Sangue de Semi-ninfa escrita por shameeka


Capítulo 20
Humanos - PARTE II




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Eu não sabia o que estava acontecendo.  Não era nada que eu já tivesse encontrado. Mesmo assim, o som era repugnante.

Tory estava em disparada, rosnando. Anne estava atrás de mim, e eu me sentia conectada. Isso era importante, numa batalha. O senso de equipe.

A Semi-Ninfa de cabelos curtos fez um salto particularmente grande, e quase caiu, recuperando-se no último minuto. Isso me assustou.

-Tory! O que está acontecendo? Tory!

Gritei, mas ela não respondeu. Eu reduzi minha velocidade para ficar do lado de Anne, que rosnava.

-O que há?

Perguntei, assustada. Nunca vira as Semi-Ninfas assim.

-Sinta o cheiro.

Anne respondeu, acelerando, me deixando pra trás.

Isso eu não ia admitir. Me orgulhava de ser uma das Semi-Ninfas mais rápidas. E odiava ser deixada de lado. Corri desvairadamente, ultrapassando Anne em poucos segundos e pouco tempo depois, Tory.

Assumi a liderança na corrida. E, agora que Anne me alertara para isso, senti o ar.

Para uma desatenta, estaria normal. Cheirava a floresta, a coisa viva, a pêlo, a verde. Era um cheiro conhecido de vida pulsando. Isso também tinha cheiro. Tudo tinha cheiro. Mas, ao olfato apurado, pude sentir algo diferente.

Algo azedo. Algo que cheirava a sujeira e a suor. Fuligem e poeira. Havia cheiro de coisa ruim.

Eu podia sentir sangue correndo e um coração batendo. E, definitivamente, senti o cheiro repugnante que distinguia a raça.

Humanos.

Senti a raiva me dominar. O que eles faziam aqui? No nosso lar? O que planejavam?

Ouvi mais. Ouvi o som de um motor rugindo, de vozes berrando. Estávamos chegando perto.

Trinquei os dentes. Pulei mais alto, para onde eu poderia vê-los sem ser descoberta, tendo o cuidado de chamar Tory e Anne comigo. Nosso clã estava unido pelas emoções. Eu podia sentir a raiva delas por tê-los aqui.

Congelei. Senti meu ar se esvair com a cena que eu via, no futuro. Nesses três anos, eu aprendera a conviver com minhas visões. Eu sabia o que viria, e minha fúria chegou primeiro que a delas. Mas continuei a pular.

Saímos para uma clareira aberta, já quase na saída da floresta. Tory e Anne congelaram.

Eram muitos. Calculo que uns vinte e dois ou algo assim. E estavam com suas malditas máquinas, tratores, escavadeiras. Dois deles coordenavam. Queriam derrubar uma grande parte da floresta – iam fazer um condomínio de prédios. Eu sabia disso pela visão que tivera. E olha só, que lindo! Uma bela vista para um parque.

Iam desmatar tanto a floresta que pareceria um parque.

Minha fúria era gelada. Eu queria o sangue deles, o sangue daqueles que queriam matar minha casa, meus amigos, minhas irmãs, Murilo. Eu não ia deixar.

Nós não deixaríamos.

-Tem alguém próximo?

Sussurrei, baixa e profundamente, para Anne, ao meu lado.

Minha reação fora mais rápida que a delas, enquanto observava uma nova visão surgir.

O futuro é subjetivo. Não está escrito em pedra. As coisas mudam.

E eu ia fazer essas coisas mudarem.

-Não. – Anne respondeu. – Estamos dentro o suficiente.

Tory sorriu, mas então olhou pra mim, preocupada.

-Tem certeza de que consegue? Você ainda deve estar meio ligada aos humanos...

-Estou bem.

Para alguém de fora, deveria parecer estranho. Mas entenda. Tínhamos uma ligação. Podíamos sentir a fúria sangrenta uma da outra. Elas puderam sentir quando minha decisão foi formada. Entenderam quando eu decidi que iria matar aqueles que queriam me matar.


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