Caminhando em Gelo Fino escrita por Ditto


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

*voz de locutor*
NO CAPÍTULO ANTERIOR: tretas.



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Naruto tentou ouvir música, cantarolar, tentar talvez algum jogo no celular, mas distrair-se foi em vão. Pensou em mandar uma mensagem ou ligar para Sai, mas temia que a reação do amigo só piorasse as coisas. Ao menos, para seu alívio, Sasuke não tentou comunicar-se tampouco. Seu primeiro instinto era nunca mais falar com o garoto, nunca mais sequer olhar para ele, desaparecer completamente, mas isso não seria possível. Na manhã seguinte, quando chegasse para as aulas, Sasuke estaria lá, na mesma sala que ele, conversando com os mesmos colegas, frequentando os mesmos ambientes.

Depois de ponderar sobre o assunto por horas, chegou à conclusão de que a situação não poderia ficar muito pior do que estava. Decidiu que não tinha muito a perder se simplesmente voltasse atrás e inventasse uma desculpa qualquer para o que havia feito. Pelo menos, independente de Sasuke acreditar ou não, a relação deles não estaria ameaçada por um deslize tão irracional.

Acordou não muito animado, um nervosismo violento o impedia de ingerir qualquer coisa, então não se deu ao trabalho de ir ao café da manhã. Sentia-se constrangido de sequer estar em público. O blog da S não publicou nada a respeito, então não havia com o que se preocupar, mas mesmo assim tinha a sensação perturbadora de que qualquer um podia saber. Não que Sasuke contaria para os outros colegas, ele mal conversava com outras pessoas além de Suigetsu e Sakura.

Assim que chegou no prédio principal, seu estômago revirou-se completamente. Ele estava sentado nas escadas conversando com Suigetsu e sua namorada. Caminhou até ele tenso até o último fio de cabelo e respirando com dificuldade, a garota foi a primeira a notá-lo e apontou discretamente aos outros dois conforme se aproximava. Sasuke virou-se e sua expressão congelou imediatamente ao vê-lo, os outros dois tinham um sorriso estampado no rosto que denunciava sem sombra de dúvidas que estavam cientes do ocorrido. Naruto imaginou que se a garota contaria para os parentes, que nunca se preocuparam em checar como esteve por todos esses anos, e se ele mesmo se importaria de que soubessem. Parou em frente a Sasuke, evitando ao máximo sequer reconhecer a presença dos outros dois ao lado, e esforçou-se para falar com firmeza.

–Posso falar com você um minuto?

Sasuke balançou positivamente a cabeça parecendo atordoado.

–Também preciso falar com você – disse levantando-se. Os dois se distanciaram alguns metros dos outros colegas, mas Suigetsu e Karin continuavam com os olhos atentos – Olha só, sobre ontem...

–Não, me escuta, esquece o que eu disse. Você tem razão, eu me descontrolei porque tava com ciúmes da Sakura. Daí junto com todas essas coisas que têm acontecido e o Sai fica botando ideias na minha cabeça, eu acabei falando idiotice. Eu... Eu ainda gosto da Sakura, você estava certo. Esquece o que eu falei ontem.

O discurso estava tão ensaiado e pronto em sua cabeça que as palavras saíram quase automaticamente. Sasuke evitava seus olhos, parecia um tanto desnorteado.

–Tá bem... - murmurou.

Naruto respirou fundo, tentou afogar o pânico e soar calmo.

–Você queria falar alguma coisa?

–Eu... Ahn... Você esqueceu uns lápis no meu quarto.

–Ah... Pega pra mim depois?

–Pego sim.

–Tá – uns segundos de silêncio mórbido recaíram enquanto cada um contemplava fixamente algum ponto aleatório no chão – A gente se vê por aí.

Naruto virou as costas e saiu andando rapidamente em direção ao prédio, achando melhor ir sentar-se na sala de uma vez invés de aguardar o sinal do lado de fora, onde Sasuke estaria por perto. Não fazia ideia de quais eram as chances dele ter comprado a mentira, suas reações estavam longe de serem muito esclarecedoras. Sai já estava na sala, o estudou conforme caminhava até sua cadeira e sentava-se absorto.

–Posso perguntar a razão pra essa cara de enterro?

