A Origem do Trono - A Seleção escrita por Alice Zahyr


Capítulo 10
Desculpe, querido Rei, mas as terras do Sul têm dono.




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– Ai - Cher reclamou enquanto tentava passar pela multidão de recrutas que estavam festejando no Pavilhão Central. Por volta das seis horas, quando o Sol começou a baixar, algumas pessoas trouxeram mesas e montaram estruturas de som e luz no lugar. Agora, exatamente às sete horas, a festa já estava ficando cheia. A garota loira se espremia entre os outros, tentando alcançar Kiva.

– Ande logo, Cher! - Kiva pediu, tentando ser sutil entre a multidão. Apesar de alguns já estarem bêbados, elas não queriam levantar suspeitas. - Estamos atrasadas!

Cher apressou os passos, quase correndo, quando acidentalmente esbarrou em um garoto. Era alto, magro e desengonçado e usava óculos fundo de garrafa. Espere... Ela se lembrava dele!

– Hector? - Cher chamou-o, agarrando suas mãos. Ele assentiu e ela abriu um largo sorriso. - Que bom que você está aqui! Vem! Eu e Kiva já estamos indo para o Subnível 1!

Hector franziu o cenho, tentando decidir o que fazer.

– Não posso ir sem ele - falou, virando-se para trás à procura de alguém. Cher arqueou as sobrancelhas, confusa. - Alan! Ele... Sumiu!

– Você quer mesmo ficar e procurá-lo, Hector? - Cher perguntou. - Mais cinco minutos de atraso, e vão cortar nossas cabeças - ela fez uma careta. Hector tremia de agonia. Não poderia largar Alan ali, não quando fora o primeiro garoto que falou com ele. Na verdade, o único. Todos os outros olhavam para Hector como se ele fosse uma grande aberração - a pessoa errada no lugar errado.

Mas se perdesse mais tempo, perderia sua única oportunidade de provar aos outros que merecia aquele nome tanto quanto eles. Mercenário.

– Tudo bem - Hector começou a seguir a garota loira, que por sua vez seguia a morena. Quando estavam perto das pilastras, Hector esbarrou em um garoto. Na verdade, um garoto e uma garota. - Ei! Alan?!

Cher virou-se para trás. Ao ver Alan com as mãos em lugares indevidos, a garota fez uma careta.

– Eca! Seu... Nojento! Vem, Hector, vamos embora daqui! - Cher puxou-o, mas Hector agarrou o braço de Alan.

– Você já está cheirando a cerveja - Hector disse, enojado. - Você vai vir comigo, agora.

Alan saiu cambaleando.

***

Natalie andava na sala de um lado a outro, brincando com a adaga que tirou da cintura. Ela estava extremamente furiosa. Desde quando tornou-se babá de recrutas?

– Eu, vou, matá-los - ela disse, calmamente, mas sentindo a raiva invadir cada célula de seu corpo.

– Calma, Natalie - Tevon pediu, levantando-se e ficando ao lado dela. - Ouço os passos deles. Estão chegando.

Natalie riu com sarcasmo.

– Ah, é. Sete e quinze.

Tevon revirou os olhos. De repente, quatro jovens apareceram na sala do Subnível 1, vindo das escadarias de incêndio. Tevon ergueu as sobrancelhas.

– Escadaria de incêndio? - perguntou. Kiva curvou os ombros, envergonhada.

– Precisávamos chegar com pressa - ela respondeu.

Natalie se aproximou de Alan, que se esforçava para manter-se em pé.

– Bêbados - ela disse com desdém. - Que ótimo! Me diga, Tevon, como vamos treiná-los bêbados?

Cher estreitou os olhos para Alan e suas bochechas ficaram vermelhas. Ela estava furiosa.

Tevon suspirou, frustrado.

– Estão todos assim? Ou apenas Alan?

– Apenas Alan. - Cher respondeu rapidamente.

– Perfeito. - Tevon disse. - Alan, por favor se retire desta unidade. Está expulso dos Mercenários. - Ele se virou para pegar um papel onde estava a lista dos grupos que formaria.

Hector se posicionou a frente de Alan.

– Hum, por favor, senhor, não o expulse... Ele... Ele tem problemas com a bebida.

Tevon virou-se para o rapaz. Ele tremia de nervosismo.

