Os Três Desastres. escrita por Redbird


Capítulo 1
Capítulo Unico.


Notas iniciais do capítulo

Eu coloquei a Petunia quatro anos mas velha que Lily, para que as memorias dela tivesse mais exatidão (o que não teria, se eu deixasse apenas um ano de diferença).
Bem, espero que gostem ^^



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Você sempre achou que Lilian Evans fosse o equivalente à perfeição. Você sempre pensa isso, porque ela sempre foi especial. A única ruiva da família. A única bruxa. A mais linda, a mais bondosa. Lilian sempre foi mais que você. Quem você é, perto dela? A garota estranha, com um namorado estranho. A irmã mais velha que vivia na sombra da mais nova.

Antes de Lilian, você era a única. Toda a atenção era para você, sua mãe – que não trabalhava – passava o dia brincando e lhe contando historias, sobre princesas, fadas, duendes e bruxas. Ironicamente, você sempre gostou mais das bruxas.

Você era a filha preferida, mas ai sua mãe engravidou. Você tinha apenas três anos, mas essas memorias estão gravadas a ferro em sua mente. O modo como seu pai comemorou e abraçou sua mãe, rindo e dizendo que seria perfeito. O modo como sua mãe chorava de felicidade, e te dizia que você não seria mais a única. Ela não dizia por maldade, mas foi assim que você interpretou.

Quando sua mãe fez o primeiro ultrassom e te mostrou, falando o quão linda sua irmã já estava, você se corroeu de ciúmes. E quando ela disse que iria comprar um retrato para coloca-lo e deixa-lo na parede de seu quarto, você o rasgou no meio da noite, e depois fingiu que não sabia de nada. E seus pais acreditaram e ficaram arrasados. E hoje você se arrepende.

Ah, e você se lembra perfeitamente do dia em que nasceu. Você já tinha quatro anos, estava mais esperta, e o ciúme já havia tomado conta. No meio da noite, seu pai te acordou ás pressas, e te deixou na casa da vizinha, sem explicar nada. Quando ouviu os gritos da sua mãe, você entendeu. E, três dias depois, ela chegou em casa. A pequena e adorável Lilian. Mal tinha cabelo, mas já dava para ver o ruivo. E quando ela abriu os olhos, e você viu aquele verde incrível e único, e ouviu seus pais falando que era a bebê mais linda que já tinham visto, você conheceu o sentimento da inveja.

E então só piorou.

Apenas aos quatro meses, Lilian disse sua primeira palavra: Mamãe. Isso fez toda a família ir a loucura, fez todos os parentes visitarem sua casa para tentar fazer Lilian falar seus nomes, e ela conseguia a maioria. Foi preciso que apenas uma palavra saísse para que Lilian aprendesse todo o dicionário. E para conseguir mais atenção do que o normal. Desde que Lilian nasceu, você foi colocada de lado.

No seu aniversario de cinco anos, não teve festa, porque seus pais estavam juntando dinheiro para fazer o primeiro aniversario de Lilian. Você relevou, porque eles te levaram ao zoológico e te mostraram os leões e os jacarés, e não deram muita atenção para Lilian, pela primeira vez. E aquele dia foi perfeito.

Mas então, chegou o aniversario dela, e quando você viu aquela enorme festa, com um bolo enorme e uma decoração maravilhosa, com todos os seus parentes, todos os seus amigos, todos os amigos dos seus pais, você percebeu que o zoológico não foi nada. Desde que Lilian nasceu, você só ficou com o pior.

Quando ela estava com três anos, e você com sete, sua mãe pediu que você a levasse ao parque que tinha perto da sua casa. Como sempre, você obedeceu. Você a deixou sozinha, enquanto se sentava no chão e pesava em tudo o que perdeu. E tudo estava normal, até ela correr até você, com uma flor na mão. Lilian parou na sua frente e colocou a flor na palma da mão. Então, como se ganhasse vida, a flor começou a “dançar”, abrindo e fechando as pétalas. Você jogou a flor no chão e gritou com ela, chamando-a de aberração. A puxou pelo braço para casa, onde contou para sua mãe, como se fosse a pior coisa. Mas sua mãe ficou encantada, e riu, dizendo que Lilian era especial, e que não tinha motivos para você brigar. Desde que Lilian nasceu, você sempre estava errada.