Ergueu os olhos para o amigo e soltou um suspiro pesaroso.

–Eu fiz uma coisa idiota ontem.

–Continue.

–Eu meio que gritei na cara do Sasuke que eu... Bem...

–Ah. – Sai ergueu as sobrancelhas e inclinou a cabeça – Muito bem, e então?

–Então eu sai correndo.

–Genial. E então?

–Então eu acabei de falar pra ele esquecer o que eu disse, que eu me descontrolei porque ele tava falando de namorar a Sakura de novo e eu fiquei com ciúmes.

–Meu deus, você é um idiota.

–Obrigado.

–E ele?

–Não sei, acho que ele tava meio perdido... Pra falar a verdade, eu não tava conseguindo prestar muita atenção, tava tremendo dos pés à cabeça.

Sai suspirou, coçou o queixo e ponderou por um momento.

–Só isso?

–Só.

–E como vocês estão agora?

–Não faço ideia. Espero que não mude nada entre a gente.

Sai virou os olhos pensativo, acenou com a cabeça e virou-se para frente. Naruto pestanejou.

–Só isso? - questionou incrédulo – Não vai me dar nem uma bronca, um conselho, nada?

–Não – respondeu o garoto virando-se para ele novamente com seu típico sorriso – Já interferi demais na sua vida, estou lavando as minhas mãos.

Aquilo o deixou bastante confuso. Não fazia ideia do que devia entender por aquela declaração, se era algo bom ou ruim, mas Sai provavelmente não falaria mais no assunto.

Mais tarde, quando deixava a biblioteca, cruzou com Sasuke no corredor. Os dois vinham andando rapidamente e distraídos, quase colidiram. Naruto sentiu o coração disparar ao encontrar os olhos do outro, deu um passo para trás evitando ficar próximo demais daquele rosto com o qual vinha sonhando constantemente por dias.

–Naruto... Oi... – murmurou Sasuke parecendo não muito menos constrangido.

–Oi...

–Eu... Ah é, suas coisas – ele puxou a bolsa e revirou-a por um instante, puxando de dentro dois lápis e uma borracha e entregando-os ao garoto – Eu peguei agora há pouco.

–Ah, valeu – Naruto pegou os pertences e segurou-os colados ao peito, completamente estático.

–Tá... - Sasuke mordeu os lábios e desviou o olhar – Falou, até mais.

–Até mais.

Ambos seguiram sem mais falar ou trocarem olhares. Envergonhado pelo frustrante diálogo – ou falta de – e do óbvio constrangimento que os dois sentiram naquele curto encontro, não pôde evitar de sair pensando que Sasuke não devia ter acreditado nem um pouco no que lhe dissera de manhã e no quanto aquilo afetaria a relação deles daquele momento em diante.

Para a sua frustração, quase todos os diálogos com Sasuke pelos corredores ao longo de quase três semanas que se seguiram não foram muito além daquilo. Estava começando a ficar severamente abatido pelo distanciamento. As poucas vezes em que conversaram mais, Sasuke parecia estar sempre evitando seus olhos. Sakura relatou chateada que ele vinha se distanciando dela também.

–Mas ele me fez uma pergunta estranha ontem – disse-lhe a garota durante o almoço.

–Estranha como?

–Perguntou se eu achava que você ainda gosta de mim.

Naruto sentiu um imediato mal estar.

–E você respondeu o quê? - perguntou tenso.

–Que não – ela falou despreocupadamente – Eu não sinto que você ainda goste de mim do mesmo jeito, acho que nós somos muitíssimo amigos, mas nada além disso e estamos nos dando muito bem assim.

Ela sorriu contente, procurando demonstrar o apreço que sentia. Naruto forçou-se a retribuir o sorriso, apesar da súbita vontade que teve de gritar para a garota sobre o quanto ela havia simplesmente arruinado sua mentira, que já era frágil por si só. Não teve que lidar com o nó na garganta por muito tempo, para sua sorte, pois logo o sinal tocou e eles voltaram para suas classes.

Naquela mesma tarde, após o término das aulas Naruto foi pegar alguma coisa para comer antes de ir à biblioteca estudar. Na semana seguinte entrariam novamente em período de provas, então a ansiedade já começava a despontar em seu estômago. Certamente estava mais preparado para fazer as avaliações do que jamais estivera, mas no trimestre anterior sua preparação não valeu de muita coisa quando, logo no primeiro dia, o incidente do beijo arruinou completamente sua autoconfiança e concentração para o resto da semana e seguiu arrastando-o para baixo por um tortuoso tempo.

