“Será que está é a melhor opção?” — Me pego pensando enquanto tomo meu café da manha. Eu tinha acordado particularmente depressivo naquele dia. E o pior de tudo, é que eu sabia que eu estava assim por um motivo que poderia ser considerado ridículo. Existem várias fatores que interferem no meu ânimo e me deixam depressivos, mas nesse dia em especial, era por culpa da carência.

Eu acho que a carência é um pouco de falta de amor próprio. Falta se auto aceitação. Você simplesmente não consegue se sentir bem sozinho, sendo quem você é. Você sempre acha que precisa de outra pessoa para te completar, para te fazer feliz. Mas esta não é a realidade. Se você não consegue entender seus próprios defeitos, se não consegue aceitar suas falhas, dificilmente irá aceitar as dos outros.

Até alguns dias atrás eu estava feliz. Meus projetos de livros estavam melhorando e eu estava me aperfeiçoando e buscando fazer aquilo que gosto. Algumas pessoas me elogiaram por causa do meu “trabalho experimental”. Mas eu ainda não reconhecia minha capacidade (até hoje não reconheço bem). Por mais que eu recebesse elogios, eu sempre achava algo para criticar, para dizer que eu tinha falhado nisso, seja pelo numero pequeno de palavras escritas ou por alguns erros de ortografia. A partir desse momento, escrever não estava mais funcionando. Meus projetos estagnaram. Nada mais. Nenhuma mísera ideia. Eu não tinha oque escrever. Toda a minha inspiração foi para o espaço.

Decidi que o melhor a fazer era ficar um tempo curtindo a vida e deixando obrigações e a rotina de lado. Por um mês, fiz isso. Visitei a família. Isso funcionou, eu esqueci meus problemas. Por um certo tempo.

Nunca conheci ninguém que pensava como ele. Que era meio “desligado” dos sentimentos. Que falava sobre qualquer coisa abertamente, e que conseguia me prender em uma conversa tão rápido. A grande distância nos separava... e minha falta de coragem para falar que eu me apaixonei em poucos dias também. — “Ele vai me achar ridículo.” — Era isso que eu pensava. Dias se passaram e continuei e conversar com ele, o que eu sentia aumentou mas começou a me fazer mal. Eu sentia como se ele não ligasse para mim. Não sei se era impressão minha, se esse era só jeito dele, mas isto acabou me magoando.

E por causa disso, dessa pequena e boba situação, eu estou aqui. Depressivamente olhando para a faca na minha mão. Ela está em cima do pote de manteiga, pronta para ser usada.

Eu tenho coragem de tirar minha própria vida?...

Não, acho que não é essa a questão...

Alguém se importaria se eu morresse?...

A carência me ataca novamente. Alguém se importa comigo?...

Eu sei a resposta. Mas quero continuar me fazendo de vitima. Quero continuar sentindo essa dor. Eu sei que sou importante. Mesmo que somente para uma pessoa. Mesmo que não seja para a pessoa que eu quero ser importante. Mas ainda existiam algumas questões...

Eu estou pronto para causar essa dor?

Estou pronto para assumir a responsabilidade de ter feito sofrer alguém que gosta de mim?

Não. Eu não estou.

Por que estou cogitando isso? Pegar essa faca? Por que eu não a pego e jogo contra o chão? Por que eu não dou a volta por cima? Eu não sou fraco. Sei que não. Não posso tomar uma atitude tão drástica quando eu mesmo sei que não é preciso.

..

Eu acredito que a morte seja apenas uma passagem. De inicio, uma passagem bloqueada. Com o tempo o bloqueio vai ficando velho e se esmigalhando, até que chegue o momento em que temos que passar. Mas para tudo se tem seu tempo. Eu sou dono da minha vida, decido o que faço, mas não sou dono da morte, não sei o que tem do lado de lá, e nem mesmo tenho certeza se existe algo, mas sei que, forçar o bloqueio não vai me ajudar. Não vou me aventurar nesse terrível desconhecido.