E assim os anos passaram, cada vez piores, até o dia em que aquela mulher com roupas estranhas foi até sua casa. Ela sentou no sofá, e disse que Lilian era mais especial do que parecia. Isso foi o suficiente para você não gostar da mulher. Mas ai ela disse que Lilian era uma bruxa, e você gritou a plenos pulmões, chamando sua irmã de estranha, dizendo que ninguém gostava das bruxas, dizendo que ninguém amaria uma aberração. E, antes que alguém a defendesse, você fugiu para o seu quarto, onde passou o dia chorando, com mais raiva do que nunca dela.

E chegou até a escrever uma carta ao diretor da escola de aberrações, para onde Lilian iria, implorando para deixa-la ir também. Você o odiou quando ele te respondeu, dizendo que isso seria impossível. E odiou ainda mais quando descobriu como as pessoas não bruxas eram chamadas; trouxas. Aos olhos deles, isso era tudo o que você era. Uma trouxa. E é assim que você se vê também. Desde que Lilian nasceu, você virou a ovelha negra da família.

E, novamente, os anos passaram cada vez piores. Seus pais começaram a te ver de outra forma, de um modo mais irritado. E quando você estava no 9º ano, o primeiro desastre aconteceu. Depois de uma briga sua com seu pai, ele saiu para trabalhar, e no meio do caminho, bateu o carro. Ele não sobreviveu. E você sabe que foi a culpada.

Lilian passou duas semanas em casa. Foi como se você não existisse. Sua mãe, inconsolável, chorava no ombro dela, e ela dava uma de forte, tentando consolar a mãe. Elas só saiam do abraço quando era estritamente necessário, e ninguém pensou em te abraçar. Ninguém pensou em perguntar se você estava bem ou se precisava de ajuda. Você sabia que elas estavam sofrendo, mas a verdade é que você foi a que mais sofreu. Sua mãe se tornou a viúva. Lilian se tornou órfã de pai. E você se tornou uma assassina. Você deixou essa culpa acabar com tudo o que sobrou de bom em ti, se tornou amarga e fechada. E ninguém percebeu, porque ninguém se importava. Desde que Lilian nasceu, ninguém percebia o quanto você sofria.

Desde então, você deixou definitivamente de falar com sua irmã, e sua mãe mal conversava contigo. Essa regra não foi posta de lado, mesmo quando Lilian – em seu sétimo e ultimo ano – levou o novo namorado para sua mãe conhecer. Você sentiu inveja dela, porque Lilian estava no auge de sua beleza, e o namorado dela, James, era tão lindo quanto qualquer ator que você conhecia, e porque você sempre viu o quando eles se amavam, apenas pelo modo que eles se olhavam. Sua mãe também percebeu, e se encheu de orgulho, um orgulho que nunca foi destinado a você, mesmo quando você começou a namorar com Valter. Sua mãe amava o namorado de Lilian, mas odiava o seu. E no final daquele ano, pouco antes de seu casamento com Valter, sua mãe morreu de velhice, enquanto dormia. Aquele foi o segundo desastre.

Dessa vez, Lilian só foi para casa no dia do enterro, onde ficou escondida em um canto, sozinha. Você estava perto do tumulo, abraçada com seu namorado, e por um segundo se sentiu vitoriosa, até ver James - o namorado perfeito, da menina perfeita – parado na entrada do cemitério, observando sua irmã como se quisesse estar abraçando-a. Ele a olhava de um modo que seu marido nunca te olhou.

