- Eu prometo. – Encantado respondeu ao padre depois de um bom tempo. Realmente ele começava a refletir sua decisão e estava rezando que o casamento fosse adiado.

- Eu prometo. – Branca respondeu com um sorriso radiante que, por um momento, Encantado deu um sorriso nervoso para tentar mostra-la que estava feliz, mas ele sabia que não era verdade.

Eles colocaram as alianças e o príncipe se sentiu girando quando o anel mágico de sua mãe não brilhou no dedo de sua Branca. Parecia que todo o sangue de seu corpo fora drenado. Olhava para os lados e via todos com olhos de felicidade. Ele estava acabado.

O loiro no altar a achava uma garota linda, cheia de vida, conhecia a floresta, ótima para casar, “eu vou ser feliz, mesmo o anel não brilhando”, pensou. Ele não queria admitir para si mesmo, mas uma das razões para se casar com a linda mulher era mostrar para ELA que estaria feliz, mostraria que estava ganhando.

Mas ele, na verdade, estava perdendo.

Quando eles iam se beijar para selar o casamento, um estrondo ressoa pelo salão. Todos viraram em direção ao barulho. Encantado achou que olhava uma miragem.

ELA estava na porta, com um enorme sorriso.

- Desculpe, estou atrasada?! – Disse gargalhando e vindo em direção ao altar.

Guardas tentaram impedi-la, mas com uma girada no dedo indicador, voaram para onde Encantado não conseguia ver. Ele só conseguia olha-la, como ela estava linda. O loiro pensava que nunca mais a veria, mas ali estava ela, em sua frente, em carne e osso. Ele queria se bater por estar tão feliz em vê-la.

O loiro logo saiu do transe que se encontrava quando alguém gritou:

- A rainha! Corram!

- Ela é só uma bruxa má! – Branca de Neve, de um jeito que o príncipe nem teve tempo de agir, pegou sua espada e apontou para a rainha. Ele deu um passo à frente quando a ponta da espada de ouro ficou a centímetros do pescoço da rainha.

- Não vamos precisar disto. – Ele sussurrou e delicadamente tirou a espada da mão de sua nova esposa, que a mesma olhava para a rainha com um misto de raiva e medo. A morena não parecia se importar, ela parecia estar... Animada?

- O que você quer? – Branca sibilou.

- Ora, ora, ora... – James, ou falso James, soltou a respiração (prendida) quando ouviu a voz da bela mulher, uma voz firme e fria, mas no fundo tinha uma delicadeza digna de uma rainha. -... O casamento de Branca de Neve e Príncipe James! Lindo casamento!

- Eu não quero repetir de novo, o que você quer? – Branca gritou dessa vez, fazendo o noivo colocar a mão direita no ombro da noiva, tentando acalma-la. Sem sucesso.

- Eu vim para... Presentear os noivos. – Pelas palavras e pelo olhar de diversão James tinha certeza que ela estava aprontando.

- Não queremos nada de você! – Branca partiu em direção a ela, mas o loiro a segurou, não podia deixar isso acontecer. Encantado olhou novamente a morena. Ela não tinha movido nem um dedo. Ele invejava seu modo frio e paciente.

- Mas vão ter – Ela aumentou o tom de voz. – Meu presente aos noivos é este final feliz – A rainha, finalmente, se virou para as pessoas, que se encolheram ainda mais. – Porque, no amanhã, eu irei vencer! Então... – Ela agora olhava de Branca para Encantado, como se estivesse pensando. – Tudo que você ama. Tudo que vocês amam, serão arrancados de vocês, para sempre! – Deu uma pausa, gargalhando vitoriosa. Andou e ficou a centímetros de Branca. James não impediu. Ele estava em transe incomum, tentava absorver as palavras tão fortes. – Seu sofrimento, querida Branca de Neve, virá minha vitória. Eu vou destruir a sua felicidade, nem que seja a ultima coisa que eu faça! – Ela sibilou as últimas palavras e girou os calcanhares, indo em direção ao grande portão.

Encantado queria ter gritado um “não!”. Queria que a morena voltasse, falasse que tudo que dissera era um grande engano. Mas não, ela não faria isso. Porém ela tinha que voltar.

- Ei! – Ele gritou, acabando o enorme silêncio que tinha se instalado e a fazendo parar e olhar, por cima dos seus ombros, para ele. O loiro ficou confuso quando ela o olhou surpresa. O objetivo seria atingi-la com sua espada de ouro, mesmo sabendo que a rainha conseguiria escapar. Contudo não o fez, ele não conseguia, por mais que fosse o certo a se fazer. Porque algo que ele mais sabia, era que uma não iria viver enquanto a outra vivesse.

A “rainha má” virou o corpo todo, esperando. O loiro estranhou quando ela não foi embora. ELA ficou.

- Eu tenho um acordo! – Foram as únicas palavras que tinha pensado na hora.

