Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 40
Ele Me Conhece Como Eu Me Conheço


Notas iniciais do capítulo

Feliz Dia dos Namorados! ♥
Desculpem a demora, foram muito os contratempos.
Bom capítulo!



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— Filho! Lucas! Que bom que vocês vieram! Eu já estava pensando em ir até a cidade buscá-los!

Dias haviam se passado desde que o relacionamento dos dois foi praticamente exposto na Universidade. Desde então as coisas tinham sido, ao menos, melhor do que eles esperavam. Claro, algumas coisas desagradáveis ainda aconteciam, como por exemplo, Rodrigo ter que ouvir alguns comentários sobre sua sexualidade ou o relacionamento. Não entendia o motivo disso ainda, em pleno século XXI, ainda gerar tanto comentários, quando tinha tantas outras coisas pra se debater. Como, por exemplo, as desigualdades sociais diversas e o egoísmo presente no mundo.

— Oi mãe, desculpa a demora. Eu tive provas nas últimas 3 semanas, e o Lucas trabalhos e provas pra corrigir. Mas como o combinado, chegamos.

— A gente entende, filho. Mas sabe como é sua mãe, ela ainda quer te ver o máximo possível. Assim como a você, Lucas. Vai se acostumando.

O moreno acompanhava os abraço de longe, ainda envergonhado, sem saber como agir. Desde a primeira visita aos pais de Rodrigo eles tinham se visto duas outras vezes, e ele sempre se mantinha nervoso. Muito vinha de achar não ser capaz nem merecedor de ter uma vida familiar assim como a deles, e imaginar não saber se comportar nessa situação.

— Eu entendo... já estou acostumado com a Solange. Ela também não me deixa muito quieto. – Lucas disse, mas em seguida resolveu acrescentar – Quer dizer, não que eu me incomode, ou seja ruim, é que...

Rodrigo sorriu, indo pro lado do namorado, percebendo o quanto ele estava nervoso.

— Ei, eu sei querido. – Marisa sempre achava gracioso a forma que os dois se apoiavam – Rodrigo também me diz isso, mas eu continuarei sempre assim. E aposto que a Solange também. Ela me pareceu uma ótima pessoa. Temos que convidá-la um dia pra vir aqui.

— Ela iria adorar mãe! Quem sabe no fim do ano? Vou convidar ela!

— Claro filho, quando for o melhor. – Marisa ainda se sentia com o coração transbordando ao ver os dois juntos. Era tão lindo. – Mas e o meu abraço, Lucas? Posso ganhar um?

Rodrigo ria de lado, enquanto viu o namorado soltar sua mão e ir em direção à sua mãe. Lucas era bem mais alto que ela, o que era engraçado de ver, já que ele abraçava como uma criança com medo ainda, mas ao mesmo tempo, tentando se encaixar nos braços da mais velha. O loiro apenas foi até o pai, o abraçando mais uma vez, enquanto os dois olhavam a cena. Essa era a sua família. E nunca ninguém iria conseguir destruí-la.

***

Eles foram direto almoçar depois dos abraços. Os dois mais novos pretendiam ter chegado mais cedo, mas acabaram se enrolando em mais uma manhã de carinhos, chegando um pouco depois do horário que seria do almoço.

Mas não foi como se os mais velhos tivessem ficado incomodados, já que estavam muito felizes por tê-los ali.

— Mãe, não acredito que tu fez panqueca! É a melhor do mundo, Luke.

— Filho, não exagera. Mas eu lembrei que faz tempo que eu não fazia quando tu vinhas aqui. Espero que o Lucas goste.

— Claro... a minha avó... ela fazia uma que era muito boa. Teve uma vez que eu e meu avô comemos tanto que ela decidiu fazer no almoço e no jantar. Depois a gente passou a noite à base de chá pra passar a dor no estômago... – Lucas falou, sem perceber que três pares de olhos pararam em seu rosto, surpresos com o que ouviram. Ainda era raro quando ele expunha uma de suas lembranças.

Marisa e Carlos sabiam da luta diária que o genro fazia pra conseguir superar seus medos e poder seguir em frente. E um de seus entraves era justamente conseguir lembrar do passado sem ressentimentos, como agora, tornando tudo penas como uma lembrança feliz. Por isso ficaram extasiados, assim como Rodrigo.

