Seu nome era Travis Stoll escrita por Desdêmona


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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A garota sorriu novamente para seu prato. Cruzou os talheres e mais uma vez suspirou. Não conseguiria comer nada naquele dia.

Entortou seus lábios e lançou mais um olhar melancólico para o livro sobre a mesa, cujo nome ela não tivera tempo de olhar. Ela simplesmente havia parado uma das humildes senhoras da livraria abandonada do shopping e lhe perguntado qual livro ela recomendaria para momentos solitários. A senhora idosa sorrira docemente, e havia entregado um livro de capa verde grama nas mãos da garota. “Eu já o li” disse-lhe. “É o quê todo mundo procura.”

O sino da porta tilintou, anunciando a chegada de alguém no café. Ao levantar os olhos para olhar o recém-chegado, Katie arrependeu-se. Abaixou a cabeça. Ela vestia um moletom verde, com a imagem de uma barra de chocolate estampada, calça jeans e tênis velho. Os cabelos castanhos bem claros estavam presos num leve coque, que se mantinha íntegro apenas por um lápis 2b, já bastante desgastado. Enquanto ele, alto, era mil vezes mais despojado. Usava calças jeans um pouco desgastadas, uma camiseta azul, e uma jaqueta também jeans por cima dela. Katie achou estranho ele estar usando tênis de corrida, já que duvidava que Travis corresse alguns quilômetros por dia.

Ele se aproximou. Cutucou os ombros dela, devagar.

— Ahn... Eu posso sentar aqui? — indagou já se sentando na cadeira na frente dela.

Ela assentiu, bem de leve.

Enquanto uma atendente atraente se aproximava dele para perguntar o quê desejava, ela baixou o olhar para o livro e ouviu as palavras da doce mulher em sua mente. Pegou-o e abriu.

Enquanto corria os olhos pelas primeiras letras, Katie ouviu uma voz a chamá-la. Ele estava perguntando se ela queria um café. Ela negou. A garota ergueu o olhar para ele por alguns segundos, o examinando. Ela nunca descobrira se os cabelos dele eram loiros ou castanhos. Os olhos azuis beirando o verde a olhavam com curiosidade, até ele a notar espiando. Quando os dois olhares se encontraram, ele sorriu convencidamente, como se perguntasse se ela finalmente havia notado sua beleza. Katie tentou esconder um sorriso diante do rubor idiota nas bochechas dele. Olhou discretamente para seu relógio de pulso, e olhou pela janela. O sol estava e pondo, e ela tinha que voltar. Levantou o olhar para o garoto, e pediu que a desculpasse, mais tinha que ir. Levantou-se, com o livro em mãos. “Espera, não vai!” ele disse num impulso. Ela sorriu, e olhou mais uma vez pra ele. O rubor não estava mais lá.

Katie lembrou-se do incidente do dia anterior; A maneira como ele a havia humilhado perante todos os amigos, rindo da pegadinha realizada, e então o comparou mentalmente com o garoto á sua frente, igualmente convencido, mas suavemente envergonhado ao mesmo tempo.

Lembrou-se do conselho de Silena “qualquer um pode esconder segredos, mas os sentimentos sempre estão visíveis para um bom observador.”. A castanha achara estranho que aquela frase lhe fora endereçada, já que havia muitas outras amigas (dela, claro) iludidas pelo amor, que, com absoluta certeza, precisavam de frases como aquela.

Um pouco desconcertada, ela sentou-se novamente, e aceitou o café de outrora. Travis passou a mão pelo cabelo encaracolado e estalou os dedos, pedindo que a garçonete viesse. A moça pediu alguns segundos. Travis desviou o olhar do balcão e voltou o mesmo para Katie. Mordeu a parte interna da bochecha, parecendo não saber o quê dizer.

— Ahn, Katie... Eu queria pedir desculpas. — Stoll batucou os dedos na mesa. A hiperatividade falando mais alto. — sabe, por ontem. Foi pra isso que eu vim. Sua parceira na aula de química, a tal Reyna, disse que você estava um pouco abalada. Parece que você estava fazendo as misturas dela explodirem.

A garota franziu a sobrancelha.

— Eu não costumo guardar mágoa. – assegurou, mesmo sendo totalmente o contrário. — E eu não fiz as misturas da Reyna explodirem. Ela não mencionou, por acaso, que é péssima em química?

— Não — Travis sorriu, balançando a cabeça, fazendo os cachos (que Katie concluiu serem realmente castanhos) farfalharam como folhas. Fez uma pequena pausa. — sabe, eu queria ser um pouco mais como você. Sou um pouco rancoroso de mais, acho. Você é realmente perfeitinha, Gardner.

— Perfeitinha? — ela revirou os olhos. — tem certeza que está falando de mim?

— Nah, você tem razão. O único perfeitinho aqui sou eu — afirmou, erguendo os braços como se glorificasse a si mesmo.

— Ah, sim. Claro. Parabéns, Stoll. Você é o único perfeito na terra.