– Como é? Está me dizendo que Alan... É um beberrão, é isso? - Tevon gargalhou, olhando para Natalie. Sua risada era seca e fria, cortante como uma navalha. - Mas que droga! E o que ele está fazendo aqui, então? Acham que isso aqui é um centro de reabilitação?

Alan levantou a mão, meio tonto.

– Eu tô aqui - ele falou, com voz arrastada. Cher bufou, irritada.

Tevon pôs as mãos sobre a mesa e olhou para Alan por alguns segundos.

– O que vou fazer com você, seu... Idiota! - ele gritou e socou a parede. Cher estremeceu. - Se sabia que tinha um compromisso, por que bebeu tanto?

– Não... Consegui parar. - Alan engoliu seco. Seus olhos lacrimejavam.

– Chega. - Natalie ordenou. - Vá vomitar o que você bebeu e volte para cá. Dane-se se não se sente bem. Se isso fosse uma guerra, você também não estaria se sentindo bem.

Alan deu meia volta e seguiu em direção à porta cinza ao lado da porta da escadaria e entrou. Ele demorou tempo o suficiente para que Tevon se acalmasse. Quando voltou, o grupo já estava formado. Seriam Kiva, Cher, ele e Hector. Tevon não estava mais lá, apenas Natalie. "Droga, ficamos com a pior parte." Alan pensou.

– Onde estão os outros escolhidos? - Alan sussurrou para Hector.

– Já estão com Tevon, em treinamento - ele respondeu.

Natalie pediu que ficassem calados e ouvissem. Dadas as instruções, os cinco desceram as escadas até um andar abaixo. Quando Natalie abriu a porta, eles abriram a boca.

– Uau - Kiva balbuciou, seus olhos brilhavam de ansiedade.

A sala em que entraram não era uma sala qualquer. Tratava-se de um enorme pavilhão, cheio de objetos como armas ou arcos e até uma parede de escalar. Havia bonecos de tiro ao alvo espalhados em fileiras à parede do fundo e cordas pendendo da parede. Do lado direito do pavilhão, havia uma pequena cabine, e do lado esquerdo, outra semelhante.

– O que são essas cabines? - Hector perguntou.

– Cabines de sobrevivência - Natalie respondeu. Prevendo sua próxima pergunta, ela disse: - Você vai ver pra que serve.

***

Os quatro subiram as escadas quase morrendo. Arfavam e se seguravam às escadas com o máximo de força que tinham. Quando enfim alcançaram o andar dos dormitórios, caíram no chão. A festa agora estava no auge, e já era madrugada, por volta de uma da manhã. Havia vários casais se embebebando ou se beijando nas pilastras, mas os quatro nem se importavam. Estavam cansados demais para lições de mercenários.

– Você - Cher olhou para Alan furiosa. Ele resmungou, sentindo a cabeça começar a doer. - É um idiota, sabe disso, não é? Quase ferrou com a gente. Se eu não estivesse muito ferrada agora... - ela arfou, buscando mais ar. - Ferraria com você!

– Será que dá pra Barbie Girl parar de brigar? - Alan pediu. Cher arqueou as sobrancelhas, irritada, então levantou-se e andou em direção ao seu dormitório. Kiva acompanhou-a.

– Cher, peraí!

A loira sequer virou para trás. Só parou para dar ouvidos à Kiva quando já estava deitada em sua cama.

– Sei que ele te irritou, mas... O que foi aquilo lá fora? - Kiva perguntou, assustada. Ela só conhecia o lado doce e meigo de Cher. Nunca a havia visto tão furiosa.

Cher suspirou e enfiou o rosto no travesseiro.

– Ele me tira do sério.

***

Amanheceu tão rápido que Tevon acordou com a sensação de ter batido a cabeça em algum lugar. A noite passada fora um grande fiasco - Alan bebera demais e não conseguia fazer os exercícios direito, Hector praticamente não tinha músculos e Cher estava tendo problemas de câimbras. Kiva era a única que conseguiu usar pelo menos três dos aparelhos do Subnível 1.

A luz do sol estava fraca e tímida, entrando pelas brechas da persiana do quarto como uma visita inesperada. Tevon abriu os olhos com dificuldade, calculando quantos horas havia dormido. Apenas quatro, por causa do barulho da festa que os iniciandos aprovados davam.

– Tudo bem - ele se levantou e tirou a camisa, seguindo para o banheiro. - Mercenários não dormem.

Tevon deixou que a água quente caísse sobre suas costas, aliviando as dores. O treinamento com um dos grupos foi excepcional, e ele estava quebrado, provavelmente tanto quanto os recrutas. Como Natalie não aparecera desde então, concluiu que seu grupo se saiu muito mal.

