Um diálogo entre médico e paciente. escrita por Senhorita Bela


Capítulo 1
Capítulo único. - Uma conversa.


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma One-shot, que pode parecer confusa, mas é bem simples, a primeira pessoa que fala é o paciente e depois é o médico e assim por diante, eu não repeti a pessoa falando então está na mesma sequencia. Espero que aprecie.



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–Vai doer?

–Você não vai sentir nada.

–Eu vou ficar bem depois dessa cirurgia?

–Eu não sei.

–Me conte tudo que você vai fazer.

–Você não precisa…

–Eu preciso saber sim.

–Certo. Primeiro vamos te anestesiar, em seguida te entubar, depois vamos checar se seus sinais vitais estão estáveis e, se estiverem, começaremos a cirurgia. Primeiro vamos esterilizar seu tórax, então, faremos a incisão, pode haver uma pequena hemorragia então teríamos de cauterizá-la, depois disso, afastaremos os músculos e então cortaremos parte dos ossos da caixa toracica, afastaremos os nervos , cortaremos as artérias ligadas ao coração e te ligaremos a um coração artificial. Depois disso, vamos torcer para que seus sinais vitais continuem bons e iremos colocar o novo coração, costuramos ele junto as artérias e ele começará a bombardear sangue novamente, recolocaremos os nervos no lugar, recolocaremos seus ossos da caixa toráxica com o grampo para ossos e com o cimento ósseo e desafastaremos os músculos. Depois disso, só precisamos fechar a incisão e colocar a gase.

–Tem algum risco após a cirurgia?

–O coração pode não funcionar direito mesmo após a cirurgia.

– É estranho.

–O que?

–Saber que é como se eu estivesse dividindo minha cama com a morte e que em uma semana ela pode ter me levado.

–Você não tem ninguém? Quer dizer, não tem nenhum parente ou alguém próximo?

–Meus pais morreram a alguns anos e eu nunca tive ninguém, quer dizer, alguém próximo.

–Sinto muito.

–Não sinta. Afinal, como você me disse há algumas semanas, a morte já marcou a ida de todos e ela nunca altera o calendário, só faz brincadeiras infantis.

–O que pretende fazer com sua vida se tudo correr bem?

–Não sei. Gostaria de viver, mas, dessa vez, viver de verdade.

–Como assim?

–Quero conhecer alguém, partir meu coração, metaforicamente, me apaixonar de novo, ser feliz, fazer algo que faça meu coração bater a mil e dessa vez sem medo de infartar. Coisas assim.

–Você parece alguém excepcional.

–Algumas pessoas ja me disseram isso.

– Elas estavam redondamente certas.

–Eu não tenho certeza disso.

–Por que não?

– Digamos que eu não sei o que eu fiz para as pessoas acharem que eu sou especial.

–Você vive a vida de acordo como ela é e aceita mudanças de modo natural.

– Sabe, estou pensando em algo que só notei neste momento.

– O que foi?

–Nos conhecemos faz alguns anos, mas nunca chegamos a ser próximos, quer dizer, essa foi a conversa mais longa que tivemos.

–Bom, eu nunca fui uma pessoa sociável.

– Isso nunca foi problema para mim.

–Você sempre foi um paciente bom, quero dizer que, tem tantos pacientes que choram e falam de seus problemas como se aqui fosse uma sessão de terapia e às vezes isso cansa, fazer cirurgias toda semana se tornou uma rotina, perder um paciente é algo extremamente raro mas nós nunca sabemos quando isso ocorre, por isso precisamos estar prontos para o inesperado e isso é mais cansativo ainda. Desculpe jogar tudo isso em você. Mas, o que você faz?

–Escrevo.

–Sobre o que?

–Qualquer coisa. Posso chegar em casa e escrever sobre você se minha mente estiver apta para isso e se eu tiver criatividade.

–Você gosta?

–É a minha vida. É quando você cansou de ver a mesma pessoa dizendo as mesmas coisas para você e você quer dizer tudo e nada, colocar isso no papel me impede de fazer barbaridades que até o louco mais louco acharia isso insano.

–Um sábio disse uma vez que todos precisam de um pouco de loucura pra permanecerem sãos.

–Este sábio faz jus ao apelido.

–Pode ter certeza.

–Você não tem outros pacientes para atender?

–Não tenho mais nenhuma consulta depois das seis. Ah meu Deus, são sete horas, o tempo passa rápido demais para os afins.

–Afins?

–Faço referência a pessoas com ideias semelhantes.

–Sim, claro.

–O consultório irá fechar logo.

–Poderíamos continuar nossa conversa no café?

–Se assim quiser.

– Então vamos indo.

–Preciso fechar a porta, pode esperar na secretaria.

–Claro, só preciso fazer uma coisa.

–O que?

Se beijam

–Isso.

–Isso muda muita coisa.

–O que?

– Não posso perder você.

–Você é responsável por isso.

–Tomara que eu faça um bom trabalho.

–Você vai.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler.