Era Uma Vez escrita por annaLI


Capítulo 9
Capítulo 9




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    O inverno ainda não tinha acabado e desde a manhã seguinte ao baile, os dias voltaram a ser muito chuvosos no país de Clow. Por vários dias, as ruas ficaram praticamente desertas tamanho era o aguaceiro do lado de fora, todo mundo só queria estar no aconchego e calor de suas casas.

    - Vai, conta de novo! Você dançou mesmo com a princesa Sakura?

    Syaoran ficou sendo o assunto da casa por vários e vários dias. Numa tarde particularmente chuvosa, quase uma semana depois do início do ano-novo, todos estavam reunidos na sala, tentando distrair o tédio dos dias de frio enquanto se aqueciam perto da lareira. Ele e Sora, por exemplo,  jogavam xadrez sem muita animação quando o garoto lhe fez aquela pergunta pela não sei quanta vez seguida.

    - Sim. – Syaoran respondeu sem nenhum entusiasmo, cansado de repetir a mesma história tantas vezes.

    - Ai, ela devia estar muito bonita!!!!!!

    - Ela estava. – Syaoran ficou vermelho.

    - É verdade mesmo que ela recusou o convite de um príncipe só porque estava com você?

    - É. – Não era intenção dele dar tantos detalhes, mas as crianças acabaram conseguindo arranca-los dele.

    - Só pode ser mentira! Como você pode ser tão sortudo?

    Syaoran deu de ombros, movimentando uma de suas peças no tabuleiro. Pensar na princesa o deixava um tanto triste, os dois não tinham se visto desde aquela noite, tudo que ele queria era que a chuva passasse logo.

    Às vezes, na calada da noite, ele ainda acordava para ficar pensando na sua vida de agora e lembrando do passado. Sua antiga vida era agora como um sonho. Como se quisesse ter alguma prova de que tudo que ele conhecia era real e existia em algum lugar longe dali, ele chegou a pedir de Asuka, que era professora, um de seus livros, onde ele encontrou tudo que já sabia sobre a geografia e até um pouco da história de seu país, Crysalis era agora um mapa desenhado numa página de livro.

     Ele ainda sentia muita falta de tudo aquilo, de suas regalias e principalmente de sua aparência, ainda aterrorizava-o a idéia de ser um velho de dezesseis anos e de ficar ainda mais velho a cada dia. No fundo, no entanto, sabia que não estava infeliz e isso era o que mais o assustava.  Muitas vezes voltou à sua mente o que a princesa Sakura tinha dito há algum tempo atrás. Pela primeira vez, ele sabia e entendia a sensação de se interessarem por ele sem saberem que ele era um príncipe, de serem gentis com ele não apenas pela obrigação de agradá-lo. Às vezes ele chegava a sentir medo da idéia de tudo voltar ao normal de repente, pensando como seria voltar ali depois que estivesse lá.

    A cidade estava completamente coberta em neblina quando a chuva finalmente parou. Foi nesse mesmo dia que Sakura fez uma visita ao abrigo. Tendo pedido a D. Hoshido que lhe ensinasse a fazer uns biscoitos de amendoim que eram sua especialidade, ela ficou com eles praticamente o dia todo.

    Há bem pouco tempo, Syaoran vinha descobrindo um talento ainda desconhecido seu de cozinhar, por isso estava com as duas na cozinha aquele dia e pôde descobrir o quanto a moça era desastrada cozinhando. Depois do almoço, eles foram modelar os biscoitos cuja massa tinha sido dividida em duas tigelas. Sakura conseguiu derrubar uma delas, derramando todo seu conteúdo no avental que usava. Depois da meia hora que levaram para limpar toda a sujeira, foi preciso D. Hoshido e Syaoran insistirem para que ela, que estava envergonhada e não achava que as desculpas que tinha pedido eram suficientes, fosse modelar o que tinha sobrado da massa com eles. Mais tarde todos se reuniram para comer os poucos biscoitos que tinham conseguido fazer com grandes copos de chocolate quente.

    No dia seguinte, Sakura voltou lá com alguns biscoitos que ela disse que tinha feito sozinha e queria que eles experimentassem.

    - Era pra ter muitos mais, mas eles ficaram todos grudados nas primeiras bandejas... Me desculpem, eu podia ter pedido ajuda aos cozinheiros, mas queria ser eu mesma a fazer...

    Eles realmente não estavam tão gostosos quanto os do dia anterior, mas todos elogiaram o esforço dela e, principalmente as crianças, ficaram muito contentes de comer biscoitos feitos pela princesa.

