Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 17
Eu serei a luz a te guiar


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Mais um capítulo sendo postado!



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Eram 18h30 daquela sexta-feira ainda. Rodrigo descansou durante toda à tarde, apesar de ter acordado sempre que ouvia seu celular apitar, pensando que era Lucas. Mas não era. O moreno não havia respondido nenhuma de suas tentativas de contato até agora. Acreditou que o moreno entraria em contato após ele parar de mandar msg, mas não aconteceu, o deixando preocupado. Quando acordou, pensando no que havia conversado com a amiga mais cedo, acabou fazendo uma mochila com alguns pertences. Iria propor ao Lucas que fizessem algo no fim de semana, pois, talvez ela tivesse razão, precisavam desmistificar a relação, mudar de ambiente. Hoje teria aula de telejornalismo, com a Claudia. Ele não curtia muito esta aula, e muito menos ela, ainda mais depois de perceber o quanto cercava Lucas. Juntando a tudo isto o fato de que sentia, precisava ir atrás do moreno, resolveu não ir para a faculdade.

Antes de sair, tentou mais uma vez ligar para o telefone dele, já que o celular parecia ter sido desligado, ou acabado a bateria. Após ir para a secretária eletrônica, deixou um recado, avisando que estava indo até lá. Sentia que era melhor que aparecer de surpresa.

Quando ouviu as batidas na porta, Lucas já sabia quem era. O loiro avisou que estava indo, mas ele continuava no mesmo lugar, em sua cama, sozinho. Rodrigo acabou ligando mais uma vez para ele. Sabia que escutaria, já que o lugar não era tão grande, e daria pra ele ouvir, deixou mais um recado:

“Lucas, tu podes demorar o tempo que for pra abrir essa porta. A escolha é tua. Mas eu quero que tu saibas que eu estou aqui, pronto pra entender e esperar o tempo que for pra te ouvir. Mas, por favor, não coloca fora o que temos até agora...eu prometo que fico em silêncio se assim for melhor. ”

O moreno não acreditou no que ele tinha dito. Mesmo evitando sua presença, parecia que Rodrigo ainda queria lhe ver. Seu coração começou a bater mais forte, junto com aquela dor que o fazia massagear o peito. Enquanto isto, Rodrigo estava ansioso do outro lado da porta, batendo a cada 2min. Podia sentir a presença dele lá dentro. Sabia que estava em casa, e não entendia o motivo dele não atender. No caminho até ali, percebeu que não estava de fato irritado, mas preocupado com ele. Entendeu que conseguiria ajudá-lo apenas quando tentasse compreender e saber o que estava acontecendo. Passados 50min. que estava ali, após o recado, decidiu ficar quieto, apenas aguardando. Fazia um frio terrível ali, mas esperaria mais um pouco. Uma hora ele teria que abrir a porta. Ou assim pensava que seria.

Quando 10min. (certinhos) se passaram após seu silêncio, um barulho de chaves chamou sua atenção. Um Lucas abatido, com o olhar vago, parecendo desprotegido, abriu a porta em total silêncio, sem o olhar de fato. Deus, como ele estava mal. Provavelmente não havia se alimentado durante o dia inteiro. Rodrigo precisou se conter para não censurá-lo naquele momento. Apenas pegou sua mochila e entrou, sem falar nada.

Ao fechar a porta, Lucas continuou de costas para o mais novo. Quando ele parou de bater, pensou que talvez houvesse ido embora, e no quanto se isto tivesse ocorrido tinha a perder. Sem pensar muito, abriu a porta, mas não sabia agora como agir e nem se tinha feito o certo.

– Acho que tu deverias estar mais agasalhado. Não percebes o frio que está fazendo hoje? O termômetro está quase zerando já. – Rodrigo não se conteve em falar, enquanto analisava o outro em sua frente.

Caminhando até a cozinha, Lucas foi em busca de um copo de água. Não estava se sentindo bem, ao levantar quase caiu após uma tontura. Após se servir, sentou no balcão da cozinha, sem olhar para o loiro ainda.

– E você deveria estar na aula de telejornalismo, se não me engano.

– Pelo jeito empatamos na displicência então. – O mais novo esperava algum sinal de receptividade pra se aproximar. Mas isto parecia que não iria acontecer.

Lucas continuava inatingível. E isto deixava ele intimidado. Mas por saber que aquilo era apenas fachada, resolveu tentar mais uma vez, afinal, ele havia aberto a porta, né?