A rainha franziu o cenho com a declaração de Encantado, confusa. O próprio Encantado ficou, e ficou mais ainda quando ela não deu um sorriso perigoso. O loiro achava que a rainha estava determinada a fazer o que quer que ela esteja planejando.

Enquanto ia ao seu encontro, as pessoas olharam com medo por ele. E ele ia relembrando os momentos, antes esquecidos, que passou com ela. A postura de realeza e o sorriso cruel era só uma máscara, e James não conseguiu tirá-la. Ele desistiu dela, desistiu quando ele achou que ela não o amava. Ele fugiu dela e se casando com Branca achava que não sofreria. Errado. Sofria ainda mais por não ter lutado. Ele era um covarde, mas estava disposto a mudar as coisas.

- Então? – Ela perguntou com indiferença quando ele chegou perto.

O loiro pensou em algo que pudesse toca-la, que a fizesse mudar de ideia. Ele não queria mais brigas e mortes. Pensou em tudo que sabia dela, seus gostos e desgostos, e falou:

- Regina, eu... – Ele parou de falar quando percebeu algo diferente.

Olhou em volta e observou as pessoas congeladas, como estátuas. Mágica!

James se voltou para ela e viu algo diferente também. Regina parecia está digerindo o que Encantado tinha dito. Ele sabia que poucas pessoas a chamavam pelo nome. Só depois de vários encontros, nada convencionais, a morena tinha o deixado falar seu nome, e depois de milhares, beija-la apaixonadamente. O recém-casado não tinha esquecido de nenhum.

- Eles podem ouvir? – Perguntou a ela.

- Sim. Ou você quer que eles não escutem? – A rainha disse irônica.

- Para mim, tanto faz. – Ele chegou mais perto dela e prendeu um sorriso ao perceber que ela não se afastou.

- Qual seu acordo? – A morena falou desviando dos olhos dele. Ela não estava com aquela pose de durona de antes. Encantado pensou mais uma vez em fazer sua escolha, enquanto sentia o inconfundível cheiro de maçã. Sua razão dizia para ele voltar ao altar, onde estava sua noiva, e mandar Regina ir embora. Todavia seu coração ferido o mandava contar tudo de uma vez, dizer logo tudo que pensou. Naquele momento, ele votou no coração.

- Regina... Quero que faça um favor para mim. – O loiro pediu.

- Um favor?! – Ela gargalhou como se ele estivesse brincando.

- Isso é sério! – A rainha parou e concentrou-se nele. Ele respirou fundo e continuou. – Eu te amo e...

Encantando se sentiu ser levantado para o alto e sua garganta ser apertada. Tentava se livrar daquela agonia horrível de não conseguir respirar. Em vão. Estava perdendo a consciência.

- Como pode ser tão sínico? Você não me ama! – Ela gritou.

Encantado usou suas ultimas forças para falar o principal:

- Ti-re me-u co-ra-ção!

Ele caiu no chão de mármore polido e pode respirar de novo. Regina se ajoelhou em sua frente:

- Sabe o que está me pedindo?

O loiro olhou para ela. A morena estava assustada com o seu pedido, porém ele não recuou. Ele iria até o fim.

- Eu não quero sentir isso! Eu não quero amar você, uma pessoa que deseja minha cabeça em um espeto! Acabe com o meu sofrimento, tenha piedade! – O príncipe gritava desesperado. Ele não podia fraquejar. Sentia lágrimas quentes rolaram pelo seu rosto.

- Eu... Eu não consigo.

- É claro que você consegue! – Ele gritou. – Faça! Não mudará nada em sua vida!

A rainha levantou a cabeça igual uma autoridade e enfiou a mão no peito do príncipe com força. Ele sentiu uma enorme dor. Forte. Muito forte. Então a dor é cessada instantaneamente. Ela havia puxado sua mão de volta.

- Eu não consigo! Eu não consigo! – Ela sussurra, repetindo as palavras. Chorava e balançava a cabeça em sinal de negação. Encantado nunca a viu chorar. Nunca a viu tão vulnerável como agora. Seu coração encheu-se de esperança, ela o amava.

- Então abaixe essa enorme muralha que você criou em seu coração! Abaixe-a, Regina! Deixe eu te amar! – O loiro já tinha falado isso antes, há muito tempo. E ela se negou. Mas James sentia que agora isso tudo poderia ser diferente.

Ela secou o rosto e olhou para ele. Ele viu seus olhos brilharem. Uma lágrima solitária desceu.

- Por favor – sua voz estava tão baixa que Encantado teve dificuldade em ouvir. – Nunca me deixe, por favor! Não fuja!

James, David, ou qualquer pessoa que ele fosse naquele momento sumiu. Só precisava daquelas palavras para beijar Regina apaixonadamente. Se Branca viu? Se seus amigos viram? Não importa mais, porque agora ele conseguiu. Ele a fez ver que o amor não é uma fraqueza, como ela dizia, e, sim, uma força.

Mrs.D