Megan

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Megan corria a todo vapor na estreita calçada reservada para praticantes de exercícios físicos, no quintal da agência. Kelly Clark cantava sobre os desajustados vivendo em um mundo de fogo, em seus fones de ouvido. O inverno em Atlanta atingira seu auge, e ela respirava com dificuldade, tanto pelo esforço físico, quanto pela umidade do ar queimando suas narinas, mas mesmo assim ela conseguiu atingir, triunfante, a oitava marca, delimitada pelo cone laranja. Ela apoiou as mãos nos joelhos e baixou a cabeça, arfando.

Ela tinha quase como uma obsessão correr todas as tardes em seu horário de almoço há dois anos seguidos. Desde então ela vinha adquirindo cada vez mais preparo físico e seu desempenho agora atingia a marca dos quatrocentos metros, sem paradas. Seria uma obstinação a ser admirada se Megan não pesasse setenta quilos e não tivesse emagrecido uma única grama no decorrer desse longo período.

Naquela manhã ela quase perdera a cabeça. Tim, o diretor de arte, exigira que ela reformulasse a proposta de publicidade para uma empresa de bebidas alcóolicas segundos antes da apresentação, então ela teve que se virar como pôde para editar, modificar e ensaiar para que tudo ocorresse do jeito certo. Isso seria o de menos se, apesar de todo o trabalho que ela teve, Dylan Summers não tivesse levado todo os créditos pelo projeto. E o bastardo não fez nada além de apresentar a proposta e esbanjar sorrisos. Seria mais fácil para Megan se ela tivesse um e oitenta de altura, um bom porte físico e dentes perfeitos. Para piorar seu dia, a implicante da Lisa Parker fez piada do almoço de Megan (salada crua e peixe grelhado sem tempero) dizendo que se ela cortasse o peixe talvez a dieta funcionasse, na frente do recém-chegado da agência, e ele deu uma risadinha, assim como todos os outros que estavam próximos.

Ela abandonara o refeitório com repulsa, a tupperware com o almoço ficou intocada. Perder a refeição não era uma boa tática para perder peso quando se pratica exercícios físicos, principalmente levando em consideração a saúde de Megan, mas ela simplesmente não conseguia comer quando estava zangada. Nessas horas, ela preferia correr. Aliás, correr era a única saída que Megan Lee encontrava para não explodir na frente todo mundo (o que provavelmente chocaria seus colegas de trabalho e acarretaria em uma visita ao RH) em dias como aquele. Infelizmente, quase todos os dias eram como aquele...

Uma figura corria, vindo em sua direção. Era estranho. Ninguém se exercitava no mesmo horário que Megan, exceto, de vez em quando, Diana e Jenny, as duas únicas pessoas de quem ela gostava na agência. É claro que elas eram duas lindas moças magras e esculturais que trabalhavam em setores diferentes da Leaman Hersher. Megan reconheceu o sujeito – era o novato do setor de mídia, admitido no dia anterior. Ela suspirou resignada e se pôs novamente a correr.

O novato a seguiu ao longo do trajeto, acompanhando-a de longe. “Ótimo” pensou Megan “Agora eu tenho um colega de corrida, o que mais posso esperar?” Pelo menos ele estava lá para trás. Ou assim ela pensava. Arriscando uma olhada para trás, Megan percebeu que o rapaz ultrapassara a oitava marca e estava mais próximo, cerca de cem metros de distância. Ela acelerou. Ele fez o mesmo.

– Não nos conhecemos ainda – falou o rapaz, agora a poucos metros dela. Megan não desistira de fugir dele e continuou correndo, mesmo com seus pulmões implorando por uma pausa. Ele no entanto, parecia em pleno auge.

– Bem observado – ela ironizou.

– Eu sou o Anthony – ele se apresentou, acompanhando seus passos de corrida.

– Prazer Anthony, eu não ligo.

Em vez de ficar ofendido como ela esperava, Anthony riu. Tudo bem, ela pensou irritada, afinal era para isso que ele estava lá de qualquer modo. Bom, se ele queria um show, ele poderia ter. Megan usou todo o impulso do seu corpo e lançou-se para a frente, correndo a toda velocidade. Anthony gostou do desafio. Ele a seguiu durante o resto do percurso. Quando alcançou a décima segunda marca, Megan parou e lançou a cabeça para trás, buscando ar.

– Deus, você nunca cansa? – Indagou o Anthony, bufando a procura de ar. Megan se perguntou porque ele estava correndo com ela na calçada dos desajustados. Ele estava em perfeita forma.

– O que você quer? – arfou.

– Sabe, cordialidade entre colegas de trabalho é muito importante para manter o clima organizacional – ele apontou. Megan o fitou chocada.

– Se você diz isso, não vai conseguir se encaixar Leaman Hersher – rebateu ela.

No entanto, olhando o tal Anthony melhor, ela sabia que não era verdade.

Anthony Cooper era um cara irritante e no momento, inconveniente, ou pelo menos eram essas as primeiras impressões que Megan teve dele, mas nem ela podia negar que ele era bonito. Ele era alto, forte e elegantemente esguio, com um cabelo louro charmoso que estaria balançando com o vento se não estivesse todo suado e grudando em sua testa. Não havia portas fechadas para aquele grau de beleza.

– Existe um código de conduta para ser aceito como parte da equipe?

– Sim – resmungou Megan, fitando-o com um pouco de hostilidade – Seja esperto, eficaz e não seja gordo.

Ele sustentou o seu olhar com diversão. Algo no brilho daqueles olhos verdes a deixava irritada e ligeiramente desconfortável.

– Você está irritada pelo que a Parker disse esta manhã – afirmou Anthony.

– Isso devia ser uma pergunta?

– Não – ele foi rápido em rebatê-la – Só estou apontando o óbvio.

– Você é muito bom nisso – Megan disse, irônica – Foi para isso que o contrataram?

Anthony não conteve uma risada.

– Que bom que eu o divirto – ela disse secamente.

– Desculpe, mas você consegue ser ranzinza e engraçada ao mesmo tempo.

A ousadia dele chocava Megan. Ela o fitou ultrajada.

– Então você correu seiscentos metros só para rir do meu humor rabugento? – sarcasmo escorria de sua retórica – Aproveite o bônus de algumas calorias a menos e vá comer um hambúrguer.

– Na verdade eu queria pedir desculpas.

– Pelo quê? – Megan fitou-o desconfiada.

– Pelo meu comportamento mais cedo. Eu não devia ter rido da piada da Parker, isso não faz o meu feitio – respondeu Anthony, passando a mão sobre o cabelo suado. Ele a fitou, apologético e sincero, e isso quase a desarmou. Quase.

– Eu não sei qual é o seu feitio, então para mim tanto faz – ela deu de ombros, encrespando os lábios em uma linha rígida.

– O que eu quero dizer é que a pressão para agradar no primeiro dia me fez agir como um idiota. Ser novato em uma empresa é meio pesado – ele desculpou-se, mas logo se arrependeu da péssima escolha de palavras. Megan sacudiu a cabeça, exasperada, franzindo a testa para ele.

– Tchau Anthony.

Respondeu Megan simplesmente e recomeçou a correr na direção contrária, deixando Anthony e seu feitio alguns metros para trás.