A Garota Problema escrita por Brê Milk


Capítulo 40
Um passado e as escolhas do presente


Notas iniciais do capítulo

Hey cats! Capítulo adiantado Hein?
Ahhh sim! Obrigada por todos os comentários do capítulo passado e pelas pessoas que estão aparecendo hehe.
Bem, BOA LEITURA!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/566504/chapter/40

Como havia prometido, iria contar sobre o meu passado hoje para meus amigos. Já estava na casa de Bler e Vicente, na verdade havíamos vindo para cá hoje de madrugada quando saímos do Daris Parq. Agora sentia meu coração batendo freneticamente dentro de mim e minhas veias pulsarem. Eu não podia dar para trás, não quando todos já me encaravam nesse exato momento enquanto estamos todos no quintal dos gêmeos.
Bler, Laura, Tomás, Gustavo, André, Pablo, Marcelo, Melissa e Vicente. Todos sentados a minha frente na grama verde esperando que eu começasse com o que tinha a dizer. As palmas das minhas mãos suavam tanto que de minuto em minuto eu tinha que secá - las na calça jeans escura. Estava sentada com as pernas cruzadas de frente para meus amigos e percebia uma certa tensão no ar, tanto minha quanto deles.
Antes de começar a falar percebi os olhares tortos que Laura lançava para Melissa que estava ao lado de Gustavo, me encarando também. Laura já havia questionado o por que de Melissa estar aqui também, e eu lhe disse que ela precisava ouvir o que eu tinha a dizer. E precisava mesmo.

– Bem, acho que vocês sabem que estão aqui para ouvir o que tenho a dizer. - eles assentem e eu respiro fundo olhando para a árvore atrás deles - Então, o que tenho a dizer é sobre o meu passado.

Posso não estar olhando para nenhum rosto presente aqui, mas sei que eles me encaram com os olhos arregalados.

– Juli.. - Bler começa com a voz meiga e eu ponho um sorriso no rosto.

– Tudo bem Bler. Já possou da hora de saberem que eu não sou tão boa o quanto pensam.

Minha voz sai áspera, tiro o sorriso do rosto e respiro fundo mais uma vez, pronta para começar.
Em nenhum momento desde que cheguei aqui tomei coragem o suficiente para encarar Vicente, tenho medo do que ele irá pensar de mim quando descobrir o que eu já fiz e quem eu possivelmente sou de verdade.

– Pode começar - assinto ao ouvir a voz de Marcelo rompendo o silêncio.
Marcelo... Outro que irá se afastar.

Limpo a garganta pronta para começar com a tortura das lembranças do passado.

– Bem... Como sabem minha mãe morreu quando nasci. Então cresci com meu pai, mas vocês também sabem que nunca me dei bem com ele. Quando ainda criança sempre fui apegada ao meu avô, mas ele também morreu depois de um tempo e minha avó por parte de mãe virou uma velha ranzinza e sempre que podia jogava na minha cara a inútil que eu era. Então depois de um tempo de suas ofensas perturbadoras comecei a criar raiva de tudo, das pessoas, da vida, de mim mesma. Todas aquelas coisas que minha VÓ falava sobre mim era como um soco no estômago, uma faca na garganta. Eu sabia que eu era a culpada da morte se minha mãe, mas eu era uma criança. - pauso enchendo os pulmões de ar e incrivelmente a vontade de chorar não vem como eu pensei que viria - E então fui crescendo, peguei rancor da minha VÓ e meu pai nunca parava em casa. Me tornei uma rebelde, aos treze anos já bebia e me cortava, uma das coisas que... Prometi nunca mais fazer mas...

Olho para Vicente um pouco atordoada e ele assente com a cabeça, me dando um sorriso de canto. Abaixo a cabeça e continuo:

