Meia-noite em Atlanta escrita por Lady Lockser


Capítulo 2
Um encontro inesperado


Notas iniciais do capítulo

O segundo capítulo conta a história de Danny, um rapaz de 22 anos recém-formado na Universidade da Geórgia. Espero que gostem dele.



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Danny

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Passava das dez horas. Danny tomava uma cerveja barata sentado em um dos bancos altos do bar, balançando a cabeça ao som da música alta. Estava tocando sua favorita – The Indie Disco, do The Divine Comedy, e era irônico que ele estivesse em uma boate indie ouvindo justamente esta canção.

Danny e Harry iam à boate Pulp Fiction (a referência ao filme do Quentin Tarantino era o que mais intrigava Danny naquele lugar, depois das paredes do banheiro masculino cheias de pôsteres do David Bowie) religiosamente toda sexta à noite, desde que ganharam idade para beber legalmente no Estado da Geórgia. Claro que nada jamais impediu que eles bebessem escondido no dormitório da Universidade.

A Pulp Fiction não tinha nada de muito especial. Era uma discoteca velha e precisando de uma boa reforma, localizada em um bairro afastado do centro de Atlanta, em maior parte frequentada por adolescentes, universitários, punks, emos, hipsters e pessoas desajustadas como Danny Berrigham. Mas, diferente da maioria das pessoas, que frequentava a Pulp para ter um local discreto para fumar um baseado, Danny gostava da música.

Mas Harry estava atrasado e escolheu aquela noite em particular para não retornar suas ligações. Danny discou seu número mais uma vez, sem resposta. Ele deu um longo suspiro resignado. Duas garotas se sentaram ao lado dele nos bancos altos do bar. Ele lançou um sorriso tímido, mas elas riram deles e se levantaram, mudando para uma mesa a alguns metros mais longe. Outro suspiro. Danny não se dava bem com as garotas.

Danny era um estudante recém-formado na Universidade da Geórgia, que acabara de ganhar um emprego como desenvolver técnico em uma empresa de bebidas. Escritório e chefe não eram a sua praia, mas ele precisava ter de onde tirar o aluguel. Então ao longo dos últimos cinco meses ele se vira obrigado a frequentar a Kingsman Ltda todos as manhãs para lidar com gente chata e mandona o chamando de garoto do computador. Graças ao bom deus existia a sexta-feira.

* Desculpe cara, a Linds tá aqui, vou ter que furar*

A mensagem apitou no celular. Danny deslizou o dedo pelo touch screen e encarou a tela, resignado. “Valeu Harry”, ele pensou, revirando os olhos. Terminou sua cerveja lentamente, embalado pelos últimos acordes da canção. Ele sabia perfeitamente o que estava acontecendo: Lindsey, a ex-namorada de Harry devia ter feito as pazes com ele, e agora eles iam ter uma sessão de sexo de reconciliação. Ele riu consigo mesmo. Pelo menos alguém podia se dar bem naquela noite.

Quando Danny foi ignorado pela garota gordinha passando próximo ao bar, ele achou melhor dar a noite por encerrada. Pagou a bebida ao bartender, enfiou o troco no bolso e se levantou. Foi quando uma menina muito baixinha e ruiva, apertando um celular contra o ouvido, esbarrou em Danny, caindo desastradamente por cima dele. O celular voou de sua mão. Danny aparou sua queda, segurando-a pelos cotovelos.

– Oh, nossa, me desculpe – disse a menina ruiva, com as bochechas coradas – Droga, eu sou muito desastrada.

A menina levantou o rosto para ele, piscando os olhos. Ele achou que eles eram muito grandes e azuis.

– Eu que me desculpo – falou Danny, desconcertado pela beleza da garota – eu devia ter prestado mais atenção.

– Não, está tudo bem.

– Eu levantei muito rápido – ele disse, falando ao mesmo que ela.

Os dois estavam muito desconcertados. Danny abaixou-se para catar o celular do chão e entregou para ela. Ela acendeu a tela, frustrada, pela ligação perdida.

– Desculpe por isso, não queria atrapalhar sua ligação.

– Ah, não tem problema, o Luke é só um idiota mesmo – ela deu de ombros, com um meio sorriso – A propósito, eu sou a Joanna – ela estendeu uma mão pequena em sua direção.

– Meu nome é Berrigham. Danny Berrigham. – Danny se sentiu ridículo com sua introdução à lá James Bond, mas ela achou engraçado. – Você pode me chamar de Danny se quiser – ele acrescentou.

Ele apertou a mão dela e eles ficaram sacudindo as mãos em um cumprimento desajeitado e demorado, rindo pela falta de jeito um do outro.

– Ok, Danny. Você pode me chamar de Jo.

