"Unconditionally" cover - Alex Goot

Eu a observava da varanda desde... Sempre, eu acho.

Com seus olhos tão elétricos que poderiam dar um choque, a pele tão clara e delicada que poderia ser de porcelana e os cabelos tão escuros quanto uma noite sem luar, Thalia Grace era — de longe — a garota mais linda que eu já havia visto.

Era engraçada a forma como ela, com suas roupas negras como as minhas e o jeito rebelde, estava perto e longe ao mesmo tempo: somos da mesma escola e sala de aula, conhecemos pessoas em comum, moramos um ao lado do outro, mas nunca trocamos uma palavra sequer.

Eu somente a observava, sem nunca falar-lhe como... Um stalker. Eu sou isso, um stalker, um maldito stalker — pensei

E aquilo me doía, como doía. Vê-la com seus sorrisos e ironias ao alcance da minha mão e não poder tocá-la era como ser atravessado por mil adagas e não poder fazer nada pra impedir, para estancar o sangue, amenizar a dor.

Eu estava mais uma vez no meu quarto, dedilhando melodias no violão. Dessa vez Unconditonally na versão do Alex Goot

Parei abruptamente. Ouvi gritos, berros, um barulho de tapa, choro e depois o silêncio.

Eu morava em um apartamento ao lado de Thalia e como as paredes eram finas, muito finas, eu podia ouvir tudo que se passava ao lado.

Pus um casaco, joguei o violão nas costas e sai para as escadas de incêndio, as quais ligavam o prédio inteiro.

Ainda na escada da minha casa pude ver Thalia, ela estava sentada na cama abraçando os próprios joelhos e lagrimas banhavam o seu rosto.

Não parecia com ela, não era ela.

Não a Thalia que eu conhecia. A Thalia que eu conhecia desde eu mudei para NY, a qual a sempre observei de longe porque nunca tive coragem de dizer um oi,não era assim.

Era, e é, forte. Dura, fria e impenetrável ninguém nunca à via chorar independentemente de quão ruim a situação estivesse! Mas a agora com lagrimas quietas escorrendo por seu rosto, com os olhos vermelhos inchados, ela parecia tão oposta, tão... Frágil.

Por isso reuni o pingo de coragem que eu tinha e passei para a escada dela.

— Oi. — Sussurrei.

Por uma fração de segundos ela pareceu assustada, mas assim que pousou os olhos em mim o medo foi embora como em uma rajada de vento.

— Di Ângelo? — Ela franziu o cenho para mim — Como sabe onde eu moro?

— Sou seu vizinho. — Respondi coçando a nuca um tanto envergonhada. O que a fez sorrir em meio as lagrimas.

— Jura? Não tinha percebido. — Respondeu irônica.

Só então notei o vergão vermelho vivo em seu rosto.

— O que aconteceu com você ? — Perguntei.

— Nada. — Ela respondeu, mas notei que aquele “nada” significava Não posso dizer aqui.

— Certo. Ponha um casaco. Vou te levar para um lugar.

— Como não vou saber se você não vai me matar com uma tesoura? — Indagou.

— Diga-me. — Comecei — Seu primo já falou algo ruim sobre mim á você? — Percy Jackson é meu melhor amigo e namora Anabeth Chase melhor amiga de Thalia. — Annie? — Ela negou — Então venha comigo. Juro, não vai se arrepender.

Minutos depois eu estava no Central park com Thalia em meu encalço.

Levei-a até uma área que havia descoberto anos atrás. Aquele lugar é desconhecido para a grande maioria. Fica logo atrás de uma parede a qual é feita supostamente de pedras, mas se você souber procurar vai achar uma pequena entrada para o paraíso.

Assim que entramos Thalia ficou maravilhada. Também pudera era o lugar mais incrível que já havia visto.

Arvores de todos os tipos formavam uma espécie de cúpula as quais uns poucos raios lunares transpassavam, a grama parecia coberta de um brilho prateado. Mais a frente uma cachoeira relativamente pequena, dois ou três metros de altura, desaguava num pequeno logo cuja luz da lua era refletida.

Puxei-a para debaixo de uma arvore, um salgueiro acho, e fixei meus olhos obscuros nos eletrizantes dela.

