Angeline e sua breve estada no Inferno escrita por Not Me


Capítulo 1
Capitulo Único


Notas iniciais do capítulo

Está ai! Eu meio que sonhei com isso, por incrivel que pareça, um sonho bem brisado mesmo. Bem, mais ou menos sonhei com isso, já que no sonho o "demônio" odiava a menina porque ela foi vender biscoitos na casa dele e ele não tinha dinheiro (?) e ai ele falava "NÃO TENHO DINHEIRO" e ela "BISCOITOS" e ele "AAAAAAAAARGH" e prendeu a menina. Porém a boneca definitivamente existia, é e a moça do espelho também.



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Teve uma vez, há muito tempo atrás, que uma garota de doze anos foi a julgamento no outro mundo.

Ela não matou a moça, ela nunca nem tinha a visto. Porém o juiz estava longe de crer nisso, já tendo mantido a vida de tantas crianças que eram, na verdade, culpadas. E, a defesa tendo um advogado tão bom, a menina foi jogada na prisão imunda e cinza que os vivos do mundo de cima chamam de “Inferno”.
O chefe do inferno, o que também era o advogado de defesa, era um homem muito bonito e mal, que culpou a garota por algo que ela não fez apenas para vê-la ali. Tudo que a garota tinha era sua boneca, que antes vivia feliz e tranquila, mas agora era nada mais do que tristeza.
Enquanto sua dona dormia, a boneca se levantou na cela e olhou no mínimo espelho quebrado que ali tinha, sua face pálida, de pano, seus olhos, um azul e um castanho, sua boca de linha vermelha, sempre sorrindo e seus cabelos de pano loiros e sujos agora. Marie, a boneca, tocou com sua mãozinha o espelho e então seu chapéu, arrumando-o em sua cabeça quando viu um vulto. Quando o viu, correu para acordar a menina.

- Angeline - disse, esfregando suas mãos frias nos braços dela - Angeline, acorde - aos poucos, abrindo os olhos, ela perguntou o que foi - No espelho, Angeline, venha, venha. - Esfregando os olhos, arrumando seu curto cabelo castanho, ela foi até o mínimo espelho quebrado e olhou.

- Angeline - a mulher falou - Angeline, me salve - a garota arregalou os olhos e tocou o espelho com sua mão.

- Você - murmurou para o guarda não a ouvir - Você está… - um apito soou e, com um ultimo olhar, Angeline voltou para o seu lugar e fingiu estar dormindo, com sua boneca. O guarda passou pela cela, vendo não ter nada demais ali e então voltou ao seu lugar.
A garota abriu um olho, depois outro e então finalmente levantou-se e voltou ao espelho.

- Estou aqui - disse o vulto quando Angeline voltou a procurar.

- O que faz ai?

- Estou presa aqui

- Por que?

- Porque eu sou a única coisa que a prende aqui e o chefe daqui não quer me deixar ir.

- Por que?

- Porque ele a odeia

- E por que?

- Porque ele é um homem mal e odeia crianças. Se ele pudesse, exterminaria todas uma a uma. Você estava no lugar errado na hora errada, no universo errado -
Angeline ponderou.

- Universo errado? - a moça fez que sim, pacientemente.

- Sim, universo errado. Veja bem, tem muitos outros além da terra abaixo do chão, onde você vive. Tem o mundo de cima, também, por exemplo. No mundo de cima, não é normal ir e vir do inferno e do céu como vocês vem. Isso seria muito extraordinário para todos nós. As bonecas e brinquedos não vivem no mundo de cima também. Isso seria muita loucura para qualquer um de nós aguentarmos”

- Então você é do mundo de cima?” ela hesitou, pareceu pensar, mas logo fez que sim - E as pessoas não sabem disso? - a moça fez que não.

- Você tem que me libertar, Angeline - disse - Assim eu contarei a verdade para todo mundo.

- E como se sai daqui? - inquiriu Marie, a boneca, olhando para o espelho. A mulher virou seus olhos castanhos brilhantes para ela. Então os fechou.

