravar a hora que for discursar.

Sorrio minimamente enquanto sinto o frio na barriga começar a surgir. Obrigada pai por me lembrar que serei eu a oradora da turma, isso é muito bom!
Enfim, depois das despedidas Loren, Mike e eu nos dirigimos para a garagem, entrando no Volvo preto do meu primo, partindo em direção a escola onde seria a festa.
Loren preferiu ir no banco de trás, enquanto eu estava ao lado de Mike que dirigia. Minutos depois do carro começar a se locomover viro a cabeça para o lado da janela, observando a chuva do lado de fora cair e embaçar o vidro. Algo lá no fundo me incomodava.
E eu não sei o que é.
Parece que... Parece que é uma sensação de que algo irá acontecer, mas não sei o que possa ser. Um incômodo diferente, como se eu sentisse que hoje não seria como ontem ou como as outras semanas passadas.
Mas bem, o que poderia acontecer? Tudo está normal, então não tem porque ficar se importando.

Hoje é um dia importante, e eu não posso ficar me dando ao luxo de não aproveitar. Então, foco na estrada.

(...)

A festa está indo bem. Muita gente dançando pela pista, música alta e agitada tocando, bebidas à beça e uma decoração incrível. Mas algo ainda me do incomodava.
Que sensação idiota é essa? Eu não consegui me concentrar na noite até agora! E tudo só piora quando sei que daqui a pouco chegará a hora da oradora começar a discursar, e a oradora SOU EU!
Certo, eu não posso pirar! É só respirar fundo, isso... Respirar fundo!

Enfim, depois que me sinto mais calma desencosto do balcão do bar perto da pista de dança e uma lembrança me atinge.
" Cabos de fios estragados, música alta interrompida, as caras feias viradas para mim, e um idiota rindo de mim".
Tudo que havia acontecido na primeira festa que fui lá no internato... Agora até que parece ser engraçado, mas no momento foi trágico mesmo!
Balanço a cabeça tentando espantar esses pensamentos, sabia que se começasse a reviver o passado não iria conseguir sair mais dele, então é melhor encontrar Loren pois sei que com ela sim não lembrarei de nada.
Saio a procura da garota, me espremendo pelas pessoas que dançavam e nada. Aonde essa criatura se meteu?
Vou até a mesa dos salgadinhos e... Nada! Bufo irritada e cruzo os braços, olhando a minha volta irritada.

YES! Encontro um rosto conhecido no meio da muvuca da pista, mas não o de Loren, e sim o de Mike que dançava com duas garotas de uma maneira... Esquisita! Eu já disse, já cansei de gastar minha saliva tentando fazer que o indivíduo loiro entenda que ele NÃO SABE DANÇAR! Mas ele insiste que "mexe o esqueleto melhor do que ninguém".
E se ele quer pagar mico, eu vou deixar! Só que bem longe dele... Urg!

Mas então, volto a procura de Loren e depois de andar um pouco a encontro perto da mesa de música aonde o DJ estava, conversando com algumas garotas. ARG, lá vai eu socializar por causa da vaca do cabelo laranja.

– Loren - a chamo parando atrás dela.

– Juli! - ela diz e começa a rir

Reviro os olhos, logo agora ela deu para ficar bêbada foi?
Olho para o copo que ela segura na mão e arranco dela, a fazendo começar a protestar enquanto as outras meninas continuam paquerando o DJ que parecia não dar a mínima... Esse aí ou tem namorada ou joga para o outro time, mas não é do meu interesse.

– Não, você já está bêbada! - digo - Na boa Loren, eu acho que vou embora. Só estou no tédio aqui e sei que vou ter que ficar vendo você vomitar, então vamos embora!

A puxo pela braço mas ela reluta. Reviro os olhos e a encaro irritada, enquanto ela desata a rir da minha cara e começa a tropeçar quando tenta se aproximar de mim. Minha nossa senhora, me dê paciência porque se não juro como afogo essa garota naquela tijela ali de ponche.

– Pare de ser chata, Ju...Ju... JULIA, YUP! - Ela começou a bater palminhas - Loren não quer ir embora... Eu quero ficar, é, ficar e aproveitar essa linda noite de verão!

