Double face escrita por Nymeria Martell


Capítulo 9
Cap. 9: Sheila Ganzer


Notas iniciais do capítulo

"Ficamos um silêncio, ouvindo a água pingar, e vendo a vela derreter por causa das chamas.
De repente, gritos e explosões."



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Lipe

− psiu. É melhor você não se mexer tanto se não vai doer mais.

Quando aquela voz doce disse dor. Senti meu braço ardendo e minha cabeça latejando.

Tentei lembrar onde estava. Não fazia ideia. Além daquela voz, que ouvi recentemente, o único som é de algo pingando. Abri os olhos. Estou deitado em algo duro. O teto é de pedra. A mulher que falou comigo está de costas fazendo alguma coisa a certa distancia. Sento e reparo que estamos em uma caverna, mas não vejo fonte de luz a não ser algumas velas; e não sinto brisa nenhuma. o gotejamento vinha de uma nascente a alguns metros, posso perceber.

− está melhor? − a voz doce fala comigo outra vez. Então a olho bem pela primeira vez.

Está usando um vestido simples, longo e esfarrapado. Sua pele está manchada, ou suja. Na mão ela trás um caneco com agua e me manda beber. Seus olhos e cabelos não dá ver por causa das sombras.

− estou, obrigado. Que lugar é esse?

Ela se afasta de mim.

− não sei. Mas... quem é você? Qual seu nome?

− me chame de Lipe... e o seu.

− tia... é assim que você deve me chamar.

Ela disse isso como se achasse arrogante o fato de eu ter dado a ela meu apelido e não meu nome.

− então tá... tia. O que estamos fazendo aqui?

− eu não sei! − tia disse isso como se tivesse na cara − conte você então... como veio parar aqui?

− ora. Você deve ter visto, não?

− pra fala a verdade eu estava dormindo. −ela vira o rosto − quando acordei, você jazia ali como se fosse um morto. − fiz uma careta − estava com um corte no braço e uma pancada na cabeça. Não sei por que eles o mandaram aqui. Poderiam ter te matado.

− ah! Obrigada pela consideração. Mas quem são eles?

− me de um palpite você... ora.

− eu... fui... sequestrado! − fiz questão que ela escutasse cada palavra.

− alguém tinha ódio de você? Você incomodou alguém?

− até parece... eu? Incomodando alguém?

− não minta moleque... você tem cara de sem vergonha.

Olhei pra tia, incrédulo.

− você nem consegue ver meu rosto!

− sua voz já te denuncia... você me lembra muito alguém...

− quem? − fiquei curioso... pois ela parecia não estar brincando.

− um amigo do passado... ah que saudade dele.

− do amigo?

− não! Do passado. Hoje, provavelmente, ele deve ter mudado... como o pai, o avô e assim por diante. Faz parte da família... ele dizia que ia ser diferente... dizia que iria mudar a má fama da família... sempre... os malvados meninos lindos da família Montenes... a sua voz é muito parecida com a do Jonathan... fique sabendo que por várias gerações os Montenes sempre tem só um herdeiro. E sempre é um menino... doce na infância... rebelde na adolescência... ganancioso, malvado e ruim quando adulto.

Ela, provavelmente, não deve saber que está falando com um herdeiro dos Montenes.

− que aparência eles tem?

− que bom que pergunto... são todos iguais... cabelos negros como piche... olhos verdes como...

− esmeraldas.

− conhece um Montenes.

− não uso o sobrenome do meu pai.

Ela solta uma exclamação.

− você é o filho do Jonathan? Meu Deus! Vem cá deixa me ver seus olhos... verdes como esmeraldas... ah...

− como vocês se conheceram?

− ah... somos de um certo modo parentes... meu avô era unigênito... mas ai teve dois filhos... o mais velho um legitimo Montenes... a mais nova... minha mãe. Meu avô matou minha vovó e fugiu. Francisco, seu avô paterno... fez o mesmo... abandonou seu próprio filho e sua esposa. Jonathan me dizia que nunca ia cometer tal ato! Mas depois de um tempo nunca nos vimos... minha mãe morreu de doença ainda muito nova, sabe? Eu tinha apenas doze anos...

− você puxou para a família Montenes também?

− minha mãe era Montenes descrita... só na aparência, é claro. Puxei em parte o meu pai... fui criada, desde então por ele. Diga-me, seu pai foi um bom homem? Ou você não chegou a conhecê-lo.

