Double face escrita por Nymeria Martell


Capítulo 5
cap. 5: Namorados


Notas iniciais do capítulo

"Todos deixaram seus garfos cair. Jenny que estava brincando com a cadeira caiu pra trás. Wanda se afogou bebendo água. Kelly e Tomas ficaram de boca aberta. Ketrin pulou sobre mim gritando algo que soou como: titia!"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/566216/chapter/5

AMANDA

Cheguei em casa já era manhã. Encontrei Leandro sentado no sofá com as mãos sobre o colo. Ele parece bem tranquilo.

− Dispensei a Monica. Fez o que lhe pedi?

Sentei-me no outro sofá, o mais distante dele possível, ele me encarrou esperando pela resposta. Assenti com a cabeça.

− Me mostra.

Entreguei a faca suja de sangue − do Lipe − pra ele.

Ele abriu o plástico e cheirou.

− Realmente é sangue. Falta ver se é dele. Mas acho que posso confiar em você. Foi você mesma que o matou?

Leandro tirara a faca e a examinava. Lipe me disse o que falar para meu pai. E já que ele estava armado...

− Não. − ele me encarrou. − Foi o Jack que o fez.

−Jack? − pela sua cara ele o conhecia. − Por quê? Como?

− Ele me envenenou e eu desmaiei... depois quando acordei vi Jonathan morto e Jack sobre ele... deduzi que Jonathan o matara antes de morrer.

− E o objeto? − ele estava tentando se controlar.

− Não vi objeto algum! − não menti completamente.

− Me de seu braço.

O obedeci. Ele ergueu a faca, prestes a fazer um corte em mim. Se ele me der a facada vai perceber que estou com o segredo, caso o corte cicatrizar rapidamente.

Salva por um tris. A campainha toca.

Leandro esconde a faca na bancada, e vai atender a porta. Quando ele a abre, vejo que é Wanda.

Ela entra. Me cumprimenta.

− Queria convida-los para uma festa que vou dar. Quero os dois presentes.

− Claro. − respondeu Leandro.

Ela percebe o clima tenso.

− Amanda. Quer almoçar lá em casa? Jenny faz questão.

Obrigado Jenny!

− Claro. Posso? − me dirigi a meu pai.

Ele fez uma careta.

− vai. − disse por entre os dentes trincados.

− Oi Amanda. − disse Tomas, o irmão de Lipe.

Ao contrario de Lipe, Tomas tem os cabelos castanhos cacheados − não estão cacheados porque ele faz alisamento − ele gosta dos cabelos bem arrumados, o de Lipe é mais rebelde, seus olhos são cinza-azulados; alto e um pouco musculoso. Tem 24 anos, tem uma filha − a Ketrin − e é casado com Kelly.

Kelly é mais baixa que eu, e mais magra também. Seus cabelos são loiros e cacheados, longos até a cintura; seus olhos são muito lindos, é um azul misturado com violeta.

Eles moram com Wanda. Tiveram a Ket antes de casar. Hoje o trio está muito parecido: todos de calça jeans e camiseta. Como é sábado ninguém trabalha. Tomas é médico e Kelly advogada.

− Oi. − respondi.

Jenifer acenou pra mim.

Jenifer tem os cabelos pretos, olhos da mesma cor, pele branca e é magricela e baixinha. Tem 14 anos, é parecida com Lipe, rebelde. Seus cabelos estão com mechas douradas temporárias, está usando uma camisa preta transparente, shorts amarelo e uma bota curta de salto preta. Ela me adora. Diz que eu sou sua inspiração. Lembra-se de que eu disse que não sou tão popular? Pois é... pra mim não. Eu não conheço quase ninguém. Mas todos me conhecem. Por causa de meu pai... e de minha aparência. Dizem que não sou normal. Por que isso? Vou explicar. Cresci aqui. Então praticamente vivi todas as fases de minha vida num único lugar. Quem mora aqui a mais a mais tempo fofoca pra todos. A questão é que: nunca tive uma espinha. Enquanto meus colegas sofriam e faziam ladainhas eu pensava: como é? ; também tem meus cabelos... eles não tem pontas duplas, nunca tiveram, nem oleosidade. Nunca fui gorda, nem muito magra. Me chamam de A PERFEITA; sendo que não sou nem a metade.

