Sangue de Semi-ninfa escrita por shameeka


Capítulo 16
Tory




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Já devia passar da meia-noite, mas eu não estava com sono hoje. Esta noite, meus sentidos estavam apurados e minhas veias eletrizadas.

Tory, Susan, Raphaella e eu estávamos sentadas no tronco de uma árvore, onde as folhas nos escondiam de qualquer pessoa que passasse lá embaixo... A não ser que fosse uma Semi-Ninfa.

Minha cabeça estava encostada no tronco da árvore. Eu podia sentir as gotas de orvalho sob minha pele, e eu gostava de conversar assim, no meio da noite, com minhas amigas. Meus olhos adaptados a escuridão permitiam-me vê-las.

-Rah, eu estava me perguntando... Por que você tem caninos afiados?

Perguntei a ela. Havia pensado em várias hipóteses, mas nenhuma que fizesse sentido.

-Bem, com o tempo, nos tornamos mais e mais caçadoras. Daqui a vinte anos, você já consegue retrair dentes afiados.

Como se para me provar, Susan e Tory abriram suas bocas, deixando-me ver dentes perfeitamente comuns. Então, todas duas fizeram uma careta, enrugando seus narizes, e seus caninos começaram a crescer e se afiar, até ficaram como os de Rah.

-Não é muito agradável falar com isto.

Disse Tory, assim que fechou a boca.

-Sinto uma sensação estranha nos meus dentes... Ah, eu vou retrair isso.

Falou Susan, e ela e Tory esconderam seus dentes afiados, deixando-os retos novamente. Eu observava tudo maravilhada. E isso me lembrou outra questão para responder.

-Quantos anos vocês têm?

Perguntei. Achei que Rah seria mais velha, pois ela conseguia ficar com os dentes afiados sem sentir incômodo algum.

-Dezesseis.

Disse Rah. Tory e Susan disseram que tinham dezessete.

-Algumas Semi-Ninfas completam a transformação mais cedo.

Explicou Rah, interpretando mal minha cara confusa.

-Não, quero dizer... Quanto tempo vocês tem, depois de transformadas?

Falei, observando seus rostos mudarem de expressão.

-Eu tenho dezesseis há mais de cento e cinqüenta anos.

Falou Rah, e eu tentei esconder minha cara surpresa.

-Noventa e oito anos atrás, eu vim para este clã.

Falou Susan. Tory franziu a testa e falou.

-Ah... Eu sou a mais nova, estou paralisada no tempo há trinta anos. Acho que fui a última a chegar aqui, depois de você.

Eu ri. Tory parecia tão menina, em seu jeito de ser, era a que mais me lembrava uma humana. Quanto as aparências, já podia ver a diferença clara entre Raphaella e um humano comum.  Seu cabelo mais liso, seus olhos mais aguçados, suas feições mirradas e proeminentes.

Era bom ficar ali, Murilo aninhado em meu colo, comigo fazendo caricias em seu pelo marrom. De repente, eu fiquei curiosa.

-Não vi os amigos animais das outras Semi-Ninfas.

Tory riu.

-Murilo é o que nós chamamos de geysa Nature. Marca de Nature. É sua marca, para sempre. Mas ainda é um animal, ainda tem sua vida. No começo, nossa geysa Nature não se afasta de nós. Depois de algum tempo, nossa conexão é tão forte que eles podem ficar à alguns quilômetros de distância.

Ela explicou. Susan então continuou.

-Lola não está muito longe... Posso senti-la.

Então soltou um grito agudo e nem um pouco melodioso ou suave, como eu estava acostumada a ouvir das Semi-Ninfas. Passaram-se alguns segundos de quietude, sem que nada acontecesse.

De repente pude ouvir o bater de asas de uma ave de rapina.

Em seguida, longas sombras negras puderam ser vistas, deslizando silenciosas pela escuridão. As asas da águia traziam um espécime magnífico, com um bico afiado e as unhas perfeitas.

A águia teve um vôo plano, e pousou com precisão no ombro de Susan. Quando as garras dela entraram em contato com a pele de Susan, um pequeno clarão azul aconteceu, como se um choque cinético tivesse acontecido ali.

-Essa é Lola.

Ela explicou, acariciando as penas da águia. Eu fiquei preocupada... Por que isso não acontecia comigo e com Murilo?

Rah deve ter percebido minha preocupação.

-Isso não acontece com vocês ainda por que você ainda não tem a geysa Eywa.

Ela explicou e eu suspirei. Baixei o olhar e me deparei com os “adereços” no short de Tory.

-Para quê isso?

Perguntei. Ela olhou para onde eu estava apontando e corou.

-Acho que me faz única em uma colônia de iguais.

Ela disse e eu sorri para o lado mais frágil de Tory.

-Ninguém é igual.

Ela riu amargamente, um som que eu não queria ouvir de novo saindo da boca doce dela.

-Todas as Semi-Ninfas têm cabelos lisos, todas têm olhos estranhos, todas têm orelhas pontudas, todas têm a geysa Eywa, todas têm a geysa Nature, todas são rápidas, todas são bonitas, todas tinham problemas com os humanos...

-Todas têm dois braços, duas pernas, dois olhos, um tronco, uma cabeça, nariz, boca, o branco dos olhos...

Completei, mas ela me ignorou.

-São todas parecidas. Não minta, foi isso que você pensou quando nos viu! Estava na cara que éramos da mesma espécie. Porém. – Ela tomou fôlego. – Porém existem as exceções. Susan é uma das poucas com cabelos ondulados. Kayla tem os olhos com mais destaque. Olhe você! Você é ruiva! Nunca houve uma Semi-Ninfa ruiva! E seu ruivo é tão lindo... Às vezes parece sangue, mas só nos momentos certos... Na luta com Rah, seu cabelo estava brilhante. Era lindo... E assustador. São únicas! E eu? Sou só mais uma... O que eu não daria para ser diferente...

“Sempre fui invisível. Quando ‘humana’, ninguém nunca me notou. Acho que até os professores me ignoravam. Quando vim para cá, achei que tudo fosse mudar... Estava enganada. Eu era apenas mais uma. Kayla conhece cada uma de nós. Acho que ela deve ser a única a saber que existo, e mesmo assim, não se lembra.”

Ela terminou soluçante. Murilo subiu para minha cabeça quando eu a abracei fortemente e a senti desmanchar em lágrimas no meu ombro.

-Você é única, Tory. Nunca vi alguém como você... Você foi a que melhor me recebeu. Foi minha primeira amiga. Como alguém esqueceria você? Sua personalidade é notável! Eu, pelo menos, nunca te esqueceria.

Ela soluçou mais forte e seu abraço ficou mais apertado. Eu apenas murmurava em seu cabelo palavras acolhedoras.

Passamos algum tempo assim, Rah e Susan ajudando-a também.

Eu me encolhi quando um puma rugiu embaixo da árvore, com uma nota audível de angústia. Não fiquei com medo, não sei por que, mas queria ajudá-lo.

Rah sibilou raivosamente para o puma, e eu quase pensei que ele se assustaria pela agressividade dela, mas ele a ignorou.

-Deixem-na. É Demy, minha geysa Nature.

Tory disse entre soluços. Talvez tenhamos passado uma hora, não sei, mas depois de muito tempo, estava na hora de dormir.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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Gente, desculpa, ontem teve o niver da Penélope e hj mais cedo eu tava de "ressaca". Bjux