    Syaoran e Sakura também tinham passado a fazer muitas caminhadas juntos a cavalo ou a pé, pela cidade e seus arredores. Quando estavam pelas ruas da cidade, muitos percebiam a princesa por baixo do capuz do casaco e ficavam muito felizes apenas em vê-la sorrir para eles e acenar dizendo “bom-dia” ou um simples “oi” quando ela não se aproximava para conversar com eles, e ela parecia conhecer cada pessoa, tratando-a como uma grande amiga. Assim, Syaoran acabou conhecendo várias outras pessoas por lá. Foi memorável o dia em que Sakura decidiu ajudar um senhor que estava muito doente e não podia ir ao mercado vender suas frutas. Ela acabou convencendo um Syaoran muito hesitante e que não acreditava que ela fosse realmente fazer aquilo a acompanha-la. Aconteceu que eles acabaram se divertindo vendendo as frutas no mercado e, nem é preciso dizer que o homem acabou faturando mais do que o normal aquele dia.

    - Nunca tinha feito algo assim... – Syaoran falava, sem conseguir conter o ar de riso, enquanto se dirigiam com passos lentos até a casa do senhor adoentado. – Eu estou exausto, mas... foi legal...

    - Foi mesmo. Muito obrigada por sua ajuda.

    - Não precisa agradecer...

    A noite já caia pelas ruas da cidade e os dois tinham ficado em silêncio, até Sakura falar, de repente:

    - Sabe... Vou sentir muito a sua falta quando tiver de ir... – Ela tinha assumido um ar meio triste e pensativo.

    - Eu também. – Ele respondeu depois de alguns instantes, também pensativo. – ...Mas, não quer dizer que eu não possa voltar...

    - Você voltaria!?... Mesmo? – Ela perguntou com um brilho incrédulo nos olhos.

    - Claro.

    - Ai, seria tão bom! Eu ficaria muito feliz...

    - Então, está resolvido! – Eles já estavam parados á frente da casa em que queriam chegar, Sakura se preparava para bater quando se impressionou com o dedo mindinho que Syaoran lhe estendia –...É uma promessa.

    - Certo! – Ela sorriu, estendendo também seu dedo mindinho na direção do dele.

    O mês de janeiro inteiro passou entre os dias seguidos de chuva e muita neblina e fevereiro não começou diferente. Sora e Amaya saiam cedo todo dia para a escola, junto com Asuka. Uma tarde, Syaoran encontrou Sora na sala chorando em cima de um caderno, o garoto disse entre soluços que não conseguia fazer o dever de casa.

    - Nossa! Eu não sabia disso, você é muito bom! – Meia hora depois, Soara sorria da facilidade com que ia aprendendo tudo com as instruções novas - Para mim esses números nunca passaram de pura chatice.

    - Você só precisava encara-los por outro ângulo.

    Pouco depois Asuka voltou do mercado, onde tinha ido com D. Hoshido, e também se impressionou com aquilo.

    - Você seria um ótimo professor... Poderia ir à escola qualquer dia desses... Seria muito bom para as crianças...

    Foi assim que ele saiu cedo com as crianças e Asuka no dia seguinte. Os outros professores pareciam intrigados com o tanto que ele sabia e os alunos nunca tiveram professor melhor. Ele se animou bastante e acabou repetindo a visita várias vezes.

    - Você precisava ver... o jeito deles, são todos bastante inteligentes, só precisam de alguém que os faça gostar de aprender...

    Syaoran e Sakura tinham saído num passeio pelos campos. Depois de tanta chuva, no entanto, tinham dificuldade de descer uma encosta particularmente íngreme, segurando as rédeas dos cavalos, enquanto o céu ameaçava desabar novamente. Sakura apenas ouvia o que ele falava com um sorriso no rosto, feliz pela animação dele. Até que ela parou de repente, apurando os ouvidos.

    - O que foi? – Syaoran também parou.

    - Não está ouvindo?

    Só agora, ele percebeu um ruído meio distante, que parecia de alguém gritando.

    - Parece que vem na direção do rio... – Ela começou a descer depressa, afastando-se um pouco para a direita e ele foi atrás dela.

    O rio não ficava muito longe, a correnteza estava muito forte e era possível ver vários galhos, folhas e até pedaços de troncos levados por ela. O rio era bastante largo e a margem do outro lado era alta, mas era de lá que vinha o grito de socorro. Uma menina se segurava num tronco fino de uma árvore cuja raiz estava presa à terra alta prestes a se soltar, tanto a menina quanto o tronco.

    - Ai, minha nossa! Tsuki, vá buscar ajuda! – Sakura falou, olhando bem fundo nos olhos da égua que depois avançou em galope rápido na direção, supunha Syaoran, do castelo e Sakura gritou o mais alto que pôde: - Tente se segurar firme. Já iremos tira-la daí.

    - Sakura... Aquele tronco não vai agüentar muito mais tempo...

    - Quando virem Tsuki voltando sozinha ao castelo, virão bem depressa...

    - Ela não vai agüentar... – Syaoran já tinha tirado o casaco e agora tirava rápido os sapatos e as meias à beira do rio.

    - O que está fazendo?... Syaoran, você não pode... Não há como subir pela margem do outro lado e você não conseguiria voltar...