Quando voltava para o prédio principal, a caminho da biblioteca, Naruto avistou Sasuke ao longe, adentrando no vão entre o prédio e o complexo esportivo onde haviam sentado para conversar pela primeira vez naquele ano. Hesitou por um instante, uma voz insistente em sua cabeça dava-lhe uma bronca por sequer cogitar demorar-se a ir estudar biologia, mas o incômodo que passar reto lhe causaria era esmagadoramente maior do que qualquer senso de responsabilidade. Enfiou na boca o restante do sanduíche que vinha comendo e engoliu quase sem mastigar enquanto apressava-se atrás do garoto.

–O que você vem fazer nesse buraco? - Sasuke teve um sobressalto com sua voz e virou-se para ele franzindo as sobrancelhas – Além de fumar escondido, é claro, mas olha esse lugar! Só tem lixo aqui!

–Eu gosto de ficar sozinho – respondeu-lhe com o cigarro no canto da boca – e não gosto de ficar só trancado no meu quarto que nem um presidiário.

Os dois pararam por um segundo, apenas encarando-se num silêncio incômodo. Sasuke fechou os olhos e sacudiu a cabeça de leve, sentando-se em uma das caixas junto à parede. Ele não parecia muito disposto a conversar, tragava e soltava a fumaça lentamente enquanto mirava ao longe, ignorando a presença do outro. Naruto ajeitou uma caixa ao lado dele e sentou-se virado para o amigo com o olhar carregado de apreensão.

–Você tá me evitando?

–Não – respondeu com secura, ainda sem o encarar.

–Ainda é por causa daquilo que eu falei? Porque se for, eu já falei que foi viagem minha, eu realmente gosto...

–Da Sakura, eu sei.

–Ela nem se toca, sabe, mas ainda assim eu gosto dela desde...

–Ai meu deus, para de falar nessa menina.

Naruto franziu o cenho.

–Pensei que você tivesse mudado de ideia sobre ela.

–Mudei de novo.

Ele se recusava a olhar em sua direção, Naruto cerrou os punhos apreensivo.

–Tá tudo bem, mesmo? Você tem andado tão distante...

–Já falei que não tô te evitando! - exclamou virando para ele irritado.

–Então por que você tá sendo tão grosso comigo? - retrucou Naruto num misto de mágoa e raiva - Que droga, eu só não queria perder você de novo!

Sasuke abriu a boca para falar alguma coisa, mas tornou a fechar. Olhou para o outro lado exasperado e respirou fundo.

–Desculpa – disse finalmente, voltando para o outro com um olhar chateado, Naruto quase desacreditou nos próprios ouvidos. Não era natural ouvir aquela palavra na voz do garoto – Você não fez nada de errado, eu que sou problemático.

O loiro não soube ao certo como reagir, desviou o olhar e coçou o nariz, o nervosismo costumeiro que sentia ao lado do outro intensificou-se consideravelmente.

–Tem... Alguma coisa acontecendo?

–Tem mil coisas acontecendo – respondeu Sasuke mirando o chão e tragando o cigarro.

–E você não vai me contar nenhuma delas, vai?

–Não.

Naruto virou os olhos frustrado e suspirou, voltando o olhar para o próprio colo, onde passou a puxar a barra do suéter do uniforme.

–Aquele dia você disse... Você tá gostando de alguém, né?

Sentiu uma pontada no coração ao perguntar-lhe aquilo. Sabia a resposta, desde a noite em que brigaram, as declarações de Sasuke sobre seu suposto romance não correspondido vinham assombrando-o sem piedade, o que apenas o fazia se sentir mais patético por ter confessado aos berros seus sentimentos para o rapaz justo naquele momento. Sakura tinha razão, ele devia estar encontrando-se com alguém quando escapava da escola e, provavelmente, o casal havia se desentendido. Aquilo explicava tudo.

Sasuke não respondeu. Continuou com a atenção voltada para o chão e deu uma longa tragada em seu cigarro. Naruto quase engasgou-se com a fumaça, mas não reclamou, apenas afastou-a com as mãos, fazendo uma careta silenciosa.