– Jo é legal, eu gosto de Jo.

A menina ficou vermelha e fitou os pés, puxando uma mecha de cabelo solto para trás da orelha.

– Bom, eu vou indo, vou deixa-la se divertir – ele anunciou e curvou-se ligeiramente, como um oriental.

– Na verdade eu também estou indo embora – revelou Jo.

– Ah, uma coisa em comum – Danny elevou as sobrancelhas, intrigado pelo fato de alguém, bonita como ela, deixando o bar antes da meia-noite. Ele se perguntou se tinha algo a ver com o Luke – Quer que eu a acompanhe até a saída?

– Claro – ela disse. Os dois seguiram juntos para fora do Pulp.

– É a primeira vez que você vem ao Pulp? – Danny perguntou casualmente. Ele sabia que perguntas no estilo “você vem sempre aqui?” não funcionavam com as garotas, mas como um visitante assíduo, ele não se lembrava de tê-la visto por lá.

– Sim. Eu ia vir com o Luke, mas ele meio que desmarcou.

– Meu par também desmarcou – Danny soltou, mas se arrependeu. Péssima escolha de palavras. Jo o olhou curiosa.

– Hã, eu disse par, mas eu quis dizer amigo – ele tentou explicar, gesticulando as mãos furiosamente – Harry, o meu amigo, desmarcou.

Jo riu.

– Eu acho que entendi.

– Ele tinha uma transa importantíssima com a namorada dele ao qual ele não podia faltar, então por isso ele furou comigo – Danny ironizou.

– Assim como o Luke – Jo falou, erguendo as sobrancelhas.

Danny a fitou.

– Luke é seu namorado? – Ele não conseguiu evitar a pergunta.

– Hum, acho que agora ele está mais para ex.

– Sinto muito – ele se ouviu falando, mas não havia nenhum lamento em sua voz. Ele achava que, quem quer que fosse o Luke, ele era um babaca.

– Não sinta – ela lançou um sorriso delicado a Danny, deixando-o mais uma vez desconcertado – Foi melhor assim. Um imbecil a menos na minha vida.

Os dois caminharam para o ar frio de Atlanta. Pessoas se acumulavam na portaria da pequena boate, tentando entrar.

– Eu vou seguir daqui – despediu-se Danny com um aceno – Te vejo por aí.

Ele caminhou para a esquerda, mas a pequena Jo o seguiu com suas pernas curtas.

– Eu moro para esse lado também – ela deu de ombros.

– Duas coisas em comum – ele sorriu. A ideia de passar mais um tempo ao lado de Joanna o agradou – Para que lado você mora?

– West Side – respondeu ela.

– West Side? Também moro por lá!

– As coincidências não param – ela sacudiu os ombros, abrindo um sorriso.

Ele achou que ela era realmente fofa, com seu sorriso largo, a baixa estatura e as sardas amontoando-se em seu pequeno nariz. Danny a acompanhou até a estação e dividiram o mesmo metrô até a área oeste de Atlanta. Eles seguiram conversando sobre suas vidas pessoais e profissionais durante o curto trajeto.

O metrô parou na estação Buckhead. Danny saltou do metrô, apertando-se em seu casaco. Jo deu dois passos para fora e tropeçou. Teria ido de encontro ao chão se Danny não tivesse sido rápido em segurá-la. Ele envolveu as mãos em sua cintura para ergue-la e de novo ela levantou o rosto para ele. Eles ficaram se olhando hipnotizados por longos segundos.

– Melhor tomar cuidado – ele encontrou a voz para falar, ainda preso sob o olhar dela. Ela pôs-se de pé, desconcertada, sacudindo a cabeça. Danny se afastou, também corando. Bateu as mãos ao lado do corpo sem jeito.

– Eu não costumo ficar caindo por cima das pessoas o tempo todo – falou Jo, com uma risada nervosa e um morder de lábios – Você deve estar me achando uma boba.

Danny sorriu e piscou para ela.

– As pessoas bobas são geralmente as mais legais.

A frase de efeito de Danny pareceu surtir efeito na menina de alguma forma, mas ele não podia ter certeza. Mas ficou feliz com o sorriso tímido que ela lançou.

– A gente se vê – ela disse e partiu.

Danny caminhou lentamente na noite, assoviando para si mesmo os acordes de sua canção favorita. Quando chegou em casa, pegou uma cerveja na geladeira e atirou-se no pequeno sofá de dois lugares da minúscula sala de seu simplório apartamento, pensando se algum dia voltaria mesmo a ver aqueles cativantes olhos azuis.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Deixa um review (pode elogiar, fazer sugestão e reclamar, desde que fale com jeitinho), marca a história nos favoritos e recomenda :D Aguarde o próximo capítulo e até mais.



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