– Lucas... – ele começou, e neste momento, não sabia se foi pelo jeito que começou a falar, mas o moreno levantou os olhos em sua direção.

– Pensei que você ficaria em silêncio. – disse com o olhar fixo nos seus.

Neste momento, Rodrigo quase abriu a porta e saiu dali, pegou um ônibus e foi pra casa dos seus pais passar o fim de semana com quem realmente importava. Como ele podia ser tão teimoso?! Mas sabia que ele não estava bem. E era uma questão de tempo até ele falar algo. Bastava que ele próprio soubesse lidar com isto.

Fazendo um sinal de chavear a boca, sentou-se no sofá e começou a mexer no celular. Na verdade não fazia nada de especial, apenas passava o feed, procurando algo que chamasse a atenção, o que não aconteceu.

Já Lucas se sentia um idiota sentado enquanto aquele quase adolescente olhava o celular como se fosse o centro do mundo. Queria sair dali, tomar um banho pra ver se conseguia manter um papo sustentável com ele, já que o impulso havia o feito abrir a porta. Mas ao mesmo tempo foi assolado pelo pensamento de que, na verdade, desejava mesmo era ficar em meio aos seus braços, à noite toda. Não queria ficar sozinho, não suportaria outra noite como essa que passou. Mas estava com medo até mesmo de olhar pra ele, respirar, dar um passo. Acrescentava tudo isto um zunido chato, e sabia que era porque não tinha se alimentado. Que cena ridícula ele devia estar fazendo, pensou, enquanto levantava para ir até o banheiro. Foi neste momento que o que já esperava aconteceu, ele ficou extremamente tonto, e não conseguindo se segurar no balcão, e agarrar o copo ao mesmo tempo, acabou o derrubando, chamando a atenção de Rodrigo, que correu até ele.

– Lucas?! Lucas?! Estás bem? O que estás sentindo? – o loiro apenas conseguiu correr em direção ao outro, mesmo percebendo a relutância dele em relação a isto. Seu coração batia descompassado, percebeu o quanto ele estava abatido.

– Eu estou bem... foi apenas uma queda de pressão eu acho... – Lucas estava se sentindo mais ridículo ainda, e com vontade de chorar sentindo aquele contato com o outro. Era tudo que precisava, mas estava com tanto medo...

Rodrigo, ainda segurando ele, tentou o levar até o sofá, para que sentasse. Mas Lucas relutou, dizendo que iria tomar um banho.

– Eu estou bem, já vai passar. Não precisa fazer esse alarde! – Lucas não tinha quem se preocupasse com ele há 10 anos. Parecia não saber mais receber este tipo de cuidado assim, tão próximo. Por isto se sentiu ofendido e incapaz ao ouvir o loiro oferecer ajuda.

Rodrigo, mais uma vez, tentava exercitar sua paciência. Mas ele parecia uma criança mimada mais uma vez.

– Ah sim, tu passas um dia inteiro sem comer nada, e nem se esforce em negar – falou quando o outro fez menção de fazer isto – e agora quer parecer que não é nada. Poxa, Lucas! Por que essa mania de autodestruição?

O moreno ignorou a pergunta, percebendo que mais um pouco não aguentaria e acabaria chorando. Continuou andando até seu banheiro e antes que fechasse a porta, Rodrigo o impediu.

– Por favor, deixa destrancada?

Lucas o olhou nos olhos e apenas conseguiu assentir. Dando-lhe as costas, Rodrigo voltou para a sala, sentando um pouco. Estava ansioso, não sabia como estava conseguindo lidar com tudo aquilo, mas pensava que não estava longe de descobrir o que se passava. Isto exigia uma força que ele não sabia de onde estava tirando, ao mesmo tempo em que tentava identificar os motivos de permanecer ali, quando o outro parecia mais uma criança, diferente daquele que lhe beijou meses atrás na balada.

Prestando atenção nos sons que Lucas fazia, foi até a cozinha juntar os cacos de vidro que estavam por ali, já pensando em fazer algo pra ele comer. Percebeu que poderia fazer uma sopa, algo leve seria o melhor, pra ele que não havia se alimentado durante todo o dia. Durante os dias que passaram juntos, Rodrigo sempre tentava realizar as refeições com ele, pois, já tinha percebido que caso, em algum dia, não fazia isto, certamente ele não comia direito. Constatava isto ao abrir os armários, que dificilmente estavam com algum alimento. Que mania ele tinha de se prejudicar!

