Gods can have it all, so why can't I? escrita por Jiggle Juice


Capítulo 1
First.


Notas iniciais do capítulo

Eu acabei de terminar de ler Feitiço, o segundo livro da Saga Encantadas. Desde Veneno (o primeiro) eu me apaixonei pela Lilith e tinha achado as ações dela em relação à Branca de Neve bastante intrigantes, por falta de palavra melhor. Eu fiquei levemente revoltada com o fim de Veneno, mas aí li e Feitiço e descobri que minhas teorias e esperanças tinham algum fundamento. Sarah Pinborough me fez adotar outro girl/girl ship ~sigh.
Algumas coisinhas na fic são diferentes dos livros (caso você já tenha lido acho que vai perceber, caso não, leia agora porque são fabulosos). Como o nome da Branca, que eu a chamo de Snow aqui porque é muito mais legal. Também criei um nome para o reino e o rei (que eu na verdade não tenho certeza se o nome dele apareceu no livro, mas enfim).
Tenho a impressão que isso aqui ficou com um pouquinho da vibe de A Song of Ice and Fire, mas espero que goste do mesmo jeito.
Lembrando que não é preciso ler os livros para ler esta fanfic. Eu diria que o plot é bem suave, sem muita complexidade, só fluffy, vinho, amor e magia



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I don't need blue blood running through my veins because
Like a queen, like a queen, I can make you love me”

– - - - - - - - - -

Lilith apertou a haste da taça de vinho com força, fingindo que não havia escutado o que um dos criados dissera. Ela nem ao menos é da nobreza, por que está sentada no trono da rainha Harriet?, o gordo de três queixos e manchas senis da face havia sussurrado para a outra criada de cabelos de homem, enquanto saiam da vista da rainha com o resto de sua refeição, deixando apenas o jarro de vinho tinto, e branco. Lilith não havia sido particularmente amistosa quando dissera que o carneiro assado em cerveja preta estava lhe dando engulhos. Também não foi a mais gentil das mulheres quando ordenou que lhe trouxessem creme adoçado com mel, amoras e maçãs, dizendo que “é só colocar numa tigela o creme e num prato as frutas cortadas. Até boçais imbecis como vocês são capazes de fazer isso, eu espero.”

Fingiu que não escutara a insolência porque o que era daquele criado estava guardado e não porque era bondosa ou algo do tipo. Ele era um servo, pela misericórdia dos céus, e Lilith nunca fora uma mulher doce, embora aparentasse o contrário. Realmente não era da realeza. Nunca fez questão de esconder isso, mesmo que, no fundo, aquilo a incomodasse como um inseto irritante. Rei George havia lhe dito que o povo se encantaria ainda mais com Lilith se soubesse que ela era, originalmente, de um vilarejo pequeno e distante, pobre e atormentado, que se identificariam com ela e a admirariam por sair da plebe e subir num trono. Mas ele estava errado e não demorou muito tempo para que Lilith descobrisse que o povo a via como uma interesseira golpista. Não que aquilo não fosse verdade, mas ela achava um completo absurdo que o populacho a julgasse por não ter vindo de uma família real, a sombra de Harriet ainda pairando sobre o reino como uma praga.

Lilith tomou um generoso gole de seu vinho. Foda-se a ralé. Ela era rainha de qualquer jeito.

Os corvos no parapeito de sua janela formavam uma verdadeira cerca negra. Eles observavam o lado de fora do castelo, a visão periférica de quase toda Woolridge. Dois deles estavam virados para ela, para o interior do quarto, posados nos ganchos de tochas nas laterais da janela. Seus olhos eram tão escuros quanto suas penas, mas havia as partículas minúsculas em vermelho, como se sangue tivesse sido espirrado em suas pupilas. Aqueles corvos eram maiores que corvos comuns, mais astutos, mais rápidos, mais agourentos. Eles eram os olhos da rainha, possuídos por sua magia. Ela via tudo o que acontecia nos arredores do reino, sabia de tudo. Sua bisavó lhe ensinara que precisava estar a par de tudo o que acontecesse se realmente quisesse ter todo o controle e o poder.

E sua bisavó era uma mulher sábia e perversa, então Lilith a escutava.

Ela almejava ser como sua bisavó. Não pela aparência encarquilhada e mofada, mas pelo seu discernimento e maldade, o coração tão vazio e gelado com uma caverna no topo das montanhas. Já havia visto sua bisavó matar centenas de vezes, com ou sem propósito, e podia ver o vigor em sua face. Ter o domínio da vida de uma pessoa, olhar no fundo de seus olhos enquanto é você quem decide se ela vai ou fica, se grita ou se a silencia para sempre. Nesse momento, você é um deus, sua bisavó havia lhe dito uma vez, há tanto tempo que mais se pareciam séculos, com a voz sombria enquanto ia para frente e para trás em sua cadeira de balanço que rangia como em uma história de horror, as chamas da lareira iluminavam o rosto murcho e sugado da velha, uma visão bizarra e fascinante para Lilith.

Mas, por mais que Lilith tentasse, ela não conseguia ser como sua bisavó, tão cheia de nada.

Porque havia amor dentro de seu coração. Mais do que deveria, mais do que queria.

E aquele amor não faria mal a ninguém a não ser ela mesma.

Antes que Lilith pudesse terminar de se condenar mentalmente, sua porta se abriu. Ela não se alarmou, já que sabia que só poderia haver uma pessoa capaz de tal ato petulante.

–– Você pediu isso daqui?