    - Eu sempre fui um ótimo nadador...

    - Eu também sei nadar muito bem... Isso não é simplesmente uma questão de nadar até lá...

    - É a única chance dela.

    - Syaoran, isso é loucura! – Ela agarrou o braço dele depois de segui-lo em vários passos para o lado antes de se preparar para entrar no rio.

    - Eu tenho que tentar. – Ele falou, encarando-a por um instante, depois desvencilhou-se de suas mãos, mergulhando em seguida.

    Syaoran ainda a ouviu chamar seu nome de novo, antes da água invadir seu corpo inteiramente. Os passos que ele tinha dado permitiram-no se deixar arrastar um pouco pela correnteza e quase só precisar nadar em frente para atravessar o rio. Realmente era um ótimo nadador, mas seu porte físico atual não ajudava muito e quando ele finalmente alcançou a menina do outro lado, já estava terrivelmente cansado. A menina devia ter uns dez anos e agarrou-se a ele, fazendo-o afundar bastante. Ele tinha certeza que não teria forças de atravessar novamente o rio, mas resolveu arriscar, no momento que a garota largara o tronco este se soltou por completo da margem e foi arrastado pela correnteza.

    Ele não conseguiu muito fôlego antes de começar a nadar de volta e engoliu muita água no trajeto, uma água cheia de folhas e outros pedaços de árvore que também arranhavam seu corpo e incomodavam seus olhos. Ele já estava prestes a desistir quando conseguiu levantar a cabeça fora da água e perceber a margem não muito longe. Juntando todo o resto de suas forças, ele venceu o espaço restante, chegando à margem quase desmaiado. Sakura o esperava lá e estendeu os braços para puxar a menina, com algum esforço ela já estava segura.

    - Venha, Syaoran – Agora ela estendia a mão a ele para ajuda-lo a se erguer.

    Depois de todos estarem em terra firme, Sakura não sabia a quem dava atenção. Os dois tossiam, colocando água pra fora e tremendo de frio. Ela tirou sua própria capa e cobriu a garota, que estava agitada dizendo que precisava ir para casa.

    - Fique calma, logo você irá. – Ela tentava tranqüiliza-la sem conseguir manter a voz calma.

    Depois pegou o casaco de Syaoran e o cobriu, ele não conseguia parar de tremer e parecia prestes a desmaiar. Segurando-o em seu colo, ela afastava os cabelos dele do rosto, seus olhos cor de âmbar estavam avermelhados encarando-a.

    - M-me d-desculpe... – Os dentes dele batiam quando tentava falar.

    - Não se desculpe, você foi muito corajoso. Ela vai ficar bem, você conseguiu. Foi muito corajoso... – Ela deu uma olhada na menina, que tinha se enrolado bem na capa da princesa e observava a cena imóvel, também sentia muito frio, mas percebia que seu salvador se sentia pior.

    - O-obrigada. - Ela disse com a voz trêmula.

    Syaoran fechou os olhos, parecendo muito aliviado.

    - Syaoran... – Sakura falou, assustada por vê-lo fechar os olhos.

    - Sakura...- Ele voltou a encara-la – F-foi tão bom ter conhecido você... valeu a pena... ter vindo até aqui... – A voz dele não passava de um sussurro.

    - Eu também gostei muito de ter conhecido você. Você se tornou uma pessoa muito importante para mim... – Lágrimas escorriam pelo rosto de Sakura sem que ela conseguisse controla-las –... Você é uma pessoa muito, muito importante para mim...

    Syaoran sorriu de leve e voltou a fechar os olhos, ele ouviu Sakura chamar o nome dele de novo, mas não conseguia mais abrir os olhos, em seu peito ele sentia algo queimando, como gelo derretendo, ela agora gritava por ele e parecia muito assustada, ele parecia estar paralisado, mas sentia seu corpo caindo até que perdeu completamente a consciência.

    De vez em quando, voltava a perceber que estava vivo e tinha certeza de ouvir vozes ao seu redor, mas continuava sem conseguir abrir os olhos. Em algum lugar distante, ouvia Sakura ainda chamando por ele e ele também a chamava, mas ela parecia não ouvir.

    Quando ele finalmente conseguiu abrir os olhos, a primeira coisa que viu foi o teto de madeira de uma cama de dossel. Teve que acordar ainda algumas vezes para se dar conta do que aquilo significava, levantou-se bruscamente, assustado, ignorando a tontura que isso causou. Uma mulher de longos cabelos negros estava de frente para uma janela ao lado, não muito distante, parecendo perdida em pensamentos, Syaoran a conhecia.

    - Mamãe??!!!

 

Continua....


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Notas finais do capítulo

Puxa! Muita coisa aconteceu nesse capítulo, hein?
Chegamos à reta final da história... ñ sei se serão mais um ou dois capítulos... logo veremos.
Por enaquanto digam o q acharam do cap 9, certo?