– As vezes é difícil. Todo dia quando meu pai chegava em casa era uma briga, parecia que eu já estava estourando o limite. Sempre fugia de casa, aparecia sempre com algum namoradinho só para o irritá - lo mais e foi quase chegando aos quatorze anos que minha vida pareceu só piorar. Um dia depois de fugir mais uma vez de casa, acabei em um bairro desconhecido onde encontrei uma gangue de adolescentes mais velhos do que eu vandalizando um prédio. Assim que conheci o líder me apaixonei por ele, Jack era barra pesada e eu sabia. Mas mesmo assim acabei mergulhando de cabeça mais uma vez no errado. Ele me aceitou na gangue, mas antes tive que fazer algo que me deixou marcas. Antes que eu entrasse para a gangue, tive que fazer a iniciação que consistia em: Marcar meu corpo com a marca da gangue. E então eu fiz, peguei um grande caco de vidro e rasguei a parte atrás do meu pescoço, em uma perfeita cicatriz da GANGUE. E até hoje tenho a marca, que quase me levou a morte após eu ter errado e perfurado uma veia do pescoço. - levanto o cabelo e vito de costas, deixando meu pescoço exposto para que o pessoal pudesse ver - Então, essa marca aqui faz parte do meu passado e foi ela que você viu no começo Vicente.

Volto a abaixar o cabelo e volto virando de frente para eles. A boca dos meninos estavam abertas, enquanto Bler derramava lágrimas abraçada a Vicente e o mesmo não conseguia desgrudar seus olhos de sua mão fechada em punho.

– Mas então, quando eu acordei estava ano hospital e percebi que assim que tinha desmaiado meus "amigos" tinham dado no pé pois um homem havia ligado para a polícia. E mesmo assim eu continuei com eles, com os miseráveis, eu continuei com eles. - cerro os dentes tentando não deixar escapulir um grito - Eu vandalizava junto com eles, pichava os mutos da cidade, quebrava vidros de banco ou estátuas na rua e teve até uma vez que eu, acabei ajudando eles a roubarem um estacionamento... - fecho os olhos relembrando das cenas e me forço a continuar - Mas quando tudo acabou e Jack me ajudou a fugir da polícia me arrependi amargamente daquilo. E quando fui contar para ele, bem ele me agrediu e quase me estrupou. Mas eu acabei conseguindo fugir.

Engulo em seco o torpor crescente em minha garganta e pouso as mãos em meu colo, envergonhada demais para encarar um deles agora.

– E depois disso me dei conta das besteiras que estava fazendo. Então sai da gangue e entrei em uma profunda depressão durante uns meses. Não tive ninguém para me apoiar, meu pai parecia não saber o que fazer e sempre que batia na porta do meu quarto eu mandava ele ir embora. E assim ele fazia. Depois de um tempo a Fátima apareceu em nossas vidas e conseguiu me tirar da depressão e um ano se passou e eu melhorei. Depois outro e foi aí que ele tomou a decisão de me mandar para o internato e como vocês sabem, aqui estou eu. - finalizo e suspiro.

– Então essa é a sua história de vida? - Melissa faz a pergunta encolhida no canto com os olhos marejados.

Balanço a cabeça em negativo, sorrindo ao pensar na verdadeira.

– Não. Minha história foi ter perseguido todos esses anos os meus demônios interiores e ter conseguido me encontrar de verdade. E só consegui fazer isso quando cheguei aqui, quando conheci vocês e percebi que sempre podemos recomeçar, de uma forma ou de outras.

Espalho um sorriso pelo rosto e agora sim as lágrimas fluem. Vejo o sorriso no rosto de todos e as lágrimas também, Pablo está fungando tanto e jogado nos braços de Laura. Marcelo e Vicente com os olhos marejados e André apoiado em Gustavo que tem as lágrimas rolando pelas bochechas. Melissa é a primeira a me olhar e abrir um sorriso nervoso em meio as lágrimas, como se desculpasse e tentasse transmitir que me entende.

Respiro fundo com a respiração entrecortada por conta das lágrimas e me levanto, colocando as mãos nos bolsos atrás da calça e ficando de frente para meus amigos sentados no chão. Essa era a hora para dizer, para contar minha decisão.

– E é justamente por amar vocês de mais seus idiotas que eu tomei minha decisão. Fiz coisas horríveis, me arrependi e sinto coisas que nunca fui capaz de sentir. Então, como meu pai foi transferido para o Canadá e ninguém tem a certeza que ele conseguirá... Eu irei ir embora. Decidi que assim que esse ano acabar, voltarei para o Canadá.

Ao dizer as palavras a realidade me atinge. Eu iria ir embora, iria abandonar as pessoas que me fazem bem. Eu iria... Um soluço me escapa, logo após outro e assim ponho as mãos no rosto cobrindo minhas lágrimas. Depois de um certo tempo sinto vários braços me rodiando e quando percebo todos estamos em um abraço coletivo, onde cabelos estão grudados no rosto, lágrimas deslizam pelas bochechas e o silêncio já diz tudo que tem que dizer.