− ah sim. Cheguei a conhecer meu pai. Mas ele era um canalha... me abandonou quando eu era criança... conheci-o pouco antes de morrer.

−ah... − sua voz parece lamento − ele morreu de quê?

− acidente... coitado... ninguém merece ser atropelado por uma carreta.

Ela reparte alguma coisa e me oferece metade.

− pega... você deve estar com fome.

Peguei a coisa. É uma aranha.

− tem certeza que é seguro...? − mas quando vi, ela já estava comento. Dei de ombros e fiz o mesmo. Apesar do gosto horrível, meu estomago se aquietou um pouco.

− que nome lhe deram? os nomes são sempre os mais importantes pra eles... vocês.

− olha... não me trate como se eu fosse um vilão. Admito que já errei... e não vou jurar ser uma pessoa boa... mas eu não fiz nada pra você.

− desculpe...

− Luiz Felipe. Esse é o nome que me deram.

− é bem bonito... quem é a sua mãe?

− Wanda Mendelak.

Ela solta uma risadinha gostosa.

− os Mendelak... apesar do temperamento são boa gente.

Rio também. Porque, afinal, é verdade.

− você era casada? Tinha filhos?

− ah sim, sim. Nós éramos felizes. Mas ai, cansei do meu marido.

− vocês se separaram?

− ele não queria... então, eu disse pra ele que estava o traindo... e disse que a filha não era dela.

− e estava? Não era?

− Queria a guarda da Amandinha... mas foi meu maior erro. Minha melhor amiga a Mariana... ela tentou me alertar que ele não era tão bom o quanto parecia ser... achava que, depois que eu sumi, ela o entregou para a policia e cuidou de minha filha... mas ai você aparece... quem está no comando aqui? – ela não respondeu a minha pergunta.

Segurei seu rosto e o coloquei na luz. cabelos dourados... olhos verde-esmeralda.

− tenho péssimas noticias pra você.

− ah não...

Lambi os lábios.

− bom... eu acabei de presenciar a morte de Mariana. Leandro está vivo e solto. E Amanda...

− ela não morreu! Me diz que não!

− não... ela só tá sozinha...

− o pai dela a abandonou?

Tentei mentir. Mas não deu certo.

− infelizmente não...

Tia, agora não mais e sim Sheila, começou a chorar e soluçar baixinho.

− eu... eu ainda me lembro. Dela aos quatro anos... ela sempre roubava uma camiseta minha pra dormir... ela se sentia segura... sempre odiou mármore. Roubava chocolate escondido a noite. Usava minhas roupas e joias... tentava, por mais que eu negasse, ser igual a mim.

− isso é ruim?

− eu me apaixonei pelo cara errado... receava que ela cometesse o mesmo erro.

Foi como se tivessem jogado um tijolo na minha barriga. Não. Se tivessem teria doido menos.

− eu sei que eu disse que erramos felizes... mas na verdade Amanda era meu porto seguro... ele nunca fez mal pra ela... ela o considerava seu herói... mas Leandro me batia... Amanda nunca percebeu... eu gostaria que ela ficasse registrada com o meu sobrenome. Ganzer.

Ficamos um silêncio, ouvindo a água pingar, e vendo a vela derreter por causa das chamas.

De repente, gritos e explosões.

− o que é isso? − indago.

− deve ser lá em cima... estamos bem abaixo do solo.

− por que não me disse isso antes?

− não tem como agente sair... então vê se...

Mas Sheila Ganzer nunca terminou sua fala... porque nesse exato momento desabou toneladas de pedra em cima dela.

− não! Sheila? Sheila? − inútil. Tento tirar as pedras de cima dela... mas já não tem salvação... ela está morta.

Logo vai desabar mais, tenho que me proteger de alguma maneira...

Mas, quando vejo já é tarde. Outra explosão. Olho pra minhas roupas... as mesmas da festa. Como Amanda previra. Nós iriamos morrer. Então dês de tentar fugir... espero pela morte... espero pela Amanda...

Outra explosão... rochas começam a cair... não ouço nada... não vejo nada... sinto-me arrancado do chão... flutuando... abandonando meu corpo... estou morto. Agora... em fim.... será só eu e Amanda... juntos até o infinito....


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Notas finais do capítulo

Próximo Cap.: "Nós dois nos sobressaltamos, uma terceira pessoa falara. Viramos em sua direção. Uma garota, toda de branco, cabelos dourados, olhos verdes... verdes."



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