Moro em uma cidade pequena, na Califórnia. Mas nem sempre morei aqui.

Minha mãe morreu quando eu ainda era um bebê, então sempre fui criada por meu pai, Luke Bronks. Ele é um grande empresário, não tem tempo para mim. Está sempre cuidando dos negócios e das aparências. Não tenho irmãos, nem mais ninguém além do meu pai ausente, mas suponho que eu pareça totalmente com minha mãe. Meus olhos são roxos e meu cabelo é vermelho. Sou mirrada, mas alta, se isso faz sentido. Na escola diziam que meu rosto lembrava o de uma fada. Nunca contei a ninguém, mas minhas orelhas são pontudas. Meu pai é o completo oposto. Ele é loiro e alto, corpulento. Ele e minha mãe moravam no estado de Washington, mas depois que nasci nos mudamos para cá.

Não tenho lembranças de minha mãe, mas ela devia ser uma mulher muito doce, por que tenho uma sensação boa sempre que penso nela. Se me esforçar muito, consigo lembrar de trechos de uma linda canção de ninar, mas em outra língua.

Na minha escola eu não tinha muitos amigos. Não que me rejeitassem ou algo do tipo, mas eu sou muito reservada. Matthew era o único em que eu confiava plenamente.

Com o passar dos anos, eu e Matt começamos a namorar. Era um amor lindo, ele era o melhor namorado que se pode imaginar. No entanto, um dia, Felipa nos convidou a uma festa. Nós aceitamos. Esse foi o primeiro erro; confiar em Felipa. Por que ela estaria nos convidando agora? Mas eu não pensei nisso. Não no momento.

Eu já trabalhava aos quinze anos. Então nós marcamos de nos encontrar na festa, assim Matthew iria na frente e pegava uma mesa para nós enquanto eu ainda estava trabalhando.

Lembro-me perfeitamente da cena. Fui liberada mais cedo do trabalho e estava infinitamente feliz. Estava vestida com um vestido longo, cor de vinho. Meu cabelo estava amarrado em um coque, deixando a franjinha solta e algumas mechas, especialmente cobrindo minhas orelhas. Eu tinha me visto no espelho e pela primeira vez achei que estava realmente bonita. No meu pescoço pendia um colar de prata com o meu nome. Naya. Fora Matt quem me dera esse colar. Ele tivera que encomendar, por que “Naya” não é um nome muito comum.

Quando cheguei à festa, mal via os corpos dançantes a minha volta enquanto procurava pelo meu namorado. Então eu vi a cena que mudaria minha vida. Ali estava Matt, de smoking e cabelo penteado. E ali estava Felipa, seu cabelo loiro caindo em ondas e um tubinho preto minúsculo. Eles estavam se beijando.

Eu fiquei congelada em meu lugar, sem poder me mexer. Ainda podia sentir a sensação em meus braços e pernas. De repente, tudo estava conectado a minha mente. Podia dizer todos que estavam naquela festa e com quem estavam. O ponche era azul e haviam derramado exatamente sete copos de álcool nele. O chão era reluzente e refletia os sapatos das garotas. Porém todas as coisas pareciam estar ligadas ao fato que Matt, que eu conhecia desde os sete anos, que eu estava namorando firme há três meses, estava me traindo.

A bolsinha vermelho-sangue que eu carregava caiu no chão e eu saí correndo.

Daí para frente, tudo parecia dar errado. A traição pareceu disparar um gatilho dentro de mim e as minhas constantes mudanças de humor afetavam a natureza. Foi quando as visões começaram. Estranhas visões do futuro me ameaçavam deixar louca. Vozes suspiravam na minha mente. Mas eu sabia que não estava esquizofrênica, pois sabia discernir o que e era real e o que eram vozes. No entanto, a única coisa que eu deixava transparecer eram minhas visões. Eu tinha colapsos estranhos, que durante os primeiros meses eu pude esconder. Mas depois se tornou muito mais difícil. Quão mais estressada eu ficava, mais a freqüência de visões aumentava.

Nesse ponto, meu pai tomou as rédeas da situação. Ele sempre foi um homem preocupado com as aparências. Ele me tirou da escola e disse que eu seria educada em casa. Mas o que ele realmente fez foi me deixar trancada neste porão pelos últimos dois anos.

Agora, estou à espera de um milagre.