— Quer me contar por que chorava? — ela começou a negar, mas completei — Juro que sou ótimo em guardar segredos! — fiz um gesto de juramento e ela riu.

— Tudo bem... — Ela ia começar a falar, mas eu a impedi. Deitei-a no meu colo e comecei a passar a mão por entre seus cabelos.

— Agora sim comece. — Ela sorriu apreciando o toque.

— Há uns 5 anos minha mãe morreu em um acidente de carro. Fiquei desolada, afinal minha mãe era a pessoa em quem eu mais confiava no mundo, mas do que minha mãe ela era... Minha melhor amiga. — Uma lagrima escapou de seus olhos, mas não ousei interromper com lamentos, quando se sofre não se quer ouvir coisas como “Sinto muito.”;“Deve ser horrível pra você” . Primeiro por que não há nada mais detestável quanto alguém sentir pena de você, segundo quando se passa por algo assim só se quer ser ouvido sem julgamentos, ou “palavras confortadoras” completamente falsas e mentirosas. Sei disso como ninguém.

“Meu pai casou-se pouco depois, ele acreditava que seria melhor pra mim alguém em casa, uma influencia feminina como ele mesmo definiu. A principio gostei da idéia,não seria minha mãe mas seria minha amiga. Como eu me enganei.” — A essa altura seu rosto já estava encharcado pelas lagrimas.

“Nos primeiros meses ocorria tudo bem ela brincava comigo, como faria com qualquer criança de 10 anos, me dava beijo de boa noite e tudo. Porém logo depois que eu completei 11 anos, começou à me espancar se eu não lavasse,passasse e fizesse tudo que ela ordenasse Veja só eu que sempre detestei contos de fadas virei uma cinderela!” — (Ela riu sem humor) — “Hoje,eu cheguei cinco minutos mais tarde que o combinado, sem exagero nenhum,motivo mais que suficiente para ela entrar feito um furacão no meu quarto, e berrar que a minha mãe morreu por minha causa, que eu sou a escoria da casa. Eu rebati então ela me deu um tapa na cara e me trancou no quarto dizendo que eu iria ficar o fim-de-semana lá sem comida ou bebida. Daí você apareceu e o resto é historia” —Não agüentei mais vê-la parecer tão frágil e tão forte por passar por tudo que passou sem dizer nada á ninguém então simplesmente à abracei deixando passar todo o carinho e amor que eu sentia por ela, e no entanto nunca pude demonstrar.

— Há uns seis anos, — Começei suspirando. Se ela me contou tanto merece saber um pouco de mim. — eu ia sair com os meus pais, bem pra esse lugar. Eu, meus pais e Bianca, íamos fazer um piquenique. E fizemos, o problema foi a volta. — engoli em seco e pisquei tentando conter as lágrimas e falhando miseravelmente. — no caminho o carro falhou, meu pai perdeu o controle e o carro capotou. Fiquei em coma uma semana, meu pai duas. — Meu coração palpitava, minha cabeça girava e eu não conseguia conter as lágrimas caladas que vinham aos montes. — Mamãe e Bianca morreram na hora.

Quando nos desfizemos do abraço — com muito esforço devo ressaltar. — fixei meus olhos nela. O negro obscuro no azul eletrizante.

Passei a notar s mínimos detalhes do seu rosto: a pele clara com sardas leves pelo rosto, o nariz arrebitado, lábios rosados e finos, os cabelos negros e repicados com mechas azuis e roxas.

Ela parecia fazer o mesmo. Tocando levemente, meus olhos, nariz, lábios e bochechas, deixando um leve e agradável formigamento para trás.

— É errado amar alguém que você sempre observou ao longe sem nunca trocar uma palavra? Mesmo essa pessoa estando ao alcance das mãos? — Questionei num audível sussurro próximo ao seu ouvido.

— Só se for errado beijar alguém que a primeira vez em que você falou com ele foi horas atrás. — Respondeu e antes que eu pudesse dizer algo seus lábios foram de encontro aos meus.

Minha vida deu um looping de 360º, em menos de 24 horas. De observador passei para namorado e melhor amigo.

Acho que ser um stalker nunca foi tão bom. — Pensei já de volta ao meu quarto, enquanto me preparava para dormir com um sorriso idiota no rosto.