Dln Darkness, Lies And Nobody Else escrita por Jibrille_chan


Capítulo 4
Capítulo 4




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Reita P.O.V.


Os primeiros dias foram bem complicados. Ruki era muito calado, e como eu mesmo não era de falar muito, sempre ficava um silêncio pesado entre nós. Era uma conivência pacífica, e eu logo aprendi que ele era um tanto metódico quando o assunto era organização. Era até bom, uma vez que eu não tinha um pingo de organização.


Quando Aoi apareceu alguns dias depois da chegada do pequeno com suas malas e todo arrebentado, eu realmente me assustei. Quando largamos as coisas do pequeno no quarto dele, eu fiquei em dúvida sobre perguntar ou não. Ele se dirigiu à porta e eu segurei seu pulso. No instante em que meus dedos tocaram a pele de seu pulso, ele foi ao chão, tentando a todo custo conter um gemido de dor. Eu imediatamente o larguei.


- Ruki? Tudo bem?


Ele agarrou o próprio pulso, tentando se controlar, os olhos fechados e os dentes enterrados nos belos lábios.


- Ta.


- Não, não está nada bem. Anda, deixa eu ver isso aí.


Ele pôs-se de pé rapidamente, indo até a parede e apoiando sua cabeça nela.


- Não. Ninguém pode ver. Ninguém pode saber. Ninguém pode ouvir.


- Tudo bem, eu mudo meu nome pra "ninguém". Posso ver agora?


Estendi minha mão na sua direção, e ele me olhou, as sobrancelhas arqueadas. Acho que ninguém realmente havia se importado com ele. A única exceção talvez fosse o moreno que estava na minha sala. Lenta e hesitantemente, ele me estendeu o braço.


Ergui a manga da blusa devagar, temendo machucá-lo. Havia um profundo corte na horizontal, aparentando não ter sido feito a mais de uma semana. Toquei levemente, e vi o pequeno estremecer com a dor. Busquei seus olhos com os meus, mas ele encarava firmemente o chão.


Soltei um suspiro cansado, e puxei-o até o criado mudo. Abri uma gaveta e tirei de lá um kit de primeiros socorros, começando a enfaixar o pulso do pequeno.


- Tem outros além desse?


Ele continuou a encarar o chão. Ergui seu rosto suavemente, forçando-o a olhar pra mim.


- Ruki, se vai morar comigo, eu gostaria de um mínimo de confiança. Não estou te pedindo que me conte algo sobre isso, ou do motivo de eu tê-lo encontrado tentando se matar. Só estou pedindo que confie em mim, por mais difícil que seja e por mais que minha faixa seja estranha.


Ele piscou e fez a última coisa que eu esperava. Ele sorriu. Sorriu verdadeiramente. Não era um sorriso sarcástico ou melancólico que ele vinha demonstrando nos últimos dias. Era um sorriso sincero, genuíno. E depois de alguns segundos, fui novamente surpreendido. Num movimento rápido, ele me abraçou. Era um abraço desesperado e ao mesmo tempo aliviado. Como se eu fosse alguém querido que o reencontrava depois de tanto tempo. E a idéia de representar algo assim para o pequeno... me alegrou. Me alegrou sinceramente.


Ficamos um tempo ali, apenas apreciando a companhia um do outro, sem nenhuma malícia, quando o pequeno se separou de mim.


- Eu acho melhor nós voltarmos pra sala.


- Por quê?


- Confia em mim. Vamos logo.


Ele foi indo na frente, e quando eu cheguei na porta que dava para a sala, apenas vi o pequeno observando algo à frente, uma sobrancelha erguida e expressão de incredulidade. Quando segui seu olhar, descobri o porquê. Aoi e Uruha se beijando na minha sala. Eu me contive muito para não começar a rir, e Ruki apenas me lançou um olhar misterioso. Os dois mais à frente se separaram, e, no fim das contas, Aoi acabara jantando conosco, Kai e Nao.