— Sério, amor? Já aconteceu uma vez isso também, mas era eu querendo comer uva até não conseguir mais. A mãe teve que passar a noite do meu lado, porque eu fiquei com dor na barriga, querendo colocar tudo pra fora. Passei um bom tempo sem comer essa fruta depois.

Rodrigo não cabia em si por presenciar aquele momento, não sabendo se Lucas tinha percebido o que tinha acabado de fazer, mas querendo deixar as coisas o mais natural possível. E percebia que os pais fariam igual.

— Sim, eu lembro filho. Tua mãe me mandou passar um bom tempo sem comprar nada de uva pra não te lembrar do ocorrido. – Carlos sorria, ao perceber as feições de Lucas que parecia perdido em lembranças, mas, diferente das outras vezes, conseguindo esboçar um sorriso ao mesmo tempo.

— Mas acho que hoje em dia ele já superou, Seu Carlos. A Solange e o Rodrigo quando se juntam... sai suco e vitaminas de tudo quanto é sabor. Eu preciso fugir pra tomar um refrigerante ou algo parecido. Caso ele me pegue comendo algo que faz mal, ficarei alguns minutos ouvindo sermões e... – Lucas parou abruptamente, percebendo que todos o olhavam e acabou ficando envergonhado e receoso, pensando que talvez não fosse hora de falar tanto, já que estavam almoçando. – Desculpa, acho que falei demais.

— Pois eu estava adorando. – Rodrigo falou, dando um beijo no pescoço do moreno, que ficou mais envergonhado ainda, por ter os pais dele os olhando. O loiro segurava sua mão por baixo da mesa. – E mãe, pode fazer pro café da tarde aquela vitamina que só tu sabe fazer? Cheinha de cascas de frutas? O Lucas adora tomar leite, tenho certeza que ele vai adorar.

Rodrigo sorria, pois, sabia que o namorado fugia de tudo que tinha alguma fruta na história. Ele preferia tomar leite puro a colocar alguma fruta junto pra consumir.

— Filho, assim o Lucas não vai querer nunca mais vir aqui em casa. Não se preocupa Lucas, eu farei apenas o bolo de chocolate que eu sei que tu gostas.

Lucas deu um sorriso pequeno, apenas sorrindo pra travessura do namorado, enquanto percebia muitas coisas nestes últimos minutos. Principalmente o quanto Rodrigo ficava mais solto perto dos pais. Isso o fazia perceber mais ainda o quanto queria construir uma vida ao seu lado, sem deixar aqueles dois fora disso. Marisa e Carlos eram parte importante na vida do loiro, e nunca deixaria que esse elo fosse quebrado.

***

— Mãe e pai, eu ainda não acredito no que vocês fizeram! Sério, a gente não esperava...

Era à tarde daquele mesmo dia ainda. O loiro e os pais estavam na cozinha, enquanto a mais velha fazia o bolo prometido. Os dois acompanhava os movimentos da mais velha, enquanto conversavam.

— Filho, vocês gostaram? Eu acho que deveria ter deixado que tu escolhesse, mas sabe como é tua mãe, ela se adiantou e...

— Pai, ficou muito lindo! A gente não esperava apenas... quer dizer, o Luke realmente não esperava. Ele ainda está nervoso, aliás. Mas tenho certeza que logo vai perceber que foi apenas um meio de vocês o deixarem mais a vontade ainda.

Nas últimas semanas, sem avisar o filho, Marisa tinha dado a ideia de fazer algumas mudanças no quarto de Rodrigo. Uma delas foi comprar uma cama maior, para que quando os dois ficassem ali, pudessem dormir juntos. Claro que não foi de uma hora pra outra essa decisão, mas teve certeza disso quando soube pelo filho dos pesadelos que o moreno tinha ao dormir. E percebia como o filho se preocupava com isso. Conversando com Carlos, percebendo que o marido apesar de achar bastante moderno, também não se opôs, decidiram comprar alguns móveis para que os dois ficassem mais confortáveis. Não avisou o filho antes de sua chegada, e agora o ouvir falar com o sorriso no rosto a fez perceber que tinha acertado.

— Filho, a gente é mais velho, mas somos espertos. Eu sei que vocês já ficam sempre um na casa do outro e não seria aqui que fariam diferente... eu só quero que o Lucas se sinta bem aqui em casa. – Marisa sempre tomava a frente nas respostas. Sabia que o marido não se importava.