– Iremos sentir sua falta baixinha - Gustavo murmura contra as costas de Bler que lhe da uma cotovelada.

– Eu também irei sentir seu esfomeado

– Vai nos ligar todos os dias Hein? - Melissa RI e eu acompanho.

– Vou perrubar vocês todos os dias.

– Vai bater no primeiro que fizer gracinha para você - Marcelo comenta divertido e eu não posso deixar de sorrir.

– Com toda certeza.

– Você não vai achar uma amiga fabulosa que nem eu que samba na cara das inimigas.

– Claro que não, você é minha Mona preferida Pablo. - o abraço e assim ficamos todos.

Passamos horas assim, todos abraçados pois mesmo não querendo acreditar faltava menos de uma semana para o ano acabar e com essa semana eu iria embora.
Depois de um tempo com todos já de narizes vermelhos e olhos inchados um por um foi se soltando do abraço e saindo do quintal, entrando para dentro da casa. Ao final o último que restou foi Vicente que não estava mais abraçado a mim, apenas na minha frente mas não me encarava. Seu olhar mirava em algo atrás do meu ombro. Meu coração acelerava ao pensar o que poderia estar achando disto tudo.

– Sei que não é só por isso que está indo. - sua voz é a única coisa que parece me quebrar em pedacinhos

– Então se você sabe, deve saber também que não tem como eu continuar.

– Mas há algo que eu possa fazer? - seus olhos desesperados capturam os meus e ele da um passo a frente.

– Não, não tem. - murmuro contra sua camisa assim que ele me puxa para um abraço.

Mas era mentira, quanto ele quanto eu sabíamos que poderia ser diferente se abaixassemos nossas defesas e nos permitissemos nos aproximar. Mas nenhum iria fazer isso, não enquanto houvesse nossos egos em jogo.
Depois de um tempo abraçados meus olhos começam a arder e eu seguro o choro, não iria chorar na frente de Vicente quando ele sabe que iria ser por ele. Deixo meus braços caírem ao seu lado e ele me solta, sem o olhá - lo viro as costas e ando em passos trêmulos para longe. Antes de sair do quintal viro para trás e o vejo socando uma árvore, depois de novo e de novo até que sangue jorra de sua mão e as lágrimas caem como cascatas de seus lindos olhos. Meu coração aperta assim como meus passos.
Quando me dou conta, já estou correndo em direção a um corredor qualquer e quando paro em busca de ar vejo a mesma porta do outro dia, onde Vicente me proibiu entrar.
Meu peito rasga mas mesmo assim a curiosidade é alta. Penso que, se da outra vez a chave estava em cima da porta agora está... Abaixo e levanto o tapete, vendo uma pequena chave dourada embaixo do carpete. A pego e coloco na porta, rodando e ao abrir prendo a respiração. Entro para dentro e fecho a porta, me voltando para o pequeno ambiente reservado para o estudio de música de Vicente. Um piano, violões, teclados e alguns microfones espalhados. Puffs, e discos de vinil com pôsteres de suas bandas preferidas. Abro um sorriso triste com pesar por ter só descobrido isso a essa altura do campeonato. Ando pelo lugar passando com os dedos pelos instrumentos e vendo as diversas folhas com algo escrito penduradas. Me pareciam ser composições dele. Mas uma me chamou a atenção.
Ando até a folha jogada em cima do piano. Pego a composição e escuto passos pelo corredor, me apresso em colocar a folha no bolso da calça e logo saio da sala, saindo e fechando a porta.

– É o lugar preferido de Vicente na casa. - viro para trás e vejo Rodolfo, o pai de Vicente e Bler com os braços cruzados me encarando divertido.

Oh deus!

– O- Olá senhor Rodolfo. Eu só estava...

– Não precisa se explicar querida. - ele RI e eu sorrio amarelo - Acho que Vicente não se importaria de ver você aí dentro. - e ele pisca.

Coro com seu comentário. Será que era uma indireta para mim e para o filho dele?

– Bem, talvez. - encolho os ombros e Rodolfo assente, passeando com os olhos pela porta.

– Não sei o que está acontecendo entre você e meu filho Júlia, mas sei que há algo forte. Pois estou percebendo Vicente calado de mais esses dias e um pouco focado na música para a rádio e... - paro de escutá - lo assim que ele pronúncia rádio.