Depois de se vestir, Tevon decidiu ir até a Sala dos Computadores. Como ainda era muito cedo e o alarme só soaria duas horas depois, às sete, a sala estaria vazia, com talvez alguns mercenários de vigia.

– Tevon? - Diego chamou-o ao vê-lo virar o corredor e entrar na sala.

– Vim ver uma coisa - ele disse. Diego assentiu e deixou que Tevon usasse a grande tela que ficava no fundo da sala. - Quero o canal de Illea no ar.

De repente, um símbolo apareceu na tela. O brasão de Illea. A cantata do programa soou rapidamente, dando entrada aos jornalistas. Tevon sentou-se na cadeira e pôs os pés em cima da mesa.

– Em poucos dias, os cidadãos de Illea presenciarão um grande e importante momento para seu país. - A jornalista anunciou. - O rei Clarkson se reunirá com o imperador da China para renegociar o acordo de paz entre as duas nações.

Tevon se levantou e pôs as mãos sobre a mesa.

– Um dos pilares principais do novo acordo, segundo o próprio rei, é a doação à China da parte Sul do país, que está isolada de Illea por ser improdutiva e inabitável. Segundo Clarkson, o imperador estaria interessado em implantar uma colônia de plantação para abastecer a China, que tem sofrido com a falta de espaços para a produção em massa. O esperado é que ele aceite a oferta em troca de dar liberdade política total à Illea, que já foi sua colônia de habitação há dois séculos.

Quando a jornalista terminou de falar, Tevon já estava alcançando o quarto de Natalie. Ele bateu incessantemente até que ela abrisse.

– Meu Deus, o que foi? - ela abriu. Ao ver quem era, deixou que ele entrasse. - O que houve?

– Clarkson. Ele quer dar as nossas terras para o imperador da China.

Tevon estava atônito.

– Como é? Do que você está falando? - Natalie riu, incrédula. Ao ver que ele falava a verdade, sua expressão foi de desdém à terror. - Não pode ser verdade. Por que ele quer fazer isso?

– Tem a ver com algum acordo de paz, e-ele quer que a China colonize o Sul novamente em troca de total liberdade política....

– Não, não - Natalie passou a mão no ar. - Estou falando do real motivo por que ele está fazendo isso. Dando as terras do Sul. Ele não pode entregar o seu próprio povo assim!

– Ele disse que o Sul está inabitável. - Tevon falou. Natalie ergueu as sobrancelhas. - Está dizendo que ele sabe dos... Mercenários?

– Talvez não dos Mercenários, mas de um grupo rebelde. Temos crescido muito, Tevon, sabe disso. É óbvio que em algum momento, nos tornaríamos notáveis.

Tevon passou as mãos no rosto.

– Não podemos permitir que isso aconteça. Clarkson é cruel, ele nunca vai voltar atrás por causa de nós.

– Sei disso. - Natalie concordou. - Então o que vamos fazer?

Tevon respirou fundo. E lá vamos nós.

– O governo mexicano está aguardando nossa atitude. Acho que já é a hora de mostrar ao mundo quem somos - ele falou. - As terras do Sul têm dono. São nossas, e o rei precisa saber disso.

Natalie assentiu com a cabeça.

– Você tem razão. Bem, comecemos a trabalhar. Do que você precisa? - ela perguntou.

Tevon passou os olhos pelo quarto, pensando em um bom plano. Foi quando uma ideia de repente surgiu em sua cabeça.

– Essa é uma guerra só nossa... Não podemos travá-la com Illea, seríamos massacrados. Precisamos de uma tática silenciosa, uma distração e grupos fortes o bastante para tirar Clarkson do poder.

***

A sala de reuniões do quartel-general estava cheia. Dez mercenários chefes- cinco homens e cinco mulheres- se assentavam ao redor da mesa redonda com o símbolo de uma caveira no centro da antiga bandeira dos Estados Unidos. Natalie havia dado as ordens de Tevon, e agora trabalhavam para criar as soluções.

Em dois dias, Natalie tinha tudo de que precisava nas mãos. Agora, só faltava reunir os grupos e torná-los fortes o bastante para colocarem o plano em ação.

– Desculpe, querido Rei, mas as terras do Sul já têm dono -ela disse.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?? Logo logo tem mais!
Kisses,
Alice



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