Bato com a mão na testa após ouvir tanta asneira. Nem verão é aqui no Canadá! Já vi que ela tomou todas e mais algumas enquanto eu não estava de olho. Lindo, agora o sermão vai ser em dobro do meu pai.
Grunhido, perco a paciência e arrasto Loren dali, passando pela pista de dança e fazendo sinal para Mike, que assim que vê o estado de Loren ao meu lado esbraveja palavrões e assente com a cabeça. Respiro fundo e arrasto ela comigo até o banheiro.
Assim que entro arrastando ela não vejo ninguém, o povo devia estar curtindo tanto... Enfim, levo Loren até a pia e jogo água no rosto dela, arrancando gritos raivosos da garota. Dou de ombros, isso é para aprender a não estragar a noite dos outros!
Enfim, depois que ela seca o rosto com papéis que tinham ali me encara parecendo mais sóbria e eu suspiro.

– Vamos Loren, temos que ir para casa.

– Não Juli, ainda não - protesta - Temos que esperar, você ainda não discursou não é mesmo... É sim! E ainda tem a banda que não se apresentou, deve estar atrasada por causa da chuva, sabe que a chuva as vezes atrapalha não é baixinha...

Respiro fundo mais uma vez. Ela não e estava mais sóbria, nem um pouquinho!

– Que banda o que Loren, vamos.

A pego pelo braço e nos direciono para porta do banheiro, abro a porta mas um corpo magricelo bate contra o meu, me fazendo cambalear para trás e derrubar o colar que era de minha mãe.
Levanto os olhos furiosos para a morena a minha frente que somente faz cara de mosca morta e entra para o banheiro assim que eu dou passagem.
Olho para o chão à procura do meu colar e não acho, droga! Aonde será que caiu?

– Juliazinha, o que você tá procurando? - reviro os olhos tentando não dar uma voadora em Loren.

– O colar que meu pai me deu, agora cala a boca e vem me ajudar!

Ouço a empolgação de Loren e choramingo enquanto me agacho e começo a engatinhar pelo chão, a procura do meu colar. Olho para trás e Loren está na entrada do banheiro, engatinhando como eu só que para o lado oposto. Reviro os olhos, eu acho ela depois!
Enfim, volto a virar para frente a procura do que é meu e saio pedindo licença para algumas pessoas, outras quase pisam nos meus dedos e eu desvio rápido, mas isso não importava.
Bem, no fim vejo o pingente da estrela brilhando perto da lata de lixo e suspiro aliviada, rastejando até lá e esticando a mão para pegar. Mas antes disso a música para e o silêncio é instalado, para logo depois as pessoas explodirem em gritos e palmas me fazendo quase ficar surda.

Mas que diabos é isso? Vão gritar no ouvido da mãe de vocês!
Bufo e pego o colar, levantando em um pulo depois, puxando o vestido para baixo. Seguro firmemente a correntinha na mão e quando a levanto para colocar uma voz falando no microfone me faz petrificar.

– Boa noite formandos! Somos a Problem6 e viemos cantar para vocês! - o salão se enche em uma salva de palmas enquanto minhas pernas ameaçam a falhar.

Esqueço da correntinha rapidamente e levanto a cabeça, encarando no centro do palco, Vicente e os meus amigos com sorrisos grandes enquanto estavam em suas posições.
Abro a boca em choque e sinto meus olhos lacrimejarem. Enquanto isso eles começam a tocar alguma música lá e a galera toda começa a dançar gritando.
E eu fico aqui, parada sem saber o que fazer. Como pode isso? Eles estarem aqui, NO CANADÁ, na mesma festa do que eu depois de tanto tempo?

"Ainda tem a banda que não se apresentou"

Lembro - me das palavras de Loren e arfo sem parar. Oh deus, isso só podia ser o destino, certo?
Mas então, por que eu sentia medo? Medo de sair correndo até o palco e me atirar em cima de Vicente, com a possibilidade de ser ignorada depois da decisão que tomei e passar vergonha na frente de todo mundo?
Mas também podia ser que não... Talvez ele fosse me acolher e dizer que sentia muito... Mas eu não sei! Não sei qual das duas possa acontecer.
E o pior de tudo, não sei se estou preparada para ser ignorada novamente, como fui a vida inteira.