De que rádio o pai de Vicente estava falando? Como eu não sabia de nada?

– Desculpe senhor Rodolfo, mas o que tem o Vicente e algum rádio haver? - pergunto curiosa.

– Você não sabia? - une as sobrancelhas me fazendo lembrar ao filho - Bem, meu filho e a banda dele que você já conhece estão querendo decolar na carreira. E se Vicente conseguir compor uma ótima música levará na gravadora.

Quando acabo de ouvir levo minha mão discretamente ao bolso de trás, passo com os dedos pela folha dobrada no bolso e minha mente se ilumina. Então era isso que Vicente vem fazendo esse último mês, por isso todo o estresse e o distanciamento. Não era só por mim que ele estava distante.
O torpor na garganta volta e me forço a engoli - lo. Olho para seu Rodolfo que tinha um sorriso no rosto e forço um mínimo também.

– Obrigada senhor .

– Ora de nada. - sorri - Mas senhor não por favor.

– Claro. Agora tenho que ir, tchau - viro as costas e antes de sair do corredor o ouço me chamando.

– Julia? - viro e ele está com o dedo levantado - Não sei se meu filho já lhe disse antes, mas você tem dado suporte a ele nesse último ano.

Fico confusa e com vontade de perguntar o que ele estava querendo dizer, mas sabia que não teria respostas. Por isso somente balanço a cabeça em concordância e viro de costas, saindo do corredor.
Respiro fundo subindo pelas escadas e ouço risadas vindas da sala, o que significa que todos estão lá. Então desvio o caminho da sala e volto para o quintal, caminho em direção a um balanço no final e me sento ali, retirando o papel do bolso e começo a ler a letra composta por Vicente.

Ponto de Vista

Estou ficando cansado se perguntar
Essa é a última vez?
Então, eu te fiz feliz?
Porque você chorou um oceano
Mas há milhares de linhas
Sobre o jeito como você sorri,
Escritas na minha mente,
Mas cada palavra é uma mentira.
Eu nunca quis que tudo terminasse desse jeito,
Mas você consegue transformar o céu mais azul em cinza.
Eu jurei para você que eu faria o meu melhor para mudar
Mas você disse que não importava.
Estou olhando para você por outro ponto de vista,
Eu não sei porque diabos me apaixonei por você.
Nunca desejaria para alguém se sentir do jeito que me sinto.
Esse é um sinal do céu,
Me mostrando a luz?
Isso era para acontecer?
Eu estou melhor sem você,
Então você pode ir hoje à noite,
E não ouse voltar e fazer tudo dar certo,
Porque eu estarei pronto para brigar, é.
Eu nunca quis que tudo terminasse desse jeito,
Mas você pode transformar o céu mais azul em cinza
...
Nunca desejaria para alguém se sentir do jeito que me sinto.
E você disse, você disse, você disse,
(Eu sinto)
E você disse, você disse, você disse,
(Eu sinto)
E você disse que não importava.
(Eu sinto)
E você disse, você disse, você disse,
( Eu sinto)
E você disse, você disse, você disse,
Eu sinto.
E você disse que não importava
E você disse, você disse, você disse,
E você disse, você disse, você disse,
E você disse que não importava.

Composição de Vicente Araújo.
Para: Juli, Minha garota problema.

As lágrimas caem grossas e árduas na folha de papel assim que eu termino de ler. Minhas mãos tremem e eu quase deixo o papel escorregar de minhas mãos. Minha visão já está embaçada e meu coração destruído, com cacos de vidros enfiados e parecendo estar sendo triturado. Ele havia feito a música para mim, Vicente havia escrito aquilo de acordo como ele se sentia. Em relação a mim.
Respiro fundo quando me acalmo e fico ali no balanço, parada olhando para as letras escritas ali.
Só sei que depois de um tempo senti mais alguém aqui e logo fui envolvida pelos braços de uma loira, Bler que chorava silenciosamente junto comigo.
É, as vezes suas escolhas te levam para um caminho onde você não gostaria de estar. E eu não quero estar em nenhum lugar que Vicente não esteja.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aiiiiiiu meu coração está destruído!
O que acharam?
Só lembrando que a história já está acabando e quem quiser entrar no grupo do facebook é só mandar o número viu?
Beijos e até mais!!

PS: A música da composição do Vicente pertence a banda McFly, POV.
Por isso, não esqueçam. ;)

*_*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Garota Problema" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.