— Eu sei mãe... e agradeço, muito mesmo. O Luke está avançando bastante na terapia, mas ele ainda tem bastante dificuldade de se sentir à vontade em situações familiares. Ele insiste em achar que não é capaz de construir e fazer parte de uma família... – Rodrigo se permitiu esboçar um pouco de preocupação ao dizer isto.            

— Rodrigo, paciência. Hoje no almoço foi uma prova de que as coisas aos poucos estão melhorando. Ele até comeu mais do que o normal. Mesmo que tenha sido pra me agradar, fico feliz com isso. Ele é um ótimo rapaz. – Marisa, como sempre, encorajou.

— Sim, filho. Esperamos que ele se sinta sempre bem em nossa casa. Até porque não gostaríamos de ser sogros distantes. Estamos nos esforçando para que... vocês estejam sempre aqui por perto, já que sentimos muito sua falta. E seria burrice não tentarmos te ajudar a sanar esses medos do Lucas.

Rodrigo indiretamente entendeu o que o pai falava. Antes de conhecer Luke, sempre pensou que ao terminar a faculdade, voltaria pra casa dos pais, por mais que tivesse que viajar diariamente pra cidade por conta de algum trabalho. Mas agora tinha que pensar o que era melhor pra ele e Lucas. Não tinham conversado sobre isso ainda, afinal, era muito cedo... mas entendia que talvez os pais estivessem preocupados que, ao não demonstrarem apoio aos dois, eles decidissem morar longe, ou até mesmo se mudarem de cidade.

— Eu sei disso, pai. E agradeço muito. Mas quero que vocês saibam que o Lucas se sente já muito bem aqui com vocês. Ele me falou isso. Então, apenas continuem sendo esses seres maravilhosos que vocês são, ok? – E indo até a mãe, a abraçou – Ficou lindo, mãe! Eu adorei. Muito obrigado!

Marisa sorriu lindamente, o que fez Carlos, mais uma vez, não resistir e se juntar aos dois no abraço. Sabia o quanto era importante esse apoio ao mais novo, e se sentia um grande homem, modéstia parte, por estar conseguindo ser o pai que o filho merece.

Os assuntos continuaram sendo os mais diversos, enquanto Marisa organizava as coisas. Quando estava perto do horário de Lucas levantar, o loiro voltou ao seu quarto, sorrindo ao perceber que o moreno já estava acordado, olhando a paisagem.

— Está tudo bem? Eu ouvi vocês conversando e resolvi não interromper.

Rodrigo andou até a cama, automaticamente acariciando os cabelos morenos enquanto se aproximava.

— Tu nunca atrapalharia. Estava apenas ajudando a mãe a preparar aquela vitamina...

— Rodrigo, não faz assim... Sabes que eu não vou conseguir negar caso ela me sirva. – O moreno falou isso quase fazendo um beicinho, o que fez Rodrigo morrer de amores.

O loiro sorria, ainda encantado com as cenas do almoço. Sabia que não deveria pensar que as coisas já estavam resolvidas. Mas eram luzinhas em meio a escuridão que a relação deles já foi.

— Ok, vou falar pra ela não fazer mais... – Na verdade Marisa não tinha feito o que o filho pediu. Ela se divertia com as tentativas do loiro fazer Lucas comer. Mas quando podia, mimava o mais velho também, apenas servindo guloseimas. – Mas olha que vou até ficar com ciúmes... acredita que ela fez o bolo de chocolate do jeitinho que eu falei que tu gostas? Queria até ligar pra Solange pra perguntar como ela fazia... sério, daqui a pouco eu vou chegar aqui e nem abraço vou ganhar.

— Deixa de bobagem, ela ama muito você... – Lucas abraçou o loiro, deitando em seguida ele na cama nova de seu quarto, enquanto o olhava dentro dos olhos. – Como eu amo você... promete que não se importa de eu ser assim, sempre tão dependente de tudo?

— Lucas... – Rodrigo percebeu que talvez o moreno tenha escutado alguma coisa da conversa dele com os pais.

— Eu sei que seus pais organizaram o quarto por conta das minhas dificuldades... pra me agradar. Mas eu sei também o quanto o teu quarto era importante pra você, o lugar onde você sempre podia voltar e ver tuas coisas e...