Mas você deve estar pensando: i dai? Ela é rica! Faz tratamentos e coisas desse tipo... mas eu nunca me arrumo. É claro que sou vaidosa e me visto bem e uso maquiagem; mas não faço tratamentos, não vou ao salão de beleza; não malho e não me alimento bem. Puxei a minha mãe. Apesar de não ter nenhuma foto dela, me lembro bem: seus olhos são como os meus, o cabelo também. Ela era linda, muito mais que eu. Por isso fica complicado essa historia de “pai”. Leandro é muito diferente de mim! Seus cabelos, antes porque agora são brancos, eram castanho-escuros; os olhos também. Não tenho nada parecido com ele. Nem no físico nem no caráter. A única coisa que não é igual de minha mãe é que: gosto de brigar e sou boa nisso. Minha mãe é contra a violência; até mesmo se for pra se defender. Ela não mataria nem uma mosca. Eu sei que meu pai bate. Mas é diferente; ele faz isso parecer crime. Luta pra mim é aventura – desde que eu não seja a vitima. Fiz varias aulas. Acho que gosto disso porque sofri tanto e um dia quero revidar...

Lipe está sentado a meu lado. Ele me encara como se estivesse esperando que eu lhe divertisse.

− Vamos contar? − ele sussurra em meu ouvido.

Dei de ombros. Acho que ele está se referindo a contar que estamos namorando.

− Quero contar uma novidade.

Todos pararam de comer. Ketrin interrompeu a atenção de todos.

− Eu sei o que ele vai contar! − ela se remexia em cima de sua cadeira.

− O que é Ket? − perguntei entrando na onda.

Ela olhou pra Lipe.

− Você tá namorando!

Me segurei pra não rir. O jeito que ela falava dava pra se intender que isso era uma coisa proibida.

− Com a Helen... − disse Jenny revirando os olhos sem interesse algum na conversa.

− Na verdade não... vocês sabem que com a Helen não era nada sério.

− E agora é uma coisa séria? − o interesse súbito despertou em Jenny de uma hora pra outra.

− Sério? − agora Kelly pareceu se animar − Com quem?

− Chuta...

Lipe queria se divertir com as respostas.

− Raquel? − Jenny disse assustada.

−NÃO!

− Pati. − disse Wanda.

− Não...

− Priscila. − agora é Kelly.

− Não.

− Morgana? − disse Ketrin.

Morgana é uma garota que gosta de Lipe, ela faz estágio aqui no QUANT − o hotel/casa nosso.

− Nem pensar.

− Alexandra? − agora Tomas dissera.

− Quem é Alexandra? − pedi por curiosidade.

− uma prima... − respondeu Jenny com nojo.

A expressão de Lipe não mudou.

− também não.

Todos olharam pra mim.

− o que?

− dá um palpite. − disse Wanda.

− eu já sei... então não vale.

− claro você conta tudo pra Amanda... − disse Jenny com desdém. − não é a Luli né?

Eu não me aguentei e ri.

− é a Amanda. − disse Lipe por fim.

Todos deixaram seus garfos cair. Jenny que estava brincando com a cadeira caiu pra trás. Wanda se afogou bebendo água. Kelly e Tomas ficaram de boca aberta. Ketrin pulou sobre mim gritando algo que soou como: titia!

− por que o espanto? − pediu Lipe rapidamente.

− é que ninguém esperava por essa. − Wanda apressou-se para não parecer patética.

− pensem o que quiserem. − Lipe entrelaçou minha mão na dele e a beijou.

Do modo como estava sendo, até parece que Lipe é o responsável por aqui.

− bom... Amanda, seu pai sabe? − Wanda parecia preocupada.

Fizemos não com a cabeça.

− Pretendem contar? Acho que ele não vai gostar.

− por quê? − perguntei incrédula.

− assuntos nossos.

Wanda sempre foi legal comigo. Ela me trata como filha e ela é uma mãe pra mim. Ajudou-me nos momentos que eu mais precisava e eu substituo os filhos que não param em casa. É. Eu fico aqui mais tempo que eles: Jenifer, Lipe e Tomas. Kelly também não para em casa... então na maioria das vezes ficamos eu, Wanda e Ket.

Terminamos o jantar e fomos para o sofá.