Aquela foi a ultima vez que você a viu, e isso foi por escolha própria, porque apenas um ano depois, um convite de casamento chegou na sua casa. O casamento da sua irmã. E você a imaginou maravilhosa e feliz, usando um vestido longo e branco, mais perfeita que nunca, indo ao encontro do garoto que a amava, indo ao encontro de uma felicidade garantida. E não foi, porque preferiu que a sua ultima lembrança dela fosse a do dia do enterro da sua mãe, quando Lilian estava com uma palidez doentia, quando – pela primeira e ultima vez – seus cabelos estavam sem vidas, seus olhos vermelhos e rodeados por olheiras .

E meses depois, ela ainda te mandou uma carta, pedindo desculpas por todos os anos, e pedindo que fosse visita-la, ou que a deixasse te visitar. E junto com a carta, uma foto dela – uma foto que se mexia! – rindo com um bebê no colo. O bebê dela, Harry, de onze meses.

Você apertou a carta na mão, dividida. Você olhou para a foto dela com o coração apertado. Ela parecia tão feliz. Feliz de um modo que você nunca foi. Claro que ela estava feliz, Lilian não fora a culpada pela morte de seu pai. Não é Lilian que entende a dor de perder a mãe, sabendo que é odiada por ela. Lilian tinha os motivos para ser feliz. Novamente, a amargura tomou conta do seu coração, e você decidiu ignora-la. Quando seu marido chegou e viu a carta, ele a amaçou e jogou-a no lixo, dizendo que não queria coisas anormais em sua casa. Mas você se levantou no meio da noite e retirou a carta do lixo, limpou-a com um pano, e a alisou até ficar quase lisa novamente. Você não sabia ainda porque fez aquilo, mas fez, e pareceu certo.

E, exatamente um mês depois, outra carta chegou em sua casa, mas dessa vez ela vinha com um presente junto. A carta era de Dumbledore, e o presente era o filho de sua irmã. Naquela noite, você descobriu que sua irmã estava morta. Assassinada, junto com o marido. O terceiro desastre. Você chorou ao descobrir, mas fez isso escondida, para seu marido não te ver.

E você sofreu por dezessete anos, toda vez que olhava para Harry e via os olhos de sua irmã nele. Via os olhos vivos e corajosos de Lilian, os olhos que sempre desejou, e que nunca poderia ser seu. Mas os olhos de Lilian eram mais felizes, e você nunca realmente entendeu porque os de Harry tinha aquele brilho triste. Você o criou, lhe deu roupa – mesmo que fosse de segunda mão –, lhe eu comida, deu um quarto só para ele – não importava o detalhe de que fosse em baixo da escada e um tanto quanto minúsculo . Só agora você percebe o quanto o maltratava, e fazia isso porque ele te lembrava ela. Lembrava-te a inveja que tinha dela, e tudo que perdeu por culpa dela. E agora, somente agora, nos últimos minutos, você percebe que o tratou, quase da forma que foi tratada – quase, porque você o tratou pior. Mas Harry sempre foi melhor que você, e ele nunca invejou Duda, seu filho. Ele nunca sentiu ciúmes. Ele é tão bom quanto Lilian era.

E você perdeu Harry também. O perdeu e nunca mais o viu em todos esses anos. Ele nunca foi te procurar, e nem irá, e no seu enterro, ele irá aparecer e ficará em frente ao seu tumulo, olhando com tristeza enquanto você é enterrada. E ele só ficará em frente, perto de você, porque ele será o único que irá. Seu filho não vai ir, você sabe disso. Seu próprio filho cansou de você e te deixou sozinha em sua casa, por conta própria, e nunca mais te procurou. E seu marido também cansou de você, da velha rancorosa, e se divorciou. E a única pessoa boa o suficiente para ficar ao seu lado depois de morta é a pessoa que você mais maltratou.

Você se lembra de tudo isso agora, porque o maior arrependimento que você possui é esse. Essa inveja sem motivos. É saber que tudo teria sido diferente se você não tivesse sido tão ciumenta.

Deitada em sua cama, você olha mais uma vez para a carta da sua irmã, e se arrepende de não ter a respondido. E percebe que toda sua vida foi marcada por um único sentimento; o arrependimento. E agora é tarde de mais para mudar.


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