Lilith a encarou por longos segundos. O cabelo escuro como azeviche, caindo espesso e longo sobre suas costas, a pele branca como marfim, os olhos peculiares em um tom extraordinariamente violeta, os lábios naturalmente vermelhos – como se alguém tivesse dedicado grande parte de seu tempo em mordê-los. As calças de montaria preta, a camisa de linho masculina, as botas de couro que iam até um pouco abaixo de seus joelhos.

Snow White.

–– Pedi aos criados, não a você – Lilith esvaziou sua taça enquanto Snow se aproximava, depositando a tigela de creme e o prato de frutas sobre a mesa, em frente à grande poltrona de veludo que a rainha estava sentada.

–– Como é de seu conhecimento, Vossa Graça, sou amiga dos criados, estou mais do que familiarizada com eles. Ouvi o quanto você foi uma candura de pessoa ao pedir de forma tão delicada que lhe trouxessem isto, então eu mesma me ofereci para fazê-lo – Sarcasmo transbordava de sua voz, fazendo com que Lilith sentisse vontade de estapeá-la.

–– O que você quer? – Sua taça estava cheia novamente e uma amora lambuzada de creme ia em direção de sua boca.

–– O que eu sempre quero de você – Snow levou uma lâmina de maçã à boca, suas íris violeta se encontrando com as azuis de Lilith.

Maçã, um corvo gritou. Maçã, maçã, outro gralhou. Maçã, maçã, maçã, maçã, dezenas de corvos formavam um coral, asas batendo enquanto penas negras escapavam.

–– Ora, coloquem-se no seu lugar – Lilith desdenhou, irritada com o barulho. Todas as aves agora olhavam para o interior dos aposentos reais – Fora!

Os corvos se foram no mesmo instante, em um emaranhado de gritos e penas, voando com voracidade, seguindo caminho para todos os cantos do reino. Mordeu uma amora com mais força ao perceber em como se pareciam com abutres.

–– Seus bichinhos de estimação são assustadores – Snow encostou-se na poltrona da frente, a poltrona de seu pai.

–– Meus bichinhos são parte insanamente importante para o governo de Woolridge.

–– Nunca foi necessária magia para governar Woolridge.

–– Tempos diferentes, Snow, minha querida – Lilith sentiu a brisa gelada acariciar sua pele descoberta, a curta camisola de seda vermelha como única peça que usava – Você já deveria saber. E se acostumar.

–– Provavelmente nunca me acostumarei com você.

–– Por que, exatamente?

–– Porque você é um enigma. Um quebra cabeças de milhares de peças do qual eu nunca consigo montar. Isso martela na minha mente, dia e noite.

–– Um pouco de mistério não torna tudo mais... Interessante?

–– Não quando não sei o que você quer. Meu corpo ou minha cabeça em uma bandeja de prata ou enfiada em uma lança como decoração dos portões.

–– Isso vai depender do meu humor – Lilith sorriu de maneira predadora, quase carnívora.

Snow não respondeu nada, como se estivesse em uma violenta batalha dentro de si mesma. Isso era bom, Lilith gostava de causar aquele efeito. Fazia com que se sentisse forte e poderosa. Ela jogou os cabelos negros para um lado, a língua rosada passando por entre os lábios para limpar o excesso de creme doce. Linda. Malditamente linda.

–– Você detesta maçãs. Principalmente as verdes – Snow quebrou o silencio.

–– Qual o seu ponto? – A resposta veio desinteressada, mesmo que o coração de Lilith tenha batido um pouco mais rápido.

–– Por que pediu maçãs se você não gosta?

–– Você gosta.

–– E por que isso importa?

–– Não importa.

–– Importa, importa, sim. Você se importa comigo.

–– Não se coloque em um pedestal.

–– Você se importa.

–– Não.

–– Você se importa.

–– Não.

–– Você me quer.

–– Não.

–– Me quer só pra você.

Lilith limitou-se a beber mais um gole de vinho, sua garganta em chamas assim como seu peito. Desejou não ter expulsado os corvos. Agora eram só as duas em um quarto com uma cama grande e confortável.

–– Me quer só pra você – Snow repetiu e Lilith não notou quando foi que ela havia se aproximado tanto – E eu a quero só para mim.

Não lhe restou tempo para responder ou enxotá-la do quarto. Os lábios de Snow já estavam sobre os seus, úmidos, macios e quentes. A língua tinha gosto de mel e maçãs e, embora realmente odiasse a fruta, não pôde deixar de constatar o quão saborosa era a combinação de maçãs verdes, vinho e Snow.

O tecido de sua camisola era fino o suficiente para denunciar os arrepios que percorriam o seu corpo, as mãos macias e firmes de Snow eram atrevidas sob o escarlate.

Lilith não se lembrava de ter soltado a taça, mas seus dedos agora abriam os botões da camisa de linho de Snow com urgência, ansiando a pele alva em suas palmas. Foi quando se levantaram juntas da poltrona que Lilith percebeu que estava bêbada, mas nunca havia se sentido tão sóbria em toda sua vida.

–– Amo você – A voz rouca e embebida de desejo sussurrava no ouvido de Lilith enquanto dedos longos e ágeis alcançaram o esconderijo melado entre suas coxas – Odeio você, mas também a amo.

Lilith então riu em puro deleite, puxando os cabelos escuros de Snow, uma energia narcótica percorrendo suas veias.

Ela não precisava de sangue azul para que a princesa a amasse.


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Notas finais do capítulo

Tem mais um capítulo após este, ponto de vista da Snow desta vez.
Super recomendo os livros, gente, seríssimo.
Eu espero que tenha gostado, deixe um review se puder, muito obrigada por ler e me siga no tumblr se quiser, let's be friends :)))
mizzdlovato.tumblr.com



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