— Se tu não parar eu vou ficar chateado. – Rodrigo falou firme, mas não de forma rude. – Eu nunca pediria para meus pais fazerem o que eles fizeram aqui. Mas não pelos motivos que tu estas pensando. Mas  sim porque eu entendo que talvez seja difícil pra eles se acostumarem. Porém, os dois me surpreenderam muito, mais uma vez. Eles estão tão felizes pelo que fizeram, por saber que isso vai nos deixar felizes...

Lucas não conseguia concordar muito, mas decidiu não seguir a conversa, apenas deitando a cabeça no ombro do mais novo, enquanto respirava seu perfume, como estava acostumado a fazer. Ele não sabia até que ponto o loiro estava certo... tinha medo que os mais velhos houvessem feito aquilo apenas pra agradar, não porque realmente se sentissem a vontade. Odiava pensar essas coisas, mas ao mesmo tempo, não conseguia fazer com que não surgissem em sua cabeça.

— A mãe está nos esperando pra comer alguma coisa, depois podemos dar uma volta. Eu tenho que ir ver uns papeis com o pai, já aproveito pra te mostrar um pouco daqui, pode ser?

Luke apenas concordou com a cabeça, mas não fazendo esforço algum pra sair do lugar. Isto fez o loiro sorrir, e agarrar ainda mais ele contra seu corpo. Sabia o quanto era difícil, mas também sabia que o moreno estava se esforçando, e precisava ajudá-lo a enxergar o lado bom das coisas.

***

— Marcos, por favor! Para de falar sobre isso... Eu não quero e não vou ser precipitado.

Haviam se passado quase 3 meses desde que Luke e Rodrigo tinham assumido o romance e também da visita aos pais do loiro. Desde então, os dias estavam sendo tranquilos, apesar do moreno ainda ter seus momentos de fragilidade, como estava deixando transparecer nesta conversa com o amigo.

— Você falando sobre ser precipitado? – Marcus, como sempre, já ia começar com mais uma de suas gracinhas. Mas percebendo que o amigo estava realmente apreensivo, resolveu não continuar – Lucas, achei que você já tinha percebido que vocês dois estão além das expectativas de qualquer um que tenha meses de namoro. Eu só achei que...

Lucas ao ouvir o que o amigo dizia sentiu vontade de revirar os olhos, como o próprio Rodrigo fazia às vezes, quando estava ironizando algo que tinha dito.

— Não precisa usar desse humorzinho barato pra me responder. Mas é que eu não sei... – o moreno voltou a sentar em seu sofá, colocando as mãos na cabeça, constatando que, mais uma vez, seus cabelos estavam compridos demais. – Eu só não quero assustar ele com mais uma situação extrema.

Já estavam no final do ano, mais precisamente em meados de dezembro, época do aniversário do loiro. E como presente de aniversário ao namorado, Marcos sugeriu a Lucas que convidasse Rodrigo para morar com ele. Mas Luke estava muito inseguro quanto a isto.

Marcos acompanhava os dois, mesmo de longe, e sabia que eles passavam os dias sempre juntos, tendo que mudar de uma casa pra outra durante a semana.

— Lucas, tenho certeza que o Rodrigo está tão cansado quanto você de ter que ficar tendo duas casas. Aliás, vocês não cansam? A Clarissa me disse que tem vezes que ele fica dias sem ir em casa. Tudo porque o reizinho aqui não consegue ficar longe dos livros e equipamentos.

Lucas suspirou, mais uma vez, ao ouvir o amigo.  É claro que ele queria que eles tivessem um lar, um lugar onde poderiam chamar de seu, que fosse o refúgio do mundo que os cercava. E por ele já teria acontecido isto. Mas este estava sendo seu dilema, não estaria sendo precipitado demais?

— Marcos, pode me dar um tempo? E foi bom você tocar nesse assunto, quero saber o que anda rolando entre você e a Clarissa. Espero que não seja nada que possa magoá-la futuramente ou que faça o Rodrigo ficar de alguma forma desconfortável.

— Não vem mudar de assunto. Mas até parece que não me conhece... focar tanto na estrelinha Rodrigo te fez esquecer como as outras pessoas em tua volta são? Claro que eu não faria nada que possa ser ruim pra ela, estou tomando cuidado. Estamos apenas conversando. Por enquanto... – A realidade é que Marcos e Clá estavam se conhecendo. Quando ele ia visitar o amigo, sempre rolava dos quatro saírem juntos e isso era sempre bom para os dois. Não queriam avançar demais pra acabar, de alguma forma, atingindo o casal de amigos. Agir de alguma forma que fossem motivo de uma possível briga entre Lucas e Rodrigo estava fora de questão para Clarissa e o mais velho.

