"O mundo da ilusão

Foi feito pra gente saber,

Que a vida só é bela,

Se posso sonhar..."

Cristiane anda vagarosamente, no meio das teias de aranha e muita poeira. "Para que guardar tanta coisa velha?” Para diante de um baú. O armário lembra-se de já ter visto, mas não se recorda do baú. Resolve abrir para ver o que tem dentro. Logo avista umas camisas velhas do pai, calças e um par de botas. Remexe as roupas e encontra um vestido azul, bem antigo, mas muito bonito. “Devia ser de minha mãe". Procura lembra-se dela... Porém Cristiane era muito pequena, quando sua mãe morreu.
Volta a fuxicar o baú e retira algumas fotografias. Lá está sua mãe e seu pai. “Ela era bonita!”. As outras fotografias são bem mais recentes: Cristiane e o pai no antigo apartamento. Os dois novamente juntos, na pracinha, de frente do prédio onde moravam. Ela devia ter uns sete, oito anos. “Que tempo bom!" Volta a remexe no baú e encontra suas velhas bonecas e ursinhos de pelúcia, livros, discos... "Meu Deus pensei que tivesse jogado fora!"
Ri sozinha, lembrando-se de alguns bons momentos da época em que morou em frente à praça antes do pai namorar e casar com a "granfina sebosa", da tal Sônia. “Era tão bom! Só nós dois! Eu tinha meus amigos e ele, os dele. Porém, tínhamos um ao outro ”As lágrimas começam a quase escorrer pelo rosto e ela resolve sair do sótão; afinal, seu lema é” nada de recordações..." Nisso, cai de uma estante ao seu lado, um pequeno boneco... Aquilo lhe chama a atenção. Abaixa, apanha o boneco... É feito de pano e tem as feições de um palhacinho, com uma roupa alegre, de varias coisas... "Ah! não é possível!”
Aquele palhacinho significa algo muito especial para ela. Havia ganhado de sua mãe. É das poucas lembranças que tem dela. Recorda-se, inclusive, da sua mãe dizer que o boneco chamava-se Magia, era mágico e atenderia aos seus desejos. Cristiane, no entanto, ainda muita criancinha, preferiu-se lhe chamar de "Feijãozinho" e por muitos anos, dormiu abraçada com ele, junto com a boneca Mônica, o grande urso Rafael e o Tororó.
Cristiane pensa em jogar fora o boneco, pois ao vê-lo, seu coração aperta ainda mais. Porém fica apenas observando-o... Novamente, sente vontade de livra-se do boneco, mas..., não tem coragem. Magia olha para ela de uma forma tão sorridente... Acaba por abraça-la carinhosamente, apertando-o junto ao peito e após beija-lo, coloca-o de volta na prateleira. Lembra que pouco antes de casar, eles mudaram de apartamento. Ela, Cristiane, estava cheia de rancor e raiva por ter que deixa o lugar os amigos que tanto gostava e principalmente, pelo casamento... Assim, mandou jogar fora todos os seus brinquedos, enfeites e os móveis do antigo quarto. Não queria ter nada que lhe trouxesse recordações de um tempo em que "era uma boba e se enganava, achando-se amada pelo pai".
Num impulso resolve descer do sótão. Porém mesmo tentando afastar o pensamento dali, não consegue... "Que saudade!"