Sangue de Semi-ninfa escrita por shameeka


Capítulo 22
A Morte De Anne




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   Morta. Alguém aí, por favor, pode me dizer que tipo de justiça ilógica é essa? Semi-Ninfas não deviam morrer pelas mãos sujas e nojentas de humanos. Semi-Ninfas são mais, muito mais, que simples humanos com seu egoísmo idiota. Semi-Ninfas são poder. E Anne estava morta.

   Por uma arma de fogo, na nossa floresta. Nosso lar. Não posso dizer que haveria um lugar mais bonito para ela morrer. Assim que eu a vi deitar, com o sangue empapando a roupa, corri para ela. Não me importei com o humano. Eu sabia que Tory cuidaria dele por mim. Fechei os olhos dourados dela.

   Onde seu corpo caiu, se transformou em flor. Anne virou uma jovem cerejeira. Sempre adorei cerejeiras. Elas são lindas. Mas nunca vi uma aqui, nesse bosque. Não até agora. Eu senti antes de ouvir quando Tory parou atrás de mim. Eu podia estar anestesiada – era a primeira vez que eu via uma irmã ser assassinada – mas senti, que a doce e alegre Tory já participara de mais batalhas do que eu podia contar. Pela ligação que tínhamos, eu sentia que ela não estava anestesiada. Ela sentia uma dor profunda e marcante pela perda de Anne. Eu não sei descrever.

    Acho que nunca saberei. É algo natural. Minha natureza é assim, faz parte de quem sou. Faz parte de quem eu sempre serei. Semi-Ninfa é algo da sua essência. Não se renega a sua ascendência.

   -Não entendo. Como...? Cerejeira... - Balbuciei, agachada junto ao pequeno ramo que crescia em meio ao sangue daqueles seres repugnantes a sua volta.

   -Nossas mães, Naya, são espíritos do bosque. São, essencialmente, natureza pura. São ninfas. E, por tanto, nós, as filhas bastardas delas, também fazemos parte do bosque.

   Tory falou solene. Era simplesmente estranho ouvir a extrovertida Tory falar assim. Não era como eu pensava que Anne quisesse que lembrássemos dela. Ela, provavelmente, iria querer que lembrássemos dela com enormes sorrisos, e não com essas lágrimas estranhas.

   -B-bastardas? - Engasguei, indignada. Eu não era uma bastarda! Ela mesma acabara de falar, minha mãe era natureza pura, como eu poderia ser...

   -O sangue dos nossos pais corre em nossas veias, Naya. Não importa o quanto reneguemos, somos a junção das Ninfas, e dos humanos.

   Ela explicou, se agachando ao meu lado. Senti sua mão firme no meu ombro. Eu sabia o que viria a seguir e nem precisava de nenhuma visão para isso.

   Precisávamos voltar. Avisar Kayla, nossa líder, da morte da irmã. Eu não sabia se estava pronta. E, a declaração de Tory havia me abalado.

    -Eu não entendo!

   Esperneei. Parecia uma criança humana mimada, admito. E não me importava naquela hora.

    -Como Ninfas se apaixonam por humanos?

   Perguntei, birrenta, levantando, recusando-me a olhar para qualquer canto a não ser os olhos castanhos de Tory.

    -Nem todos os humanos são maus. Não estou dizendo que há algo que os justifique, ou que essa raça tenha esperança, mas existem alguns, poucos, que são o que chamamos de primórdios. O que os humanos deveriam ser. Bons, persistentes, corajosos, determinados, simples. Acho que é pelos primórdios que as Ninfas se apaixonam.

   Sacudi a cabeça. Nunca imaginei que Tory – Tory! – pudesse me dizer uma coisa como essa. Humanos eram, para mim, a escória do mundo.

    -Eu duvido que Luke seja um primórdio. – Resmunguei amargamente. – Meu pai é simplesmente repugnante. É algo simplesmente inexplicável que mamãe tenha se apaixonado por ele.

   Falei, seguindo minha amiga. Ela saltou, deixando a cerejeira a clareira banhada de sangue para trás. -Falando em mamãe, eu queria saber onde está a mãe de Anne agora.

   Tory falou subitamente. Eu gelei. Se havia uma das coisas que Semi-Ninfas não podiam fazer era questionar as Ninfas. Nem a relação delas com suas filhas. Não era, de maneira alguma, aceitável que se questionasse por que as mães nunca deram as caras para as filhas. Semi-Ninfas eram Semi-Ninfas, e pronto. Regras? Não faça perguntas impertinentes sobre as Ninfas. Não desrespeite os espíritos. Se comprometa com a natureza e com seu Clã. Não questionar, não perguntar. Obedecer cegamente, por que somos assim e é assim que as coisas são.

   [Por princípio, não questionei. Não perguntei. Não fiz nada, além de ser a serva perfeita. Foi muito, muito tempo depois, que fiz algo que não devia. Mas isso é para outra hora.]

    -Tory Jean. Cuidado.

   Falei asperamente. Ela balançou a cabeça amargamente, e nós duas fomos dar a notícia à Kayla.


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Notas finais do capítulo

Perdão! Pàrdon! Sorry! Desculpem por todo esse tempo, mas finalmente tenho criatividade para postar mais.Ah, só para exclarecer: eu NAO odeio os humanos. Pelo contrário, acho nossa raça fascinante. Mas Naya, a personagem, definitivamente odeia. Por enquanto. Esse capítulo, que também pode se chamar de O Começo do Questionamento, significa duas coisas - os humanos não são tão ruim quanto parecem, nem mesmo os que não sao primordios, e semi-ninfas nao sao tao gloriosas assim.Obrigada!



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