– E pra fechar a matéria de hoje fica como dever de casa a página 312. E também uma redação sobre o amor. Três páginas. Quero título, parágrafos, enredo e conclusão. Vocês tem três meses. Sim Hayley?

–Três meses de 30 dias ou 31? - Ela perguntou como se um dia a mais ou a menos fizesse diferença.

–Três meses de 30 dias, Hayley. - A professora revirou os olhos.

O sinal bateu e todo mundo se levantou. Esperei que todos saíssem para que eu pudesse falar a sós com Sra Annis.

– Sra Annis. - Fui até a mesa dela.

–Sim? - Ela levantou o olhar. - Luke? Assumo que estou impressionada. Você quase não questiona nada.

Dei uma risada sem graça.

– Eu só queria avisar que eu não vou fazer esse trabalho, ta?

– Você não tem escolha, Luke. Sua nota está baixíssima e você nem quer tentar aumentá-la?

– Quero, mas não fazendo um trabalho sobre algo que eu não sei.

– Amor? O que você sente pelos seus pais, pelos seus amigos, isso é amor. Não é só a atração que você sente por uma garota. Entende? - Ela recolheu os livros que estavam na mesa dela.

– Mas o amor que sinto por eles não é descritível.

Ela sorriu e chegou mais perto de mim.

– Você tem três meses para achar um amor descritível.

O pior de tudo é que o trabalho tinha de ser feito, do contrário minha nota ficaria muito baixa. E não posso me dar ao luxo.

Desci o prédio de Inglês e caminhei até o RDEM, o Restaurante Do Ensino Médio que, à propósito, tem um nome ridículo. O RDEM esta sempre cheio e hoje não foi diferente. Fiz o meu prato e procurei uma mesa. Mas procurar uma mesa nesse restaurante é o mesmo que procurar um agulha no palheiro. Já tinha me convencido de que não encontraria quando avistei uma lá no fundo, perto da janela e longe do ar-condicionado. Uma menina estava sentada em uma das cadeiras, mas não parecia estar usando a mesa já que lia um livro. Me aproximei e a chamei.

– Com licença, posso me sentar aqui? - Puxei a cadeira.

Quando ela abaixou o livro pra me responder, percebi que era Emma, uma antiga amiga minha que também era minha vizinha, mas ela se mudou e perdemos o contato.

– Luke? - Ela, pelo jeito, também me reconheceu.

– Emma. - Ela se levantou e nos abraçamos. - Quanto tempo!

– Com certeza. Eu me mudei pra cá de novo agora que minha avó faleceu. Hoje é meu primeiro dia de aula aqui. - Ela explicou.

– Primeiro dia de aula e já conseguiu um lugar no RDEM? Sortuda! - Brinquei e me sentei ao lado dela.

Começos a conversar sobre tudo o que aconteceu depois dela ter saído da cidade. Ela me disse que tinha pintado o cabelo e depois o raspou com 13 anos. Disse também que namorou um menino que tinha nome de menina e que o relacionamento deles não durou nem duas semanas. Eu ri muito com as piadas que ela fez, tinha me esquecido desse lado bem humorado da Emma.

Contei à ela que minha mãe engravidou e que agora eu tenho uma irmã de dois anos que se chama Anna.

Depois de um tempo conversando, Emma disse que hoje à noite iria em uma festa e perguntou se eu queria ir junto, eu aceitei.

– Eu te busco em casa. - Falei.

– Acho melhor nos encontramos lá. - Ela sorriu.

– Por mim, tudo bem. - Dei de ombros.

– Me passa seu número que eu te passo tudo detalhado. - Ela me entregou um papel e eu anotei meu número. Ela jogou a bolsa no ombro esquerdo, se despediu e foi pra aula.

Peguei minha bolsa e fui para a aula de Desenhos Geométricos. Meu celular apitou com uma mensagem. Desbloqueei o telefone e vi na tela "Doffle Street 1874. Esquina com a rua Icon St. - Casa Azul. Às 20h00".

(...)

Quando entrei na rua me deparei com uma enorme casa de três andares muito bem iluminados. Algumas pessoas estavam do lado de fora e conversavam enquanto bebiam. Na entrada da casa, tropecei em uma menina que estava sentada nos degraus da entrada, mas ela não pareceu se incomodar. Lá dentro a música estava muito alta e meu coração parecia bater no ritmo. Fui até a mesa de bebidas e peguei uma cerveja, quando me virei vi Emma sorrindo. Ela estava linda. Seu cabelo loiro estava preso em rabo de cavalo e estava amarrado com um pequeno laço preto. Ela usava um vestido que era colado em seu corpo e marcava todas suas curvas. O decote deixava à mostra a curva de seus seios, mas tampava o colo. Seu salto era enorme e da mesma cor que o vestido.

– Você esta tão bonitinho. - Ela me abraçou.

– Você também está linda. - Elogiei e ela bebeu um gole da minha cerveja.

– Vamos dançar?

Levantei e fui com ela até a pista de dança, estava tocando música eletrônica então apenas segui o ritmo. Quando deu 02h10 da manhã, fui até Emma.

– Vamos?

– Se quiser pode ir, eu vou ficar aqui mais um pouco. - Ela virou o copo que estava na mão dela.

– Então eu te espero...

– Não, amor, o "mais um pouco" vai ser mais de uma hora. - Ela deu um beijo na minha testa e sumiu entre as pessoas.

Saí da casa e andei pela rua desnorteado. Eu não poderia voltar para casa e falar pra minha mãe que fui em uma festa. Eu tinha que dormir na casa de alguém, mas quem? Pensei em Judy, meu amigo, mas ele já deveria estar no sétimo sono. Eu teria que ficar na rua até amanhecer.

Quando virei na esquina da rua entrei em um bar. O cheiro da bebida entrou pelas minhas narinas. Fui ao balcão e pedi uma bebida. Quando o garçom pôs o copo com 51 na minha frente, eu virei de uma vez. A bebida desceu rasgando a minha garganta e algo quente percorreu todo o meu corpo.

O JukeBox fez um som estranho e logo começou a tocar uma música, mas que logo foi mudada para uma que eu conhecia, mas que era muito antiga. O nome era Dream Lover do cantor Bobby Darin. Olhei em direção ao aparelho e vi uma menina usando um suéter, calça moletom e botas UGG. Ela prendeu o cabelo em rabo de cavalo.