Então, triste pela decisão covarde que tomei mais uma vez, giro nos calcanhares e começo a andar para a saída do salão, decidida a ir embora e esquecer que alguma vez tive a sorte de cruzar com eles novamente.
Só que, quando você sabe que o destino quer uma coisa e decidi ignora - lo, pode ter a certeza que ele não vai deixar barato. Vai ser insistente.

Ouvi quando a música parou e todos fizeram novamente silêncio, então a voz dele soou.

– É um prazer estar aqui com vocês, mas agora é hora da oradora discursar - Vicente para e ouço ele suspirar no microfone - Só que antes eu tenho que dar um recado para alguém, antes da oradora falar. Mas acho que não vai ser um problema, já que ela é a mesma pessoa do recado e que a propósito está tentando fugir nesse momento.

Arregalo os olhos sentindo o peso dos olhares em minhas costas. De um minuto para o outro o salão estava mais uma vez em silêncio, só ouvindo a respiração dele no microfone e uma luz havia se direcionado para mim. Ótimo, agora eu vou pagar mais mico do que não queria.
Suspirando e relutante, viro de frente para o palco, aonde todos abriram passagem me deixando enxergar Vicente claramente, e olha que eu estava quase no fim do corredor. Balanço a cabeça apertando os lábios enquanto via os olhares surpresos e felizes de Bler, Laura, Tomás, André e Gustavo, atrás de Vicente que permanecia sério.
Oh deus, aonde arranjo um buraco para enfiar a cabeça?
Senti o estômago revirar assim que Vicente abriu a boca, me surpreendendo como nunca:

– Então, para quem não sabe essa baixinha aí do cabelo roxo é Julia Lacoste, que prefere ser chamada de Juli - vejo o sorriso torto se formar em seu rosto e sinto o meu corar - E eu conheço ela, ela estudava no Brasil comigo. Só que coisas da vida acontecerem e nos separaram, mas isso não importa agora. Juli é do tipo de pessoa teimosa, irritante, e de um humor descomunal. Ela é daquelas pessoas que são capazes de fazer tudo por quem ama, que pode até te levar para as maiores confusões que você nunca imaginou entrar, mas ela nunca te deixa sozinho. Tudo bem, as vezes da vontade de matar ela, mas passa. Nada supera esse jeito marrento e problemático dela e bem, eu sei do que estou falando - outro sorriso surge em seu rosto e meus olhos começam a arder - Tenho certeza que isso aqui vai aparecer nos jornais amanhã, então se é para falar, vou aproveitar e me declarar... Julia Lacoste é a pessoa mais irritante, maluca e insuportável; mas eu a amo. Eu me apaixonei por esse jeito dela, e nem que nascesse e morresse de novo teria a sorte de encontrar alguém como ela novamente, e confesso que eu fui um idiota por ter te deixado ir embora. Mas eu estou aqui Juli, eu vim aqui disposto a te encontrar, e não foi tão difícil como imaginei que seria. Quando subi nesse palco e me avisaram que a oradora era você, "Julia Lacoste", confesso que quase tive um infarte, mas só para confirmar eu olhei para os pés de todo mundo aqui no salão, comprovando que realmente você estava aqui, você é a única garota que está usando tênis ao invés de salto - todos riem e eu me sinto minhas bochechas arderem mais - E é isso que eu gosto de você, e se me permiti dizer... Eu te amo, e só queria pedir mais uma chance para tentar fazer acontecer. Para tentar ter novamente a minha garota problema perto de mim.

Respiro fundo, uma lágrima cai e eu apresso - me a secar. Olho diretamente para os olhos de Vicente, enquanto percebo celulares gravando e as pessoas me encarando ansiosas.
Por mais que tenha sofrido esse 1 Ano e que minutos atrás estivesse insegura, acabo de esquecer de tudo. Não queria me preocupar, relembrar o passado ou sofrer mais, apenas mergulhar de cabeça nessa oferta de Vicente, e por que não? A vida é para se viver, acho que até agora não tenho nada a perder mesmo.