Estávamos todos assistindo uma série de comedia. Aos poucos foram se retirando. Jenny, Kelly, Ket e Tomas; ficamos só nós três.

− já volto. − Lipe se retirou da sala, foi para o andar de cima.

Wanda se sentou a meu lado.

− você não pode namorar com ele.

− não sou boa o bastante pro Lipe?

Ela ficou nervosa, começou a mexer em um anel que tinha no dedo.

− não. Claro que não. Pelo contrario, ele não serve pra você.

− por que está falando mal do próprio filho? Mães deveriam fazer o contrario.

Ela me encarrou.

− mães protegem... considero você uma filha. Então, ouça um conselho: tome cuidado com ele.

Será que ela estava brincando? Mas pelo que eu vi todos se espantaram. Esperavam qualquer uma... menos eu.

Quando eu e Lipe ficamos sós, no corredor entre meu apart. e o dele, o confrontei.

− o que a de errado em nós namorar?

− ela te disse alguma coisa...? Olha. É uma longa história, tenho um passado meio sujo.

− que passado? Nos conhecemos a mais de cinco anos! E antes você era novo de mais pra fazer alguma coisa que se arrepende.

− foi quando você foi para o Alasca... lembra?

− o que você fez? Todo mundo sabe menos eu! Porque agem estranhos comigo e com você. Eu tenho algo a ver?

− nós estávamos na sétima série né? Bom. Você sabe que naquela época eu era...

− galinha? Safado? Aproveitador?

Acho que acabei o ofendendo. Ele ficou em silencio de cabeça baixa.

Quando tínhamos 13 anos. Eu começara a ter uma quedinha por ele. Mesmo tendo o conhecido há dois anos. Antes disso eu o considerava só um amigo. Meu pai não era tão ruim, quer dizer, ele me batia e brigava comigo. Mas era só isso... até um dia. Ele disse pra mim que se arrependia dos erros que cometera comigo. E que pra compensar iriamos passar as férias. Mas tudo isso era falso. Eu tinha estranhado alguns anos antes, quando ele ficou rico de uma hora pra outra. Mas eu era muito pequena. Tinha 7 anos. Ele faturou tanto dinheiro porque prometera a um homem que quando eu chegasse aos 13 anos eu seria dele por uma semana. Entendeu né? Ele podia fazer qualquer coisa comigo... qualquer coisa mesmo. Essa semana foi no finzinho da nossa viagem. As semanas anteriores ele me levou para passear. Quase parecendo um pai. Quase.

Mas enfim. Quando sai daqui me lembro de algumas coisas. Lipe era muito amigo meu amigo. O pessoal se mudara pra cá naquele ano. Também me lembro que os garotos da escola gostavam de mim; me achavam linda − ainda acham − e maluca. Mas linda. Então eles queriam ficar comigo. Eu sempre dizia não. Mas Lipe... Lipe era o único que não tinha feito isso. Ele ficava com todas. Menos comigo.

− desculpa Lipe. − eu disse por fim. Quebrando o silêncio.

− eu me sinto cada vez pior. Você promete não ficar brava, não pirar e não chorar também?

Agora fiquei nervosa.

− prometo. − eu disse com a voz tremula.

− eu me arrependo até o ultimo fio de cabelo. Eu a considerava minha amiga. Você era meio esquisita, mas quem te conhecia não pensava mais assim. Mas pra mim a amizade não era tão intensa quanto a sua. Pra você, eu era O AMIGO; pra mim você era apenas mais uma amiga.

Quando ele disse isso senti um aperto no coração.

− então o Gabriel me fez uma proposta − Lipe continuou − ele apostou, na verdade. Se lembra como ele ficava no seu pé?

− sim. Mas eu o dispensei.

− pois é. Ele e eu apostamos, quem de nós dois ficasse com você primeiro ganharia. A aposta ainda está valendo nesse instante.

Não me aguentei e comecei a chorar.

− como pode? Eu lhe contei tudo da minha vida! Confiei em você! Eu o considerava minha única família!

− para! Você prometeu. Acha que me sinto melhor a vendo assim.

Comecei a contar baixinho até dez para me acalmar.

− escuta. − prosseguiu ele − eu levava essa aposta a sério. Até algum tempo.

