Sangue de Semi-ninfa escrita por shameeka


Capítulo 2
Das Trevas Surge A Luz




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Meus olhos já tinham se acostumado à escuridão há muito tempo. Quase nunca entrava um raio de sol no porão em que estive desde os quinze anos. As únicas vezes que eu tinha um vislumbre do céu azul era quando meu pai vinha deixar comida.

Nunca gostei de meu pai – falando sem influência dos últimos dois anos – ele sempre foi um homem muito ocupado, nunca tivemos uma ligação muito forte. Ele era rico e me dava tudo que eu precisava, mas não gostava de mim. Não podia apresentar a seus “amigos” investidores uma filha de olhos roxos e orelhas pontudas. Meus cabelos vermelhos também não ajudavam, ele sempre quis uma filha loira, de olhos azuis, esbelta e popular. Alguém como Felipa. E Felipa não era alguém de quem eu gostasse de lembrar.

Dada as minhas antigas experiências, acabei me fortalecendo no meu porão. Criei convicções, desconfianças. A primeira coisa que aprendi é que não se deve confiar nos loiros, bonitos e populares. A segunda coisa é que não devemos confiar em meninos. E garotas precisam de garotos tanto quanto peixes precisam de bicicletas.

Outro dia acontecia lá fora. Eu não saberia dizer se era dia ou noite, mas supus que fosse depois do almoço. Já perdi a conta de que horas meu pai trazia comida, mas era sempre depois do cheiro que vinha das frestas das tábuas do porão. E o cheiro estava vindo.

Não podia me mover muito. Luke Bronks é um homem precavido e ele sabe que sou ágil. Se apenas tivesse me trancado no porão e amarrado minha perna com uma corda, eu já teria fugido. Ele tinha preso um dos meus pulsos com uma corrente de metal e outra corrente prendia minha outra perna. No começo, e tentei escapar e consegui soltar as correntes um pouco. Mas passaram-se meses. Quanto mais eu progredia, menos comida vinha e eu me sentia fraca. Eu acabei por desistir. Conseguia me arrastar pelo porão, mas a saída estava muito longe. Longe demais.

Meu pai entrou. Eu tive um relance de seus cabelos dourados antes que ele lançasse meu prato de comida e fosse embora. Não me dirigiu nem uma palavra.

No começo, eu gritava. Meus ouvidos zuniam com os ecos. Depois percebi que não adiantava. Fazia tanto tempo que não ouvia nenhum ruído, tanto tempo que eu não falava nada. Só o raspar do garfo no meu prato era barulho suficiente para eu saber que estava aqui afinal. Não era um sonho.

Senti o gosto de lasanha na boca. Nossa empregada só fazia lasanhas às terças-feiras, eu sabia disso por que era uma antiga tradição. Tropecei até a parede onde eu contava os dias. A cada risco na parede, era um novo dia. Eu riscava sempre no almoço, por que eu sabia quer era um novo dia. Peguei a pedra e risquei um novo dia. Então comecei a contar. Hoje era catorze de Março. Era meu aniversário.

Estava fazendo dezessete anos hoje. Estava magra e fraca, e minha pele clara pela falta de sol. Meus cabelos estavam cada vez mais vermelhos, eu estava com a mesma blusa branca de algodão e um short caramelo há dois anos, que estavam pequenas e apertadas.

Fiz mais um rasgão em minha blusa. Era assim que eu a afrouxava. Ela estava em trapos, toda rasgada. Meu short não estava em melhor situação. Só quem sabia que eu estava aqui eram meu pai e uma antiga empregada, todos os outros achavam que eu estava fazendo intercâmbio. Mas eu já tinha me acostumado.

Aniversário significa que passei mais um ano na escuridão. Só isso. Matt não sabia quanto dano ele me fez quando beijou Felipa. Nunca mais poderia ver o sol.

Mas então uma nova visão começou. Agora, eu tinha algo como uma visão a cada três meses. Em geral, era sobre o clima, por que eu sabia quando chovia. Podia ouvir os pingos na madeira. Dessa vez, era diferente. Era sobre uma pessoa. Um rosto para ser mais específica.

Era um rosto muito bonito, era forte e decidido. Tinha olhos castanhos suaves e cílios longos. E aquele rosto me fez gemer de angústia. Por que ele era de um menino loiro. Devia ter uns dezessete anos – minha idade agora – e tinha deixado o cabelo um pouco mais comprido para cair em mechas sobre a cara. Eu não sabia o que aquela visão significava.

Foi aí que a coisa mais estranha do mundo aconteceu.

Alguém abriu a porta do porão e a luz entrou, me fazendo vibrar de alegria. Até que percebi uma figura alta encostada na porta.


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Notas finais do capítulo

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Gente, desculpa mesmo pelo atraso, meu computador pifou geral. Tô postando da casa de uma amiga, mas posso compensar postando dois caps, hj, q tal?