–Se você quiser conversar sobre isso... - ofereceu-se com o olhar hesitante, voltando a beliscar o suéter.

–Não – o loiro respirou aliviado, não realmente queria ouvir as queixas do garoto sobre o amor que ele tinha por outra pessoa, apesar da pontinha mórbida de curiosidade e ciúmes que tinha no peito.

–É alguém que eu conheço?

–Já disse que não quero falar sobre isso.

–Tá certo, desculpa. Eu só fico meio preocupado de ver você vagando sozinho pelos cantos, assim, se escondendo com as latas de lixo. Você precisa se divertir um pouco, comer um doce, algo assim... Se tiver qualquer coisa que eu possa fazer pra ajudar...

Sasuke lançou-lhe um olhar legitimamente intrigado.

–Por que você tem que ser tão legal?

Naruto encolheu os ombros, um leve rubor tingiu suas bochechas.

–Você é meu melhor amigo.

–Por que eu?

Ele deu de ombros novamente, inclinando a cabeça. Não fazia ideia de como responder àquela pergunta sem soar ridiculamente apaixonado, já que faltava de qualquer motivo racional para apreciar tanto sua amizade. A companhia de Sasuke simplesmente fazia-o feliz e, apesar de fazê-lo inseguro pelo garoto, ao mesmo tempo também fazia-o seguro de todo o resto do mundo. Não sabia ao certo como explicar o sentimento que tinha ao seu lado, mas sentia que dividia com Sasuke uma enorme cumplicidade e aquilo de alguma forma dava-lhe uma força extraordinária.

–Você sempre foi – murmurou.

Sasuke apagou o cigarro e deu-lhe um sorriso contido, balançando a cabeça devagar. Não pôde evitar de sorrir em retorno, era tão raro ver em seu rosto um sorriso genuíno, livre de cinismos e malícia, e em conjunto com aquele olhar de sincero carinho e gratidão, exaltavam sua beleza de uma forma que não cabia em palavras. Naruto sentia tanto amor de simplesmente olhar para ele que o sentimento parecia preenchê-lo por completo.

Desviando os olhos para o chão, Sasuke umedeceu os lábios e suspirou pesarosamente. Levantou-se em seguida, ajeitando a roupa.

–Vai fazer o que agora? - ele perguntou.

–Estudar.

–Ah é, quarta-feira.

–É... - Naruto pôs-se de pé também – Você também devia estar estudando, as provas começam semana que vem.

–Eu sei. Vamos, eu vou com você até a biblioteca – ofereceu-se abrindo a porta dos fundos que levava ao bloco principal. Naruto o seguiu pelo caminho alternativo e foram até a biblioteca onde Sai, imaginou, devia estar impacientemente esperando-o, furioso pela demora injustificável. Não o encontraram lá, no entanto. Seu material estava em uma das mesas, mas não havia sinal do garoto por perto. Naruto decidiu perguntar para Hinata, que, para sua frustração, estudava junto a Kiba na mesa ao lado.

–Ei, Hinata – cumprimentou-a com um sorriso, a garota ergueu os olhos, corando rapidamente – Você viu aonde o Sai foi?

–Não, desculpa – ela murmurou baixinho e virou-se para o outro amigo – Você viu quando ele saiu?

Kiba, com a expressão dura, estava ignorando completamente a presença de Naruto.

–Vi quem? Tá falando sozinha? - disse com rispidez para a garota, fazendo-a enrubescer ainda mais.

–K-Kiba! - ela olhou de um rapaz ao outro desnorteadamente. Naruto franziu o cenho, irritando-se ao ver a garota constrangida com a situação, e puxou uma cadeira, sentando-se de frente para o colega.

–Olha aqui, quer saber de uma coisa? Você é um idiota – disse-lhe impaciente, Kiba finalmente o encarou – A gente estuda junto desde que se conhece por gente, nós somos amigos há anos e anos, eu já dormi na sua casa, como você mesmo disse. Você sabe muito bem quem eu sou, eu nunca mudei e nunca vou mudar, então se quiser ser meu amigo, ótimo. Se não quiser, ótimo também, só para de ser um imbecil por causa disso. Além do mais, não tem porque você se preocupar se alguém é hétero ou não, se nenhuma menina liga pra você, um cara gay ia ligar muito menos!