Quando todos se despediram, Uruha deu a desculpa esfarrapada de acompanhar Aoi até lá embaixo, para chamar um táxi. Eu apenas ri, fingindo acreditar. Quando todos se foram, eu sorri para Ruki, que estava sentado no sofá me observando.


- Sabe... Eu acho que temos um novo casal por aqui.


Ele me lançou um sorriso melancólico.


- Eu não teria tanta certeza.


- Por que diz isso?


- Eu conheço Aoi melhor do que você. Ele não é do tipo que se prende a uma só pessoa. Se não quiser que Uruha sofra, diga pra ele se afastar do Aoi.


Ergui uma sobrancelha, curioso. Do pouco contato que eu havia tido com o moreno, ele não havia me passado essa impressão. Fiquei pensativo e acabei por sorrir novamente.


- Acho que, mesmo se eu quisesse, eu não poderia fazer muita coisa. Uruha é do tipo que se apaixona fácil. O estrago já está feito. E quem sabe... quem sabe as coisas não mudem?


- Eu não sei. Eu realmente espero. Não gostaria que Uruha, ou você ou até mesmo Kai e Nao sofressem. Não depois de terem me recebido tão bem sem nenhuma pergunta.


E aquela fora a frase mais longa que eu havia ouvido do pequeno desde que ele havia posto os pés no meu apartamento, e não pude deixar de sorrir.


- Essa foi a sua frase mais longa que eu ouvi.


Ele corou imediatamente e abaixou a cabeça. Eu fiquei me perguntando sobre o que ele teria passado para que se impedisse de expressar daquela maneira. Eu estava muito curioso a respeito do passado dele... mas não queria apressar as coisas.


Na semana seguinte, eu vi Ruki se soltando lentamente. Sua paranóia com a arrumação continuava, mas agora seus sorrisos eram mais freqüentes, sua voz já era mais ouvida, mesmo que fosse pra reclamar sobre alguma toalha molhada deixada sobre o sofá. E aquilo me gerava uma alegria irreal. Era realmente irreal, uma vez que eu o havia a conhecido há menos de duas semanas.


Era aliviante chegar em casa e ser receber seu sorriso tímido, como depois dessa semana havia se tornado um hábito dele. E eu estava começando a me preocupar com esse sentimento. Parecia que se eu chegasse e não visse aquele sorriso... era como se eu não tivesse chegado. Era como se algo estivesse faltando. E quando ele sorria, fosse pela coisa mais banal do universo, eu me sentia completo. Mas eu era adulto o suficiente para admitir o que eu estava sentindo.


Eu estava me apaixonando por aquele desconhecido suicida.


Mas eu ainda recordava daquela conversa sobre Aoi e Uruha, e eu realmente não quis acreditar quando, mais uma semana depois, Uruha entrava pelo meu apartamento, apático, os olhos inchados de tanto chorar. Eu havia chegado a pensar que poderia ser diferente dessa vez. Mas eu estava malditamente errado.


Como num piscar de olhos, Kai e Nao estavam lá, fazendo chá e consolando-o comigo. Ruki permanecia impassível, os olhos pregados na porta como se esperasse por algo. E só quando a campainha tocou, eu percebi que ele já sabia que Aoi viria atrás de Uruha. Assim que o pequeno abriu a porta, me levantei, pronto para quebrar a cara do moreno.


Ruki puxou Aoi pelo braço, lançando-o um olhar estranho. Com um gesto, pediu que eu voltasse a me sentar, e levou o moreno até o outro sofá que não era ocupado por Uruha, Kai e Nao, praticamente jogando-o no sofá com uma violência atípica. Abri a boca para dizer que eu deveria falar com o moreno, mas o pequeno me interrompeu.


- Não, Reita-kun. Eu mesmo vou falar com Yuu.


A menção do nome verdadeiro do moreno mais a calma estranha em sua voz me fez temer, como se ele fosse amolecer. Mas o seu gesto fez com que todos arregalassem os olhos, Uruha parando de soluçar imediatamente. No instante seguinte às suas palavras, sua mão esbofeteou o rosto do moreno com gosto, surpreendendo a todos.