− e nesse tempo que você disse que já estava arrependido... − falei mais calma − entra o dia em que você me beijou pela primeira vez? O dia que cai da escada?

− não precisa falar isso. Eu me lembro do dia! E foi nesse dia que me arrependi.

− quando você ouviu eu e meu pai discutir?

− é.

Fiquei pior que antes.

− por pena! Você disse tudo aquilo, agiu daquele modo... apenas porque estava com pena de mim?

− não! Eu... eu tinha pena...mas não era só isso. Eu gostava de você. Queria você comigo. Mas pra mim, fazer uma pegadinha ou coisa assim com a melhor amiga era normal e perdoável...

− pegadinha?

Ele ficou sem jeito.

− eu tinha que fazer isso em publico. Na frente de todo mundo.

O sangue fugiu de meu rosto. Meu coração começou a parar. Minha visão escurecendo.

− linda... olha pra mim. Deixa eu me explicar. − Lipe suplicava.

Levantei os olhos vermelhos para encara-lo.

− se eu fiz algo por pena, foi desistir da aposta, da brincadeira. Eu falei tudo aquilo com sinceridade.

− a Helen era fachada não é?

− não! Bom... em parte, mas não era por causa disso!

− todos sabiam? Até o Ricardo?

Ele abriu um sorriso. Mas foi só com a boca.

− não. O Ricardo não sabia. Era o único. Até a Luli imaginava. Menos ele; ele foi realmente sincero com você. Ninguém contou pra ele por causa disso.

− então... ele foi o único que não se aproximou de mim por pena ou diversão?

− claro que tem diversão. Ele te acha divertida! Mas não tem nada a ver com a aposta.

Eu me senti um pouquinho menos traída. Só um pouquinho.

− infelizmente ele considera você como uma irmã. − Lipe falou.

− por que infelizmente?

− porque eu gosto de você de um modo especial. Mas eu não presto. Já o Rick, ele é bom. Mas só a considera uma amiga.

− como pode ter certeza disso?

Ele revirou os olhos.

− ele está com a Helen, aquele dia do filme... era ele abraçado com ela. Não eu.

− Lipe. − a essa altura eu estava tranquila. − eu não me referia a você ter certeza de que ele não gostava de mim.

Ele ficou confuso.

− então o que?

Eu me aproximei dele. Seus olhos estavam mostrando a verdade. Ele não mentiu para mim. Meu coração dizia o mesmo. Porém...

− meu celebro diz pra mim te esquecer. Que você não me faz bem.

− devia ouvi-lo...

− mas − continuei − meu coração diz pra mim perdoa-lo. Porque você me faz sentir feliz e segura.

− pessoas inteligentes ouviriam o celebro. − ele se afastou mais se encostando à parede.

Eu cheguei mais perto. Fiquei na ponta dos pés. Nosso rosto a um palmo de distancia.

− mais acho que sou burra. − fui para beija-lo. Mas ele virou o rosto.

− por quê? − indagou ele. − por que me perdoar tão facilmente? Não vai ser a ultima coisa ruim que ouvirá sobre mim.

− você me aceitou. Mesmo depois de tudo que eu fiz. E pode vir mais.

− mas no seu caso você foi obrigada. Eu fiz por livre espontânea vontade.

− se eu atacar fogo em uma casa ou roubar uma Ferrari estaríamos quites?

− tenho outra condição. − ele voltou ao normal, até já estava fazendo uma cara de sem vergonha.

− qual?

− vamos dar a noticia que estamos namorando.

− já fizemos isso.

Ele me beijou no pescoço. Isso me causou arrepios. Arrepios bons. Depois colocou suas mãos em volta do meu corpo. Eu envolvi seu pescoço com meus braços. Ele me puxou para mais perto. Sua boca foi dando beijinhos em meu pescoço até chegar em minha orelha. Ele sussurrou:

− pra todos. Todos mesmo. Na festa que vai ter aqui.

− por que isso seria ruim?

− porque seu pai vai estar lá.

− cadê a parte ruim?

Ele me olhou nos olhos. Agora estava mais sério. Do jeito dele, mas sério.

− porque ele vai ser preso. Vamos entrega-lo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo cap.: " − Aonde é que você vai me levar? − gritei para meu pai, que procurava algo na bancada.
− Você vai ver. Vai ser pra bem longe."



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Double face" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.