Então, não respondo. Apenas suspiro e caminho até o palco, as pessoas abrindo passagem. Vejo o rosto feliz de Mike enquanto ultrapasso a grade e subo as escadas laterias do palco, me aproximando de Vicente e do pessoal que me olham ansiosos.
Paro a frente dele, o encarando com queixo levantado. Hora de fazer meu caminho!

Estico a mão e Vicente me olha confuso, mas estende o microfone.

– Primeiramente eu sou oradora, então vou fazer meu papel - digo, vendo um misto de choque e decepção passar pelo rosto dele - Mas antes preciso fazer algo que já necessito à tempos.

– O qu...

Vicente não tem tempo para responder, pois eu o puxo pela gravata do Smokey dele e lanço meus braços ao redor do seu pescoço o beijando apaixonadamente. As pessoas explodem em palmas, assobios, e gritos mais uma vez, enquanto Vicente me puxa pela cintura e me beija com a mesma intensidade desesperada e apaixonada. A sensação de o voltar a beijar é maravilhosa, é como se estivesse um longo tempo sem beber água no deserto e voltasse a beber, numa fonte de água mágica e deliciosa.

O beijo para um minuto depois, com as pessoas rindo. Me afasto dele que mantém um sorriso grandioso no rosto enquanto limpa a boca pelo meu batom borrado. Dou de ombros, era melhor ele começar a se acostumar.
Suspiro sentindo a respiração acelerada e viro - me para trás abrindo um sorriso para meus amigos que riam sem parar. Volto a virar para frente e esqueço um pouco do beijo segundos atrás, levantando o microfone outra vez.

– Bem, boa noite pessoal! - o povo ri e eu balanço a cabeça - Eu não tenho muito o que falar depois disso, mas só esclarecendo Vicente e eu já nos conhecíamos, e tenho que dizer que também o amo muito, como nunca pensei amar ninguém.
Só queria dizer que eu era uma pessoa vazia, revoltada com a vida mas que depois que conheci ele e meus amigos ali - aponto para o resto da banda - Eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo. E não tem como agradecer a eles, mas enfim, eu os amo. E antes dessa noite acabar, tenho que fazer o discurso.

Respiro fundo e vejo Vicente concordando com um sorriso no rosto, se afastando para trás me deixando sozinha no centro do palco.
Procuro pelo discurso que havia escrito semanas atrás e quando o tiro de dentro do sutiã olho para ele em minha mão. Eu não podia falar as palavras escritas ali, não agora.

– Bem, eu tinha preparado um discurso semanas atrás, mas sinto que se falar essas palavras escritas aqui não será verdadeiro, esse discurso tem que vim do coração, então que forma melhor do que ser no improviso? - sorrio amassando a folha de papel e jogo no chão, respirando fundo olhando para todos ali na minha frente.

Então as palavras surgem, de algum lugar de dentro de mim.

– É meio louco como a vida funciona, mas não estamos aqui para questionar a maneira de como vivemos. Não podemos perder tempo por coisas banais, precisamos aproveitar cada momento enquanto respiramos com coisas boas, e eu sinto que só encontramos os melhores momentos com as pessoas que amamos. Muitas pessoas quando saírem daqui e acordarem em suas camas amanhã de manhã irão encostar a cabeça nos joelhos e fechar os olhos, tentando pensar como será a vida daqui para frente, como farão para não errar. Mas está errado, agora é hora de errar, agora enquanto somos jovens. Durante a vida erramos, acertamos, aprendemos, caímos, mas porque somos humanos. Então comentam erros hoje, o quanto quiserem, errem hoje para aprenderem amanhã e tentarem ser pessoas melhores. Tentem viver tudo o que puderem, tentem perseguir seus sonhos para daqui a alguns anos seus netos ouvirem tudo o que vocês fizeram.
Quando éramos pequenos ficávamos pensando o que poderíamos nos tornar quando crescer, e chegou a hora não chegou? Agora é hora de saber o que iremos ser, mas tudo bem se errarmos, todos erram.
E se te perguntarem amanhã ou depois o que você vai fazer da vida, vire para a pessoa e responda Sei lá, ainda é muito cedo para tomar decisões que provavelmente você não tenha certeza. E se ela insistir, mande ir para o inferno, pessoas chatas não são boas companhias.
Mas o mais importante, deixem a luz brilhar sobre vocês, saiam por aí gritando e se revelando, sejam verdadeiramente vocês. Aposto como serão mais felizes.
Parabéns formandos!