Hinata arregalou os olhos petrificada em sua cadeira, Sasuke sufocou uma risada.

–Calma lá, não precisa me ofender! - exclamou Kiba erguendo as mãos defensivamente.

–Uma ova! Você que me xingou e parou de falar comigo sem mais nem menos! E ainda por cima sendo grosso assim com a Hinata que não tem nada a ver com isso!

–Tá bom! Foi mal! - ele rolou os olhos – Você quer saber o quê? Aonde foi o seu amigo?Ele tá aí atrás!

Os outros viraram-se para a direção em que Kiba apontou, onde Sai estava parado em pé há poucos passos, observando a comoção impassível como era de costume. O sorriso de Sasuke desapareceu instantaneamente. Sai, vendo que a atenção da cena voltara-se para si, moveu-se até a mesa onde estavam seus materiais e sentou-se.

–O que foi?

–Eu estava esperando você – respondeu Naruto levantando-se com um sorriso.

–Bom, eu já vou indo – disse Sasuke desgostoso, dando as costas aos outros.

–Até mais – Naruto esperou o garoto deixar a biblioteca, observando-o se afastar antes de sentar-se à mesa com Sai.

–Estou vendo que você teve uma ótima razão pra demorar tanto – falou Sai sem emoção enquanto abria o caderno.

–Acho que as coisas voltaram ao normal entre a gente.

–Então suponho que você não tenha motivo pra não se concentrar.

Sai empurrou a apostila em sua direção, pouco interessado em dialogar sobre a amizade “pouco saudável”, como ele mesmo havia descrito poucos dias antes, que o garoto se esforçava para manter com Sasuke.

Naruto não se importava muito com a opinião dele. Não esperava que outra pessoa no mundo compreendesse a ligação que os dois tinham, já que mal sabia explicar para si mesmo. A única coisa que tinha certeza era que, mesmo que Sai achasse a relação prejudicial, nada no mundo lhe fazia tão bem quanto a companhia de Sasuke. O sorriso que ele havia lançado-lhe pouco antes ainda pairava com clareza em sua memória, perpetuando o sentimento de êxtase. Ocorreu-lhe que não se importaria se nunca ficassem juntos, contanto que jamais estivessem separados.

–Ei, Naruto – ele virou-se para Kiba. O garoto tinha um olhar relutante e respirou fundo com certo constrangimento – Desculpa.

Hinata lhe lançou um sorriso tímido acompanhado de uma piscadela. Naruto abriu um sorriso caloroso para os dois e acenou ao amigo com a cabeça. Kiba não era uma má pessoa, ele sabia, apenas demasiado teimoso, mas jamais teria a intenção de realmente ofender ou machucá-lo. Mesmo sendo um pedido tão contido, Naruto o perdoou com enorme alegria.

As coisas pareciam estar finalmente se encaixando, voltando, aos poucos, a serem do jeito que deviam. Naruto voltava do jantar conversando alegremente com Sai quando encontrou com Sakura. Parecia transtornada, quase não o percebeu chamando-a quando cruzou com os garotos no pátio. Ele a puxou de leve pelo braço, fazendo-a encará-lo.

–Sakura, tá tudo bem? - perguntou-lhe com preocupação.

A garota o olhou assustada por um segundo e em seguida se atirou em seus braços com um soluço desolado.

–Não! - disse numa voz esganiçada.

Naruto alarmou-se imediatamente. A amiga não era de fazer drama sem motivo, não raro estava consolando os amigos e ajudando-os a recuperar a calma em momentos de crise. Sabia manter a frieza em quase qualquer situação. Naruto, por outro lado, era do tipo que desesperava-se junto com facilidade. Ele a abraçou com força, já sentindo o coração afligir-se.

–Assim eu morro de preocupação! Me conta o que aconteceu!

Sai os separou com calma, secou a face da menina delicadamente e a segurou pelos ombros, olhando com firmeza em seus olhos.

–Respira fundo – disse-lhe devagar. Ela obedeceu – Isso, muito bem. Vamos nos sentar pra lá, aí você explica o que houve.

