E lá estávamos nós outra vez, naquela mesma situação que vinha sendo repetida constantemente, nós nos destruíamos aos poucos e eu não fazia idéia do por que teimávamos em insistir em algo que não dava mais certo, a única coisa que conseguíamos era nos machucar ainda mais, não havia só um culpado, nos dois tínhamos culpa no cartório, a verdade era que nós tínhamos um relacionamento tumultuado demais, desde o inicio, nós só experimentamos a bagunça e a confusão, éramos intenso e extremos em tudo, nós apenas sentíamos e agiamos e não pensávamos ou analisávamos nosso atos, os erros constantes, as gritarias e as agressões sempre foram presente na nossa turbulência, e por mais que tentássemos nos afastar, procurar alguém mais saudável, nós sempre voltávamos ao ponto de partida, sempre corríamos para os braços um do outro, nos desejando, nos amando como se não houvesse amanhã. Eramos um ciclo vicioso, um amontoado de erros e problemas uma constante inconstância, nós nem fazíamos sentido.
Ella olhava para mim, sentada no carpete desgastado do meu apartamento, os lábios inchados e hematomas roxos espalhados pelo corpo semi-nu, eu sabia que ela estava tão cansada quanto eu de todo aquele relacionamente auto-destrutivo e abusador que mantínhamos, os olhos cheios de lagrimas e raiva, se mesclando com os ombros caídos de cansaço, deitado na cama a unica coisa que eu podia fazer era observa-la, cada parte de seu corpo manchado, pintado por cores não saudáveis de roxo e amarelo em machucados mais antigos, eu a amava, Juro por Deus que amava, e sabia que o sentimento era recíproco, mas nós não nos fazíamos bem. O nosso amor não era do tipo bom, saudável. Estava mais pro do tipo que queima como uma chama acesa, passando calor e intensidade, para depois machucar e incendiar de uma forma ruim, aquela noite havíamos brigado novamente, Ella como uma ciumenta obsessiva não gostara nada quando uma mulher chegou em mim no balcão do bar em que estávamos, fez uma cena enorme que acabou em confusão depois dela ter batido na moça e quebrado uma garrafa na minha cabeça, o dono do bar não ficou nada contente, nos enxotou de lá com o aviso de nunca mais aparecermos, eu estava com raiva, com muita raiva, minha mulher era impossível e impulsiva, minha cabeça doía e a única coisa que eu podia pensar era em tomar Ella com força e depois marca-la em cada pedaço do corpo. Chegando no apartamento, mais uma vez brigamos, berramos um contra o outro, nos batemos e de um soco ao outro, de um tapa, um arranhão ou um puxão de cabelo, acabamos na cama nos amando de novo, como se não houvesse amanhã, como se o mundo fosse acabar, com raiva, desejo e paixão, nós não éramos saudáveis e um dia acabaríamos por matar um ao outro.
- Sai do chão, Ella
- Você não manda em mim, Anthony.
Maldita mulher, custava me obedecer de vez em quando, mas não, ela sempre tinha de retrucar, mostrar que estava por cima, e na verdade, sempre foi isso que me prendia á sua teia.
- Então fique na porra do chão como uma cadela.
- Foda-se Tony!
Ela se levantou deixando o lençol que cobria seu corpo escorregar e chegar ao chão, deu as costas para mim, rebolando o quadril nu, atiçando-me mais uma vez, respirei fundo quando ela saiu do quarto e mirei o teto, eu realmente não sabia por quanto tempo poderia agüentar isso, essa brincadeira de gato e rato, essas brigas sem razão, não culpo Ella, sou tão maldito quanto minha esposa, sou tão ciumento e possessivo quanto ela, sou violento, bebo muito e a bato toda vez que ela perde o controle e parte para cima de mim, nunca fui flor que se cheire, mas eu amo, por Deus, como amo, tenho medo dela perceber que consegue um bosta melhor do que eu e me deixar, não agüentar mais a situação e partir pra alguém que a trate melhor, que saiba administrar seu ciúmes possessivo e que controle suas crises ao invés de piora-las.
- Até quando isso vai durar, Anthony? Até quando vamos nos destruir, meu amor? – Ella se deitou na nossa cama, depositando a cabeça no meu peito e a mão pequena e macia logo ao lado, senti as lagrimas que escorriam de seu rosto em meu tórax.
- Não sei, Ella, mas você tem de ficar aqui, entendeu? Pois somos só nós dois para sempre, baby, mesmo com as nossas merdas, mesmo com as nossas surras, ainda somos eu e você contra todos. – ela suspirou alto, nós dois estávamos cansado, mas nenhum de nós queríamos dar o braço a torcer.
-Nós somos um fracasso, você não entende Anthony? Somos infantis demais, impulsivos demais e covardes demais, eu quero paz Tony, eu to cansada das nossas merdas, to cansada disso tudo.
- E o que? Vai desistir? Vai virar as costas pra mim, passar por aquela porta e nunca mais voltar? Voce sabe que não vai Ella, você sabe que de um jeito ou de outro nos sempre vamos acabar aqui, Baby – ela levantou a cabeça do meu peito e apoiou o queixo, os olhos úmidos colados em meu rosto – por que no fim, mesmo com todas as merdas, nós somos dois filhos da puta masoquistas, Ell, e nós vamos continuar nos machucando, nos ferindo e nos cortando, pois se não tivéssemos isso amor, não seriamos feliz e essa porra toda, faria menos sentido do que já faz.
Ela suspirou, se moveu, deitando ao meu lado, encarando o mesmo ponto fixo que encarava no teto. E depois de alguns minutos senti sua respiração tornar-se lenta, ela havia adormecido ao meu lado outra vez.
E mais uma vez nós não fazíamos nada para mudar a situação mais uma vez nos compartilhávamos a cama com o sentimentos confusos e inebriados pela raiva, mais uma vez não nos movíamos para criar algo saudável, por que no fim, nos sabíamos que nós éramos nossa própria destruição e estávamos ciente que passaríamos o resto de nossas vidas no nosso inferno particular, mas juntos. Sempre juntos.