Quando voltou para a sala, Lucas encontrou Rodrigo na cozinha, fazendo o que parecia um caldo de Aipim *. Provavelmente ele tinha ido na fruteira que tinha ali embaixo do prédio, já que frutas também eram vistas em cima da mesa, coisa rara por ali.

– Se tu quiseres, tem banana, maçã e uvas. Eu não sabia qual que tu preferias, então trouxe estas três. – Rodrigo comentou, tentando evitar encará-lo. Estava com melhor aparência após o banho, mas com os cabelos, que eram um pouco compridos, molhados parecia mais indefeso ainda. Porém, ainda assim conseguia despertar em si as mais diversas sensações.

Lucas resolveu não comer nenhuma das frutas, apenas ficou ali sentado no balcão, vendo Rodrigo de um lado pro outro. O cheiro do tempero já fazia seu estômago reclamar por comida. Durante o banho tinha tido o cuidado de ao sair evitar ficar tonto. Não queria aumentar a lista de coisas idiotas que estava fazendo acontecer àquela noite.

Quando terminou de cozinhar, Rodrigo colocou apenas um prato, no balcão mesmo, trazendo a panela. Após fazer isto, ficou parado, olhando para o moreno.

– Espero que tu gostes, foi o que deu pra fazer de rápido e adequado. Por favor, se alimente um pouco.

Já estava indo se sentar no sofá novamente, mas Lucas o chamou.

– E tu não comes?

– Obrigado, não estou com fome.

Mas Lucas estava frágil, e isto começava novamente a ficar evidente pra ele mesmo. Ter o loiro ali, perto, o fazia não querer estar mais sozinho. Nem mesmo sentado ao balcão.

– Por favor... senta? –

Rodrigo deu volta, pegou um prato e serviu ambos. Começaram a comer em silêncio, por vezes se olhando, mas não por muito tempo. Quando acabaram, o loiro levantou indo colocar as coisas na pia. Estava terminando de lavar a louça quando Lucas começou a falar.

– Desculpa...

Rodrigo apoiou as mãos na pia, sem conseguir virar. A voz de Lucas estava tremula, sabia a cena que encontraria quando o fizesse. E com pesar virou, encontrando ele desolado, olhando para o chão, os olhos vermelhos do choro que estava apenas aguardando alguma coisa para cair. E isto aconteceu, assim que o mais novo diminuiu a distância entre eles e o abraçou. Lucas rompeu em soluços, se encolhendo, como se quisesse que Rodrigo o protegesse de algo. O mais novo, mesmo assustado, retribuiu o aperto, sem saber o que fazer para que ele se sentisse seguro consigo.

– Hei, está tudo bem. Eu estou aqui agora. – falou enquanto o apertava ainda mais. Mas parecia não adiantar.

Até que, num ato de não saber mais o que fazer e dizer, apenas pensou naquilo que havia sido o primeiro contato deles, através do beijo. O beijou com paixão e vontade, querendo passar a ele tudo que estava querendo lhe dizer, mas sabia que não conseguia ainda. Já Lucas, se agarrava a isto como um náufrago, que busca a chance de voltar à terra de onde veio. Precisava de Rodrigo, mais uma vez constatava isto. Passou o dia tentando se blindar e proteger, mas não era mais possível. E vê-lo ali, disposto a estar com ele o fez perceber o quanto estaria sendo maluco em não aproveitar.

– Desculpa... – o moreno tornou a falar, quando o oxigênio se fez necessário. – Eu não sei o que fazer, como agir... – Falava isto com a mão no peito. Como doía.

Rodrigo, prestando atenção neste gesto, tirou a mão do outro do lugar que ocupava, passando a massageá-lo. Parecia sentir a mesma dor que Lucas sentia, e precisava encontrar um jeito de fazer passar.

Andando com ele próximo a si, sentaram no sofá, juntos ainda. Rodrigo o olhava nos olhos, passando o máximo de segurança que ele achava que o outro precisava, enquanto segurava suas mãos entre seus dedos. Lucas, por vezes, desviava o olhar, com medo de revelar demais.

– Lucas, eu entendo que você não quer falar sobre isto. Aliás, me evitou todo o dia. – disse sorrindo, para que o outro entendesse que não estava bravo de fato. – Mas entende, pra gente conseguir se entender, e você superar, não é possível que isso que tu guardas continue aí, apenas dentro de ti – disse, voltando a tocar o lado esquerdo de seu coração.