- Tem um buraco, mal coberto, atrás de sua cama, que dá para o jardim - disse, reabrindo-os. Estavam brancos e apenas aos poucos voltaram ao normal.
Ela olhou para Angeline

- Prove sua inocência, salve-me, volte para casa no mundo inferior e cresça, viva uma vida feliz. - A moça sumiu e Marie voltou seus olhos, um azul e um castanho, para dona.

- Existem outros mundos além do nosso? - perguntou à Angeline, que deu de ombros e a pegou em seus braços.

- Perguntaremos a ela quando a libertarmos - disse, baixinho ainda, se voltando para a cama. As duas cabeças, uma de pano e uma humana, se voltaram para o guarda e averiguaram se ele dormia. Quando o ouviram roncar, Angeline soltou Marie e puxou a cama para frente, vendo o buraco mal fechado ali, de uma cor diferente. Começou batendo, com seu punho fechado, rachando o ponto e o abrindo suficiente para poder passar.
- Venha, Marie - sussurrou e então entrou, passando imediatamente para o outro lado.

O jardim era verde, brilhante, mas era como uma pedra flutuando em um espaço de lava. A prisão inteira flutuava em lava, o que deixava o solo morno. Angeline se levantou e esperou Marie, que trouxe consigo o espelho.

- Nos podemos precisar - esclareceu e a menina sorriu para ela, pegando-o em mãos.

Olhou ao seu redor.


O mundo inferior ficava subindo as escadas do horizonte, agora longe demais até para se ver. Estavam na extrema profundidade do “inferno” que era um grande espaço aberto, quente e desconfortável. Olhando ao seu redor, a garota começou a andar, pés descalços sobre a grama quente, Marie atras de si, com passinhos mudos. Andou, andou e andou, até achar uma linha estreita, que dividia a área feminina da masculina na prisão do inferno. Eram ligadas por uma pequena parede de cimento. Entrando por aquela fresta, elas viram uma porta de serviço, azul marinho brilhante.

- Deixe-me ir na frente. Se me verem, sou só uma boneca - disse Marie, mas Angeline agarrou seu braço.

- Não - disse, firmemente - Você é a minha única companhia neste lugar. Eu vou primeiro - puxou-a para trás lentamente e, então, abriu uma passagem por onde observou se alguém vinha.

Nada. Era o vestiário. Haviam roupas de zelador em todos os lugares visíveis e as luzes queimaram seus olhos. Estava acostumada a ficar em lugares muito escuros nos últimos tempos. Entrou, e fechou a porta. Pegou um dos macacões de zelador, vestiu-se, prendendo os cabelos curtos atrás da cabeça com um grampo que alguma das empregadas deixou cair no chão e colocou o chapéu por cima. Marie, ela colocou dento de um carrinho, limpo, de roupas sujas e saiu andando, empurrando a porta da frente da sala e deixando-se ver a entrada da prisão. Diversas pessoas estavam trabalhando àquela hora e, mesmo com medo de ser pega, Angeline passou com seu carrinho por eles, não sendo olhada duas vezes. Pareciam estar todas preocupadas com a própria vida para notar.
Entrou em um banheiro feminino próximo e trancou a porta, pegando o espelho do bolso.

- Moça? - perguntou, baixinho. Ela apareceu - Eu saí.

Ela deu um sorriso, que sumiu lentamente.

- Mellon - falou seu nome - Me chame de Mellon. Onde você esta?

- No banheiro feminino do primeiro andar - Mellon fechou os olhos e os abriu, brancos novamente.

- Você tem de subir todos os andares, passar pelo corredor de vidro e abrir a porta no final. Lá, você encontrará o espelho.


- Mas e o homem mal? - Perguntou, trocando um olhar com Marie, que estava sentada em seu ombro.

- Dorme - respondeu Mellon, olhos voltando ao castanho comum, cabelos e vestido esvoaçando.

- Tudo bem - disse - Estou subindo - a mulher sumiu.