O garoto a guiou para um banco de pedra um tanto escondido entre um par de árvores. Sentaram-se os três, Sakura no meio, e Naruto tomou as mãos da amiga com zelo, o outro passou a mão protetivamente em suas costas.

–Pronto, – falou Sai – agora conta o problema.

–Ele me odeia – choramingou Sakura desolada – Não sei o que eu fiz de errado.

–Sasuke? - murmurou Naruto sentindo um ligeiro desconforto surgir em seu estômago.

–É, eu fui falar com ele... - contava a menina voltando a soluçar – Eu nem tive tempo de dizer nada... Ele tava sendo super grosso comigo e aí... Aí eu perguntei se tinha alguma coisa de errado e ele falou “Você. Você é muito irritante”.

Sakura desatou a chorar. Sai passou o braço por seus ombros e a trouxe para perto, abraçando-a. Seu semblante era de completa frieza, ele não lançou um olhar sequer a Naruto. O loiro soltou as mãos da amiga e cerrou os punhos sobre o próprio colo. Apesar de saber que não havia reais motivos para isso, sentia-se mortalmente culpado pelo sofrimento da amiga. Sendo contrário à relação entre ela e Sasuke desde que soube pela primeira vez do interesse da menina pelo outro e, durante as últimas semanas, desejando possessivamente que a afeição do rapaz se voltasse para ele, teve a sensação de que aquilo estava acontecendo com Sakura apenas porque ele não queria que o rapaz gostasse dela.

Naruto manteve-se silencioso em seu tortuoso redemoinho de culpa enquanto Sai foi conversando com a menina até que recuperasse a calma. Eles a guiaram até o dormitório feminino e foram para os próprios quartos em seguida.

–Ele é um babaca – disse-lhe Sai, invés de um “boa noite” apropriado – e você sabe disso.

Não respondeu. Apenas o olhou com amargura e fechou-se em seu quarto. Sentia-se frustrado, seu dia havia decorrido harmoniosamente bem apenas para se finalizar com mais alguma crise. Tinha a ligeira impressão de que jamais conseguiria ter um dia feliz de verdade novamente, e que estava fadado a ficar preso entre a tragédia e o mediano para o resto de sua vida.

Com um pesaroso suspiro, Naruto preparou-se para deitar e meteu-se debaixo das cobertas, lembrando-se do sorriso de Sasuke com uma pontada no coração.

–Não, ele não é – murmurou para o travesseiro antes de dormir.


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Notas finais do capítulo

GENTE. ATENTION PLEASE.
Primeiramente, olá, amo vocês :3
Então, lymdos, eu sei, vocês tavam esperando xablau nesse cap e o xablau não veio. Mas tem um ótimo motivo pra isso. Ótimo. Juro. É o seguinte, eu planejei muito tudo o que ia acontecer e como a história ia descorrer, até pra não travar no meio sem saber o que escrever, sabe, e eu tentei ao máximo fugir dos clichês mais óbvios, então quem tava esperando algo do tipo Sasuke correndo atrás dele na chuva, choradeira e beijo... Nope. Mas esse capítulo não teve muito porque as coisas aconteceram do jeito que tinha que acontecer pros próximos capítulos funcionarem.
Bom, mas não era dos lápis que o Naruto esqueceu no chão que o Sasuke queria falar de manhã, só digo isso c:
ENFIM, como esse capítulo foi mais levinho e eu sei que vocês tavam esperando um oceano de feels, eu conversei com meus betas e decidi postar o próximo capítulo mais cedo, portanto, fiquem atentos! E FIQUEM PREPARADOS, PQ O PRÓXIMO CAPÍTULO É O MEU F-A-V-O-R-I-T-O. Sério.
Anyways, COMENTEM MESMO ASSIM, porque eu sou um monstrinho que se alimenta de atenção, uma florzinha que só cresce se me der amor. ME DEEM AMOR ;3;/
Achei que devia falar isso, né, pq como eu só posto um capítulo por vez, vcs vão ficar aí na vontade e tal sdkjfhsdlkjfh aí to me justificando. A história tem mais graça em sequencia.
Mas eu gosto desse capítulo mesmo assim, acho gracinha os momentinhos SN aqui dskjfhdsfksd miau. E vcs? Gostaram? Odiaram? ME DIZ!
*eu falo pra caralho*