Termino e todos explodem em palmas e gritos de vitória! E então Vicente surge atrás de mim, com mais um microfone na mão enquanto Gustavo começa a tocar a bateria. Então a percussão da música I Knew YOU Were Trouble começa a tocar, me lembrando da minha primeira aula de música no Brasil.
Sorrio balançando a cabeça e viro para descer do palco, mas Vicente segura meu braço e me arrasta até o centro do palco começando a tocar a guitarra enquanto faz um gesto para mim cantar.
Suspiro e deixo a música me levar, enquanto as notas deslizam pela minha garganta.
No final todos estavam dançando alegremente enquanto Vicente e eu cantávamos de frente um para o outro.

E eu não queria mais saber de nada, o que importava era o que estava vivendo agora.

(...)

A festa estava quase no fim, e durante o resto dela aproveitei com Vicente. Havíamos combinado que iríamos deixar as perguntas e as desculpas para depois da festa, agora a noite era nossa. Assim como os dos outros, já havia abraçado e passado um tempo com todos, até me surpreendi quando encontrei Melissa e Marcelo juntos, juntos MESMO, NAMORANDO! E ainda havia aproveitado para me gabar enquanto chamei Marcelo para conversar.

– Eu sabia que vocês iriam terminar juntos.

– É, você sabia - ele sorri para o chão envergonhado e eu passo meu braço pelo dele.

– Claro que eu sabia, sou uma cupida profissional!

Ele balança a cabeça negativamente e me encara sério, fiz algo errado?

– Mas sabe que eu sempre irei te amar né? - arregalo os olhos e ele ri - Mas calma, no sentindo de amigo. Meu coração já tem dona - acompanho seu olhar e vejo Melissa dançado.

– É, eu sei - o abraço - E é por isso que digo o mesmo.

Rimos e voltamos para junto do pessoal. Nem vou dizer como foi o momento que encontrei Pablo seduzindo na pista de dança, porque se parasse para contar, o fim ficaria longo de mais.
Mas então, pelo que parece a pessoa certa pode estar do seu lado, e aparecer a qualquer momento. E não foi o que aconteceu só comigo, acho que Mike e Bler podem concordar com isso, assim como Loren e Gustavo.

Cutuco Vicente ao meu lado e ele me olha, enquanto aponto para os quatro a nossa frente, então observo.
Mike e Bler batem de frente um no outro e cambaleiam para trás, massageando as testas. E é então que o amor bate a porta.

– Ai! - os dois exclamam.

– Tenha mais cuidado por favor! - ouço Bler murmurar.

– Eu mais cuidado? Mas foi você que não me viu! - Mike retruca

– O que quer dizer? Que eu fiz de propósito e que ando esbarrando em qualquer um?

– Não, só que você é um pouquinho cega!

E então eles começaram a discutir, o que levou a Gustavo defender Bler enquanto Loren defendia Mike ( oh milagre)

– Ele não atropelaria sua amiga se ela olhasse por onde anda - foram as palavras de Loren enquanto encarava de frente Gustavo.

– Ah é? E minha amiga não teria sido atropelada se o seu amigo não fosse mais cego ainda! - Ouvi Gustavo responder e então começou tudo!

Depois de rir um pouco com Vicente ao meu lado, paro de prestar atenção nos quatro encrenqueiros e fito seus olhos caramelizados que me deixam encantada.

– Isso vai acabar dando em namoro - ele comenta me abraçando.

– Ah vai sim.