O moreno olhava o mais novo com olhos assustados. Queria muito falar, mas não entendia também ao certo o que era. Eram anos se fechando pro mundo, agora não sabia mais como fazer isso sair assim, de si. E constatando isto, mais uma vez lágrimas saiam de seus olhos.

– Não queres me contar sobre teu sonho? – sabia que era um dos problemas, e o causador do telefonema frio daquela manhã.

Mas Lucas continuava quieto, fazendo um carinho em suas mãos, apertando o contato um pouco mais após esta pergunta. Parecia que pensamentos ruins voltavam a passar pela sua cabeça, e ele quisesse lhe proteger. Isto aqueceu demais o peito do loiro. Como estava ansioso por fazer ele voltar a sorrir. Mas sabia que isto voltaria acontecer por degraus, alçados com muito tempo e esforço. E isto o tranquilizou em sua busca por respostas.

–Hei... – pronunciou, o fazendo olhar nos seus olhos – Está bem, se tu achas que ainda não é a hora, desculpa em te pressionar, eu só queria entender... – acabou sendo interrompido pelo moreno.

– Rodrigo, entenda. Eu quero muito conseguir falar, mas eu não consigo...

A voz de Lucas estava rouca, fraca, parecia com medo de falar algo que pudesse se arrepender depois. Neste momento, o mais novo entendeu, não era certo continuar insistindo. Apenas em ele admitir isto já era um inicio. Abrindo um sorriso, levantou do sofá, não deixando de perceber o olhar preocupado do moreno. Ele pareceu pensar que ele estava indo embora. “Como era bobo!” pensou. Rodrigo ficaria ali com ele aquela noite. Ele queria estar. Ambos precisavam disto.

Erguendo a mão, esperou que ele lhe estendesse a sua. Indo em direção ao quarto, foi apagando as luzes pelo caminho, ascendendo quando chegaram até a peça. Rodrigo já havia entrado ali, mas agora era diferente. Ia ficar. Lucas o olhava, parecendo não acreditar. O loiro olhava para Luke com olhos sorridentes, ficando feliz em saber que conseguia surpreender ele com coisas tão simples. Seu coração bateu descompassado com isto.

– Eu posso dormir aqui com você essa noite? Sabe, pra ajudar a espantar este sonho ruim.

Lucas, ainda não acreditando, apenas conseguiu assentir, enquanto Rodrigo pegava sua mochila, que o moreno não havia enxergado ainda, e ia em direção ao banheiro do quarto. Após se aprontar pra dormir, voltou, encontrando Lucas já deitado, o olhando com olhos apreensivos. Indo desligar a luz do quarto, também se sentia ansioso, enquanto deitava ao lado do moreno, ainda sem se encostarem.

– Eu posso ligar a luminária, Rodrigo? Eu normalmente não durmo no escuro... – Lucas falou, se sentindo constrangido.

O loiro, se sentindo envergonhado em apagar a luz sem questioná-lo, acendeu a que ficava do seu lado. Claro, ele não dormiria no escuro!

– Sim, desculpa por não perguntar. Se quiseres, eu acendo a luz do quarto, sem problemas. – já ia levantando quando Lucas segurou seu braço.

– Não, assim está bom. Além do mais, hoje eu tenho você aqui.

Ao ouvir isto, Rodrigo percebeu que alcançar outro estágio no relacionamento, no caso deles, não seria quando necessariamente transassem. Apesar de perceber agora, com os últimos minutos, que quando isto ocorresse seria mágico como tudo que estavam passando, dividir momentos como este estavam fazendo eles irem além. Seu coração batia mais forte do que nunca, a vontade que tinha era de abraçar o moreno, e nunca mais soltar. E foi o que fez. Estava frio por ali, a temperatura havia caído mesmo, como tinha dito. Se aproximando do outro, puxou as cobertas para ambos. Dando um beijo em sua testa, e depois levemente em seus lábios, se ajeitou confortavelmente com ele em seus braços. E neste momento, conseguiu admitir a si mesmo algo que talvez estivesse relutando. Estava tremendamente apaixonado.


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Notas finais do capítulo

* Aipim é a mesma coisa que mandioca.

Aguardo coments, caso o capítulo mereça! :D
beijos,
Até o próximo,
Agridoce.