— Hum, sei... Eu confio em ti, só não quero ver vocês dois magoados. Mas eu até acho que vocês se dariam bem. – Lucas disse isso conferindo o horário. Em breve tinha que sair pra buscar o namorado na aula. Estavam na última semana de aula após momentos de paralisações durante o semestre. – Mas voltando à ofensa, não é bem assim. É que meu apartamento fica mais ao centro, sendo mais fácil a gente sempre vir pra cá. Além do mais...

Marcos, após pegar algo pra comer na cozinha, se sentou no sofá ao lado do amigo.

— Lucas, calma, eu não estou te censurando. E eu sei que o Rodrigo te mima demais, de forma que nunca vai contestar ou dizer que vocês ficarão na casa dele ao invés da sua. – E indo pro humor, mais uma vez, Marcos tocou em mais um tabu pra Lucas, sem pensar no que poderia gerar – Imagina quando vierem as crianças... pobre dele, terá que se desdobrar pra agradar tantos mimados juntos.

Marcos falou isso sorrindo, enquanto voltava a conferir a cozinha do amigo, que hoje em dia, não era mais vazia por culpa de Solange e Rodrigo. Acabou pegando mais um pedaço do bolo de chocolate que estava por ali. Teria que lembrar de agradecer a Sol outra hora.

— Já imaginei o Rodrigo tendo que convencer uma criança e você a comer vegetais. – Marcos nem percebia que o amigo tinha ficado estático ao ouvir o que ele falava. Lucas nem mesmo sorria junto com ele. – Vai ser muito engraçado. Muito mesmo! Hum... acho que vou pedir pra Solange fazer uma forma dessa só pra eu levar pra casa quando eu for.

— Marcos, do que você está falando? Crianças... até parece que Rodrigo teria filhos com alguém como eu...

Foi nesse momento que Marcos percebeu o que se passava com o amigo.

— Lucas, vocês nunca falaram sobre isso? Quer dizer, esse sempre foi um de teus maiores sonhos, apesar de você sempre ter achado que nunca conseguiria realizar.

— E nem vou. Se antes era porque achava que nunca encontraria alguém pra dividir esses momentos comigo, agora é porque eu não faria uma criança ter um pai tão perturbado como eu.

Um momento de silêncio se instaurou na sala. Era possível apenas ouvir o barulho que Marcos fazia enquanto se servia e comia depois, enquanto olhava Lucas sentado, olhando pro nada.

— Luke, você não vai ser como eles, acredita em você. – Marcos entendia o medo que o amigo tinha de ser igual aos pais. – Eu acredito em você. E em mim como padrinho, é claro...

— Marcos, por favor, eu não quero falar disso... – Lucas levantou do sofá, enquanto ia em direção as suas chaves – Deixa esse assunto pra você, não quero falar mais sobre isso. Se eu tiver que passar minha vida inteira me dividindo entre o meu apartamento e o dele pra estarmos juntos, não vou me importar. Vou ir buscar ele, já volto.

— Ei, Lucas, mas ainda está... – e o barulho da porta foi a certeza de Luke não mais podia ouvi-lo. – cedo.

Marcos tinha sido sincero com Lucas. Mas  sabia que Luke ainda era muito inconstante, e se recriminou por não ter lembrado disso mais essa vez. O moreno tinha evoluído tanto nas consultas que acabou esquecendo o que Rodrigo havia lhe dito. Segundo o loiro, o médico do moreno falou ao mais novo que era importante sempre lembrar que foram muitos anos vivendo recluso, e cheio de medos. Então, seria normal que ele se mantivesse inconstante, principalmente em relação algumas questões. Se sentindo culpado, Marcos resolveu enviar uma mensagem a Rodrigo, dizendo por cima o que aconteceu. Claro que não contaria sobre o assunto, e porque Lucas ficou irritado. Esperava apenas que não tivesse contribuído pra uma piora do amigo.

***

— Mais uma palavra sobre o Marcos e eu te expulso do meu lado!