Rimos e a hora da foto dos formandos havia chegado. Dou um selinho em Vicente e me dirijo com Mike e Loren que já haviam acabado de brigar ( e Loren que já estava mais sóbria) para a frente do palco, onde os alunos de nossa turma já estavam. Ficamos na frente, com sorrisos rasgantes nos rostos. O fotógrafo disse para dizermos X e começou a contar... 1...2...3... E....

Foi tudo muito rápido. Só consegui perceber que os idiotas com retardo mental haviam se jogado na frente da câmera, para sair na foto também, e o que resultou? Bom, Melissa, André, Marcelo, Pablo, Bler, Gustavo, Laura, Tomás e Vicente acabaram arruinando a foto de formatura! A formação dos alunos acabou desfeita e todos saíram engraçados, uns caíram no chão, outros abriram a boca na hora que o Fleche veio e eu... Bom, eu acabei no chão mesmo com a turma de doidos em cima de mim fazendo pose para a câmera.
Mas no final até que a foto saiu bonita e engraçada!
Quando nos levantamos dando risada, Vicente colocou meu colar e me deu mais um beijo de tirar o fôlego, me deixando contente demais.

– Daqui a pouco teremos que ir, fazer o último show da turnê - ele disse após todos voltarem para a pista.

Balanço a cabeça. Não posso deixar a tristeza me dominar.

– E para onde é?

– Brasil - ele arqueia as sobrancelhas ao ver meu sorriso.

– Então acho que vão ter que arranjar mais um lugar no avião para mim, pois tenho uma passagem guardada para esse destino.

Ele sorri, os cantos dos lábios perfeitamente levantados em um sorriso maravilhoso.

– Sabe que eu te amo mesmo você sendo um problema né?

– Sei, e posso dizer o mesmo.

– Mas infelizmente eu tenho uma péssima notícia.

Franzo a testa, o que poderia ser? Não pode ser que ele vai morrer, que tem uma doença terminal... Não, não, não!

– O que?

– Quem chegar por último vai de segunda classe! - Vicente não fala, ele grita e em seguida começa a correr para fora do salão.

Rindo igual uma retardada ajeito o vestido e corro atrás dele, e parece que não foi só eu. Pois em seguida TODOS da festa saíram correndo atrás da gente, enquanto íamos de encontro para o pátio do colégio.
Enfim, quando cheguei fora avistei a piscina e na beira dela estava Vicente, já molhado por conta da chuva que caía.
Balanço a cabeça.

– Não me diga que vai pular!

– Vou - ele disse sorrindo torto - E se fosse você faria o mesmo.

Ele estende a mão e eu olho para trás, vendo o tanto de pessoa passando correndo pelas portas pesadas. Bufando, mas ainda achando uma ótima ideia corro até ele e pego em sua mão, em seguida pulando junto com ele para dentro da piscina.
Assim que chegamos no fundo da piscina abro os olhos e me deparo com os olhos de Vicente, que aproveita e me rouba um beijo. Quando voltamos para cima sem fôlego o povo começa a pular na piscina.

Então foi assim a minha festa de formatura, surpreendente e que terminou com uma festa na piscina mesmo que esteja chovendo. E bem, posso dizer que esse foi um final nem tão problemático já que tudo ocorreu bem. Mas a pergunta que faço é a seguinte: Quem disse que esse daqui é o final? Finais só existem para quem não sabe reconhecer um recomeço.
E podem apostar, eu iria fazer um recomeço, do lado de quem eu amo.

A vida pode ser difícil, mas basta nós mesmos torna - lá fácil e alegre, mesmo com tantos problemas a prova. E se você tiver a pessoa amada ao seu lado, te prometo que será muito mais fácil.
Pois a vida é assim, bela para quem a enxerga com olhos diferentes, difícil para quem não abre o coração e infinita para quem sabe o que quer.
E nesse momento eu sabia exatamente o que queria, ser feliz com Vicente.


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Notas finais do capítulo

Pelo anjo! Não estou nada bem.
Mas enfim, espero que tenham gostado desse final, e quero que saibam que amo vocês muito, cês são muito especiais para mim ❤❤

Beijos e até mais...



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