- Olha bem pra mim, Yuu! Olha pra mim, seu moleque! É isso que você é, um moleque que não cresce nunca, e que sempre repete a mesma burrada! Eu achei que seria diferente, que com o Uruha-kun seria diferente... Mas parece que você não consegue controlar o que tem no meio das pernas! Olha pra mim quando eu tô falando, inferno! Seja homem uma vez na vida de assumir que você é um tapado lesado que fez uma pessoa doce como o Uruha-kun chorar por uma foda imbecil! Você não aprende, Yuu? Será que você é burro demais pra aprender? O Cigarro queimou todo o seu cérebro, foi? Olha pra ele, Yuu! Ele está sofrendo, está em pedaços, e a culpa é sua! Totalmente sua, seu merda! Você sabe que eu te considero pra caramba, que você é um amigo muito querido, mas isso eu não posso perdoar, Yuu. Não com o Uru-kun.


O pequeno estava ofegante, e a sala extremamente silenciosa. Após alguns segundo de atordoamento, fui até Ruki, colocando minhas mãos sobre seus ombros.


- Ruki, vem pra cozinha, você precisa se acalmar...


- Eu preciso é arrebentar a cara desse imbecil na minha frente, que não sabe dar valor ao que tem!


Meu olhos se arregalar um pouco mais enquanto eu via Aoi se encolher no sofá sobre o olhar de Ruki. Comecei a guiar o pequeno até a cozinha, que depois de um pouco de resistência, acabou por ceder. Sentei-o na mesa da cozinha, servindo-o um copo de água. Ele continuava ofegante, o cenho franzido, a raiva transbordando nos olhos.  


- Eu sabia que isso ia acontecer... Eu falei, não falei?


Eu apenas assenti, mudamente.


- Eu nunca tinha te visto tão descontrolado.


Ele arregalou os olhos, o copo nos lábios. Tomou um gole e depois sorriu.


- Acho que essa foi a primeira vez.


- Não acredito! Sério que foi a primeira vez que você gritou com alguém?


Seu sorriso se tornou melancólico, e ele foi poupado de responder pela chegada afobada de Kai e Nao na cozinha. Olhei para os dois, intrigado, e ambos sorrindo, Kai se adiantando pra explicar.


- Digamos que o Ruki-kun aqui seja bom em argumentação. As palavras dele surtiram efeitos, e achamos por bem não ficar na sala. Ahn... Você tem objetos de valor na sala, Reita?


Fiquei estático, os lábios entreabertos.


- Minha TV...


Ouvi a risada do pequeno, e por mais desesperado e  preocupado com a minha TV - e Uruha -, me acalmei ao ouvir aquele som. Olhei para ele, intrigado.


- Bom, nada de pânico. É, talvez alguns vasos voem e seu telefone, mas vai ficar tudo bem.


- AH. Isso era pra me animar?


Ele sorriu, puro, aquele sorriso lindo que só ele tinha, aquele que iluminava meu apartamento e a mim mesmo. É, eu estava idiotamente apaixonado. E eu sequer sabia algo sobe seu passado. Aquilo me machucava, o fato de ter uma boa parte de sua vida que eu não conhecia.


Alguns minutos depois, ouvi o som de um telefone ser atirado, e fiz menção de me levantar, mas Ruki fora mais ágil, segurando meu pulso, e sorrindo gentilmente. E, naquela hora, eu dei graças as céus por eu estar de faixa, já que ela cobria o rubor que subia pelo meu rosto. Simplesmente por sentir a mão dele sobre a minha, me acalmando, com aquele sorriso raro e lindo nos lábios igualmente lindos.


Enterrei meus dentes sobre meu lábios, e ele acompanhou o gesto, indo fitar a parede logo em seguida. Mais alguns minutos ele  assentiu, como se me desse permissão para entrar na sala. E quando abri a porta, Kai e Nao às minhas costas, curiosos, nem me surpreendi tanto assim ao ver Aoi de joelhos diante de Uruha e os dois se beijando.


Sorri, lançando um olhar divertido para Ruki, que retribuiu o sorriso. É, às vezes valia a pena acreditar no futuro.

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