Rodrigo estava junto com Clarissa enquanto se dirigiam pra frente do campus pra aguardar a chegada de Luke, apesar dele saber que o moreno, provavelmente, já estaria por ali. Desde que os colegas do loiro ficaram sabendo do relacionamentos dos dois nada havia mudado. Ao menos, não muito. Os dois estavam cada vez mais juntos, de uma forma que às vezes assustava o loiro quando lembrava que, no inicio do ano, tinha poucas perspectivas em relação à mudanças em sua vida.

— Olha quem fala. Você só fala do Lucas faz meses. Me deixa ser feliz. – Clarissa falava em tom risonho. – Falando em Marcos, estou falando com ele agora, ele disse que está na casa do Luke, perguntando se eu posso ir até lá. Será que eu posso?

— Claro que sim, a gente pode jantar todo mundo junto.

— Ok, vou dizer pra ele – Rodrigo se divertia com os sorrisos da amiga. – Ah, Rodrigo, ele disse que te mandou uma mensagem...

Os dois estavam quase chegando no estacionamento, já sendo possível ver o carro de Lucas estacionado. Enquanto abria um sorriso, Rodrigo tirou o celular do silencioso e aproveitou pra ler a mensagem de Marcos.

“Acho que eu falei umas coisas que não devia. Mas nada que teus abraços milagrosos não resolvam. Desculpa por isso, mas é que eu sempre fui muito verdadeiro com ele, e às vezes esqueço que deveria ter mais trava. Ainda mais depois do que o Félix te falou.”

Rodrigo, enquanto lia a mensagem, foi diminuindo o passo. Clarissa nem percebeu, já que estava focada no celular. O loiro resolveu ligar pra Marcos.

— Oi, Marcos, tudo bem? Li tua mensagem agora...

— Oi Rodrigo, não queria te preocupar. Mas é que a gente estava conversando e bem...

— Ei, eu sei como é... eu liguei pra te dizer que está tudo bem, tá? Espero que entre vocês também esteja.

— Sim, ele sempre volta pra mim, mesmo eu falando algo que ele não quer ouvir – Marcos falava mais aliviado. Antigamente ele ficaria atrás do amigo, preocupando com o que seus pensamentos sempre, até então, pessimistas poderiam leva-lo a fazer. Mas hoje entendia que Rodrigo era sempre a melhor pessoa pra fazer com que o moreno passasse por um momento de insegurança.

— Então está bem... ele já está aqui e se eu demorar mais 30 segundos a chegar até o carro ele vai vir atrás de mim. A gente vai deixar a Clarissa no apartamento do Luke e depois vamos passar no meu pra buscar uma coisa e já falarei com ele, tá? Enquanto isso, vocês podem ir pedindo algo pra gente jantar? Vai ficar tarde pra fazer algo...

— Claro, pode deixar! Vou pedir pizza porque eu sei que é o tipo de bobagem que o Lucas adora. Sou muito bonzinho.  Mas se quiser a gente sai e vocês podem ficar aqui sozinhos e...

— Claro que pode ser pizza, pede uma doce porque ele gosta. E a Clarissa também. – Rodrigo sempre se sentia acolhido nestes momentos que passavam todos juntos. – E claro que não precisam sair, Marcos. Tu és muito importante pro Luke e quando estás aqui é bom que passem um tempo juntos e não quero ser eu a não fazer com que estes momentos ocorram. Vai ser rápido, eu teria que passar em casa mesmo.

— Ok, até mais então. Nos vemos já.

Rodrigo desligou o celular e avisou a amiga que teria que passar em seu apartamento, mas deixariam ela na casa de Lucas junto com Marcos. Com o sorriso que ela abriu nem foi preciso perguntar se haveria algum problema.

Quando os dois chegaram ao carro, Rodrigo percebeu na hora que o namorado estava tenso, mas resolveu apenas dar um pequeno beijo nele e cruzar suas mãos enquanto ele dirigia, avisando que teriam que passar em sua casa. E assim foi o caminho, deixaram Clarissa em seu apartamento e depois se dirigiram à casa do loiro.

Quando entraram no cômodo, Rodrigo foi direto ao seu quarto pegar umas roupas e uns pen drives que precisaria no dia seguinte. Durante este tempo, Lucas apenas permaneceu quieto, encostado na porta do cômodo, acompanhando os passos do mais novo.

— Rodrigo... você não quer que a gente fique aqui? Eu posso avisar o Marcos e a gente deixar pra amanhã esse jantar. Não quero que você esqueça de levar algo e amanhã se prejudique.