Tomando coragem, ela colocou o espelho no bolso e saiu, com Marie em sua mão, escondida na frente do corpo. Colocou-a de volta no carrinho e recomeçou a empurra-lo. Teve de empurra-lo por duas rampas ainda, até chegar em um elevador vazio, onde entrou e saiu, finalmente, no ultimo andar. Até aquele ponto, o lugar era todo cinza chumbo, mas ali era vidro puro e o céu era estrelado quando se olhava para cima e não preto como era lá fora. Angeline abaixou a cabeça e olhou-se no espelho, vendo sua figura franzina, botas de combate, macacão amarelo e chapéu preto, que era o uniforme da prisão. Seu cabelo chanel estava, ainda, preso sobre o chapéu e ela tomou coragem, recomeçando a andar. Olhando em volta, pouco a pouco, ela viu que cada divisão de espelho era um quarto e que, se você olhasse o bastante, dava para ver dentro deles. Quando chegou a porta dupla no fim do corredor, ela engoliu em seco.

- O que o homem mal vai fazer comigo - começou - Se ele me pegar, Marie? - olhou para o interior do carrinho e os olhos da boneca estavam nela enquanto ela fazia que não sabia.

- Você deve salvar Mellon e provar sua inocência, ou ficará presa aqui - lembrou a boneca. Fazendo que sim, Angeline colocou suas mãos sobre a maçaneta e a girou, lentamente.

A sala tinha paredes brancas com detalhes em dourado. Era enorme e redonda nos cantos. Havia uma mesa de madeira escura e uma cadeira, grande e vermelha no centro. Atrás dela, o espelho pegava toda a parede. Marie foi tirada do carrinho.
“Este homem gosta de espelho, não é?” perguntou, olhando para a dona. Angeline, então, se aproximou do espelho maior e tocou sua superfície. Lá, apareceu Mellon e varias outras almas.
- Angeline - sorriu para ela, calorosamente, as outras almas seguindo-a no ato - Você chegou!

- Quem são essas pessoas? - perguntou e Mellon olhou para trás de si.

- São os outros que foram presos aqui comigo. Cada um deles representa uma criança presa. Você viu todos esses quartos? - a garota fez que sim enquanto pegava a boneca em mãos, para esta ficar mais alta em relação às duas - Cada um deles tem uma criança presa.

- Por que Angeline não estava em nenhum deles? - Marie quis saber.

- Porque ele ainda não havia construído um para ela - esclareceu Mellon e apontou sua cabeça para o outro lado do quarto. Virando, tinha um espelho quebrado e dentro dele uma cama. O espelho estava no chão.

- As crianças daqui também ficam presas nos espelhos, não é? - virou-se para Mellon, que acenou positivamente com a cabeça - Por que ele nos odeia tanto?

- Porque crianças são inocentes demais - ficaram em silencio.

- Como eu os tiro dai? - perguntou.

- Rache o espelho - respondeu outra pessoa, um homem em um termo de tweed - E nós sairemos por ela.


- Melhor ainda - uma voz falou do outro lado e todos se viraram, alarmados, para olhar. O homem estava encostado na parede. Cabelos loiros, para trás, blazer creme, camisa preta e calça também creme. Era magro e pálido, quase tanto quanto a parede. Olhou para Angeline e seus olhos eram reluzentes - Não quebre o espelho de todo - Ela se voltou para trás instintivamente. Ele riu - Ora, que é isso? - Sorriu, lábios fechados - Veio ver seu quarto novo antes de ele estar pronto?

- Na verdade vim - respondeu - E odiei a decoração - ele riu alto, ecoando em todos os pontos do quarto. No espelho, os corpos recuaram.

- Bom, felizmente temos o que fazer ainda - começou a andar em direção à ela, braços cruzados, perfeitamente ereto - Coloco um espelho ao lado de sua cama, para você sempre se lembrar daqueles que não conseguiu salvar e para a Mellon se lembrar - voltou-se para ela - De nunca mais fazer isso novamente - seu sorriso sumiu e olhou penetrantemente para a garota - Caia no chão, Angeline - a garota, sem querer, obedeceu - Na verdade - pareceu pensar, colocando os dedos no queixo - de joelhos é melhor - novamente, seu corpo se ergueu e ajoelhou-se - É, perfeito - começou a andar em direção à ela. Marie caiu no chão, fingindo-se sem vida.
- Angeline! - Mellon falou, olhos na garota - Angeline, olhe para mim - com esforço, seus olhos foram erguidos - Foque em mim!