— Com certeza — concordou. — Travis Stoll é o novo Jesus Cristo.

Katie revirou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso.

— Você é legal, Katie — ela ouviu alguém sussurrar. Recusou-se a acreditar que era Travis que tinha falado. — mais do quê parece, na verdade.

— Obrigado – respondeu, depois de um silêncio um pouco constrangedor. — você é nada mau. Só precisa ser menos... Você.

— Ainda estou trabalhando em ser menos maravilhoso, obrigado — ele sorriu.

Os dois conversaram durante algum tempo, o suficiente para se conhecerem o bastante um do outro. Sempre se encaram como inimigos. Ele fazia pegadinhas com ela, Katie ignorava. O garoto, na realidade, nunca procurara a conhecer. A julgava sem humor, já que ela era a única da escola que não ria de suas brincadeiras.

Mais ali, a sós, ele notou que não era bem assim.

Katie sorria uma vez ou outra com coisas convencidas ou palavras idiotas que Travis errava de propósito. Mas, na maioria das vezes, apenas o encarava com uma expressão debochada.

— Então? — perguntou o Stoll, em algum ponto da conversa. — Por que nunca senta com pessoas?

Katie revirou os olhos.

— Eu sento com pessoas.

— Você chama aquelas garotas brutamontes de pessoas? — ele riu. — eu jurava que eram monstros.

— Eu sento com as pessoas que me aceitam.

— Se só aquelas valentonas te aceitam, você está mesmo ruim em, florzinha.

— Babaca.

— Ok, ok. Mas você não tem uns amigos pra sentar?

— Eu não tenho amigos, exceto algumas primas, que são veteranas. Não nos falamos na escola, porque pode manchar a reputação delas.

— Eu acho isso um pouco egoísta — opinou Travis. — Quer dizer, você não tem amizade com ninguém, então o máximo que poderiam fazer é te ajudar a se enturmar.

— Miranda não pensa assim. — falou a outra. Comprimiu os lábios e acrescentou suspirando: — E você, apesar de não ter parentesco comigo, também pensava assim até pouco tempo, não?

Ele parecia realmente sem palavras. Katie exibiu um pequeno sorriso com o efeito que suas palavras causaram. Ela é naturalmente fria em certas atitudes, e acha que não deve ser educada com alguém que critica ações de outros, sendo que ele mesmo as pratica.

Ao ver a expressão de triunfo no rosto da castanha, ele comprimiu os lábios. Katie não teve tempo de se sentir desconcertada, pois alguns segundos depois, uma melodia irritante preencheu o silêncio.

- Hm, pode me dar um minuto? – Travis sussurrou, erguendo os olhos timidamente. Katie assentiu, não se importava muito. Abriu o livro com suavidade, voltando a correr os olhos pelas páginas amareladas.

Com receio, Travis levou o telefone aos lábios e começou a discutir, aparentemente, com algum amigo. Katie ouviu algumas poucas frases como “onde você está, cara”? E “eu não acredito que está com aquela fracassada”. Ao ouvir a última frase do garoto, Katie ergueu os olhos do livro, querendo ver nos olhos do garoto o quê ele pensava em responder.

- Se eu fosse você – resmungou ele, sem notar estar sendo observado por Katie. – Não ficaria julgando e irritando os excluídos sem os conhecer.

Katie ouviu um “Onde está o verdadeiro Travis Stoll?” e um bip de chamada encerrada. Ela baixou o livro, deixando-o sobre o colo, e apoiando o cotovelo sobre a mesa.

— Eu tenho que ir, senhorita Gardner – desculpou-se. - Conversamos mais amanhã, ok? Tenho alguns amigos pra me livrar.

— Depende — veio um sorriso divertido. — se você estiver interessado em conversar com uma fracassada...

— Não vou arriscar levar outra patada, pode ter certeza – ele sorriu. – Até amanhã, florzinha.

Ele saiu, deixando um nota de cinco dólares sobre a mesa. Katie ficou imóvel, até ouvir o agradável tilintar do sininho, em cima da porta. Quando se mexeu novamente, suspirou profundamente, e ajeitou a bolsa sobre o ombro.

A realidade, é que ela estava começando a reconsiderar o assunto Stoll. Apesar da diferença de idade entre os dois (ele tinha vinte e um, e ela estava prestes a completar dezoito. Travis tinha repetido o último ano três vezes. Na opinião de Katie, uma vergonha) e principalmente os gostos. Ela havia se surpreendido, pois ele gostava de várias bandas que pertenciam ao ranking de favoritas dela.

Seu nome era Travis Stoll. E, embora Katie não fizesse a mínima ideia disso, aquele seria o nome em que ela se pegaria repetindo com um sorriso no rosto nas semanas que viriam. Seria esse o nome do destinário de várias das cartas que ela escreveria nos dias de chuva e que nunca seriam enviadas. Seria o nome de um ator famoso. Seria o nome da pessoa que a faria se sentir especial e também aquele que ela se referiria com carinho como seu namorado.


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