Rodrigo ouviu o namorado, mas continuou a juntar todos os pertences. Assim que terminou, sentou na cama e chamou Lucas com a mão, o convidando para sentar.

— A gente vai se atrasar pro jantar, Rodrigo... – Ele começou a dizer, mas sem resistir foi até o loiro.

— Vai ser rapidinho, eu quero apenas conversar contigo.

Lucas na hora percebeu que o namorado tinha percebido algo. Ou alguém havia lhe dito alguma coisa...

— Marcos...

— Sim, o Marcos me mandou uma mensagem... queres conversar sobre?

Nesta altura os dois já estavam com as mãos novamente entrelaçadas, enquanto Rodrigo fazia carinho com sua mão livre nos cabelos de Lucas.

— Não há nada pra dizer... Marcos apenas me falou umas coisas que eu não concordei... mas isso é normal, não é como se fosse a primeira vez que aconteceu e nem será a última.

Rodrigo sabia que insistir era perda de tempo, porque Lucas acabava falando, mas apenas quando estava preparado. Em uma consulta com Félix, que Rodrigo esteve presente, o médico disse isto ao mais novo. Que tudo teria seu tempo, e que apesar dos avanços, era normal que o moreno se sentisse ainda com medo de expor certas coisas.

— Ok, eu não quero te pressionar. Apenas espero que fique tudo bem. – E como pra deixar claro que não precisaria de uma resposta, Rodrigo se aninhou no braços do moreno, com o ouvindo perto de seu coração, percebendo que batia rápido, sinal de seu nervosismo.

Sentir o calor de Rodrigo fez Lucas lembrar de Marcos falando sobre os supostos filhos que teriam. Amaria compartilhar com o loiro uma família... seria um sonho realizado. Mas não se sentia capaz. Não mesmo.

— Não é que eu não queira falar... – seu tom acabou saindo nostálgico pelos pensamentos que estava tendo.

— Amor, eu já sei disso. Apenas te perguntei por perguntar. Sabes como eu sou, quero estar sempre tão aqui presente pra ti que não tenho noção de espaço às vezes...

— Mas eu não me importo com isso. Não mesmo. – Lucas parecia estar já recuperado do que o afligia, o que era normal também, segundo o médico. As tempestades dentro dele tinham soluções muito práticas, que eram todas envolvendo o diálogo. Quando ele conseguia colocar pra fora o que o afligia, era como se quase superasse aquele problema. Mas claro, era sempre preciso ter cuidado.

— Eu sei que tu não se importa... e também, não é como eu me importasse. Porque vou continuar sendo chatinho assim, ok? – Rodrigo olhava nos olhos morenos, com seu sorriso habitual. E querendo desfazer alguma tensão que ainda permanecesse, começou a cutucar a barriga do moreno.

— Não, Rodrigo, não faz isso. Você sabe que eu tenho cocegas...

— Mas essa é a graça, oras...

— Eu acho que vou pegar o carro e ir pra casa dos teus pais. Agora que eu tenho um quarto que também é meu, eu deveria te deixar aqui sozinho. Tu e tuas manias de me fazer rir assim.

— É mesmo? Mas que audácia! Quero ver o dia em que tu vai chegar lá sem mim e enfrentar o senhor Carlos... – Era quase uma piada entre eles ainda o fato do moreno se sentir um pouco envergonhado ainda com o pai do loiro.

— Pensando por esse lado... a casa da Solange é mais perto mesmo.

E com mais algumas trocas de carinhos Lucas acabou relaxando. E compreendendo o que Marcos falou. Seria maravilhoso ter Rodrigo em sua casa, compartilhando seu espaço. Seria muito bom ter noites sempre assim, onde não precisassem se preocupar com mais nada. E fossem de fato uma família. Conseguir pensar assim o fez querer pedir pro loiro se mudar pra sua casa naquele momento mesmo. Mas sabia que teria que ser algo pensado. Então, enquanto ambos se dirigiam ao seu apartamento pra encontrar os amigos, Luke imaginava como faria esse pedido. Pensava que antes teria que se desculpar e agradecer Marcos por ter chamado sua atenção e colocado em palavras o que ele pensava. E depois, pediria sua ajuda porque queria que fosse especial. Por que tinha certeza, que seria pra sempre.


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Notas finais do capítulo

Eu tinha pensado em fazer bem diferente o capítulo... mas espero que vocês curtam.
bjinhos, adoro vocês! De verdade! ♥
Agridoce