- Nem tente - disse ele, sem tirar os olhos da menina. Ao chegar perto dela, ergueu-a do chão com uma mão, pelo pescoço - Você, meu bem, vai para seu novo quarto - ele sorriu, rostos próximos um do outro, quando um grito estridente, desumano e agudo ao ponto de ser quase ensurdecedor encheu o quarto. Era Marie, perto do espelho. Angeline caiu no chão, tossindo, enquanto ele se dirigia para a boneca de pano, pegando-a com raiva e rasgando seus braços.

- Não! - berrou a menina, seu cabelo caindo até sua bochecha novamente.
- NEM VOCÊ - voltou-se, agressivamente, para ela - NEM A SUA BONECA INÚTIL AQUI VÃO ALTERAR ALGUMA COISA NESTE LUGAR - jogou Marie no chão. Ela não se movia - EU VOU CONTINUAR A PEGAR CRIANÇAS E TRANCA-LAS AQUI, COMO EU SEMPRE FIZ E NINGUÉM VAI ME IMPEDIR - ele a pegou pelo braço, fortemente, deixando seu rosto bem próximo - Nem mesmo quem chegou tão longe assim.
- Ah não? - Ele foi puxado para cima. Quando se virou, Mellon olhava para ele, olhos castanhos brilhando. Angeline olhou, então, para a rachadura no espelho e para todos aqueles corpos, vivos novamente, em volta de si.

Ele tentou, em vão se soltar do aperto dela.

- Como você… - perguntou, então olhando-a melhor, pela primeira vez. Então riu-se, a risada mais assustadora que Angeline jamais ouviu. Mellon irritou-se e jogou-o em direção à rachadura, fazendo-o entrar por ela. A abertura foi desfeita e o espelho parecia tão normal quanto antes. O homem de casaco de tweed pegou o corpo de Marie do chão, junto com os bracinhos e a entregou para Mellon. Em um segundo, ela estava inteira novamente.
Angeline se levantou do chão.

- Ela vai ficar bem? - Mellon sorriu.

- Ela via ficar bem - respondeu, sorrindo, entregando a boneca nas mãos da menina. Instantaneamente, Marie se mexeu e as duas se abraçaram.

- Como você fez tudo isso? - A boneca perguntou, olhando Mellon melhor.

- Ele - apontou para o espelho com a cabeça - Cometeu um erro terrível quando me matou - Angeline observou seus cabelos, sua pele e seu vestido, todos brancos, reluzentes.

- Você é um anjo, não é? - ela fez que sim - É por isso que você conseguia se mover por entre espelhos?


- Eu mantive alguns dos meus poderes, sim, mas só podia falar com você. Você era ligada a mim por algo que não cometeu.

- Você não parecia um anjo antes - inquiriu Angeline, ao que a mulher sorriu.

- Eu estava disfarçada no mundo em cima do seu. A terra de cima - apontou com o dedo. Então, olhou para o espelho e viu a silhueta do homem encarando-a. Tirou seu vestido do caminho e aproximou-se, ficando de cara para ele.

- Um anjo, quem diria. Não é a toa que é tão bonita - ele não sorria.

- Ficará ai uma eternidade.

- Só até convencer o outro que vir depois de mim a quebrar o espelho - sorriu e então aproximou-se da figura feminina, quase encostando seu nariz na outra extremidade do espelho - O demônio nunca morre de verdade - ela recuou - Teme isto, pois não há nada que possa fazer - a mulher olhou mais um tempo para o espelho e então voltou-se para Angeline, pegando-a pela mão. Ela e todas as pessoas passaram pela porta, onde, uma a uma, as crianças foram abrindo os espelhos e saindo de dentro, seguindo o anjo aonde quer que ele fosse.


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Notas finais do capítulo

Eu espero que tenham gostado. Sim, foi brisado eu sei UAHSUAHSUAHS.



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